Textos Alegres

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Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos – e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, então raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.

Clarice Lispector
Todas as crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2018.

Nota: Trecho da crônica Pertencer.

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Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que quase me deixa exausta. Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo. Eu sei chorar toda encolhida abraçando as pernas. Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, vísceras, e falta de ar...

Marla de Queiroz

Nota: Trecho de texto de Marla de Queiroz. Por vezes, é atribuído de forma errônea a Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector.

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A felicidade entrou com o pé na porta e sentou ao meu lado. Eu não estava mais sozinha esperando o espéculo. O trânsito todo parado e ela acena no carro ao lado, depois morre de vergonha e toma bronca do pai para sentar direito na cadeirinha. O dia meio cinzento, vai-não-vai e de repente ela surge amarela e esquenta a vida. Ela mora numa gaveta cheia de bobeirinhas lá em casa... Ela toma banho comigo quando a água leva embora coisa ruim e renova a alma e dorme ao meu lado quando eu descanso...

Para ser feliz, você não precisa de grandes conquistas materiais. Você já tem o pôr-do-sol, as estrelas, os pássaros, o sorriso dos seus amigos, seus irmãos. Agradeça a Deus, pois você tem tua vida. Tem o dia que está começando, tem sua força e determinação. Com todos esses presentes da vida, o resto você constrói!

Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem. Tenho coragem mas com um pouco de medo. Pessoa feliz é quem aceitou a morte. Quando estou feliz demais, sinto uma angústia amordaçante: assusto-me. Sou tão medrosa. Tenho medo de estar viva porque quem tem vida um dia morre. E o mundo me violenta.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.

Eu me dou melhor comigo mesma quando estou infeliz: há um encontro. Quando me sinto feliz, parece-me que sou outra. Embora outra da mesma. Outra estranhamente alegre, esfuziante, levemente infeliz é mais tranquilo. Tenho tanta vontade de ser corriqueira e um pouco vulgar e dizer: a esperança é a última que morre.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.

Onde está a felicidade? No amor, ou na indiferença? Na obediência, ou no poder? No orgulho, ou na humildade? Na investigação, ou na fé? Na celebridade, ou no esquecimento? Na nudez, ou na prosperidade? Na ambição, ou no sacrifício? A meu ver, a felicidade está na doçura do bem, distribuído sem ideia de remuneração. Ou, por outra, sob uma fórmula mais precisa, a nossa felicidade consiste no sentimento da felicidade alheia, generosamente criada por um ato nosso.

Rui Barbosa
BARBOSA, R., Obras completas de Rui Barbosa

"Todos os homens querem viver felizes, mas, para descobrir o que torna a vida mais feliz, vai-se tentando, pois não é fácil alcançar a felicidade, uma vez que quanto mais a procuramos mais dela nos afastamos. Podemos no enganar no caminho, tomar a direção errada; quanto maior a pressa, maior a distância."

Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas, minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. Eu caminho, desequilibrada, em cima de uma linha tênue entre a lucidez e a loucura. De ter amigos eu gosto porque preciso de ajuda pra sentir, embora quem se relacione comigo saiba que é por conta-própria e auto-risco. O que tenho de mais obscuro, é o que me ilumina. E a minha lucidez é que é perigosa (como dizia Clarice Lispector). Se eu pudesse me resumir, diria que sou irremediável!

Marla de Queiroz

Nota: O pensamento costuma ser erroneamente atribuído a Clarice Lispector. Acredita-se que a confusão aconteça pois a poeta Marla faz uma referência a Clarice em seu texto.

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Recuso-me a ficar triste. Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade. Eu estou – apesar de tudo oh apesar de tudo – estou sendo alegre neste instante-já que passa se eu não fixá-lo com palavras. Estou sendo alegre neste mesmo instante porque me recuso a ser vencida: então eu amo. Como resposta.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Você é feliz? Não espalhe, já que tanta gente se sente agredida com isso. Mas também não se culpe, porque felicidade é bem diferente do que ser linda, rica, simpática e aquela coisa toda. Felicidade, se eu não estiver muito enganada, é ter noção da precariedade da vida, é estar consciente de que nada é fácil, é tirar algum proveito do sofrimento, é não se exigir de forma desumana e, apesar disso tudo, conseguir ter um prazer quase indecente em estar vivo.

“Eu só quero que aonde quer que esteja que esteja feliz, e eu espero que em uma noite como essa você ainda pense em mim, e eu quero que você saiba que não importa o que aconteça, não importa onde você esteja no mundo, não importa quantos anos se passem, não importa se você diga de volta ou não, eu sei que é verdade como sempre foi, como sempre será, nos veremos em breve.”

Não posso ser feliz quando mudo só para satisfazer o seu egoísmo. Nem posso me sentir contente quando você me critica por não ter seus pensamentos. Ou por ver como você vê. Você me chama de rebelde. No entanto, cada vez que rejeitei suas crenças você se rebelou contra as minhas. Não procuro moldar sua mente. Sei que você está se esforçando muito para ser só você. E não posso permitir que me diga o que ser... pois estou me concentrando em ser eu.

Respiro a única felicidade que sou capaz - uma consciência atenciosa e cordial. Passeio o dia todo(...) cada ser que encontro, cada cheiro dessa rua, tudo é pretexto para amar sem medida. Jovens mulheres supervisionam uma colônia de férias, a trombeta do vendedor de sorvetes, as barracas de frutas, melancias vermelhas com caroços negros, uvas translúcidas e meladas - tantos apoios para quem não sabe ser só. Mas a flauta ácida e terna das cigarras, o perfume de águas e de estrelas que se encontram nas noites de setembro, os caminhos aromáticos entre as árvores de pistache e os juncos. tantos sinais de amor para quem é forçado a ser só.

Pois de amor andamos todos precisados! Em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente! Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.

Fiquei feliz em poder sentir tua falta, - a falta mostra o quão necessitamos de algo/alguém. É assim o nosso ciclo. Eu te preciso. Perto, longe, tanto faz. Preciso saber que tu está bem, se respira, se comeu ou tomou banho - com o calor que está fazendo neste verão, tome pelo menos uns três ao dia, e pense em mim, estou com calor também. Me faz bem pensar nessas atividades corriqueiras, que supostamente você está fazendo. Ah, e eu estou te esperando, com meu vestido longo, óculos escuros grandes e meu coração pulsando forte, e te abraçar até sentir o mundo girar apenas para nós. É, eu gosto muito de ti.

Eu mudo constantemente, sou alegre e triste, grossa e simpática, amor e ódio, sorriso e lágrimas. Toda dia eu acordo e não sou mais a mesma de ontem. Então é impossível me descrever, dizer o que sou, o que eu gosto ou não gosto. Posso querer muito algo por um tempo, e depois ser indiferente a isso. Me canso de coisas, de pessoas, de sentimentos e de lugares. Tudo é incerto e mutável demais dentro de mim.

Viver agora, tarefa dura. De cada dia arrancar das coisas, com as unhas, uma modesta alegria; em cada noite descobrir um motivo razoável para acordar amanhã. Mas o poço não tem fundo, persiste sempre por trás, as cobras no fundo enleadas na lança. Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim, há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consome cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe, mas foi só mais um engano? E quantos mais ainda restam na palma da minha mão?

O homem nunca é feliz, passa a vida inteira lutando por algo que acha que vai fazê-lo feliz. Não consegue e, quando consegue, fica desapontado: ele é um náufrago e chega ao porto de destino sem mastros nem cordâmes. Não interessa mais se ele foi feliz ou infeliz, pois a vida foi sempre apenas o presente, que estava sempre sumindo e agora terminou.

Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha. Metade auto-suficiente...