Textos de Fabrício Carpinejar

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Homem não gosta de mulher que insiste com recados consecutivos, mas também não gosta de mulher que não telefona. Mulher não gosta de homem que a persegue, mas também não gosta de homem que não a procura. Homem não gosta de mulher fácil, mas também não gosta de mulher difícil. Mulher não gosta de homem doce, mas também não gosta de homem rude. Homem não gosta de mulher que fica com muitos, mas também não gosta de encalhada. Mulher não gosta de mulherengo, mas também não gosta de travado. Homem não gosta de ser questionado, mas também não gosta de ser esquecido. Mulher não gosta de ser contrariada, mas também não gosta de gente passiva. Homem não gosta de estardalhaço, mas não adia uma bagunça. Mulher gosta de estardalhaço, desde que não vire bagunça. Homem não gosta de ser debochado, mas também não suporta ser levado sempre a sério. Mulher não gosta de brincadeiras sem graça, mas não admite a ausência de brincadeiras. Homem não gosta de fofoca, mas é o primeiro a contar as novidades aos amigos. Mulher gosta de fofoca, mas deseja preservar sua privacidade. Homem não gosta de jantar na casa da sogra, mas também precisa dela. Mulher não gosta de ser comparada com as antigas namoradas, mas também quer saber todos os detalhes. Homem não gosta de ser surpreendido, mas também não gosta de saber antes. Mulher adora um mistério, mas com aviso prévio. Homem não gosta de comprar lingerie, mas também é o primeiro a criticar a que ela está usando. Mulher ama comprar lingerie, mas também é a primeira a dizer que a incomoda. Mulher prefere calcinha bege, não aparece com a roupa. Homem abomina calcinha bege, aparece demais quando ela tira a roupa. Homem não gosta de discutir relacionamento, mas também não gosta do silêncio. Mulher gosta de discutir relacionamento, mas odeia chorar no meio da briga. Homem não tolera filmes românticos, mas não desliga quando reprisados na tevê. Mulher não agüenta filmes de ação, mas também é um alívio não pensar muito. Homem tem dificuldades para se declarar, mas faz o impossível para ser denunciado. Mulher espera declarações, mas não quando está se arrumando. Homem reclama dos atrasos, mas também detesta quem chega antes. Mulher odeia a impaciência do homem, mas também se enerva com a letargia. Homem não resiste a um videogame, mas também não deseja ser chamado de criança. Mulher abusa dos diminutivos, mas também diz que cresceu. Homem pede desculpa quando machuca, mas não aceita desculpa quando machucado. Mulher se desculpa antes de errar, depois não se lembra. Mulher desvia o assunto quando se desinteressa, mas não gosta que não prestem atenção nela. Homem não gosta de ser interrompido, mas vive interrompendo. Mulher admira poesia, mas não no sexo. Homem procura agradar a mulher ao recitar poesia no sexo. Homem não gosta de unhas vermelhas, mas fica excitado com elas num filme pornô. Mulher gosta de unhas vermelhas porque detesta filme pornô. Mulher anseia pelas flores, mas nunca tem um vaso para colocá-las. Homem gosta de mandar flores, mas desiste na hora de escrever o cartão. E ambos não gostam do meio-termo.

PARA ANIVERSÁRIOS:

Comemore, pois ficar experiente é tão bom e prazeroso..
Muuuitas felicidades, amor, saude,paz e sabedoria.
Gostooo muito de voce e torço sempre para o seu crescimento, que Deus continue abençoando seus caminhos, que você viva intensamente a vida sem medo de errar e se machucar, porque como dizem por ai o tempo cura não é mesmo ?
Então brique de ser feliz, viva mesmo, sorria sempre, quando for chorar lembre-se que tudo passa, os dias passam e a gente se importa pouco com coisas que realmente valem a pena.. Siga sem olhar pra tras e sem perguntar como teria sido se voce tivesse feito diferente, voce fez o que realmente foi necessário e o que estava ao seu alcance, pense sempre em você, SE AME sempre

A gentileza é tão fácil. É fazer uma comida de surpresa, é convidar a um cinema de imprevisto, é pedir uma conversa séria para apenas se declarar, é comprar uma lembrancinha, é chamar para um banho junto, é oferecer massagem nos pés, é perguntar se está bem e se precisa de alguma coisa, é tentar diminuir a preocupação do outro com frases de incentivo.
Quando o amor para de um dos lados, o relógio intelectual morre. Não se vive desprovido de gentileza. A gentileza é o amor em movimento.

A morte não é para amadores. A morte não pede para você guardar os óculos antes de bater em sua cara. A morte não se intimida se é idoso ou uma criança. A morte é implacável e não espera que você prepare um discurso de adeus - os outros terão que se virar com as palavras ditas e as lembranças esparsas. A morte dói duas vezes: para quem parte sem saber e para quem fica sem compreender o sumiço. A morte desidrata a alma. A morte não lhe poupa das piores notícias, diz de uma vez, grosseira. A morte vai tirando quem você mais gosta de repente e deve se virar com o luto. A morte é a solidão da memória. A morte não respeita Dia dos Pais ou das Mães e leva o seu pai e sua mãe no meio da comemoração.

A morte não poupa sequer o aniversário de alguém. Não aguarda que soprem as velas, que vire o pêndulo da meia-noite, que se abram os presentes. Ela não ama ninguém para dar desconto, sobrevida, perdoar atrasos.

A morte tem inveja da vida. Parece que ela nos obriga a ser feliz sem pensar muito no futuro, sem se demorar para responder os afetos, sem adiar os sonhos. A morte grita em nossos ouvidos: faça agora antes que seja tarde.

Fabrício Carpinejar 🍃

Amor Amor ou Vinícius de Moraes


Há uma ideia do amor exclusivo. Como se houvesse uma única chance na vida de amar. Ou é o amor eterno, ou era mentiroso. Ou acontece pela vida inteira, ou não funcionou.

E, quando acertamos um casamento, as opções anteriores são consideradas falsas – necessitamos apagar o passado. E, quando erramos um casamento, as opções anteriores são vistas como legítimas – desperdiçamos romances melhores.

Trata-se de uma visão limitada, de contar apenas com um endereço para o nosso coração. Mas amor é cigano, amor é mambembe, amor é viageiro.

Mas amor é tentativa, amor é insistência, amor é rascunho, amor é esboço, amor é esgotar as possibilidades e se recriar diante delas.

Só porque você amou antes, não significa que não pode amar de novo. Ou, só porque você amou antes, não significa que o próximo amor é falso e está fingindo. Só porque você se declarou a alguém, isso não compromete as próximas declarações.

Só porque você disse que era para sempre e terminou, não quer dizer que é um fingido.Todos os amores podem ser verdadeiros. Todos podem ser influentes.

Haverá um maior, sim, um amor decisivo, um amor transformador, um amor real, honesto e justo: o Amor Amor.

O Amor Amor não é egoísta, não vai isolá-lo da convivência. Você se duplicará para os próximos. Passará a amar os amigos como nunca. Passará a amar a família como nunca. É tanto amor, que sobrará para muitos.

O que deve prevalecer no temperamento é não desistir, não se entregar para o ressentimento, não defender os sentimentos parados condenando os outros que permanecem em movimento.

Eu acredito que quem casa ou namora várias vezes não é carente. Quem casa e namora várias vezes não é desesperado. Está se moldando à alegria, a superar as diferenças, a se separar, a recomeçar, a sangrar sozinho, a entender as dores e as imperfeições. Apresenta mais chance de ser feliz. Pois a felicidade é maleável, é macia, é elástica. A felicidade é feita para quem tem coragem de sofrer.

Desesperado e carente é aquele que não tenta e vive reclamando, praguejando, amaldiçoando os demais. Desesperado e carente é aquele que se esconde tão bem, que não se encontra e não se dá de verdade.

Desesperado e carente é aquele que não namora ou não casa para não ter que trabalhar emocionalmente e não se decepcionar. Alimenta-se de sombras, de sobras, de rancores.

Amor não é uma vez, são várias vezes até encontrar a pessoa predileta. A pessoa necessária. A pessoa fundamental. A pessoa que supera sua idealização, que lhe devolve a vontade de atravessar suas idades e tempos.

Daí, você descansa por estar andando, como diz minha mãe.

Amor é descansar em estar andando. E andar de mãos dadas jamais cansa.

Fico feliz que você não atende aos meus telefonemas. Fico feliz que você deixa minhas mensagens no vácuo, que você espia, não responde e apaga. Fico feliz com sua disposição em me destruir e não colar os nossos pedaços. Fico feliz com sua raiva contida, seus protestos secretos, suas exigências sempre misteriosas, sua atitude intransigente. Fico feliz com seu extremismo, seu isolamento, seu vestido preto e justo. Seu luto é lindo.

Fico feliz que você me evita, que você nem fala mais de mim, que cansou de sofrer. Fico feliz que você pode não me escolher, pode me rejeitar. Não suporto mesmo mendicância.

Fico feliz que você muda os trajetos para não esbarrar comigo. Fico feliz que você não escuta nossas músicas, arquivou nosso idioma, jogou fora nossos presentes, fotos e bilhetes. Fico feliz com a astúcia de sua ausência. Fico feliz que sou como uma encarnação antiga, que não estou em seu corpo. Fico feliz que não desperto nem saudade fria, nem saudade quente. Fico feliz que você não olha minhas páginas no Facebook, no instagram, que desapareceu a curiosidade da dor.

Fico feliz que você já passou de ser vítima do desespero para ser dona do seu desespero e manda e desmanda nas palavras e no silêncio. Fico feliz que você já voltou a sair, a beber, a contar piadas, a conversar com os amigos. Fico feliz que você pode me ocultar no jardim de sua memória, sem cruz e sinal de pedras. Fico feliz que você pode fingir que nada aconteceu, fugir do que aconteceu. Fico feliz com sua resistência, sua força de vontade. Fico feliz que está resolvida e não acredita em mim. Fico feliz com sua estabilidade imediata, sua defesa articulada e coesa. Fico feliz com seu equilíbrio na tempestade, segurando o desaforo, o guarda-chuva e o rosto ao mesmo tempo. Fico feliz que abandonou as lágrimas, o nariz escorrendo, os ouvidos tremendo. Fico feliz que recolheu as roupas de sua tristeza.

Fico feliz que se tornou decidida a ponto de me evitar, a ponto de me recusar, a ponto de me esnobar. Fico feliz que você optou por seguir sua intuição, por concordar com suas premonições, por não se submeter a ser menor do que esperava no amor. Sem metades, sem mentiras, sem meias-promessas. Fico imensamente feliz que você me nega, que você me esnoba. Fico tão orgulhoso do que o nosso relacionamento nos ensinou.

Você está pronta para mim. Necessito de oposição. Necessito de alguém que me desafie. Necessito realmente de uma mulher forte ao meu lado.

Não confie na frase da sua avó, de sua mãe, de sua irmã de que um dia encontrará um homem que você merece. Não existe justiça no amor.
O amor não é censo, não é matemática, não é senso de medida, não é socialismo. É o mais completo desequilíbrio. Ama-se quem a gente odiava, quem a gente provocava, de quem a gente debochava. Exatamente o nosso avesso, o nosso contrário, a nossa negação. O amor não é democrático, não é optar e gostar, não é promoção, não é prêmio de bom comportamento.
O melhor pra você é o pior. Amor é ironia.

DEPOIS DE MUITO AMOR

A mulher somente despreza quem ela amou demais. Não é qualquer homem que merece, não é qualquer pessoa. Pede uma longa história de convivência, tentativas e vindas, mutilações e desculpas. O desprezo surge após longo desespero. É quando o desespero cansa, quando a dúvida não reabre mais a ferida.

É possível desprezar pai e mãe, ex-esposa ou ex-marido, daquele que se esperava tanto. Não se pode sentir desprezo por um desconhecido, por um colega de trabalho, por um amigo recente. O desprezo demora toda a vida, é outra vida. É nossa incrível capacidade de transformar o ente familiar num sujeito anônimo.

Assim que se torna desprezo, é irreversível, não é uma opinião que se troca, um princípio que se aperfeiçoa. Incorpora-se ao nosso caráter.

Desprezo não recebe promoção, não decresce com o tempo. Não existe como convencer seu portador a largá-lo. Não é algo que dominamos, tampouco gera orgulho, nunca será um troféu que se põe na estante.

Desprezo é uma casa que não será novamente habitada. Uma casa em inventário. Uma casa que ocupa um espaço, mas não conta.

É a medida do que não foi feito, uma régua do deserto. A saudade mede a falta. O desprezo mede a ausência.

O desprezo não costuma acontecer na adolescência, fase em que nada realmente acaba e toda vela de aniversário ainda teima em acender. É reservado aos adultos, desconfio que deflagre a velhice; vem de um amor abandonado. Trata-se de um mergulho corajoso ao pântano de si, desaconselhável aos corações doces e puros, representa a mais aterrorizante e ameaçadora experiência.

Indica uma intimidade perdida, solitária, uma intimidade que se soltou da raiz do voo.

O desprezo é um ódio morto. É quando o ódio não é mais correspondido.

Não significa que se aceitou o passado, que se tolera o futuro; é uma desistência. Uma espécie de serenidade da indiferença. Não desencadeia retaliação, não se tem mais vontade de reclamar, não se tem mais gana para ofender. Supera a ideia de fim, é a abolição do início.

Não desejaria isso para nenhum homem. O desprezado é mais do que um fantasma. Não é que morreu, sequer nasceu; seu nascimento foi anulado, ele deixa de existir.

O desprezo é um amor além do amor, muito além do amor. Não há como voltar dele.
(Zero Hora)

Você precisa se esconder em lugares públicos e fugir de gente conhecida.
Você precisa dormir tarde com o celular sempre perto.
Você precisa se livrar de recibos e limpar o carro a cada viagem.
Você não pode jamais esquecer algo no motel.

Se fizesse todo esse trabalho físico, mental e emocional para a sua esposa, não para ter uma amante, o seu casamento estaria salvo.

Quando um copo quebra, por mais que se recolham os fragmentos, algo ficará piscando no chão no dia seguinte. (…)Viver é se cortar, não contar os riscos. (…) Não há como amar sem dar tempo ao ódio. Não há como odiar sem dar tempo ao amor. Paixão é não saber. Quando se sabe, é amor. (O Amor Esquece de Começar)

Não puxei os olhos de minha mãe, nem o nariz. Puxei os ouvidos. Ir ao começo das coisas já é chegar ao fundo. Amêndoa poderia ser somente uma palavra que ainda teria gosto. A árvore faz contas debaixo da casca. Eu me reclino ao mar com dois travesseiros de vento. A mão sem anel é mais lenta. Vim bem antes da bagagem. Não tenho força para chamar meu grito de volta. Se o rio escutasse, ele não retornava. A casa em que se dorme fica acordada no sangue. Abro um livro como quem descobre um sótão. Eu me iniciei em telhados. A uva que não virou vinho é uma amiga infiel. Não me obedeço. Os braços são lâmpadas sem paredes. As pedras deveriam dizer tudo o que pensam para as sombras. Quando quero morrer, me tranco no quarto do apelido e não atendo pelo nome. Minha memória se acostumou a se imaginar nas falhas. O mel é o imã das formigas. Escrever é um excesso imperdoável que nasce da falta.

(…) Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, jogar futebol no sábado com os amigos, soltar gargalhada de hiena, pentear-se com franjinha, ter pêlos nas costas e no pescoço, usar palito de dente, trocar os talheres de um momento para outro. Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem. Amar com coragem não é viver com coragem. É bem mais do que estar aí. Amar com coragem não é questão de estilo, de gosto, de opinião. Não se adquire com a família, surge de uma decisão solitária. Amar com coragem é caráter. Vem de uma obstinação que supera a lealdade. Vem de uma incompetência de ser diferente. Amar para valer, para dar torcicolo. Não encontrar uma desculpa ou um pretexto para se adaptar, para fugir, para não nadar até o começo do corpo. Não usar atenuantes como “estou confuso”. Não se diminuir com a insegurança, mas se aumentar com a insegurança. Não se retrair perante os pais. Não desmarcar um amor pela amizade. Não esquecer de comentar pelo receio de ser incompreendido. Não esquecer de repetir pela ânsia da claridade. Amar como se não houvesse tempo de amar. Amar esquisito, de lado, ainda amar. Amar atrasado, com a respiração antecipando o beijo. Amar com fúria, com o recalque de não ter sido assim antes. Amar decidido, obcecado, como quem troca de identidade e parte a um longo exílio. Amar como quem volta de um longo exílio. (…) Amar com coragem, só isso.

Curioso que as pessoas acreditam que podem controlar suas emoções. Que realmente podem prometer um comportamento equilibrado e santo. Que não vão sofrer nenhum baque, nenhum susto com aquilo que será revelado. É uma falsa onipotência. Nunca descobriremos como vamos receber uma notícia. Alguns gritam e esperneiam, outros são mansos e indiferentes. É um enigma, um mistério. Somos imprevisíveis no amor e na amizade. O justo é não antecipar respostas. Perante uma tristeza, você nunca saberá o que vai sentir. Ou deixar de sentir.

“Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos… Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem. Amar com coragem não é viver com coragem. É bem mais do que estar aí. Amar com coragem não é questão de estilo, de opinião. Amar com coragem é caráter. Vem de uma incompetência de ser diferente. Amar para valer, para dar torcicolo. Não encontrar uma desculpa ou um pretexto para se adaptar. Não usar atenuantes como “estou confuso”. Amar com fúria, com o recalque de não ter sido assim antes. Amar decidido, obcecado, como quem troca de identidade e parte a um longo exílio. Amar como quem volta de um longo exílio. Amar quase que por, por bebedeira. Amar desavisado. Amar desatinado, pressionando, a amar mais do que é possível lembrar. Amar com coragem, só isso!”

NÃO SE ANULE
Arte de Jim Dine

Fabrício Carpinejar

Mesmo que seja um hotel cinco estrelas, se não tem liberdade de ir e vir, é uma prisão. Mesmo que seja paparicada, festejada e endeusada, se não tem como dizer o que acredita, é uma prisão. Mesmo que seja atendida em qualquer capricho, se não tem espaço para a sua solidão, é uma prisão. Mesmo que os filhos sejam educados com segurança e conforto, se não pode sair com os amigos, é uma prisão. Mesmo que tenha o que sempre sonhou ao lado de alguém, se não pode discordar, é uma prisão.

Nunca ceda a sua independência financeira e emocional a uma pessoa. Nunca se sustente de mesadas. Nunca viva sem ter um outro lugar. Nunca abdique de seu emprego, de seu contexto, de sua chave, de sua conta bancária, de suas conversas, de suas escolhas, de sua fonte de orgulho. Nunca se torne refém de uma estrutura onde é apenas uma peça secundária. Nunca transforme uma relação, feita de constante merecimento, em obrigação. Nunca se anule pela estabilidade. Só ao perder tudo perceberá que, infelizmente, nada era seu - era favor, escambo, troca, chantagem, prêmio de bom comportamento.

Estar à mercê de alguém, que não seja a si mesmo, é perigoso, é temerário, é submissão, é muito poder para depois combater.

Mesmo que pareça amor, mesmo que pareça que conquistou a eternidade, mesmo que a foto da família feliz fique brilhando no porta-retratos na sala, será sempre uma prisão.

SEI QUE VOU MORRER JOVEM
Carpinejar
Cada um segue o tamanho do seu tempo. Sempre fui ansioso, apressado, intenso, passional, fazendo várias coisas ao mesmo tempo e não desistindo de nenhuma delas até terminar. Raramente fui entendido. Só me receitavam Rivotril, chá e terapia. Estava errado em meu jeito de ir e voltar dos meus limites com constante voracidade. Realmente, não devo ser uma companhia agradável e tranquilizadora. Eu me encontro a 220 volts logo cedo, gargalhando ao tomar café. Quem aguenta? É um atentado violento ao pudor para aqueles que despertam devagar e reprisam a cama com o bocejo. O que mais escutei ao longo dos tropeços: - Vá com calma, tenha paciência.
Mas como disse: cada um atende o tamanho de seu tempo. O espaço concedido para sua jornada.
Como determinar se não me apresso pois meu tempo aqui é curto?
Não prevemos quando iremos morrer, o que dá uma sensação falsa de dilatação etária. Todos se imaginam velhos, todos se imaginam com netos enchendo a casa. Se soubéssemos quando nos despediríamos, o que teria de gente com urgência de viver. Deixaria o pudor para trás, encheria a cara de coragem para ser inesquecível na mais tola banalidade. Gente como eu atropelando o bom senso pelo beijo mais longo e pelo abraço mais apertado. Gente como eu, com a instabilidade cardíaca, com o coração inchando dia a dia. E seriam normais porque estariam aproveitando seu fim com a consciência da entrega. Não seriam mais inconsequentes ou afoitos, e sim destemidos em adiantar o legado e se corresponder de modo franco e sincero. Não mentiriam, não adiariam, não elaborariam planos, porém tomariam unicamente decisões. A mentira apenas existe para os que confiam na longevidade. A verdade, por sua vez, já é habitar a palavra no instante em que a pronunciamos. É ser o possível, não ser o que idealizamos, não se prender em amarras imaginárias e obstáculos invisíveis.
Meu temperamento vulcânico me aponta que não vou viver muito. Não há como viver muito, por mais que ame a vida e toda gentileza que recebo. Sei que morrerei jovem. Existe um pressentimento que é tristemente alegre. Choro mar quando estou alegre e rio quando estou triste. Tudo me emociona, pois criei uma atenção como nunca antes. Já descobri que emoção é ouvir, vaidade é falar. Eu me enxergo quase histérico diante de beleza e tremo de excitação hoje com uma canção, um filme, um passeio de barco ou de bicicleta, o fio de cabelo da mulher em minha barba, a graça dos filhos com minhas gafes.
Não posso obrigar qualquer um a vir comigo, tampouco desejo inspirar compaixão. O que me resta é convidar, com meus olhos caídos, a levantar a transparência.
Parafraseando Rosa: ninguém morre, ficamos transparentes. Ao cabo de nossa respiração, maravilhosa respiração que balança as árvores, desaparecemos cristalinos, cristais de nossas lembranças.
Não me interprete mal: não tenho eternidade (nem mais é questão de tempo) para perder

Inserida por nainah

A saudade tem prazo de validade.

Não pode permanecer muito tempo guardada.
Não pode permanecer muito tempo não sendo correspondida.

Depois de aberta e fora do convívio, assim como o leite, a saudade azeda. E não há memória refrigerada para conservá-la.

Quando passa da hora, aquela falta ansiosa e comovente é capaz
de se tornar ironia e sarcasmo.

O suspiro se transforma em ofensa – nos enxergaremos tolos e burros
por confiar cegamente em alguém e esperar à toa. Reclamaremos nossa idiotice por termos feito uma vigília em vão, por termos esquecido de viver.

Já não queremos que o outro volte, já desejamos que ele nunca mais apareça em nossa frente. Violentaremos as lembranças, fecharemos a reza.

A ternura de antes será trocada pela raiva de não ser atendido. Mudaremos a personalidade de nossa conversa, de doce para ácida. Pois o segredo (a saudade é um segredo!) que nos alimentou durante meses não fora respeitado.

Infelizmente, a saudade apodrece.

Quando deixamos de pedir a presença para cobrar a ausência. É sutil o movimento. Toda a atenção dedicada ao longo de um período começa a ser vista como desperdício. Não aconteceu retorno das juras, nem o estorno das expectativas.

Você mandou centenas de mensagens, renunciou saídas com amigos e bares, teve uma vida discreta e fiel, só para honrar uma despedida, e percebeu que, no fim, sempre esteve sozinho na saudade.

Saudade é como o amor. Perece quando não é a dois.

Aliás, quando a saudade não é a dois, deixa de ser saudade para se descobrir solidão.

A saudade é o que guardamos do amor para o futuro. É o que
deixamos para amar no futuro.

Nada dói tanto quanto um amor que não vingou após os cuidados do plantio.

Nada dói tanto quanto a saudade que envelhece, uma saudade que definhou pela indiferença, que não foi valorizada pela nossa companhia, que não desembocou em festa.

Nada dói tanto quanto promessas feitas gerando ressentimento.

A saudade não é eterna. Acaba quando percebemos que o amor era da boca para fora, que a urgência era interesse, que a necessidade era falsa.

A saudade é uma esperança de amor. Precisa ser consumida rapidamente, não mais que três meses. Senão, nos consome e nos estraga.

MUDAREMOS SIM!!

Era aquele que dizia que não bebeu nada, apesar do bafo de cerveja.

Era aquele que dizia que não fumou, apesar do cheiro de cigarro.

Era aquele que dizia que não pegou as chaves, apesar de ter sido o último a sair com elas.

Era aquele que negava antes de ouvir a pergunta. Das situações mais triviais às mais complexas.

Desprezava as pequenas mentiras. Acreditava que representavam lapsos necessários, pequenas omissões imprescindíveis para viver a dois.

Eu me transformei por amor. Busco ser honesto sempre, assumindo as mancadas e as falhas.

Mentir não me tornava imperfeito, mentia porque não admitia errar. Não aceitava arranhar a minha imagem. Somente mente quem se julga perfeito, e quer esconder seus vacilos.

Atravessei um tabu de décadas, deixei para trás antigas crenças que não entendo de onde tirei.

Todo homem é conservador e resiste às metamorfoses. Até se apaixonar.

“Não vou mudar”, portanto, é uma frase falsa. Apague de seu vocabulário.

Por amor, mudaremos sim. É só mudando que amadurecemos.

Por amor, nos revolucionamos sim.

Pode vir com sua teimosia, com seu orgulho, com sua arrogância, afirmando que é imutável, que não mexerá em seu temperamento, que tem seus hábitos, que foi assim toda a vida, mas mudará sim.

A convivência influencia, abre as ideias, destrói intolerâncias, força a mutação emocional.

Amor é exceção. É quando praticamos a exceção. Pode deixar as regras para os outros.

Quer uma maior declaração do que tentar fazer o que não admitia ou apreciar o que recusava?

Se você mantinha distância de água, por amor fará natação.

Se você alertou que jamais dirigiria um carro, por amor entrará numa autoescola.

Se você alimentava horror de avião, atravessará o oceano atlântico de seu medo.

No relacionamento que dá certo, promessa não é maldição. Ainda que tenha lavrado verdades no cartório, elas serão lavadas dentro de casa: vão desbotar, vão amarelar, vão desaparecer.

Já vi gente parar de beber, parar de fumar, parar de trapacear, parar de trair.

Vícios são abolidos, virtudes são regeneradas: mudaremos sim.

Encontraremos coragem no olhar terno e confiante de nossa esposa. Localizaremos vontade na cumplicidade ingênua do filho.

Mudaremos sempre. Mudaremos vários fins enquanto não vem nossa morte.

“Nunca ouvi coisa boa quando alguém foi sincero comigo. Nunca ouvi uma declaração de amor. Uma declaração de fé. Uma declaração de confiança.
Com a sinceridade, suportei despedidas, críticas e desaforos. Fui demitido, ou avisado do fim do namoro. Não fui promovido, abençoado. Não me ressuscitaram com a sinceridade.
Não recebi pedido de casamento. Não me salvaram com a sinceridade. Não me resgataram com a sinceridade. Não tiveram pena, compaixão, compreensão com a sinceridade.
Ser sincero é uma condição que traz unicamente cobrança, ajuste, saldo.”

"Aprendo a amar amando, para entender que a maior declaração ainda não é o "eu te amo". É quando alguém confessa: "Não consigo mais viver sem você." Mas isso não é amor, é coragem."

ATÉ O FIM

Nunca toque numa mulher por tédio. Nunca toque uma mulher por tocar. Nunca toque uma mulher para completar uma palavra ou ocupar um silêncio.

Nunca toque para apoiar os medos, cobrir mágoas, equilibrar a nudez.

Nunca toque uma mulher por vingança, por carência, por controle.

Não toque se não pode andar na imaginação, se não tem vontade de segurar sua mão enquanto arde, de emparedar a respiração com os olhos.

Não toque se não está disposto a sofrer, se não está disposto a curar o sofrimento.

Nunca toque uma mulher por imprecisa hospedagem, para breve visita das pálpebras.

Toque se quiser morar, se quiser naufragar pelas janelas, se quiser morrer de ansiedade.

Não toque se não deseja, se não assumiu a ponta dos lábios nos dedos.

Não acorde o corpo de uma mulher se não irá acalmá-lo depois. Não importune a mulher se não sonha em laminar o rosto em sua pele.

Não convoque os seios para despistá-los. Não prenda a cintura se não mergulhará no cheiro.

O toque é uma promessa. Não se esvazie na repetição.

Não toque se resta dúvida, não toque se vem desistindo da relação.

Não toque uma mulher por luxo, para experimentar uma fantasia, para justificar uma ideia.

Não toque uma mulher porque não tem nada a fazer, se pensava em outro lugar.

Não toque uma mulher por vaidade, para testá-la.

Não toque para apenas para se deleitar com o prazer do suspiro, pela glória de vê-la excitada.

Não toque uma mulher à toa, por brincadeira, por maldade.

Não desonre a suavidade com a falta de firmeza.

Não toque se não precisa, se não tem urgência. Até a preguiça tem urgência.

Não toque se não ficará mais tempo, se não pode conversar, se não há como gemer.

Não se sinta melhor do que o tato.

Não se aproxime se não busca deitar. Não deite se não busca acordar. Não mexa se não tem como enlouquecer.

Não finja que não chamou, não minta que não ouviu.

Não simule pergunta para fugir da resposta.

Não menospreze a frustração.

Não cumprimente se não abraçar, não abrace se não roçar.

Não toque numa mulher por obrigação, para mostrar virilidade. Não a incomode com os beijos se não pretender soprar os ouvidos.

Não desperte as contradições, os tremores, se não pretende seguir adiante.

Nunca provoque uma mulher se não vai comê-la.