Um Cavalo Morto e um Animal sem Vida

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E se perguntassem o que vem a ser o certo, Gabriela olharia com a cabeça torta como a de um cachorro quando parece não compreender o que se passa. O olhar de repente vidrado de quem tem sede de entender as coisas que acontecem ao redor. Ela não sabia amar, talvez. Então mais um amor havia ido embora, mais um amor havia chegado ao fim. Nessa imensa individualidade onde ninguém podia entristecê-la sempre cresciam espinhos. Espinhos para machucar aqueles que a machucavam, então assim não a tocavam. Não tocava porque o medo da mágoa não deixava que lhe tocassem, ou então havia medo porque não haviam tocado fundo o suficiente para que o medo não existisse. Que triste então estava sendo, mas Gabriela parecia acostumada. Acostumada e fria porque depois de tantas lágrimas, ela finalmente parecia ter secado. A maquiagem borrada em volta dos olhos tinha sido limpa na noite anterior. Quando Antônio e ela se encontraram; ela parecia inteira. Inteira porque não tinha ficado nada dela para trás. Seus olhos eram de desilusão, de cansaço. Cansada de construir sonhos, planos, fantasias. E depois da desilusão ter de destruir uma a uma, como se nada daquilo tivesse um dia existido, só para olhar para trás e não sentir nada do que sentira antes. Era mais um fim doído, choroso, arrastado.

Como se esquecer um amor? Amando outro amor.

Tenho certeza absoluta de que um curinga continua perambulando pelo mundo. Ele se encarregará de não permitir que o mundo se acomode. A qualquer momento, e em qualquer parte, pode aparecer um pequeno bobo da corte usando um barrete e uma roupa cheia de guizos tilintantes. Ele nos olhará nos olhos e nos perguntará: "Quem somos? De onde viemos?"

O amor não precisa ser perfeito para ser amor...
Ou não seria um sentimento humano,
seria algo apenas ao alcance de Deus.

Claro que sobrou um carinho, uma amizade, uma graça. O mesmo que tenho pelo resto da humanidade que julgo digno de alguns minutos do meu tempo. Mas tudo aquilo, meu Deus, tudo aquilo que era maior do que eu mesma, maior do que o mundo, que me soterrava, que me transportava pra outra realidade, que fazia meu corpo inteiro doer tanto de tanto sangue inchado que passava por ele, tudo aquilo, nossa, acabou. Já era.

Então me sinto protagonista de um filme chamado: Criaturas que o mundo esqueceu.

E, mesmo, quem já não desejou possuir um ser humano só para si? O que, é verdade, nem sempre seria cômodo, há horas em que não se quer ter sentimentos.

Clarice Lispector
Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma.

E eu? quem sou? como é que me classificaram? Deram-me um número? Sinto-me numerificada e toda apertada. Mal caibo dentro de mim. Eu sou um euzinho muito mixa. Mas com certa classe.

Clarice Lispector
Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho da crônica Brasília: esplendor.

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Quando se está com um homem assim, eu lembro “meu deus, como eu gosto disso”. Eu não gosto de trabalhar, eu não gosto de mais da metade de tudo que eu como, eu não gosto de falar ao telefone, eu não gosto de ser paquerada, eu não gosto de festa de família, eu não gosto de acordar, eu não gosto de pagar conta, eu não gosto das minhas roupas, eu não gosto de 80% dos papos que as pessoas querem começar comigo, eu não gosto de colocar o umbigo nas costas na aula de yoga, da minha vizinha que está sempre berrando com alguém ao telefone, eu não gosto da louça, do pessoal que me pergunta como faz pra trabalhar num sei onde, de listas de presentes. Mas eu gosto disso, eu vivo pra isso, eu acordo pra isso, eu trabalho pra isso, eu tomo banho pra isso.

Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Vi, sim. Vi, e me assustei com a verdade bruta de um mundo cujo maior horror é que ele é tão vivo que, para admitir que estou tão viva quanto ele – e minha pior descoberta é que estou tão viva quanto ele – terei que alçar minha consciência de vida exterior a um ponto de crime contra a minha vida pessoal.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Há um livro em cada um de nós.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

O amor é uma dor, é um tédio sem remédio.

Nenhum homem deveria sentar-se em paz à mesa farta,
sabendo que em algum lugar há um irmão seu passando fome...

Bom mesmo é ser um cão. Ninguém se confunde com o seu latido.

Todo mundo é um pouco triste e um pouco louco.

Ousado é aquele que parte pra cima das dificuldades sempre com um sorriso no rosto em busca de alegria.

O que há de mais espetacular na celebração de um casamento do que o beijo apaixonado dos recém-casados, e do desfilar de mãos dadas dos, agora, marido e mulher?

Perante o juiz, de casamento assina-se um contrato a fim de saber quem será o culpado caso um deles se afaste e outro morra de saudade.

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