Textos de Amizade- Marilyn Monroe

Cerca de 33425 frases e pensamentos: Textos de Amizade- Marilyn Monroe

⁠O MENINO E A BOLA

Ele ia atrás da bola.
Que belo, ele a correr
O menino de sua mãe,
Que Deus a conserve e tem
No enlace com seu pai,
Em risonho amor de viver.

Chuta, vá meu pequenino,
Afaga os teus pezitos na bola,
Com o esquerdo ou o direito
O teu chutar é perfeito,
Rumo ao verdadeiro destino
Traçado na camisola.

E no passar do sol pela lua,
Pelo fogo, pelo ar, pela água
Sem mágoa
E pela terra,
Um dia, nunca te esqueças
Peço-te, não esmoreças,
Pois a vida será sempre tua
Nua e crua,
Pela verdade que encerra.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 01-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ÁRVORE SECA

Ao vê-la, estarreci.
Ainda ontem
Do antes de ontem
De há três dias,
Eu vi-a;
Parecia-me salva
À luz da alva,
Daquele passado dia.

Hoje, mesmo agora,
Olhei lá fora:
Estava já mirrada,
Seca, num esturricado
Como torresmo queimado.

Quis regá-la,
Refrescá-la,
No pé do tronco a morrer.

Só então me lembrei
E pelo que sei,
Não adianta em desnorte,
Querer vencer
Sem poder,
Aquilo que já é morte!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 02-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠O GRITO

Ouvia-se o grito.
Na noite do vendaval,
Duma garganta, saía aflito
O ronco de algum mortal.

Terrífico
Horrífico,
Que entrava pela janela
Fechada pelo medo
De entrar nela,
Mau credo ou até bruxedo.

O vendaval amainou.
O grito parou.
Aberta a janela,
Ao perto, à luz da vela:
Era uma voz de fome,
Um homem sem nome,
Sem idade de vida ou ser,
Que só pedia a esmola do comer.

(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 03-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Escrevia, Miguel Torga, Poeta Maior, em Coimbra, a 4 de Abril de 1981:
- "Tentei explicar o mecanismo psicológico. O poeta é, de facto, um ser
incómodo. Mais cedo ou mais tarde, obriga os detratores a um embaraçoso
mea culpa. E como eles, no íntimo, o sabem perfeitamente, olham-no sempre
de través, a adiar quanto podem essa hora de rendição. Até que ela chega
irrevogavelmente pela mão da morte. E, então, é uma avalanche de adjetivos a
ver se o soterram e, alçados no cômoro lutuoso, se glorificam na glória que
proclamam." (Diário XIII - Miguel Torga)

MINHA HOMENAGEM:

QUADRA PARA TORGA

Se o poeta é desconforto,
Digam-no já em vida,
Não falsem depois de morto,
Que foi um santo de ermida.
© 𝕮𝖆𝖗𝖑𝖔𝖘 𝕯𝖊 𝕮𝖆𝖘𝖙𝖗𝖔.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

NOSTALGIA

⁠Cai em mim uma nostalgia,
Sem eu a ter pedido no tempo.

É assim como uma melancolia,
Uma tristeza vaga,
Que não se apaga
No momento.

Que vida.
Que tempo.

Que amargura dura
E tão escura
Havia de me assaltar.

Agora, que eu só queria
Tão pouco,
Para não entrar em louco,
Descansar,
Repousar,
Para aprender a sonhar...
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 04-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ALMA SECA

Que interessa eu dizer
E ao mundo revelar,
Mostrar
O que me vai na alma,
Se não é isso que acalma
A minha sede de viver?

Se eu confessasse o que sinto,
Mesmo na pura verdade,
Dir-me-iam por bondade,
Ou por maldade -
Que minto!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 06-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠DANÇAS DO VENTRE E OUTRAS EXCITAÇÕES

Era na noite avançada
Dos nossos tempos idos.
Aplicavas os teus fluídos
Nos requebros do teu ventre,
Em danças que a gente sente
Acordar libidos adormecidos.
Em lascívias
Óbvias
Do teu tronco,
Em sinais de púbis molhados
Nos negros caracóis
Fantasiados
Nos brancos lençóis,
Que depois da dança tua
De ventre
E de frente,
Fazíamos amor
Cansado
Mas sempre apetecido
Quando regurgitavam
Orgasmos,
Em espasmos
De loucura e dor.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 08-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

PÁSCOA SEM PASSAGEM

⁠Foi Páscoa.
Só dei por ela e pela aragem,
Na singeleza do nome passagem,
Só mesmo, sem mais,
Neste mundo dos mortais.

O sol, estava tão triste,
O vento, sem ação,
E se a memória resiste
Caía uma melancolia
Na cruz erguida,
Ferida, do meu coração.

Páscoa, para mim,
Não é doce nem salgada,
É assim
Como quase tudo do nada
Em desprender de vícios
E estrupícios
Na minha fé amansada.

Que interessa Páscoa
Se na passagem
Da mensagem,
O mundo vive em clausura
Mesmo sem grades,
Nestas minhas saudades
De uma Páscoa pura?

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 11-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ESPINHO-MAR PÃO E
ÀS VEZES MAR CÃO

Como eu te amo, Espinho
Flor do mar
A brotar
Num lençol de verde linho
Nesta minha inquietude
Cravada na solicitude
Daquele botar
Do barco ao mar
A querer buscar
Algum peixe graúdo
Que os deuses
Por vezes,
Só te dão
Em ração
De pão
Miúdo.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 13-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠PESADELOS
Enrolam-se como áspides
Serpentes venenosas
Pela calada do meu sono
Em mono
Por falta de estéreo
Neste mistério
De horrorizar
O som dos medonhos.
Enfiam máscaras de mortos
Idos,
Absortos,
Sem perdão
De alguma salvação.
Depois, no filme, entre flatos
De cus abstratos,
Caricatos,
Talvez de gatos,
Aparecem então os vivos
Cativos
Já de morte anunciada,
Malignos seres na encruzilhada.
Fazem-me suar,
Transpirar
A estopinhas
Molhar a roupa do corpo
Vivo e não morto!
Mais eis que, no final,
Há sempre um vencedor.
Surge alguém que já está
Lá,
Na terra verdade e me salva a recato.
Depois, vem aquela estúpida
Vontade de mijar
De duas em duas horas
E eu acabo de matar
O pesadelo
Ao afogá-lo na água
Que brota,
Abundantemente,
Sem piedade,
Do autoclismo.


(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 15-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

PERNAS

⁠Era nas tuas pernas
Macias
Morenas
Espelhando desejos
Que eu encostava a cabeça minha
Quando não tinha
Aconchego nem beijos.

Pernas não são eternas
Fraquejam
Perdem brilho
E cor.

Depois resta a saudade
De um tempo de ardor
Que alimentava o amor
Nas tuas pernas
Fraternas
Quentes
Que guardavam cavernas
Ferventes
Ardentes
No tição
Da paixão.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 15-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠LAURO O INFELIZ

Lauro morava debaixo de chapas pobre
Tinha as mãos encardidas de ranho e sol
Já foi senhor e estupor de graveto nobre
Antes de ter o cabelo com baba de caracol

Lauro batia ao bicho de hora em hora
Seduzido pela erva queimada em cenoura
Depois adormecia co'a coisa de fora
Deprimida encardida e tão redutora

Lauro tinha quem por ele rezasse
Ao longe numa luz que já foi dele
Algum teso também agora sem classe
Mas que tinha sido figura como ele

Lauro cansado de viver sem planos
De tanto cismar na córnea da vida
Arranjou um corda já em pedaços partida
E enforcou-se de pernas no dia dos anos.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 17-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

ROSA RECALCADA

⁠Rosa formosa dos seios grandes
Com cheiros de mar nas axilas
Trazias em ti almoços de sandes
E no coração memórias de pilas.

Nas tuas pernas feitas almofadas
De sal ao sol já tão crestadas
Alapavam outras de estofadas
Peles e espumas contaminadas.

Rosa enjeitada rameira sem nada
Objeto abjeto corpo de diversão
Em que tornaram o teu destino coitada
Mulher viva e tão morta de ilusão.

E um dia na campa ao lerem o teu jazer
Hão de estar sem arrependimento
Todos os que exploraram o sofrer
Do teu corpo de fora para o de dentro.

(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 18-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

PRAGA ROGADA

⁠Diziam-lhe
E rediziam-lhe
Que quando ele se fosse
Um dia
Para a eterna enxovia,
O diacho do Demo
Rei dos infernos
Eternos,
Nem queria
Vê-lo lá.

Não é que de rir
Foi tanta a vontade
Que ele o fez às despregadas,
Saiu-lhe o umbigo fora
E agora
Olhando por si abaixo
Consegue apalpá-lo,
Massajá-lo,
Ao umbigo,
Que saiu do seu postigo.

Continuou a olhar para baixo
Do umbigo
Apalpou,
Massajou,
E nada...
Não viu nem apalpou nada!
Então disse aos seus botões:
- Medo do inferno !?...

No inferno, já estou eu!

E adormeceu...

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 21-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠CHUVA QUE DÁ SONO

Confesso, tinha tantas saudades
Da chuva que faz dormir
Que quando ela veio
De mansinho,
Eu fui logo para a janela
Que não deixa ver o mundo
Mas só a natureza molhada
Desta chuva que encharcava
O corpo das carvalheiras
As primeiras
A rejuvenescer na primavera
Com aqueles ramos e folhas de hera
A serpenteá-las,
A abraçá-las
Naquele longo apertar
Delicioso de amantes
Sem estações.
Com os cotovelos no parapeito
Da janela,
A começar já a ficar sem jeito,
Fui adormecendo
No sono dos justos.
A chuva boa continuava a cair
O meu gato cego de um olho, a dormir,
O Camões,
Também sem estações.
Ele, na alcofa
E eu sem ela
Naquela janela.
Como é bom dormir
Sem contar,
Só com a chuva a chorar
E as lágrimas a escorrer
Pelos vidros de uma janela.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 21-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠POEMA LAMENTO

Um mau poema
Sem tema
Alcance ou lema,
É tudo o que te posso dar.

Não sei mais.

Ela não quer nada comigo
E como castigo...

Também não quero ir mais longe
Não quero levar vida de monge
Porque monge
Sem capuz,
Já o sou nesta minha cruz.

Não pretendo nome
Ou cognome,
Estejam descansados
Para vosso bem.

Se o quisesse, alcançaria
Mesmo da noite para o dia!

Um bom poema
Para minha pena
Mas sem vontade de chorar,
É coisa que não te posso dar.

Lamento!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 22-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠O PÓS E O PRÉ

Lembro-me ainda de quando era velho
A cair de podre.
O ventre saído desmesurado
Expelido
Inchado
Como que a rebentar
A bomba fatal
Tal odre
Que estoura
Em excessos
Possessos
De processos
De químicas
De álcool com salmoura.

Menino, agora, já sou outra vez.
Com pés a caminho da cova,
Voltarei ao pó
Pó, pó, pó, pó
E cinza adubada.

Vou tornar a ser
Um novo ser
A nascer,
Não demora nada.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 22-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠LUZ

Que luz
Que tão tarde
Queres brilhar
Como fogueira que não arde
Na minha escura vida
Que até se me não engana
A amargura invertida,
Nunca soube que existias.

Falso reflexo
A querer alumiar
O meu espelho convexo
Em teus remorsos
Por expiar,
Nos meus derradeiros dias.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 29-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠VADE RETRO SATANÁS

Vade!
Afasta-te de mim, Satanás
E se não fores capaz,
Eu levo-te à Boca do Inferno
Aquele penedo eterno
Que na história e nos anais
Fica ali na Guia de Cascais
Ao sul deste Portugal profundo
Que ainda crê no Demo
Do inferno extremo
Do outro lado do mundo.

Ó diacho!

Não é preciso ir mais longe…

Empurro-te daquele penedo abaixo
E cais no oceano em chamas
Onde proclamas
Não seres demónio mas monge.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 30-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

TALVEZ AMANHÃ ONTEM

Talvez…
Eu te conte o que não soube
Dizer-te
Ontem
Por causa das tuas
Palavras cruas,
Como pedras das ruas
Geladas
Que me atiravas
Sem dó nem piedade.

Talvez…
Amanhã eu não te saiba
Dizer nada
Porque nada sei
Do que soube
Ontem,
Que já era hoje
De madrugada.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 01-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro