Um Texto sobre a Mulher Maravilhosa

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GATO NA GARAGEM

Que imensa preguiça!
Um gato se estica
longo, de pelica,
de pluma e peliça.

A noite é de tubos
de rodas e cubos
borracha e aço curvos
em subsolos turvos.

Que noite! uma poça
de sombra na boca.
Cega, se alvoroça
e infla, a pupila oca.

Luminosos manda
seus olhos; verde anda
em luz; anda e nada
e é dono do nada.

A noite postiça!
E o gato se estica
em sua pelica,
em sua peliça.

Vi que sem você não há caminho,
eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim como
eu sonhei um dia
Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho mais calma,
mais alegria
No meu jeito de me dar
Quando a canção se fez mais clara e mais sentida

Em Todas as Sociedades Existe um Impulso Para a Conformidade

A imposição de padrões pelas sociedades aos seus extremamente diversificados indivíduos tem variado muito em diferentes períodos históricos e diferentes níveis de cultura. Nas culturas mais primitivas, onde as sociedades eram pequenas e ligadas a tradições muito estreitas, a pressão para o conformismo era naturalmente muito intensa. (...)

Mesmo assim, em toda a sociedade há sempre um impulso para a conformidade, imposto de fora por leis e tradição, e que os indivíduos impõem sobre si mesmos, tentando imitar o que a sociedade considera o tipo ideal. (...)

Mas algumas pessoas têm ângulos bovarísticos de noventa graus, outras até de cento e oitenta, e tentam ser exatamente o oposto daquilo que são por natureza. Os resultados são em geral desastrosos. (...)

Um dos mecanismos através dos quais a sociedade consegue que as pessoas se conformem a ela é criar um ideal e fazer com que as pessoas o imitem voluntariamente. (...)

Nem sempre o ideal que imitamos é o melhor. Há a imitação de Al Capone, infelizmente, e a imitação do jovem duro que anda por aí a porrada nas pessoas; há imitação de cantores de rock and roll, e assim por diante. O processo sempre existe, em qualquer sociedade, e sempre existirá. O que devemos descobrir é algum método para aproveitar ao máximo esse impulso social de conformidade. (...)

Dentro dos limites da lei e da ordem, tentar e permitir que todo o indivíduo se desenvolva conforme as leis do seu próprio ser, e conforme o princípio religioso de que a alma individual é infinitamente valiosa. O nosso ideal deveria ser o que o filósofo de Chicago, Charles Morris, descreveu no seu livro "The Open Self": uma sociedade aberta, constituída de eus abertos.

Aldous Huxley
A situação humana. São Paulo: Biblioteca Azul, 2016.

Beco Sem Saída

As circunstâncias se tornaram um beco sem saída
Seu orgulho te traiu e te jogou no chão
E as cicatrizes dessa história mal escrita
Se converteram no aprendizado da reconstrução

Mas todos vivemos dias incríveis
Que não passam de ilusão
Todos vivemos dias difíceis
Mas nada disso é em vão

Todo bem que você faz pra quem te ama
E quem te ama te faz
Isso tudo é o que te faz levar a vida na paz
Só Deus sabe quanto tempo
Que o tempo deve levar

As circunstâncias se tornaram um beco sem saída
Seu orgulho te traiu e te jogou no chão
E as cicatrizes dessa história mal escrita
Se converteram no aprendizado da reconstrução

Mas todos vivemos dias incríveis
Que não passam de ilusão
Todos vivemos dias difíceis
Mas nada disso é em vão

Todo bem que você faz pra quem te ama
E quem te ama te faz
Isso tudo é o que te faz levar a vida na paz
Só Deus sabe quanto tempo
Que o tempo deve levar

Viver, viver e ser livre
Saber dar valor para as coisas mais simples (2x)
Só o amor constrói pontes indestrutíveis

A arte maior é o jeito de cada um
Vivo pra ser feliz não vivo pra ser comum.

UM DIA VOCÊ PERCEBE

Um dia você percebe
Que o amor é algo que se encontra muito além de um belo sorriso...
Percebe que as coisas simples da vida são também as mais importantes
Percebe que o impossível, na verdade, é só uma questão de opinião
E que o teu fracasso ou o teu sucesso dependem exclusivamente de suas escolhas.

Um dia você percebe
Que muitos erros cometidos têm a intenção de acertar
E que nas pessoas, assim como em um bom perfume, o que vale não é o frasco
Mas a essência.

Um dia você percebe
Que cada um oferece aquilo que tem e o que transborda de dentro de si.
Percebe que não nos cabe julgar nem punir nada aqui, mas apenas compreender
E que o silêncio muitas vezes é a maior sabedoria que podemos expressar.

Em um lindo dia você percebe
O quanto é bom acordar cedinho para ver o Sol nascer!
Que sempre se é feliz quando se tem bons amigos,
E que quem realmente te merece não faz você sofrer.

Um dia você percebe
Que a felicidade não tem muito a ver com dinheiro ou status
Percebe que, de certo modo, o amor é apenas uma maneira de olhar
E que as pessoas mais valiosas em sua vida
São justamente aquelas que sempre estiveram ao seu lado.

Um dia você percebe também
Que a tua felicidade não deve depender dos outros
Mas exclusivamente de você
E que o mais importante na vida
Não é que você encontre alguém que te ame de verdade
Mas que você se ame sempre
Imensamente!

Será que alguém já contou os minutos para me ver?
Será que alguém já foi a um lugar só por minha causa?
Será que alguém já se arrumou todo só para me impressionar?
Será que alguém já se distraiu no meio da aula para ficar lembrando do meu sorriso ou algo do tipo?
Será que alguém abre minha janela do msn e fica sem coragem de falar comigo?
Será que alguém pensa em mim sempre que vê um filme romântico?
Será que alguém está lendo isso e respondendo ‘Eu’ para cada pergunta?

Se um poeta falar num gato
Se o poeta falar num gato, numa flor,
Num vento que anda por descampados e desvios
E nunca chegou à cidade...
Se falar numa esquina mal e mal iluminada...
Numa antiga sacada... num jogo de dominó...
Se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo
[ que morriam de verdade...
Se falar na mão decepada no meio de uma escada de caracol...
Se não falar em nada
E disser simplesmente tralalá... Que importa?
Todos os poema são de amor!

Para Fazer um Soneto


Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
e espere um instante ocasional
neste curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial
Ai, adote uma atitude avara
se você preferir a cor local
não use mais que o sol da sua cara
e um pedaço de fundo de quintal

Se não procure o cinza e esta vagueza
das lembranças da infância, e não se apresse
antes, deixe levá-lo a correnteza

Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza
ponha tudo de lado e então comece.

Não era um tanto esquisito ela não saber quem era? E também não era uma injustiça o fato de ela mesma não poder determinar sua aparência? Isto simplesmente lhe tinha sido imposto ao nascer. Seus amigos, estes sim ela talvez pudesse escolher, mas não tinha tido a chance de escolher-se a si própria. Não tinha sequer decidido ser uma pessoa.
O que era uma pessoa?

Confissões de um menor abandonado

Eu sei que sou culpado, não tive a capacidade de assumir a administração da minha vida, não fui capaz de controlar as emoções infantis nem consegui equilibrar-me sobre os obstáculos que herdei da sociedade. Até que me esforcei! Olhei para a vida de meus pais, porém, os desentendimentos do casamento falido nublaram os tais exemplos de que ouvi falar, só falar.

Não tive o privilégio de me aquecer no meu próprio lar, porque lhe faltou a chama do amor, sustentando-nos unidos. Cada qual saiu para o seu lado. Na confusão da vida me perdi.

Candidatei-me à escola. Juntei a identidade civil ao retrato desbotado, botei a melhor farda de guerreiro, entrei na fila. Humilhado por tantas exigências, implorando prazos, descontos e vaga, me sentei num banco escolar, jurei persistência, encarei o desafio.

- Joãozinho, você não sabe sentar-se?
- Joãozinho, seu material está incompleto.
- Joãozinho, seu trabalho de pesquisa está horrível.
- Joãozinho, seu uniforme está ridículo.

A barra foi pesando, fui sendo passado pra trás e vendo que escola é coisa de rico. Um dia, me arrependi, mas a professora se escandalizou das faltas (nem eram tantas!) e disse que meu nome já estava riscado, há muito tempo. O que fazer? Dei marcha à ré ali e, olhando a turma, com vergonha, fui saindo.

Moro nas marquises, debaixo da ponte, nas calçadas e não moro em lugar nenhum. Tenho avós, pais, irmãos e primos, mas não tenho família. Tenho idade de criança e desilusões de adulto. Minha aparência assusta as pessoas e nada posso fazer. A cada dia que passa, estou mais sujo, mais anêmico, mais fraco.

Sou um rosto perdido, perambulando, em solo brasileiro. Na verdade, nos chamam de menores, todavia, somos os maiores desgraçados.

Vendo balas num sinal de trânsito que muda de cor a cada minuto. Quando o sinal fica vermelho, os carros param, meu coração dispara. Para nós, menores abandonados, o vermelho do sinaleiro é a cor da esperança.

Extraído do meu livro Escola Comunitária-4ª.ed

"Mais um domingo que você me liga. Igual faz a uns quatro ou cinco anos. Você beija a sua mãe depois do churrasco, dá um oi carinhoso e finalmente pensa sem culpa na sua ex, cheira sua camiseta pra ver se a coisa tá muito feia e descobre que sua vida está prestes a ficar vazia: chegou a hora de me ligar.
Você não sabe ao certo o que vê em mim, mas também não sabe ao certo o que não vê. Você sabe que pode ter uma mulher mais gostosa do que eu, mas por alguma razão prefere a gostosa garantida, aquela que ainda ri das suas piadas. Mesmo sendo as mesmas piadas há quatro ou cinco anos.
Aí você me liga, com aquele ar descompromissado e meigo de quem só quer ir no cinema com uma velha amiga. Eu não faço a menor idéia do que vejo em você, mas também não faço idéia do que não vejo. Eu posso ter um cara mais gostoso, como de fato já tive milhares de vezes. Mas por alguma razão prefiro suas piadas velhas e seu jeito homem de ser. Você é um idiota, uma criança, um bobo alegre, um deslumbrado, um chato. Mas você é homem. E talvez seja só por isso que eu ainda te aguente: você pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda é melhor do que o resto do mundo.
Aí a gente, sem saber ao certo o que está fazendo ali, mas sem lugar melhor para estar, acaba pulando o cinema que nunca existiu e indo direto ao assunto. O mesmo assunto de quatro ou cinco anos que, assim como as suas piadas, nunca cansam ou enjoam.
E aí acontece um fenômeno muito estranho comigo. Mesmo quando não é bom, mesmo quando cansado e egoísta você não espera por mim e vira pro lado pra dormir ou pra voltar à sua bolha egocêntrica de tudo o que é seu, eu sempre me apaixono por você. Todas as vezes que te vi, nesses últimos quatro ou cinco anos, eu sempre me apaixonei por você. Eu sempre estive pronta pra começar algo, pra tomar um café de verdade, pra passear de mãos dadas no claro, pra poder te apresentar ao sol sem receber mensagens de gente louca ou olhares curiosos, pra escutar uma piada nova. E você sempre ignorou esse fato, seguindo seu caminho que sempre é interrompido pelo vazio da sua camiseta fedendo a churrasco. Eu nunca vou entender. Eu nunca vou saber porque a vida é assim. Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais.
Eu só sei que agora eu vou tomar um banho, vou esfregar a bucha o mais forte possível na minha pele e vou me dizer pela milésima vez que essa foi a última vez que vou ficar sem entender nada. Mas aí, daqui uns dias, igual faz há uns cinco ou seis anos, você vai me ligar. Querendo pegar aquele cineminha, querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo."

VIDA E MEDO


Cada um tem o seu modo de estar em paz com a própria vida. Alguns precisam de segurança e outros se entregam sem medo. Não a fórmula para se viver o próprio sonho. O escritor S. Anderson sempre foi rebelde e só conseguia escrever diante de sua rebeldia. Seus primeiros editores, preocupados com a situação de miséria com que Anderson costumava viver, resolveram enviar para ele um cheque mensal como adiantamento de sua
próximas novela. Depois de um tempo, receberam a visita do escritor, que apareceu la apenas para devolver todos os cheques. "Faz tempo que não consigo escrever uma linha", disse Anderson. "Para mim, é impossível trabalhar com a segurança financeira me olhando do outro lado da mesa".


"CADA UM TEM O SEU
MODO DE ESTAR EM
PAZ. NÃO HÁ FÓRMULA
PARA SE VIVER O
PRÓPRIO SONHO"

Carta a um Amigo


Sabe Francisco
Eu vi pela televisão
Notícias que falam do mundo
Mergulhado em confusão

Parece Francisco
Que tudo o que você falou
Somente os peixes e as aves
É que prestaram atenção

Você disse que é melhor
Amar que ser amado
Mas tem gente que ainda vive
Dando amor pré fabricado

Você que um dia arrancou
A roupa do teu corpo e ousou
Mostrar com sua nudez
Coisas que outro homem jamais fez

Venha de novo
Fazer outra revolução
Pois quem sabe dessa vez
O mundo preste atenção

Flui, indeciso na bruma

Flui, indeciso na bruma,
Mais do que a bruma indeciso,
Um ser que é coisa a achar
E a quem nada é preciso.

Quer somente consistir
No nada que o cerca ao ser,
Um começo de existir
Que acabou antes de o Ter.

É o sentido que existe
Na aragem que mal se sente
E cuja essência consiste
Em passar incertamente.

Comparar-te a um Dia de Verão?Comparar-te a um dia de verão?
Há mais ternura em ti, ainda assim:
um maio em flor às mãos do furacão,
o foral do verão que chega ao fim.
Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.
Mas juro-te que o teu humano verão
será eterno; sempre crescerás
indiferente ao tempo na canção;
e, na canção sem morte, viverás:
Porque o mundo, que vê e que respira,
te verá respirar na minha lira.

As nuvens são sombrias

As nuvens são sombrias
Mas, nos lados do sul,
Um bocado do céu
É tristemente azul.
Assim, no pensamento,
Sem haver solução,
Há um bocado que lembra
Que existe o coração.
E esse bocado é que é
A verdade que está
A ser beleza eterna
Para além do que há.

Há um tempo em que é preciso recosturar, reformar, reavivar as nossas roupas usadas que tanto nos deram alegria quando novas e que hoje apesar de gastas continuam quentes, macias e confortáveis porque possuem o formato do nosso corpo. Não devemos esquecer nossos antigos caminhos só porque achamos que nos levam sempre aos mesmos lugares, devemos aproveita-los para encurtar a distância que nos levam a novos.
É tempo de travessia: temos que ousar em fazê-la para nunca ficarmos a margem de outros.

Mensagem do dia – Om mani padme hum

Om mani padme hum

Om mani padme hum
Um dos mantras mais famosos do Budismo,
leva a uma reflexão que qualquer ser humano pode e deve fazer.

Om, fecha a porta do sofrimento que vem do orgulho,
orgulho que tem cegado os homens de todas as religiões.

Ma fecha as portas do sofrimento que é gerado pela inveja.
A inveja é a cegueira do espírito tolo, infantil.

Pad fecha a porta dos sofrimentos humanos, das doenças,
da velhice, que nascem dos “desejos”.
Pessoas controladas por desejos fazem loucuras.

Me fecha a porta do sentimento da ganância.
O próprio planeta sofre com esse sentimento que destrói,
que coloca o lucro acima da vida.

Hum fecha a porta do sofrimento do inferno, que é o sentimento da raiva e do ódio.
O homem coloca o inferno dentro de si mesmo quando odeia o seu próximo. Quando a cólera, a raiva toma conta das suas ações, só desgraças serão atraídas.

Om mani padme hum.
Para libertar o seu espírito dos desejos mundanos, da raiva, da ganância, do orgulho, dos desejos desenfreados da vida comercial que a sociedade tenta impor. Para a sociedade o recado é só um: consuma, consuma e seja consumido.

Para Deus, é liberte-se, despoje-se, siga-me e viva a eternidade da paz, das bençãos, da água que sacia para sempre, da leveza de se ter a “alma leve”, livre dos conceitos humanos de felicidade.
Para os conceitos humanos de felicidade, quanto mais você tem, mais é feliz, o que sabemos que não é verdade. O acúmulo de bens materiais é um fardo que por vezes é tão pesado como o próprio mundo.

Para os conceitos divinos, o acúmulo de bens “espirituais” é o maior tesouro que um homem pode ter. Caridade, despojamento, amor sem medidas, humildade, serenidade, esses sim, são tesouros que o tempo não corroem, não passam, são eternos, como você.

Om Mani Padme Hum.
Para que você reflita nas futilidades da vida, deixe de preocupar tanto com o que nada vai acrescentar na sua vida, e preocupe-se um pouco mais com o que é verdadeiramente importante.

Eu acredito em você
PS: Om Mani Pade Hum é o mantra do bodhisattva da compaixão: Avalokiteshvara Kwan Yin.
Os tibetamos entoam-no como: OM MANI PEME HUNG.
Recitar o Mantra Om Mani Padme Hum traz:

OM – Dissolve o orgulho
MA – Liberta do ciúme e da luxuria.
NI – Consome a paixão e os desejos
PAD – Elimina a estupidez e danos.
ME – Liberta da pobreza e possessividade.
HUM – Consome a agressão e o ódio.

A fome/2

Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se lambe melhor.., O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá de comer, tampouco da de amar: condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços. p. 81


Dizem as paredes/l

No setor infantil da Feira do Livro, em Bogotá:
O Loucóptero é muito veloz, mas muito lento.
Na avenida costeira de Montevidéu, frente do rio-mar:
Um homem alado prefere a noite.
Na saída de Santiago de Cuba:
Como gasto paredes lembrando você!
E nas alturas de Valparaíso:
Eu nos amo.

p. 83

de O Livro dos Abraços

Isto é Natal?

Muito cuidado com aquele amontoado de gente suada de tanto correr para procurar um presente, o mais barato possível, com aparência de caríssimo, para berrar o nome do amigo oculto no meio de inimigos declarados! Muito cuidado!
Muito cuidado com essa neurose de casa enfeitada, cheia de estrelas e penduricalhos, tudo piscando, tudo com brilho, para receber pessoas abandonadas e carentes, que vieram se abrigar no “refúgio” anual dos parentes para amenizar as dores da saudade, da ingratidão. Muito cuidado!
Muito cuidado com o jantar cuspido e dos pratos trazidos de cada convidado. Coma somente o necessário para fingir que jantou, porque o peso dos molhos e dos musses podem lhe fazer muito mal nessa altura do dia! Muito cuidado.
Muito cuidado com aqueles parentes para os quais você não pode contar as vitórias retumbantes do ano velho: reduza o brilho das suas conquistas, bote tudo no diminutivo, não conte a menor “vantagem”, é... a sua luta, o seu stress pra conseguir as coisas, eles acham que você está contando vantagem. Chega também nessa festa reclamando de alguma coisa, nem que seja da sua velhice. Vão adorar a festa!!! Muito cuidado.
Muito cuidado ao falar dos filhos também. Claro, vão perguntar por aquele que lhe dá trabalho, pelo desempregado, pelo folgado, pelo falido, ao invés de elogiar os outros que dispararam na direção do sucesso... Muito cuidado.
Muito cuidado ao chegar de carro, o seu novinho, lindo. Estacione lá longe, e finja que chegou de carroça, de charrete, de ônibus, de van, sei lá; seja criativo. Muito cuidado.
Muito cuidado com você também. Não vá chegar com uma bolsa Vitton, com roupa de marca, com maquiagem importada, não. Lave a cara, chegue de olheiras, seja discreto. Cirurgia plástica? Não conte! Converse sobre a Bolsa de Xangai, sobre o preço do combustível, sobre a pacificação dos morros, sobre a previsão do tempo. Muito cuidado.
Afinal de contas, tem muita gente pensando que é assim que se comemora o Natal. Quando o aniversariante é convidado para a festa, nada disto acontece. O encontro começa e termina com uma oração. Existe harmonia, boa vontade, carinho, ninguém está preocupado com disputa, concorrência, aparência. Pense nisto, afinal!
FELIZ NATAL