Tiro no Escuro
No quarto escuro da alma, o amor não desiste. É silêncio que acolhe, é presença que não abandona. Amar um depressivo é ser farol na noite sem estrelas, luz que não cobra, só guia.
Amor Mortal
Ouvi um raio —
tremeu…
a alma, os cílios.
Raio contundente,
frio,
escuro…
e ao mesmo tempo, divino.
Um gostar de sentir calafrio,
ausências,
inseguranças,
frio na barriga.
Isso é amor?
(pelo menos, para mim, é).
Insuportável, a harpa angelical
dos casais tão simples!
— “Oi, amor!”
— “Bom dia, amor!”
— “Durma bem, amor!”
E eu penso:
morro em vida.
Uma sombra…
sussurros…
Ela — só ela.
Sinto arrepios,
fico surdo,
estático,
só admirando aquela
figura magra
e gélida.
Ela se despe —
vestida de ossos pontudos!
Como não desejar
sua morte?
Silêncio, não de paz, é o grito da morte.
Vazio, ausência absoluta de vida.
Escuro, sem luz estou agora pois, para onde me esforço a observar, me pego na dúvida eterna se fechados estão minhas pálpebras ou aberto estão meus olhos sem brilho da luz que um dia jurou me guiar.
A perda se torna intensamente triste, quando se tem a presença constante do medo dela.
A alegria esta sempre ocupada, enquanto a tristeza disponível sempre esteve, sentirá que a presença da tristeza deixará tu e todos para baixo.
Já no topo, grudado com a alegria, ocupado demais para lembrar da tristeza, esquecerá que foi a tristeza que te fez subir, foi a disponibilidade da tristeza que te levou a ocupação da alegria
Tristeza, o lado oculto da alegria onde dizem citar por aí que, que há de haver um fardo dez vezes mais pesado que a tristeza humana.
Alegria, ocupado demais para explicar
- Poema feliz, de uma pessoa não tão feliz assim. De Leonardo Cestari Silva
Fé é caminhar no escuro com coragem mesmo quando nao se ver , é acender a própria tocha rumo a uma bela chegada .
Jornada
No escuro viemos sozinhos.
Chegamos sem nada,
sem pudor, sem medos, sem malas.
Não temos marcas,
não temos dor,
nada.
Damos o primeiro passo
e conhecemos as cicatrizes:
o que é bom, o que é ruim,
as regras, diretrizes.
Passamos, corremos, lutamos,
caímos e levantamos.
Ambição, temor,
frio e calor.
Encontramos nesse turbilhão de informações
o amor vindo de inúmeras direções.
Com ele, a armadura que se usa
para previnir os danos.
Por fim partimos.
Agora com malas pesadas,
bagagens deixadas apenas como uma memória
para o acalento de quem ficou,
que já não nos pertence como foi outrora.
Agora? Escuro,
um frio cortante,
silencioso e barulhento
com nada mais do que as marcas
das guerras que travamos
Da corrida que inventamos
Partimos,
No escuro, vamos, sozinhos.
Amor Mortal
Ouvi um raio —
tremeu
…a alma, os cílios.
Raio contundente,
frio,
escuro,
e, ao mesmo tempo, divino!
Um gostar de sentir calafrio,
ausências e inseguranças,
frio na barriga…
Isso é amor?
(pelo menos, para mim, é.)
Insuportável a harpa angelical
dos casais tão simples:
“Oi, amor!”
“Bom dia, amor!”
“Durma bem, amor!”
Penso que morro em vida.
Uma sombra… sussurros…
Arrepios…
Fico surdo,
estático,
só admirando aquela figura
magra e gélida.
Ela se despe —
vestida de ossos pontudos!
Como não desejar sua morte?
“Quando um negro insulta outro negro por ser mais escuro, está apenas a repetir a voz do colonizador dentro de si.”
A Pele que Somos
Rafique Anusse
Negro chama negro de escuro,
como se a noite fosse vergonha,
como se o sol não tivesse beijado
a pele que o mundo insiste em negar.
Mulata vira troféu de esquina,
filhos claros viram promessa,
e o coração escuro é deixado
num canto, como sombra esquecida.
Mas quem foi que disse
que a lua é mais bela que o céu profundo?
Quem foi que ensinou
que o branco é luz e o negro ausência?
O auto-racismo é ferida aberta,
não sangra para fora, mas consome por dentro.
É língua que fere sem saber,
é olhar que rejeita o espelho,
é sonho que procura clarear
o que já nasceu inteiro.
E eu pergunto:
até quando a cor será fronteira?
até quando o amor será medido
na escala invisível da pele?
Porque ser negro é mais que cor:
é raiz, é memória,
é tambor que resiste,
é noite que guarda estrelas.
Há uma luz que só se acende quando tudo parece escuro: é a luz que nasce de dentro, quando finalmente lembramos quem somos.
“Esperar não é pausa: é a coragem silenciosa de quem planta no escuro acreditando que a própria luz saberá voltar.”
