Tristeza Pablo Neruda
Uma mulher ignorante existe para expor seus desejos frívolos e suas vulgaridades corporais, como um fétido animal imundo que vive tão somente para entreter e manipular incautos. Diferente da sábia, que seduz com pureza, inocência, verdade, naturalidade e ternura, como um raríssimo rubi a reluzir-se singelamente no seio da imaculada e transcendental correnteza do amor.
Réquiem do sol
A clepsidra desbotada absorve minha solidão
O doce silêncio ascende minha alma solar
O vento e as nuvens turvam sensorialmente o ar
Nas lendárias memórias do insensato coração
Os deuses conspiram contra o amor e a doçura
Ateiam fogo nas bandeiras da paixão e da ternura
Reis, principados e tronos anseiam a morte trágica do poeta
Que existe porque a saudade sublimemente o desperta
Na mítica argila, o rabisco de Macha reluz o intrépido trovão
A estatueta ametista sinfoniza as inapagáveis e imaculadas resplandecências
Ao norte, o vento escarlate desenha a impetuosa perfeição
Canonizado, o ninho dos fantasmas descortina as prumadas transcendências
Tu és meu livro memorial, minha estante de sumptuosas recordações
Eu sou sua metade, seu pedaço pelo destino outrora roubado
Seu castelo de tristezas, gritos, prantos, lamentações e fado
Quero entregar-lhe desejos, sonhos, fantasias, desígnios e sensações
Fragmentados nas infinitas camadas do lúdico carrossel dourado
Consubstanciados na homérica galáxia do sagrado paraíso constelado
Quando pequenino, eu desconhecia as ações do homem dissimulado, cínico e articulador. Hoje, vejo claramente que tal entidade não passa de um embasbacado ator que vive para maquiar involuntariamente a própria existência.
Destronar as teatralidades, alavancar a erudição, impulsionar a paz e extirpar a escuridão são alguns dos objetivos áureos daqueles que não perderam a esperança.
Uma grande mulher é tão imperceptível quanto um relâmpago (solitário) que eclode em plena luz solar.
Um grande homem possui ideias consistentes, atitudes coerentes e vozes transcendentes, de modo que essas três vertentes interagem entre si e são absolutamente dependentes umas da outras.
Gosto das mulheres promíscuas: elas seduzem os homens, os usam de todas as formas possíveis, destroem grande parte de suas fortalezas e depois pranteiam demagogicamente dizendo que foram implacavelmente enganadas por eles.
Uma pessoa se envergonha por errar alguns cálculos matemáticos, por morar em uma casinha modesta, por se expor a um público múltiplo e contestador e por andar nas ruas trajando vestes singelas e esfarrapadas, mas não se contrai nenhum pouquinho por ofender os mais velhos, por incitar piadas de mau gosto contra criaturas frágeis, por fingir ser aquilo que não é e tampouco por mentir e manipular seus semelhantes. Destarte, não faz o que deve ser feito por timidez e realiza o que não deve ser realizado por extroversão.
A força mais expressiva de um ser humano é a sua alma. Por isso, os seres milenares dedicam-se integralmente e exclusivamente a ceifa de tal preciosidade, reunindo todas as energias possíveis para desbravar esse território e tomá-lo, austera e implacavelmente.
Persistência é coisa de ser humano comum. Criaturas diferenciadas são inconversíveis, imparáveis, retilíneas, inconvertíveis e cabalmente imutáveis.
O inconsciente é capaz de transformar um valente leão em uma acanhada lagartixa. Qualquer criatura sem segurança está morta por dentro e aniquilada por fora.
A maior de todas as belezas não é a lapidação estética da casca, mas sim a regeneração intrínseca do espírito.
Quem se preocupa em duelar com o próprio semelhante têm a mente atrasada. Grandes entendimentos brigam por universos invisíveis: estes que estão além das consciências casuais.
