Vc pode Correr eu te Pego
Não me olhe assim tão convencido e diga que eu estou indo mal. Quem é você pra me julgar e a vida que eu vivo? Eu sei que eu não sou perfeito e eu não exijo ser. Então, antes de apontar seus dedos para mim, tenha certeza de que suas mãos estão limpas. Não julgue antes de julgar você mesmo. Não julgue se você não está pronto para o julgamento.
Que miserável homem que eu sou; quem me livrará do corpo desta morte.
As coisas que quero fazer eu não faço, as que eu não quero, isso sim eu faço.
Toda a força que eu vejo em você
Tem sido vital pra mim
Você ainda é meu melhor pecado
É o que eu mais desejo
É o meu berço
E agora eu sei
O quanto conhecer você foi bom pra mim
Triste é não chorar, se eu também chorei, e não, não há nenhum remédio pra curar essa dor que ainda não passou, mas vai passar, a dor que nos machucou. E não, não, há nenhum relógio pra fazer voltar, o tempo voa.
- Ateu, não: agnóstico
- Pois eu te dou quinhentas pratas se você me disser o que quer dizer essa palavra.
- Ora, para começar você não tem quinhentas pratas. Estou conversando a sério e você me vem com molecagem. Acho que Deus é uma coisa, os padres outra. O ranço das sacristias me enoja. Tenho horror ao bafo clerical dos confessionários! O bem que a confissão pode nos fazer é o de uma catarse, um extravasamento, que a psicanálise também faz, e com mais sucesso. Estou mesmo com vontade de me especializar em psiquiatria.
- Só mesmo um doido de procuraria
Maur não pôde deixar de rir. Eduardo acrescentou:
- Você vai ter de se curar para depois curar os outros.
- É isso mesmo - concordo o outro, sério - Estou exatamente preocupado com o meu próprio caso. Já iniciei o que eu chamo de "a minha libertação".
- E o que eu chamo de "a sua imbecilização".
- Vista pela sua, que já é completa. O que eu chamo de libertação é a possibilidade de me afirmar integralmente, como homem. O homem é que interessa. Se Deus existe, posso vir a me entender com ele, mas há de ser de homem para homem.
Não se irrite o leitor com esta confissão. Eu bem sei que, para titilar-lhe os nervos da fantasia, devia padecer um grande desespero, derramar algumas lágrimas, e não almoçar. Seria romanesco; mas não seria biográfico. A realidade pura é que eu almocei, como nos demais dias...
O que é o tempo? Quando quero explicá-lo não acho explicação. Se o passado é o que eu, do presente, lembro, e o futuro é o que eu, do presente, antecipo, não seria mais certo dizer que o tempo é só o presente? Mas quanto dura o presente?
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito.
E quanto à beleza? Você acha que ele é um componente importante nas relações?
- Eu acho que a beleza das palavras é fundamental. Se você sabe falar no ouvido, no ritmo certo do vento, fazer pausa, criar melodia, você vai se tornar automaticamente bonito. Porque a mulher fecha os olhos para sentir prazer, a voz são os olhos abertos da mulher.
O Último
Eu me descubro ainda mais feliz a cada pedaço seu e de tudo o que é seu. Eu amo tanto o seu banheiro com as combinações em verde e a chuva fina do chuveiro, que chorei essa manhã enquanto você tomava taffman-e e ouvia música eletrônica.
Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer. Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre?
Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa, eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando sentada num sofá mesmo que o dia esteja explodindo lá fora. E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam.
Quando a gente foi ver o pôr-do-sol na Praça pôr-do-sol, eu, você e a Lolita, a minha cachorrinha mala, e a gente ficou abraçado, e a gente se achou brega demais, e a gente morreu de rir, eu senti um daqueles segundos de eternidade que tanto assustam o nosso coração acostumado com a fugacidade segura dos sentimentos superficiais. Eu olhei para você com aquela sua jaqueta que te deixa com tanta cara de homem e me senti tão ao lado de um homem, que eu tive vontade de ser a melhor mulher do mundo.
E eu tive vontade de fazer ginástica, ler, ouvir todas as músicas legais do mundo, aprender a cozinhar, arrumar seu quarto, escrever um livro, ser mãe. E aí eu só olhei pra bem longe, muito além daquele Sol, e todo o meu passado se pôs junto com ele. E eu senti a alma clarear enquanto o dia escurecia.
Eu te engoli e você é tão grande pra mim que eu dedico cada segundo do meu dia em te digerir. E eu não tenho mais fome, e eu tenho que ter fome porque eu não quero você namorando uma magrela. E eu sonhei com você e acordei com você, e eu te olhei e falei que eu estava muito magrela, e você me mandou dormir mais, e me abraçou. Eu preciso disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você e você também está sempre rindo. Se isso não for o motivo para a gente nascer, já não entendo mais nada desse mundo. E eu tento, ainda refém de algumas células rodriguianas que vez ou outra me invadem, tentar achar defeito na gente, tentar estragar tudo com alguma sujeira. Mas você me deu preguiça da velha tática de fuga, você me fez dormir um cd inteiro na rede e quando eu acordei o mundo inteiro estava azul.
Engraçado como eu não sei dizer o que eu quero fazer porque nada me parece mais divertido do que simplesmente estar fazendo. Ainda que a gente não esteja fazendo nada.
Eu, que sempre quis desfilar com a minha alegria para provar ao mundo que eu era feliz, só quero me esconder de tudo ao seu lado.
Eu limpei minhas mensagens, eu deletei meus emails, eu matei meus recados, eu estrangulei minhas esperas, eu arregacei as minhas mangas e deixei morrer quem estava embaixo delas. Eu risquei de vez as opções do meu caderninho, eu espremi a água escura do meu coração e ele se inchou de ar limpo, como uma esponja. Uma esponja rosa porque você me transformou numa menina cor-de-rosa.
Você me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e transformou minha dureza em dança. Você quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido cheio de rendas e babados, tirou as pedras da minha mão.
Você diz que me quer com todas as minhas vírgulas, eu te quero como meu ponto final.
De manhã, eu tinha o olhar tão perdido e a postura tão morta, que aqueles que encontrei talvez não me vissem.
Eu, cansei. Já não estou mais na idade... O que importa é que você entra por um ouvido meu e sai pelo outro, sabia? Você não fica. você não marca. Eu sei que fico em você...
O "Adeus" de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
Também já fui brasileiro
Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.