Textos de Chico Chavier sobre o Amor
Já fui neve no mar, já fui espada na mão (José Afonso)
No passado sofri de algumas vaidades. Mas calei que prefiro ser neve no mar do que poeira pisada, caída no chão. Ser a neve que se funde com o mar é ser a frescura que sabe de antemão que muita gente lhe vai perguntar: quando cantaremos o Hino da Libertação?
No passado sofri de algumas vaidades. Mas agora, que vivo sem sedução, digo: ser neve que se fundiu com o mar é ser como a estrela que se fundiu com o céu (coisa que, antes, a estrela sempre temeu) e nele brilha mas sem chamar à atenção.
No passado sofri de algumas vaidades mas não falei de ser espada na mão. Hoje, que sou a neve caída no mar, muitas vezes me interrogo: ser lâmina afiada em ereção não será entrar no estranho jogo dos que põem pessoas a sangrar e querem sentir vida a pulsar no seu coração? Mais logo, quando a Musa Menina chegar, me dirá se tenho ou não tenho razão.
Prece Budista
Todos nós cabemos onde julgamos que não.
Parece-nos coisa impossível, mas é verdade.
Dar as mãos consiste em estender a nossa mão,
desde onde estamos até onde os outros estão,
partindo do agora e só parando na eternidade.
Que Buda ouça esta prece em nome da Irmandade.
Prece Cristã:
Tu, meu amigo judeu iluminado, rebelde e paciente,
que és o Portador da Luz que a Sombra desterra,
ouve a súplica que te faz este desalentado vivente:
Salva, acordando, a Corja Negra que o dente nos ferra,
dá aos povos desnorteados um despertar diferente
e protege quem já salgou o seu chão onde fez a guerra.
Ah! E vê quem se fecha durante o dia e à noite se encerra!
Prece Hindu:
Eis a minha prece a Parvati, que nenhum ser renega:
Oxalá deixemos de perguntar por que tão pouco vemos?
Porque é que, por vermos tão mal, cremos que nada chega?
Oxalá, possamos vir a respeitar tudo o que temos.
Desatendendo ao muito que dentro de nós retemos,
separamos, sem dar por isso, a chávena da sua pega.
Prece Muçulmana:
Rindo, desejamos, obtemos e guardamos, como se, à saída,
a morte nos deixasse levar o que considerámos atraente.
Oxalá deixemos de manter escondida a fé não exercida,
aceitando que ela provém da Matriz Superior da Mente.
Material? Etéreo? Pouco importa? Vale Quem anima a Vida.
Perder ou ganhar, depende do que Alá nos diz claramente.
Oxalá Ele me oiça e atenda, para que Outro me não tente.
PÁSSARO LIBERTADOR
Na linha imaginária do horizonte,
Filtrada pelo sol já passageiro,
Vejo um vulto, asa de anjo
Que me chora logo defronte
A esta janela do meu derradeiro
Olhar cativo no monte
Do meu penar,
Sem te poder mais amar.
Anda, passarita Clara.
Com o teu bico de beijo,
Inicia-me no teu solfejo
E liberta-me desta amarra.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-05-2023)
bom dia! Que hoje seu dia possa ser abençoado.
A Lua dorme, levando toda tristeza eo péssimismo, dando oportunidade do sol se levantar trazendo a felicidade para estampar em seu sorriso.
É como um forte vento que entra pela sua janela da vida, Trazendo toda ternura é energia para realçar seu dia.
E quando sair pela sua porta! Vai Refrescar a sua alma.
QUE SOSSEGO
Era só a minha avó.
E em tardes de calmaria
Debaixo da velha ramada
Das folhas do morangueiro
O corriqueiro,
Americano,
Ela, aos botões, dizia:
- Que sossego! Bendito ano!
Ela não sabia
Que eu estava
Com ela,
Mirando-a de uma janela
Pequenita que havia
Logo atrás dela.
E eu ouvia tudo naquela viagem
Feita miragem
Que minha avó fazia,
De consciência apurada,
Sem precisar de andar
Ou sola dos chinelos gastar
Em qualquer estrada...
Foi ela que me ensinou,
Aqui onde vou,
Que para sonhar,
Só basta estar!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 29-05-2023)
Erguem-se torres de vaidades e ilusões, enredados em buscas de reconhecimento, mas no âmago, somos meros fracassos, poeiras no vento, buscando em vão um sentido eterno, enquanto a vida escorre entre suas mãos. A quimera que embala o sono noturno, e a certeza efêmera de ser único, num universo frio e taciturno. Na miragem da vã perpetuidade, buscando esse fútil espaço, nos tornando vítimas da nossa própria agonia.
A vaidade nos cega, nos engana, nos faz acreditar em grandezas fugazes, enquanto a verdadeira grandeza reside na aceitação de nossa efemeridade.
O ser humano é um ser frágil e inconstante, deseja ser um deus mesmo preso em sua própria insignificância, tenta então erguer-se sobre os ombros de outros mortais, para alcançar um trono imaginário de grandiosidade.
Em cada palavra eloquente e cada feito glorioso, em cada busca incessante por reconhecimento, o homem demonstra sua ânsia desesperada de encontrar um sentido em um mundo sem sentido. É uma fantasia criada pela mente para suprir a falta de significado e valor em si mesmo.
Na busca desesperada por validação, perdemos a essência, nos iludimos, desperdiçamos a vida em devaneios vãos, erguemos torres de areia em fundamentos frágeis. Uma busca incessante por uma efêmera grandeza.
Que libertação seria abandonar essa vaidade insana, encontrar paz na aceitação de nossa condição, transcender além dessa busca mesquinha, aceitar a finitude como uma dádiva genuína. Em vez de buscar aplausos efêmeros e divindades imaginárias, encontrar a coragem de encarar a realidade com olhos lúcidos, reconhecendo a insignificância de nossas vaidades passageiras, e abraçando a verdadeira liberdade: a aceitação de nossa finitude.
Pois só quando abandonamos a busca por validação externa, seja terrena ou superior, descobrimos que a grandeza está na humildade, no reconhecimento da beleza oculta da insignificância humana.
Ó, ser humano, preso em sua vã arrogância, que te torna prisioneiro de tua própria ilusão, que te faz esquecer de ti mesmo, que nesse eterno devir da tormenta da humanidade, cegado pela ânsia de um olhar aprovador, esquece a própria essência, sucumbe à superficialidade. Ergue-se como gigante, a procura de um ser supremo e eterno, para preencher seu vazio. Arrogante em sua essência, busca afirmação, anseia por um eco, uma voz de aceitação. À sombra de um olhar exterior, anseia por um juízo absoluto, enredado em ilusões de louvor, busca no outro o seu tributo. Ó, ser humano, desperta para a verdade, enxerga a fragrância da libertação que reside nessa outra aceitação.
Abandona a arrogância, cessa a busca vã, encontra a sabedoria na humildade e aceitação. A verdadeira paz está dentro de ti mesmo, quando te libertas da busca incessante. Em cada suspiro, na finitude que te envolve, está a beleza efêmera da existência, não busque ser eterno nem superior, mas abrace a efemeridade como uma bênção, descobre a beleza do momento presente, não busques fora o que já está em ti, encontra a plenitude na tua própria jornada.
Que tormento! Que maldição atroz, buscar a validação em olhares efêmeros, quando a grandeza reside em si mesmo, na aceitação de ser o que é, ser inteiro, e que no silêncio interior, está a verdade.
Deixe de buscar validação externa, encontre a coragem de ser quem és, aceita tua essência e tua fragilidade, e então, encontrarás a verdadeira liberdade, transcendendo para além das sombras da própria vaidade.
Na busca da divindade e do eterno, os mortais cegam-se na vaidade vã. Presumem ser mais dignos, bem-intencionados, enquanto se afogam na miragem insana. Dizem buscar agradar ao ser supremo, aquele além do tempo e da limitação, mas no cerne dessa busca, revelam-se os piores vaidosos, em sua ilusão. Pois a glória e a admiração deste mundo efêmero, por mais mesquinhas que possam parecer, são insignificantes quando comparadas às grandezas imaginadas para além do entardecer.
Querem agradar ao Infinito e Superior, ansiando por uma glória transcendente, mas que tolice é essa, tão pífia e ingênua, acreditar na grandiosidade onipotente.
Não basta querer a glória deste plano finito, contentar-se com o efêmero louvor, não lhes basta a efêmera fama deste mundo vil, não almejam a conquista de meras palmas terrenas, querem mais, desejam alcançar a glória de um plano etéreo, onde as estrelas testemunham suas vaidades, é uma adoração do eterno, em sua busca incessante de um mundo de valor.
Ah, esses seres insaciáveis de reconhecimento, que se tornam o pior dos vaidosos que existem, querer a admiração dos mortais é pífio, mas almejar a glória divina é um abismo mais profundo. A vaidade humana é pequenez suprema, mas a vaidade divina é um abismo sem fim. Ansiar pela glória eterna é a ruína do homem comum, a busca desse louvor eterno é sua sina e desgraça, pois se perdem nas teias da soberba infinita, acreditam-se dignos de um amor inalcançável, enquanto sua vaidade se alimenta da própria desdita.
Mas, oh, quão triste é tal arrogância! Buscando fora o que se esvai no tempo, inútil é o caminhar em busca dessa validação. Em seus olhos há a chama insaciável do ego inflado e sedento de aplauso. Caminha, cego, rumo ao inatingível, em busca de um ser supremo, um engano reprovável.
Ó insensatez da existência vã, que anseia por uma confirmação, em almas vazias, que tão vilã, se rende à tirania da ilusão, pobres mortais vaidosos, que sonham com glórias de um mundo sem fim, esquecem-se da brevidade de sua existência, enredados nas ilusões de um ego distante e ruim.
Ó ser humano, frágil e pequeno, por que almejas a eternidade? Em seres superiores, em desígnios plenos, encontrarás apenas fugacidade. Em sua cegueira, ignoram a beleza da transitoriedade, a fragilidade das paixões que nos consomem, pois ao desejar a glória dos deuses inalcançáveis, desprezam os encantos deste efêmero mundo. Não há validação nas mãos alheias, nem ser supremo que a ti se incline, no abismo da busca desenfreada apenas teus medos encontrarás.
Encontra, em ti, a paz e a aceitação, rompe as correntes da dependência. Não busques fora a eterna razão, a verdade reside na tua essência.
Em cada passo, enxerga tua verdade, ergue-te além das amarras do ego, renuncia à ilusão da superioridade, e assim, encontrarás um novo jogo.
Não há ser eterno ou superior, além da finitude que nos consome, aprende a amar tua própria existência, e, enfim, a paz em ti se assume.
A verdadeira grandeza está em aceitar que a glória terrena é apenas efêmera vaidade, e que buscar o reconhecimento de um ser eterno é mergulhar na insanidade de uma busca sem verdade.
Portanto, renunciem à busca insensata, à vaidade travestida de virtude, que consome e enlouquece. Encontrem a paz na insignificância. E aí, talvez, encontrem a verdadeira prece.
Querer o aplauso de um ser além de nós?
A glória efêmera deste mundo mortal eles desprezam, consideram trivial. Anseiam por algo maior, grandioso e perene, a glória de um mundo eterno, além do que convém.
Será que tal busca os redime do vazio existencial? Ou serão eles apenas marionetes da ilusão? Presos nesse dilema entre o humano e o divinal, que prosseguem, desafiando a própria condição, com a natureza fugaz de toda ilusão, ilusão essa ainda inculcada por terceiros, nem criada de si para si, o pior dos niilistas está aí.
Ó, vaidosos dos vaidosos, seres de desventura, enredados na ilusão da grandiosidade eterna, saibam que a glória efêmera é a única que nos cabe, e a admiração dos mortais é a mais sincera.
Eu entendo, cruel tentação, a busca pela glória sem razão. Todavia, quebrantados estamos, na insignificância perdidos, perante o ser eterno, supostamente assistidos. Não há glória verdadeira além do efêmero, pois tudo perecerá, como um sopro passageiro.
Assim, ó vaidosos, abandonem tal quimera, encontrem a grandeza em sua própria esfera. Deixem de buscar agradar ao divino desconhecido, e encontrem a verdadeira glória, dentro do próprio sentido.
A finitude é cruel, corta as asas da esperança, e o ser humano, desamparado, se debate. Porém, nessa melancolia, há também uma beleza, na fugacidade da vida, a valorização do instante. Se buscamos algo além, é mera ilusão, pois a finitude é nossa única condição. Não há lugar para o eterno no âmago humano, somos seres finitos, destinados a um fim profano. Erguemos castelos de sonhos em areias movediças, desesperados em buscar uma vida que não finda. Aqueles que ambicionam a imortalidade perdida, encontram-se todos iguais no abismo da vida. Eis que alguns, desesperados, fariam pacto sinistro, barganhariam suas almas por um registro, se alguma alma tivessem a vender.
Quebramos espelhos buscando reflexos que não existem, pois somos apenas pó, almas perdidas que não persistem. Que em seus anseios insaciáveis, perseguem quimeras, correm atrás de ilusões. Cegos pela esperança, acreditam que o paraíso está além das esferas, mas ignoram o verdadeiro vazio que neles avança. Esmagam-se nas rochas das suas próprias incertezas, preenchem o vazio com fúteis anseios, mas a alma, em silêncio, clama por respostas que não chegam.
Oh, triste criatura que habita a efemeridade, a única igualdade que alcança é na obscuridade, pois aqueles que anseiam pelo etéreo sem cessar, encontram-se reunidos, iguais, no fogo do inferno a arder. Todos desprovidos de propósito, perdidos em seus anseios, perambulando na vastidão, como meros passeios. A eternidade se esconde além de suas mãos, e a igualdade, somente no tormento encontram então. Busca-se o paraíso, a promessa de redenção, mas esses são os verdadeiros desprovidos de propósito, os sem direção, pois na ânsia de alcançar a imortalidade, perdem-se na ilusão de uma falsa verdade.
No abismo do tempo, o ser se desvanece, apegado a ideias de perfeição que enlouquece, pois é na transitoriedade que reside o sentido, no efêmero que se encontra o que é vivido.
Não há propósito na busca pela eternidade, é na finitude que reside a verdade. Aceitar a impermanência, abraçar a efemeridade, é encontrar a beleza na brevidade.
Perseguem miragens de paz e felicidade, como mariposas dançando na escuridão da ansiedade. Sonham com um refúgio, onde todos os males cessarão, mas logo percebem que é mera ilusão.
Oh, humanos perdidos, buscando nas alturas, um sentido para a vida, um alívio para as agruras. Não veem que a verdadeira essência se encontra aqui, no presente efêmero, na jornada que nos consome de ti.
É na imperfeição, na luta diária, que encontramos razão. Na fragilidade do ser humano, no sofrimento e na emoção. Não há paraíso a ser conquistado além dos horizontes, pois o propósito reside no aqui e agora, em todos os montes.
Encontremos propósito nas pequenas alegrias do caminhar, pois somos seres destinados a viver, amar e se superar.
Não busquemos o paraíso em mundos além do nosso, pois é neste plano, nesta existência, que encontramos o repouso. Aceitemos nossa condição, com todas as suas imperfeições, e descobriremos que o verdadeiro propósito está nas nossas ações.
Então, não persigamos miragens de um paraíso esquivo, mas sim abracemos a vida, com tudo o que ela traz consigo. No despropositado, encontramos a razão de ser, e é assim, nessa contradição, que podemos finalmente renascer.
Os supostos eleitos, na sua busca infinda, dissipam-se em miragens, confundem-se no abismo, o paraíso que buscam, nas sombras se esconde, pois são eles, os humanos, os desprovidos de destino. Possuem explicações que nada explicam. A verdade está além da busca obsessiva, nas entrelinhas do vazio, no pulsar do abismo, os seres humanos, eternos náufragos da vida, perdidos em si mesmos, presos num labirinto sombrio.
Ó seres tão frágeis, que almejam o infinito, mas não compreendem a essência do seu próprio ser, no caminho à procura de um paraíso bendito, esquecem-se do agora, do presente a florescer.
O paraíso não é uma terra distante, não é um tesouro oculto em algum além, está em cada instante, em cada esquina, no sopro constante, na aceitação serena do que se é, além do vai e vem.
Desapeguem-se do fardo das buscas vazias, aceitem o caos e encontrem a paz no ser, pois são vocês, ó humanos, os verdadeiros desprovidos, os seres que buscam o paraíso, mas o têm sob seus pés.
São seres sedentos, em desespero, almejam o paraíso, esse sonho cintilante, acreditando, equivocados, ser o verdadeiro.
Aspiram a um refúgio, um abrigo etéreo, mas na busca, se distanciam da essência humana. Deixam de apreciar o mundo, o efêmero mistério, caminhando na senda que nada mais alcança.
A verdadeira beleza está nas incertezas, nos caminhos tortuosos que a vida nos reserva, afinal, são nas imperfeições que encontramos riquezas, e na aceitação de nossa condição, paz se observa.
Então, ó ser humano, renuncia ao paraíso utópico, encontra em ti mesmo o propósito almejado. Nos desvãos da existência, aprecia o caótico, e assim, enfim, viverás plenamente acordado.
O paraíso, como um véu que encobre a realidade, faz dos seres humanos meros reféns da vaidade, pois se esquecem de construir aqui e agora um mundo melhor, onde a vida aflora.
A busca pelo paraíso, um engano profundo, pois nos afasta da existência, do ser fecundo. É no caminhar, na jornada em si, que encontramos propósito, a verdade a sorrir.
Não há um paraíso a ser alcançado, pois a vida é uma eterna obra, um legado. Somos nós, humanos imperfeitos e finitos que devemos encontrar em nós os infinitos.
O além, é o que está em nós, pois o verdadeiro propósito está na própria voz.
Versarei minha pena, com véu das verdades perdidas.
No entanto, em suas mãos trêmulas, ilusões apodrecem, e o propósito genuíno se esvai, enquanto perecem, desprovidos de um sentido autêntico, que buscam nos céus um êxtase hermético, cegos para a grandiosidade da própria existência, tornam-se marionetes sem esperança, sem consistência.
Paraíso é aqui, é o viver, o desafio constante, o propósito emerge na luta, no fardo vibrante.
O verdadeiro significado reside na superação, na criação de valores, no confronto com a própria solidão. Os desprovidos de propósito se perdem nas ilusões, enquanto alguns outros se erguem enfrentando suas aflições.
Os seres que buscam o reino dos céus, acreditam encontrar propósito nos véus, fácil desvendar a ilusão que encobre a sua paz.
Julgais ter encontrado o sentido preciso, no entanto, é vossa busca vazia e perdida, pois é na procura que a verdade é escondida.
Aqueles que clamam por um propósito divino, são apenas desprovidos de um sentido genuíno e autêntico, pois em suas mentes há um vazio profundo, que os leva a buscar além do mundo.
O verdadeiro propósito reside na criação, no encontro com a vida, na própria ação. Não em utopias celestiais ou transcendentes, mas na imanência dos momentos presentes.
Então, deixemos de lado o véu da fantasia, e encaremos a existência com alguma clareza e valia, porque é na busca por um paraíso ilusório, que nos tornamos os verdadeiros desprovidos de propósito.
Os deuses que criamos em nossas mentes ansiosas são projeções vazias de nossas carências imprecisas. Eles nos seduzem com promessas tão preciosas, mas no fim, apenas nos tornam almas indecisas.
Em nossa busca incessante por um refúgio, acreditamos encontrar a paz nos sonhos inalcançáveis. No entanto, afundamos nas profundezas inescapáveis.
Tu, portador da cruz, carregas o fardo do niilismo, em teu peito pulsante, a morte eterna se enreda, e em teus dogmas, a negação sutil do mundo se ergue. Pois em tua fé, o Deus morto proclamas, enquanto buscas no além o sentido a flutuar. Negando o aqui e agora, que em ti se chama, esquecendo-te do mundo, a negação a se manifestar. O além, qual artifício criado por tua dor, foi engendrado para ocultar o ímpeto vital, afogando o presente no vazio de um clamor, que te faz esquecer o prazer terreno, o carnaval.
O aquém, ah, crente, é onde a vida resplandece, na existência plena, no abraço do instante, mas tu, aflito, escolhes uma fuga que esmorece, e ignoras a verdade na busca do distante.
Em tua devoção vejo o trágico esplendor do niilismo latente que te consome a alma. A negação do mundo, a angústia do trovador, e o além, mera cortina que esconde a calma.
Tu que não abraças a dor, e renuncias ao aqui, ergues o olhar ao céu negando a existência, e em tua busca infinda, afastas-te do real sentir.
Oh, crente, olha para o mundo em sua essência. Descobre no presente o sagrado a florescer, deixa o além ser apenas uma vã aparência,
Encontre no aquém o sentido que há de se eternizar.
Nietzsche já vislumbrava no cristão um paradoxo, o verdadeiro niilista, desafiante, que nega o mundo e a si mesmo. O aquém, tão vasto e efêmero, onde a vida pulsa com ardor, é desprezado pelo crente solene, que busca no além a sua redenção, mas que além é esse, tão distante, criado para negar o aqui e agora? É uma miragem, uma ilusão devorante, que sufoca a existência, qual lenta chama.
E o cristão, na sua busca incessante, afirma ser o portador da verdade, apegado às certezas que lhe consolam, enquanto o mundo lhe escapa entre os dedos.
A negação do mundo é seu lema, o desprezo à vida é sua prece, mas é na negação que se encontra o vazio, a ausência de sentido, a noite emudece.
Ó, cristão, tu que és o verdadeiro niilista, em tua busca por uma redenção que não existe, enquanto negas o aquém, esvazias a existência, e a verdade se esconde, na sombra tu persiste.
O além é uma fuga, um engodo, para ocultar a realidade pulsante, é no aqui, no agora, que encontramos a verdadeira essência do existir constante.
MEU MAR MINHA LINHA
Era eu um pequenito
Naquela praia grande
De areal imenso
Do então Espinho extenso.
Eu ficava sozinho
Sentado numa pedra
Mais ao longe
Como que a comandar
A proa do meu barco
Rumo àquela linha do horizonte
Que eu via sempre direitinha
Com aqueles barcos grandes
De cargas de pão, de ouro
E especiarias, nos porões
Das fantasias.
Se calhar alguns petroleiros
Assaltados pelos piratas
Da minha verde imaginação
Que passavam com pachorra,
Na linha, do mar quente de verão.
E eu então imaginava:
Para além daquela linha, ficava
A Beira de Moçambique,
Era aí que o meu pai morava.
Não muito longe, eu via numa tela:
A Caracas do meu tio Vitorino,
Emigrado em Venezuela.
Depois, de barriga vazia
Voltava à areia da praia,
Morna da sorna da tarde
Que se ia com os barcos
E convidava ao sono.
Então, eu cobria-me com o meu manto
De areia
E, entretanto,
Adormecia...
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 30-05-2023)
E eu aqui com meu dente doendo
e eu aqui com meu saldo bancário
e eu aqui preso no trânsito engarrafado
e eu aqui com o cartão de crédito atrasado
e eu aqui com o namoro acabado
e eu aqui desempregado procurando trabalho
e eu aqui estressado e arretado
tem dias que a gente não devia ter acordado
DORA DA MINHA DOR
Clamei por ti noites inteiras.
Eras a Dora
Da minha hora,
Que foi amar-te nas clareiras
Das selvas em que vivi.
E eu sempre a chamar por ti.
E a Dora que agora
Me desadora,
Esta perfumada e rica senhora
De berloques de jóias gamadas,
De mamas por gigas sustentadas,
Faz de conta que não existo
Na sua memória cruel!
Não adiantou eu dizer: Sou o Manel,
O que te aliviou o "vírgulo"!
Pelo visto e sem mais vírgula
É triste lembrar assim
Quem não se lembra de mim...
Ah, Dora, mulher fatal,
Que matas qualquer mortal
Como me mataste por fim!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 31-05-2023)
A vida é como um prato de sopa de carne, Uma sopa de carne é feita de carne, água, batatas picadas, legumes, sal, cuminho, salsinha, pimenta do reino, às vezes um pouco de alho e outros condimentos diversos.
Depois a gente diz que a sopa de carne estava deliciosa, esquecendo os outros pequenos detalhes
JOGUETE
Fui-o.
Nas tuas mãos pouco macias
Perfumadas das bruxarias
E senti-o.
Foste lançando o feitiço
Como bruxa que lança em derriço
Incenso aos lanços nas brasas
Que fazem faíscas
Ariscas, com que arrasas
A vontade de dizer, não!
E sem mais contemplação
De outro piedoso pensar,
Louca mulher, sem paixão
Nem vontade de se amar.
(Carlos Vieira De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 01-06-2023)
DITADOS
E o ditado a dizer:
A cama que fizeres,
É aquela em que te vais deitar
E queira Deus que não vás penar...
Que sentença crua, de arrepiar!
Agora, digo eu, neste inocente pensar:
Mentira!
Fiz tantas camas na vida
Umas de pedras,
De pano e de ervas
E outras de sumaúma,
Mais macias que nenhuma.
Em todas descansei,
Amei
E gostei.
Só houve uma,
A de sumaúma,
Macia como nenhuma,
Onde não amei
E chorei.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 02-06-2023)
ESPERA DESESPERADA
Na velha gare esperei por ti;
Na esperança anunciada
De te ter como coisa amada
Naquilo que ao ganhar perdi.
Só depois é que vi
Que as estradas
E os carris das vidas
São feitos de tudos e nadas.
Nem sempre são retas desejadas
Para alcançar o sonho final,
Se não a mim e ao mundo
Vai um logro tão profundo,
Um medonho e abismal
Desígnio infernal
Nas encruzilhadas do mal.
Dessas, eu nunca me lembrei...
Por descuido me esqueci.
Agora, eu sei
Porque peno assim por ti.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 04-06-2023)
Muitas vezes somos julgados
Por sermos assim por sermos assados
Também já fomos crianças, adolescentes
E também nos frustramos e não foi fácil
Além de filhos fomos pais
Aí nos deixamos um pouco de lado para tentarmos o melhor
Mas o nosso melhor muitas vezes se parece pouco
O nosso jeito de educar e de nos preocupar
Se torna rude, chato, grosso muitas vezes vergonhoso
Verdade, a idade chega e como passa rápido
Tão rápido que olhamos para o ontem que na verdade já está há anos
E o que fizemos? O que vivemos?
O que sentimos? E como estamos?
Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não lhe entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
E isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?
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