Textos Vc Nao foi Homem pra Mim

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Não se isole. Faça das pessoas que o rodeiam grandes amigos. Saia do seu casulo. Surpreenda-se. Faça essa brincadeira-repita pausadamente estas palavras em voz audível. Se estiver em grupo, repita-as coletivamente: Eu prometo que, de hoje em diante, não mais dançarei a valsa da vida com as duas pernas engessadas, surpreenderei a mim e aos outros...

Outro dia tentei chorar. Outro dia tentei abraçar meu travesseiro. Não acontece nada. Eu não consigo sofrer porque sofrer seria menos do que isso que sinto. Tentei falar. Convidei uma amiga pra jantar e tentei falar. Fiquei rouca, enjoada, até que a voz foi embora. Tentei aceitar o abraço da minha amiga, mas minha mão não conseguiu tocar nas costas dela. Não consigo ficar triste porque ficar triste é menos do que eu estou. Não consigo aceitar nenhum tipo de amor porque nenhum tipo de amor me parece do tamanho do buraco que eu me tornei.

Que você olhe no espelho da sua mente. E, se olhar, não tenha medo de se enxergar. E, se enxergar, seja autônoma, reconheça seus defeitos. E, se reconhecer, seja analítica, não se puna nem se diminua. Esteja sempre pronta pra recomeçar. E, se recomeçar, seja contemplativa, faça muito do pouco. Desse modo, você se tornará autora da sua própria história.

A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. Aquilo que provavelmente pedi e finalmente tive, veio no entanto me deixar carente como uma criança que anda sozinha pela terra. Tão carente que só o amor de todo o universo por mim poderia me consolar e me cumular, só um tal amor que a própria célula-ovo das coisas vibrasse com o que estou chamando de um amor. Daquilo a que na verdade apenas chamo mas sem saber-lhe o nome.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Quando resolvi fugir daquelas coisas torpes lá de fora não pensei que fosse tão fácil: na verdade foi tudo muito natural, como se um dia isso tivesse mesmo que acontecer, e exatamente dessa forma. Não precisei fazer esforço algum. Só deitar e esperar. A princípio ainda classificava lembranças e memórias, tinha consciência de um antes, um durante, um depois, de um real e um irreal, um tangível e um intangível, um humano e um divino: separava minha memória e meus conhecimentos em partes cuidadosamente distintas. Depois que ele começou a rondar minha janela, ou antes, não sei, tudo se confundiu num só bloco, e fiquei assim: esta massa compacta toda à superfície de si mesma. Não lembro de ninguém assim tão à flor de si mesmo: raiz, caule, folhas e frutos. Talvez eu esteja sendo gerado, não sei. Sei que falta pouco. Eu queria que não fosse assim, que não tivesse sido assim. Mas não consegui evitar. A semente recusava-se a vir à tona, eu nem sempre tinha tempo ou vontade de regá-la, e não chovia mais – foi isso que aconteceu.

Se soubesses da solidão desses meus primeiros passos. Não se parecia com a solidão de uma pessoa. Era como se eu já tivesse morrido e desse sozinha os primeiros passos em outra vida. E era como se a essa solidão chamassem de glória, e também eu sabia que era uma glória e tremia toda nessa glória divina primária que, não só eu não compreendia, como profundamente não a queria.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Tenho medo de não conseguir manter minhas ideias, meus pontos de vista, minhas escolhas. A minha cabeça é como um guarda que não permite que eu estacione em local algum. Eu fico dando voltas e voltas no meu cérebro e quando encontro uma vaga para ocupar, o guarda diz: circulando, circulando . Você está me entendendo? Eu não tenho área de repouso. Raramente desligo, e quando isso acontece, não dá nem tempo para o motor esfriar.

Eu sou antipática mesmo, o mundo tá cheio de gente brega e limitada e é um direito meu não querer olhar na cara delas, não tô fazendo mal a ninguém, só tô fazendo bem a mim. Minha terapeuta fala que eu preciso descobrir as outras Tatis: a Tati amiga, a Tati simpática, a Tati meiga, a Tati que respira, a Tati que pensa, a Tati que não caga em tudo porque deixou a imbecil da Tati de cinco anos tomar as rédeas da situação.

Porque eu percebi que esse negócio chamado amizade não é sobre confortar ou colocar pra cima. Não. Amizade é quando - juntas - vocês sentem as mesmas coisas, sejam elas flores com fragrância de perfume francês, ou cogumelos bizarros vindos de seus corações cansados de sofrer. É quando você e outra pessoa se forçam a sentirem as mesmas coisas, e - mesmo que sejam dores e medos inimagináveis - deixam tudo mais bonito, apenas pelo fato de estarem compartilhando. Amizade é compartilhar. Não é oferecer o ombro amigo, mas chorar junto suas dores, para mostrar que ela não é a única capaz de sofrer.

Eu não sei dançar, eu não sei contar piada, eu não sei escrever bem, eu não sei ser meiga, eu não sei tirar foto, eu não sei beber, eu não sei pular, eu não sei ser sexy, eu não sei ser nada… Eu não sei fazer nada, mas eu faço, eu danço mesmo, eu canto alto mesmo, eu tiro foto feia mesmo, eu tento ser meiga, eu bebo mesmo, eu conto piada sem graça mesmo. Só porque isso me faz feliz, eu não sei fazer, mas pelo menos eu sei ser feliz!

A interpretação não é (como supõem muitos) um valor absoluto, um ato do espírito situado em algum reino intemporal das capacidades. A interpretação também precisa ser avaliada no âmbito de uma visão histórica da consciência humana. Em alguns contextos culturais, a interpretação é um ato que libera. E uma forma de rever, de transpor valores, de fugir do passado morto. Em outros contextos culturais, é reacionária, impertinente, covarde, asfixiante.

Susan Sontag
SONTAG, S., Contra a interpretação, LPM

Dos meus momentos mais felizes, não me lembro de algum em que esteja sozinha. Quando os dias se mostravam tristes demais para meu coração, tinha alguém ao meu lado pra segurar minha mão, quando a felicidade era imensa, estava lá pra sorrir comigo e registrar os momentos. Quantas vezes as gargalhadas ecoaram pelos cômodos da casa e quantas outras ninguém nos ouviu chorar baixinho no colo de um amigo? Realmente fui feita de metades, poucos e pedaços de cada, que se completam com essas pessoas especiais que estão a meu redor.

E nós sabemos Deus. E o que precisamos Dele, extraímos. (Não sei o que chamo de Deus, mas assim pode ser chamado.) Se só sabemos muito pouco de Deus, é porque precisamos pouco: só temos Dele o que fatalmente nos basta, só temos de Deus o que cabe em nós. (A nostalgia não é do Deus que nos falta, é a nostalgia de nós mesmos que não somos bastante; sentimos falta de nossa grandeza impossível – minha atualidade inalcançável é o meu paraíso perdido.)

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

(...) numa ilha do norte onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar por algum tempo que afinal passou depressa como tudo tem de passar e hoje me sinto como se agora fosse também ontem, amanhã e depois de amanhã, como se a primavera não sucedesse ao inverno, como se não devesse nunca ter ousado quebrar a casca do ovo, como se fosse necessário acender todas as velas e todo incenso que há pela casa para afastar o frio, o medo e a vontade de voltar.

Não há nada de exausto, nada de caduco, nada de perigoso para a vida, nada que calunie o mundo no reino do espírito, que não tenha encontrado secretamente abrigo em sua arte; ele dissimula o mais negro obscurantismo nos orbes luminosos do ideal. Ele acaricia todo o instinto niilista (budista) e embeleza-o com a música; acaricia toda a forma de cristianismo e toda expressão religiosa de decadência.

Tem gente que insiste em negar isso, mas não há nada que o tempo não cure, ou no mínimo amenize. Pois com o tempo a gente muda. Conhecemos pessoas novas, nossos gostos mudam, nossa aparência muda, nossas ideias mudam, nossos objetivos mudam, nossos focos e nossas metas também mudam. Ou seja, com tudo mudando é meio improvável que suas dores do passado sejam tão fortes quanto eram antes.

Não se prenda aos problemas, busque sempre soluções. Problemas todo mundo tem, o que diferencia você dos demais, é como você lida com eles. Tudo é possível e você é mais capaz do que imagina ser. Apenas siga sempre em frente… Não se abaixe diante das pedras do caminho. E se você cair, levante-se… Mais uma vez.

O bem geralmente é muito suave, discreto, e de tão presente que é em nossas vidas praticamente não o percebemos ou não o damos valor. O mau, por sua vez, é terrível e escandaloso, mas ocorre bem menos. Agradeça por isto. Não espere que te ocorra grave tragédia para perceberes a exata medida das coisas, a grande verdade de que em nossas vidas existe menos mal do que bem...

Não sou perfeito. Nunca fui. E também não sou bom exemplo pra ninguém. Mas se quiseres pensar sobre as palavras que digo, procure tirar delas bom proveito, por que foram escritas com o coração, por uma pessoa igual a você, e que teria errado menos, se machucado menos, e vivido melhor, caso tivesse ouvido estas mesmas palavras de outrem.

A gruta é úmida escura fria. Não tenho roupa, não tenho fome, não tenho sede. Só tenho tempo, muito tempo, um tempo inútil, enorme, e este farrapo de folha de livro. Não sei, até hoje não sei se o príncipe era um deles. Eu não podia saber, ele não falava. E, depois, ele não veio mais. Eu dava um cavalo branco para ele, uma espada, dava um castelo e bruxas para ele matar, dava todas essas coisas e mais as que ele pedisse, fazia com a areia, com o sal, com as folhas dos coqueiros, com as cascas dos cocos, até com a minha carne eu construía um cavalo branco para aquele príncipe. Mas ele não queria, acho que ele não queria, e eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique, a gente constrói qualquer coisa, até um castelo.