Textos de Rita Lee
Estranhamento
Estranho
que depois dos 40
esteja aprendendo
o que é o amor.
Que tolo então eu era
achando
que já sabia tudo de cor
pensando
que nesta matéria
não sentiria mais dor
pois dor e alegria me abalam
e humilde
- reaprendo quem sou.
Talvez pensasse
já ter resolvido a questão
quando na adolescência
morto de amor
vivi a ressurreição.
Mas o amor revém
com seu mistério sobre o homem
que em breve
será velho. Revém
e me humilha. Me humilha
e glorifica
me deixa doce perplexo
enquanto minha carne
se estremece
- e maravilha.
Tudo um dia tem um fim. As férias viram só recordação. Será que ainda é hora de te abraçar bem forte? O que eu quero? Eu lembro que estava só quando você chegou e me alegrou, lembrei daquela velha canção que fala de nós dois. Como é que pode? Você chegou mais sua presença não resolve. "Não se preocupe rapaz! Você se preocupa demais!". Será? Sabe aquela linha do horizonte? Que flutua evitando que o céu se desmonte. Eu a segui e agora sei que o mar na verdade é uma ponte. Te leva pra qualquer lugar. Mais estou fraco pra ir tão longe então penduro minhas idéias em um balão e o solto, sobe balão e leva minhas idéias para alguém que consiga entende-las, eu já não entendo mais. Agora já estou bem mais calmo. De onde vem essa calma? Eu não sei. Eu sonhei novamente, um sonho antigo, com um cavalo que tinha asas (como pode um cavalo ter asas? não sei, só sei que foi assim). Eu não queria ir embora daqui, eu sou igual a vocês. Por favor me deixem ficar. Não solta minha mão. Eu tenho medo. Olhe tudo o que eu escrevi. Ahhh! Quer saber de uma coisa? Deixe que digam, que pensem, que falem! Mais bem que eu queria voltar... E ter de volta tudo que eu perdi sem querer. Pelo menos uma vez queria esquecer-se de lembrar dos meus acertos idiotas. Queria ver o mais simples como o mais importante e dar-te o valor merecido. Eu sangro sozinho na solidão da noite, mais não estou triste, pelo contrario, meu sangue me lava a alma e liberta minha dor. Mais sei que por trás das sombras eu ainda sou feliz, meus dentes brilham de alegria então olho pro céu e procuro aquela estrela... Não a achei hoje. Onde você está?
Câmbio, desligo.
Poema à Mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
“Uma vez, li em um livro de poesias antigo, que Yelda é o nome que se dá para uma noite sem estrelas, na qual aqueles que sofrem por um amor perdido ou distante permanecem acordados, suportando e encarando a escuridão interminável da noite esperando pelo nascer do sol, na expectativa de que seu amor reapareça junto com ele. Depois que te conheci, todas as noites da semana passaram a ser Yelda para mim.”
—
"A grande causa de esquecimento, a responsável pela pouca contrição da gente e a pouca constância no arrependimento, é o tempo, é o tempo não ser, como o espaço, uma coisa onde se possa ir e vir, sair e voltar... O que se passa no tempo, some-se, anda para longe e não volta nunca, pior do que se estivesse do outro lado de terra e mar.
Afinal, quem pode manter, num espelho, uma imagem que fugiu?"
Agradeço ao universo, à força da vida, à mãe natureza…
Pelo amanhecer silencioso que aguarda o burburinho de todos os sons.
Pelo dia que, mesmo planejado, surpreende com novos acontecimentos nas entrelinhas de cada acontecimento.
Pelas pessoas que entram e saem da vida da gente. Às que se vão, que levem o nosso toque carinhoso, sutil e verdadeiro. Às que ficam, que sejam reais, que permaneçam pelos propósitos da vida porque nada acontece por acaso…
Agradeço ao tempo que revela coisas grandiosas, jamais imaginadas… Que livra de todo o mal e, como todo o mestre sábio, ensina que a paciência e a determinação são responsáveis por grandes presentes nos caminhos da vida.
Agradeço por cada ser vivo pela troca fraterna de respeito. Cada animal, cada vegetal, a água, a folha, o pássaro, a flor… Se eu os respeito, todos me respeitam.
Agradeço à força maior que está em todos os lugares e dentro de cada um, que move todo o universo e faz da gente um ser único e imcomparável.
Agradeço cada recomeço, por mais difícil que seja, porque viver bem, muitas vezes, é só uma questão de recomeçar, reaprender, reciclar-se. Então, hoje, eu só agradeço…
Uma breve Indefinição do Eu
I
Nada pior, afirmo nada menos importante do quê, o deixar-se enganar pelas idéias de toda gente, não é mesmo? E cujas debilidades dos nossos pensamentos são como velhos sapatos furados, por onde entram desagradáveis pedrinhas.
II
Embora eu não seja depositário de palavras delicadas para com as pessoas cuja mediocridade sobrepuja as montanhas, e não possua nenhum escrúpulo se não aquele de não agradar a ordinária gente, e quase que insuportavelmente falando para não agradar a vaidade alheia; penso: - em não mostrar-me a vós, gratuitamente.
III
Pois, para não relevar aqueles segredos que todo mundo esconde: - a nojeira de nossa própria personalidade; agradeço enfim, o intuito daqueles que lêem minhas palavras com olhos de um Judas.
Se me entendes ou não, a traição da consciência é o pensamento pré-concebido. E muito pensamos por antecipação, sem nos apercebermos, não é mesmo?
IV
Aliás, evito pouco “tornar-me” claro no palavreado monográfico, pois, deixar-se enganar pela falsa noção de que as idéias que temos a respeito de uma dada coisa são verdadeiras, já é prova de tamanha estultice. Não é verdade?
V
E se és tu, “amigo” leitor, que “ais” de ler o que te escrevo agora; como um curioso: - deve-me suportar todos os perigos, se me queres conhecer.
VI
Garanto, pois; e não confiai tanto em mim!... não sejas mais um tolo no mundo; mas, assim mesmo, garanto não magoar-te nas chagas menos dolorosas. Sou bastante incauto para não tocar nas feridas da alma, quando estas ainda estão tão inflamadas.
VII
Sou como o tubarão a comer os cardumes do pensamento desprevenido.
E custo a ser diferente de uma idéia que se faz de um ácido e da sua corrosão.
VIII
Embora novamente, isso pareça ser um mal, eu assim tão braviamente instável e corrosivo; e de não ter deixado nada de sólido e entendido em teus pensamentos; sabes, pois: - que “o Sábio sem conceito”, sabe quê, igual ao fogo a acender as madeiras mortas, servindo de aconchego na noite fria ao valdevino passante, ou igual ao tubarão a equilibrar os ecossistemas marinhos, às vezes, o que te feres demasiadamente levar-te-á a compreender como manusear aquele ácido corrosivo e desentupir as valas da ignorância.
Pai Nosso que estais no céu,
na terra, em todos os mundos espirituais.
Santificado e Bendito seja sempre o Vosso Nome,
mesmo quando a dor e a desilusão ferirem nosso coração.
Bendito Sejas.
O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje.
Pai, dai-nos o pão que
revigora as forças físicas,
mas dai-nos também o pão para o espírito.
Perdoai as nossas ofensas,
mas ensinai-nos antes a merecer o Vosso perdão,
perdoando aqueles que tripudiam sobre nossas dores,
espezinham nossos corações e destroem nossas ilusões.
Que possamos perdoá-los,
não com os lábios e sim com o coração.
Afastai de nosso caminho todo
sentimento contrário a caridade.
Que este Pai Nosso seja dadivoso
para todos aqueles que sofrem como
espíritos encarnados ou desencarnados.
Que uma partícula deste Pai Nosso
vá até os cárceres onde alguns sofrem merecidamente,
mas outros pelo erro judiciário.
Que vá até os hospícios iluminando os cérebros conturbados que ali se encontram.
Que vá até os hospitais, onde muitos choram
e sofrem sem o consolo da palavra amiga.
Que vá a todos aqueles que neste momento
transpõem o pórtico da vida terrena para a espiritual, para que tenham um guia e o Vosso perdão.
Que este Pai Nosso vá até os lupanaranes
e erga as pobres e infelizes criaturas
que para ali foram tangidas pela fome,
dando-lhes apoio e fé.
Que vá até o seio da Terra onde o mineiro
está exposto ao fogo do grizu e que ele,
findo o dia, possa voltar ao seio de sua família.
Que este Pai Nosso vá até os dirigentes das nações
para que evitem a guerra e cultivem a paz.
Tende piedade dos órfãos e viúvas.
Daqueles que até esta hora não
tiveram uma côdea de pão.
Tende compaixão dos navegadores dos ares.
Dos que lutam com os vendavais no meio do mar bravio.
Tende piedade da mulher que abre os olhos do ser à vida.
E que a Paz e a Harmonia do Bem fiquem entre nós
e estejam com todos.
Assim seja.
Se tivéssemos domínio sobre nossos impulsos, nossos sentimentos, nossas emoções, nossas loucuras, o que seria do mundo sem paixão? Seria um mundo sem qualquer resposta, mas também, sem nenhuma pergunta.
Tudo o que se explica está ao alcance da mente humana, mas tudo o que é inexplicável, como por exemplo, a significação do ídolo para seu fã, está ao alcance de quem senão dele próprio!? Que é capaz de sentir a loucura invadir-lhe com um gosto de coisa sagrada e como forma de suportar, termina extravasando os gestos mais simplórios, mais extravagantes e mais ilógicos, nas mais diversas façanhas.
Se cada ser no universo tivesse um ídolo... E não apenas, uma pessoa querida e/ou amada, o mundo teria mais amor, teria sim, menos ignorância e bem mais cara!
Ser normal é um saco.
Uma vida morna não tem sentidos, um torpor que não tem pé e nem asas.
Exercitar a loucura devia ser decreto, a loucura é uma necessidade pra coragem do medo sorri, o sangue vibrar, o coração disparar.
Ser louco tem preço, embora bem mais alto paga aqueles que não dobram-se a sua loucura. E não me julgue pela minha impulsividade, eu não mereço um olhar certo de criticas. Me olhe com admiração, afinal quem é louco sabe que mesmo não dando certo, até chegar-se ao chão tem o tempo.
E nesse tempo a loucura toma a coragem que não cansa., apenas descansa pra tentar de novo.
Pago esse preço, afinal viver é uma loucura.
Oração da Humildade
Deus da Misericórdia!...
Auxilia-me a conservar o anseio de encontrar-te.
Quando haja tumulto, ao redor de mim, guarda-me o silêncio interior em que procure ouvir-te a voz.
Se algum êxito me busca, deixa-me perceber a tua bondade sobre a fraqueza que ainda sou.
Diante dos outros, consente, oh! Pai, que te assinale o infinito amor, valorizando-me a insignificância, através daqueles que me concedam afeto.
Se aparecerem adversários em meu caminho, faze-me vê-los como sendo instrumentos de trabalho, dentre aqueles com que me aperfeiçoas.
Na alegria, induz-me a descobrir-te a proteção paternal, estimulando-me a seguir para frente.
Na dor, fortalece-me os ouvidos para que te escutem os chamamentos de paz.
E, quanto mais possa conhecer, em minha desvalia, os recursos iluminados do oceano de mundos e de seres que construíste no Universo, concede-me, oh! Deus de Misericórdia, que eu tenha a simplicidade da gota d’água, se sente tranqüila e feliz porque se vê capaz de refletir-te a luz no brilho eterno da Criação.
Os homens (diz uma antiga máxima grega) são atormentados pelas ideias que têm das coisas, e não pelas próprias coisas. Haveria um grande ponto ganho para o alívio da nossa miserável condição humana se pudéssemos estabelecer essa asserção como totalmente verdadeira. Pois, se os males só entraram em nós pelo nosso julgamento, parece que está em nosso poder desprezá-los ou transformá-los em bem. Se as coisas se entregam à nossa mercê, por que não dispomos delas ou não as moldarmos para vantagem nossa? Se o que denominamos mal e tormento não é nem mal nem tormento por si mesmo, mas somente porque a nossa imaginação lhe dá essa qualidade, está em nós mudá-la. E, tendo essa escolha, se nada nos força, somos extraordinariamente loucos de bandear para o partido que nos é o mais penoso e dar às doenças, à indigência e ao desvalor um gosto acre e mau, se lhes podemos dar um gosto bom e se, a fortuna fornecendo simplesmente a matéria, cabe a nós dar-lhe a forma.
Porém vejamos se é possível sustentar que aquilo que denominamos por mal não o é em si mesmo, ou pelo menos que, seja ele qual for, depende de nós dar-lhe outro sabor e outro aspecto, pois tudo vem a ser a mesma coisa. Se a natureza própria dessas coisas que tememos tivesse o crédito de instalar-se em nós por poder seu, ele se instalaria exactamente da mesma forma em todos; pois os homens são todos de uma só espécie e, excepto por algo a mais ou a menos, acham-se munidos de iguais orgãos e instrumentos para pensar e julgar. Mas a diversidade das ideias que temos sobre essas coisas mostra claramente que elas só entram em nós por mútuo acordo: alguém por acaso coloca-as dentro de si com a sua verdadeira natureza, mas mil outros dão-lhes dentro de si uma natureza nova e contrária.
12 PERGUNTAS PRA QUEM QUER CRESCER
1. Que tal não querer apenas ouvir coisas agradáveis?
2. Que tal aprender com humildade?
3. Que tal reconhecer que não é o sabichão?
4 Que tal não resistir a dar o braço a torcer apenas por orgulho?
5. Que tal respeitar os resultados de quem deve se tornar o seu referencial?
6. Que tal ouvir, refletir e se desarmar em vez de ficar se defendendo?
7. Será que o que você acha que é grande coisa realmente é grande coisa ou você foi condicionado a adotar referenciais muito baixos?
8. Que tal rever os seus valores quando perceber que os seus resultados estão na melhor das hipóteses na média, em outras palavras, no máximo na mediocridade?
(mediocridade = na média)
9. Que tal ousar a acreditar que você pode mudar, ou melhor, revolucionar a sua forma de pensar e por consequência revolucionar os seus resultados?
10. Que tal enxergar o mundo por um outro ângulo?
11. Que tal seguir caminhos diferente das grandes massas a fim de conquistar resultados diferentes?
12. Que tal perguntar mais em vez de querer ficar sustentando o mundinho que lhe apresentaram?
Pense com carinho …
Um certo alguém
Há momentos na vida em que tudo parece estar perdido
Mas por ocasião do destino
Ou quem sabe através de um milagre divino
tudo parece mudar, graças a um certo alguém que você conhece
E que sem explicação
Entra na sua vida e no seu coração
E esse certo alguém te faz acreditar
Que não há coisa melhor do que aprender a amar
Você fica maravilhado e sem se importar
Sem saber se aquilo irá ajudar
decide navegar nesse sentimento
E descobre que sempre depois da tempestade
Existe um dia lindo repleto de felicidade
Percebe que fazer alguém sofrer só porque você sofre
Não irá amenizar a dor ou diminuir o cansaço
Simplesmente você se tornará alguém bem menos amado
Esse certo alguém te ensina tantas outras coisas
Que antes você desconhecia
Não por incapacidade ou falta de interesse
E sim porque necessitava de um alguém ou um certo alguém
Que te fizesse entender
Que o amor nos faz crescer
Que o amor nos faz viver.
Mas não é agindo apenas sobre o corpo dos indivíduos, degradando-lhes o tamanho, mirrando-lhes as carnes, roendo-lhes as vísceras e abrindo-lhes chagas e buracos na pele, que a fome aniquila o homem. É também atuando sobre seu espírito, sobre sua estrutura mental, sobre sua conduta social.
No estudo da influência da fome sobre o comportamento humano devemos considerar, em separado, a eventualidade da fome aguda das épocas de calamidades e a da fome crônica, latente ou específica.
Nenhuma calamidade é capaz de desagregar, tão profundamente e num sentido tão nocivo, a personalidade humana como a fome, quando atinge os limites da verdadeira inanição. Fustigado pela necessidade imperiosa de comer, o homem esfomeado pode exibir a mais desconcertante conduta mental. Seu comportamento transforma-se como o de qualquer outro animal submetido aos efeitos torturantes da fome(...).
A Casa Branca Nau Preta
Estou reclinado na poltrona, é tarde, o Verão apagou-se...
Nem sonho, nem cismo, um torpor alastra em meu cérebro...
Não existe manhã para o meu torpor nesta hora...
Ontem foi um mau sonho que alguém teve por mim...
Há uma interrupção lateral na minha consciência...
Continuam encostadas as portas da janela desta tarde
Apesar de as janelas estarem abertas de par em par...
Sigo sem atenção as minhas sensações sem nexo,
E a personalidade que tenho está entre o corpo e a alma...
Quem dera que houvesse
Um terceiro estado pra alma, se ela tiver só dois...
Um quarto estado pra alma, se são três os que ela tem...
A impossibilidade de tudo quanto eu nem chego a sonhar
Dói-me por detrás das costas da minha consciência de sentir...
As naus seguiram,
Seguiram viagem não sei em que dia escondido,
E a rota que devem seguir estava escrita nos ritmos,
Os ritmos perdidos das canções mortas do marinheiro de sonho...
Árvores paradas da quinta, vistas através da janela,
Árvores estranhas a mim a um ponto inconcebível à consciência de as estar vendo,
Árvores iguais todas a não serem mais que eu vê-las,
Não poder eu fazer qualquer coisa gênero haver árvores que deixasse de doer,
Não poder eu coexistir para o lado de lá com estar-vos vendo do lado de cá.
E poder levantar-me desta poltrona deixando os sonhos no chão...
Que sonhos? ... Eu não sei se sonhei ... Que naus partiram, para onde?
Tive essa impressão sem nexo porque no quadro fronteira
Naus partem — naus não, barcos, mas as naus estão em mim,
E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,
Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta,
E nada que se pareça com isto devia ser o sentido da vida...
Quem pôs as formas das árvores dentro da existência das árvores?
Quem deu frondoso a arvoredos, e me deixou por verdecer?
Onde tenho o meu pensamento que me dói estar sem ele,
Sentir sem auxílio de poder para quando quiser, e o mar alto
E a última viagem, sempre para lá, das naus a subir...
Não há, substância de pensamento na matéria de alma com que penso ...
Há só janelas abertas de par em par encostadas por causa do calor que já não faz,
E o quintal cheio de luz sem luz agora ainda-agora, e eu.
Na vidraça aberta, fronteira ao ângulo com que o meu olhar a colhe
A casa branca distante onde mora... Fecho o olhar...
E os meus olhos fitos na casa branca sem a ver
São outros olhos vendo sem estar fitos nela a nau que se afasta.
E eu, parado, mole, adormecido,
Tenho o mar embalando-me e sofro...
Aos próprios palácios distantes a nau que penso não leva.
As escadas dando sobre o mar inatingível ela não alberga.
Aos jardins maravilhosos nas ilhas inexplícitas não deixa.
Tudo perde o sentido com que o abrigo em meu pórtico
E o mar entra por os meus olhos o pórtico cessando.
Caia a noite, não caia a noite, que importa a candeia
Por acender nas casas que não vejo na encosta e eu lá?
Úmida sombra nos sons do tanque noturna sem lua, as rãs rangem,
Coaxar tarde no vale, porque tudo é vale onde o som dói.
Milagre do aparecimento da Senhora das Angústias aos loucos,
Maravilha do enegrecimento do punhal tirado para os atos,
Os olhos fechados, a cabeça pendida contra a coluna certa,
E o mundo para além dos vitrais paisagem sem ruínas...
A casa branca nau preta...
Felicidade na Austrália...
A porta
Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.
Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão.
Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.
Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!
Estou precisando de um tempo só pra mim. Preciso de alguma forma, sozinho, rever meus conceitos, planejar meus objetivos, criar e executar estratégias que me tire desse buraco o qual só eu tenho ciência. O vejo, quando ninguém, em hipótese alguma, consegue ver. É uma espécie de vazio que não há abslutamente nada que o preencha, não sei se é a falta de Deus, de bens materiais, não sei. Apenas sei que não tou legal. Não adiantará eu estar fazendo tudo o que venho fazendo, apenas por fazer, para que simplesmente os demais que me rodeiam tenham consigo, eu como manda o figurino, nos conformes, segundo a tese imposta pelo sistema social.
Eu pretendo ir além, me refazer, para então depois voltar a fazer tudo com muito amor e sinceridade.
Não seje como um espinho que fere as mãos de quem o toca, mas sim como uma rosa que perfuma as maos de quem a esmaga
Não seje como uma erva daninha que mata toda a vegetação a sua volta, mas sim como uma rosa que se comunicam entre si e embelejam os jardins
Siga o exemplo das rosa, e mudem o nossa planeta!
Certas mentiras
"Meu afeto por você é tão óbvio
Que me encabula
Toda aquela graça
Aquela toda que tanto você realça,
Some
Se espalha
E só volta quando escuto seu amásio
Suas belas palavras,
Nem precisavam ser tantas
Ah se minha ingenuidade permitisse acreditar!
Se tornariam convenientes verdades
Que não me cansaria de escutar
Mas será que seriam quão formosas?
Será que continuariam sonoras?
Será que me fariam fechar os olhos?
Será que me deixariam sem graça?
Seriam tantas incertezas
Que prefiro não arriscar
Não tem jeito
Me viciei no seu vicio
Não posso mais ficar sem as mais belas mentiras que alguém já ousou me falar"