Texto Pai do Mario Quintana
DUETO (soneto)
A minha tristura é uma gargalhada
A saudade um suspiro. Ela chorava
Na solidão onde eu me encontrava
Me deixando além d'alma estacada
Os sonhos pouco ou nada resvalava
Pelo olhar. Não tinha a asa dourada
A saudade ria com a tristura chegada
Sob a cruel melancolia que matava
Do sorriso a saudade fez morada
Sequer de um pranto ela alegrava
Tinha tristura na sinfonia cantada
No dueto: saudade e tristura, aldrava
O coração no peito, da aflição criada.
Então, atrozes, alívio na poesia forjava...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
NÃO POSSO – NÃO QUERO – NÃO CONSIGO – VOU TENTAR
NÃO POSSO era um rapaz preguiçoso e muito covarde. Quando lhe pediam que fizesse alguma coisa, dizia que não podia, ainda sem ter experimentado. Se lhe faziam alguma pergunta, respondia: não sei. Se tinha que estudar uma lição, saia com essa: não posso...
NÃO QUERO não era preguiçoso nem estúpido, mas tinha um mau gênio, era teimoso. Se lhe passava pela cabeça não fazer alguma coisa, não havia meio de convencê-lo a mudar de idéia. Se ficava de mau humor, seus colegas não sonseguiam, por mais que insistissem leva-lo a um passeio ou a um divertimento qualquer. Aborrecia os outros porque só queria o que bem entendesse, em tudo e por tudo. O fato é que ninguém gostava dele.
NÃO CONSIGO era um rapaz bonito e sorridente,mas também preguiçoso. Tudo o que se pedia para fazer, antes mesmo de tentar já ia dizendo: não vou conseguir. Dava um trabalho imenso fazê-lo ter uma atitude positiva, mesmo em seu próprio benefício. Ficava resmungando pelos cantos, colocando defeitos em tudo que fosse feito, com inveja do sucesso dos outros.
VOU TENTAR era um rapaz franzino e pequeno, mas tinha ânimo e persistência. Estava sempre pronto a tentar o sucesso. Costumava dizer: não sei se posso, mas vou tentar. Algumas vezes não conseguia, mas quase sempre era capaz de fazer o que experimentava. Um dia, interrogado em uma aula de matemática respondeu: não sei o problema, mas vou tentar. E o mestre respondeu: é o que quero. Jovens experimentando sua capacidade.
Nos estudos VOU TENTAR era o primeiro da classe. NÃO POSSO e NÃO CONSIGO, ficavam sempre em último lugar e NÃO QUERO, abandonou a escola.
Hoje estão todos homens feitos.
NÃO POSSO é criado de um senhor muito exigente, chamado: É PRECISO.
NÃO QUERO é soldado raso e obedece ao CAPITÃO DEVE.
NÃO CONSIGO trabalha na propriedade do senhor NÃO TEM DESCULPAS.
VOU TENTAR é sócio da grande firma FELIZARDO & CIA.
DE POESIA EU PRECISO
De poesia é o que eu preciso
Da tua quimera e mais nada
Galgar a rota de sua escada
Sem vestir-se do ser narciso
A poesia é muito mais amada
Prazer d'alma, pouco ao juízo
Volteios de ilusão no paraíso
Da ficção, com lira misturada
Só preciso de poesia, teu guizo
Inspiração, silêncio, a tua pitada
Cheios de acordes e improviso
Poesia é tal qual uma estrada
Do fado vendado e impreciso
Que nasce da faúlha inspirada
(de poesia eu preciso!...)
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
BALADA DO TEMPO (soneto)
... e o tempo passa, indiferente
apático, indo embora sem saber
poente na saudade, o alvorecer
mais um, outro, apressadamente
... dono dos gestos e do prazer
tristemente, tal uma flor dolente
que traga o frescor vorazmente
no ato da ação do envelhecer
e o tempo passa, inteiramente
sem que escolhamos perceber
e na lembrança, assim, assente
passa o tempo, e é para valer
sem que nada dele ausente...
Presente! Pois vale a pena viver!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
A JANELA E A LUA (soneto)
Já de ti - dizia a lua - me despeço
Pra janela, no cerrado com sorriso
Deixo-te com os sonhos. Preciso
ir... O sol já está no seu ingresso
No horizonte me embaço no paraíso
De tua fresta vê-me no meu avesso
Diz a lua no clarão no céu disperso
E eu, noturna, indecisa, me diviso
E, escancarada, alegre, a ti expresso
Até mais logo! Vá com lotado juízo
Diz a janela pra lua, breve regresso!
E está, que já dormia, de sobreaviso
Inteirou a janela deste seu recesso
Até a noite, quando volta no improviso
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
CHEIRO DE CERRADO
Quando a alvorada chegou, eu fui a janela
Sentei-me. O horizonte abriu, a vida arfava
Eu, ao vento, atraído, a essa hora admirava
E estaquei, vendo-a esplendorosa e bela
Era o cerrado, era a diversidade em fava
Céu róseo um mimo! A arder como vela
De pureza singela tal qual uma donzela
Que hipnotizava a alma, eu, observava
Então me perdi no perfume que exalava
O olhar velava com pasmo e com tutela
Aí, hauri toda a essência que fulgurava
E agora, fugaz, lembrando ainda dela
Sinto o cheiro, que na memória trava
Da alvorada do cerrado vista da janela
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
'' Quando a noite escurece nas sombras do meu pensamento,eu olhos as estrelas firmemente e atento.
Sobre a luz da lua eu me ponho a sonhar,com coisas grandiosas como o brilho do seu olhar.
Ponto a ponto eu marco as constelações e nelas coloquei os nomes do anciões.
Os mesmos que me disseram que meu destino me daria você,e a mim a ti.
Não busco nas estrelas um passatempo e nem uma forma de saber sobre tudo.
Apenas procuro no escuro um caminho para luz de tudo.
Sei que vou te encontrar algum dia,e farei o certo assim como se deve ser feito.
Um destino por um destino.Uma vida por uma vida. ''
Não peça calma ao meu coração, pois pra ele tu és urgência. Tu és pedaço que ele precisa. Você nem percebes, mas ele bate mais por você do que por mim.
Que olhar!
Se derrama em mim. Me enxarca a alma de paixão. Me mata desejos incumbidos. Me tortura tão docemente. Olhar de bandido em entrelinhas com amor.
Voar. Sem saber pra onde. Se vou voar a toa no céu ou se vou repousar em teus braços. Não importa. Apenas voou. E vou.
Beijar o seu sorriso. Sorrindo.
Somos o rascunho de um amor que não prevaleceu.
Quando ele toca minha pele eu implodo por dentro, mas ele nem percebe, pois por fora eu sorrio e sou tormento.
Muda o curso. Vem me dizer bom dia das mil formas diferentes que só você sabe me ofertar.
Perde os freios comigo. Vamos bater de frente. Acidente de amor não precisa pagar multa depois.
Então, vem.
Só pra você saber. Pensei em você. Deixei flores internas em mim te florescer.
Desculpas esfarrapadas de amor, estou fora. Eu quero verdades de amor pra sentir além da pele. Eu quero é a vida pós amor. Eu quero é a felicidade que o outro faz brotar. Eu quero aquela sensação de medo do mundo acabar antes de amarmos além de nós.
Me suga pra dentro de você. Me mata mil vezes de amor. Me inspira forte. Me sufoca quente. Me abraça com medo de me perder. Me perca em você. Adoro me reencontrar em teus caminhos. E ser teus passos pra voce voltar pra mim, outra vez.
Adoro perder as letras pra compor palavras que realmente seriam desnecessárias. .
Boca com boca só com beijo.
Bom seria se ela brincasse de amor. Se ela fizesse jogo. Se ela dissesse, eu te ligo e não ligasse. Bom seria se ela te levasse ao cinema e pra jantar fora e depois uma noite no motel. Bom seria se ela nem te olhasse direito nos olhos no dia seguinte e te levasse pra casa ou lhe deixasse no ponto de ônibus e dissesse, você é legal e a gente se fala. Bom seria se ela tivesse coração de homem. Pedra. Pedregulhos. Espinhento. Alguns.
Bom seria se ela não te desse a mínima mesmo você sendo um completo cachorrinho pra ela. Bom seria
Que bom seria. Mas que bom que ela é mulher e se veste de força e recomeça. As vezes chora. Se lamenta. Se dói muito por dentro, mas ela sempre dá a volta por cima e espera, e te espera, homem de coração de sangue, banhado de amor e verdades.
"Mais magro", sussurra o velho cigano de nariz carcomido
para William Halleck quando ele e sua esposa Heidi saem
do tribunal. Apenas estas duas únicas palavras, carregadas
pela doçura enjoativa do hálito dele.
"Mais magro". E antes que Halleck possa recuar, o velho
cigano estica o braço e acaricia-lhe a face com um dedo
retorcido. Os lábios dele entreabrem-se como uma ferida,
exibindo alguns cacos de dentes que despontam das gengivas
como lápides quebradas. Cacos de dentes enegrecidos e
esverdeados. A língua do velho se esgueira por entre eles e
então desponta, para lamber os amargos lábios sorridentes.
"Mais magro "
Seu cheiro ficou comigo
Após este breve adeus
E ter-te nos braços meus
Ficou a inocência de seu odor
Misturados com seu calor
Nos labirintos do lençol
Enlaçados com a turbação
Do pensamento sem noção
Gravados no sentimento
Inebriando o contentamento
Com resíduos de nossa paixão
Que naufragaram na minha emoção
É pura essência de hortelã
Que bem cedo, ainda pela manhã
Exala por todos os meus poros
Em eternos cânticos sonoros
Dissolvendo minh'alma em ti
Acordando o meu coração
Marejado de saudosa comoção
Da necessidade de você ter partido
Mas, seu cheiro ficou comigo
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
28/02/2019
Rio de Janeiro, RJ
eleitos
no silêncio, predestinação, na solidão
desígnios dos sentimentos estreitos
o mistério do coração
feitos, leitos, imperfeitos...
eu não te aguardava mais
estava sentado no barranco do cerrado
calado, as entranhas prostradas no cais
do fado, e cá nossos olhares acordado
suspirando os mesmos sensos reias
que já a muito sepultado...
e agora fatais.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
14 de outubro de 2019
Cerrado goiano
Violeiro chora a viola
Violeiro, está viola canta
e chora a saudade deste chão
este chão árido que o pranto na garganta
canta os amores nas cordas desta canção...
No meu peito também chora
este choro que não vai embora
junto da viola, que vai no raiar da aurora
Violeiro, chora a viola no meu pranto
deste desencanto que a sorte me reservou
se podes neste canto me consolar tanto
não se acanhe em espantar a solidão que aproximou...
No meu peito também chora
este choro que não vai embora
junto da viola, que vai no raiar da aurora
Violeiro, canta a viola no choro dos amores
se hoje sozinho, tenho ela cancioneiro e senhora
então consola minha solidão e minhas dores
daqui só saio se a viola for embora...
Viola e violeiro deixam eu ter este proveito
do canto e choro da viola, em poesia
pois assim alivia o meu peito...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Maio, 2016
Cerrado goiano
em novembro
vai precisar de festejo
é mês das quarenta velas
assoprar num só bafejo
sem ter parcelas...
são ainda com um tal ensejo
de serem bagatelas
afinal, os primeiros quarenta
e viver se pode, ao dobrar
somado com mais uns “enta”
a vida começa (a)pesar...
coragem e água benta!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro de 2019
para o Márcio Francisco
SONETO DO MEU POETAR
Basta-me apenas um verso
Onde seu gesto fale de amor
E comigo venhas sem dor
E nele eu me torne imerso
Pra sempre, sem nenhum pudor
Sem palavras caídas do universo
Do dissabor, e que seja inverso
A trovas desbotadas e sem cor
É só ter um deslize no disperso
Pra que ele fale o que é perverso
Em linhas omissas e sem frescor
E nem por isto deixo de ser diverso
Num poetar que gosta de ter odor
Aos olhos do doce amoroso leitor
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
ODISSEIA (soneto)
Minha saudade de querer-te, ideia
Meus dias poetam versos em te ter
Pois vives no meu viver sem tu crer
Numa saudade de vida em odisseia
Não é só uma razão no meu querer
És o enamorar em noite de lua cheia
Mistérios pra que minh'alma te reteia
E contos de amor escritos pra eu ler
Já tantas vezes lidos, no céu, na areia
Relidos nos sonhos do meu entardecer
É tão presente numa clássica epopeia
És o meu amor, a aurora no amanhecer
Quem no meu palco encenou a estreia
Enlouquecendo por inteiro o meu ser
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
16/06/2016, 17'26"
Cerrado goiano
VELHA OPINIÃO (soneto)
Só o tempo é que faz poetar a vida
Harmoniza a esperança e dá ação
Põe o antídoto do amor na questão
E no fado faz estória de vinda e ida
O ser depende do grau da emoção
Em nada se pode ter dor resumida
Ou tão pouco ter ânsia embevecida
E ou descrença sem fé no coração
O eterno desejar uma sorte ungida
Faz da trilha um trilhar na contramão
Pois sempre se tem algo de partida
E no perde e ganha, a voz é da razão
Não se tem a felicidade assim parida
Vem com dose de ventura e aptidão
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
16/06/2016
Cerrado goiano
SONETO DE INVERNO
Frio, uma taça de vinho, face em rubor
No cerrado ivernado pouco se aquece
Um calor de momento, o vinho oferece
E a alma valesse neste desfrutar maior
Arrepio no corpo, do apego se apetece
Pra esquentar a noite, tornar-se ardor
Acalorando o alento do clima ofensor
Tal é perfeito, também, o afeto tece
E na estação de monocromática cor
De paixões, de misto sabor, aparece
Os mistérios, os desejos, os sentidos
Assim, embolados nas lareiras, o amor
Regado de vontades, no olhar floresce
Pra no solstício de novo serem acolhidos
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
SONETO DO IPÊ
O cerrado se prepara para a primavera
No chão cascalhado, a florada anuncia
Os ipês amarelos ornando de luz o dia
E o horizonte se vestindo de quimera
Sai o inverno, setembro, vem a ventania
E mal surgia, e caem sem assim quisera
Em implacável jornada, acatando a era
Atapetando o chão de matizada magia
E neste, veste e despe, a beleza gera
Espanto da sina acirrada em tirania
Do ipê ser algoz na sua pouco espera
No processo que penaliza a flor fugidia
Em ser uma desgarrada na atmosfera
Faz-se o prosseguir a vida em romaria
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
Adeus junho
Junho, despede-se
Agasalhado no inverno
Vai-se tão terno
Brindado com vinho
Bem de mansinho
Um novo recomeçar
Doce é poder estar
Dádiva da vida a girar
Vivificando a cada manhã
Em um novo amanhã
Adeus junho das festas
Das madrugadas em serestas
Na despedida a evidência
De dia vencidos, reverência
Sai junho, mortulho...
Vem julho...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho, 2016
Cerrado goiano
SUSPIROS (soneto)
Um pesar tão mais saudoso, assim não vejo!
Um vazio no silêncio, barulhento, sem pudor
De tão é a infelicidade, que terebrante é a dor
Que vagar algum pode ofuscar o tal lampejo
Dias rastejam, noites em romarias no andor
Da angústia, que enfileiradas num cortejo
Levam preciosos instantes, pra num despejo
Jogá-los ao luar, sem quer um pejo, amor
Ah! Que bom seria, eu ter qualquer traquejo
No dom da oração, e me ouvisse o Criador
Através do meu olhar, rogando por ensejo
Essa saudade tão mais triste, ainda é clamor!
Inda estão nos versos que no poetar eu adejo
Tentando recreio, para os suspiros transpor
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho de 2016
Cerrado goiano
