Texto Pai do Mario Quintana
CERRADO SECO (soneto)
Ah! plangente cerrado, quente, sequioso
Ventos abafados, denodados, e ao vento
Dormente melancolia, e tão portentoso
Murmurejante e, navegante de lamento
Sol queimoso, unguinoso, tal moroso
Que no seu firmamento vagar é lento
Inventando no tempo variegado iroso
Parindo nuvens dum cinzento natento
Securas secas, e que secam ardoroso
Veludos galhos, veludosos e poeirento
Que racham sedentos num ardor ditoso
Ah! cerrado seco, de ávido encantamento
De um luar num esplendor esplendoroso
Da lua de contornos, no céu monumento
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
VISÃO
No cerrado vi um peão a toda brida
Pelos cascalhados da árida estrada
Do meu sonho não entendia nada
Se eu estava na morte ou na vida
Entre folhas ressequidas, adormecida
Uma caliandra, sendo colhida por fada
Em cachos, no beiral da lua prateada
Numa tal tenra pálida beleza já vencida
E nesta ilusão a ele fiz uma chamada
Vós estás de chegada ou de partida?
O tal peão, O Tempo, de sua cruzada
Respondeu: não tenho alguma parada
Levo comigo o podão de toda a vida
A caliandra colhida, é tua infância perdida.
AMOR PERFEITO
Vai majestade,
Amor. Busca o sentimento
O tempo é velocidade
E o querer argumento.
Como quiseres
o prazer,
Mas que seja pra teres
pra valer.
E,
Se cansares
Não venhas com lembranças subverter.
Se acaso não se acertar
Volte!
Vário é o lugar
Da saudade se solte
Pois tu amor, foi feito pra amar...
E a dor, chore!
Tudo passa, passará...
Não é preciso que implore
O que está escrito, estará
Amado perfeito... Folclore.
Viva e verá!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, abril, 25
Cerrado goiano
DENTRO DA TARDE
A tarde seca e fria, de maio, do cerrado
Cheia de melancolia, deita o fim do dia
Sobre cabelos de fogo tão encarnado
Do horizonte, numa impetuosa poesia
A tarde seca e fria, de maio, do cerrado
O mistério, o silêncio partido pelo vento
No seu recolhimento de um entardecer
Sonolento no enturvar que desce lento
Do céu imenso, aveludado a esbater
No entardecer, seco, frio e, sedento
Perfumado de cheiro e encantamento
Numa carícia afogueada e de desejo
Seca e fria, a tarde, tal um sacramento
Se põe numa cadência de um realejo
Numa unção de vida, farto de portento
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano
JUBILA CANÇÃO (soneto)
Bendito sejas o amor, ao coração meu
Que desnudou o breu da minha solidão
Em luz, das andas minhas na escuridão
Quando a sombra, me era o apogeu
Bendito amor, que me estendeu a mão
Como quem no amor oferta o amor teu
Sem distinção, pois, dele dor já sofreu
E então sabe aonde os vis passos dão
Bendito sejas, que no prazer plebeu
Trouxe amor à vida e, boa comunhão
Ao pobre pecante, dum âmago ateu
E então, neste renascer com gratidão
Que no peito uivou e angústias moeu
Do solitário pranto, fez jubila canção.
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro, 2017
Cerrado goiano
VOCÊ...
A falta de sua presença, machuca.
Meu coração numa cumbuca.
A saudade é sentida.
Na alma reprimida.
A solidão no íntimo.
Sinto falta do mimo,
hoje está mais apertada, dolorida ,
ferida...
Ouvi Bethânia, tomei vinho, fiz uma massa.
A emoção numa arruaça.
Queria você aqui.
Está saudade deflui,
na saudade de você!!!
Agridoce...
É estritor.
Com amor!
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro, 2017
Cerrado goiano
GOTA D'ÁGUA NA ROSA
Chuva rara, clara
na rosa pingo d'Água
lava a mágoa...
- É só uma bágua
ou frágua do cerrado?
É delírio na sequidão
que pingam
nas pétalas soam
nos ouvidos cantam...
E o chão molhado
Chove no cerrado ressecado
céu carregado... Chove!
No sertão em prosa
gota d'Água na rosa.
Luciano Spagnol
Dezembro, 2016
Cerrado goiano
Poeta simplista do cerrado
SONETO DUM PISCIANO
Sou peixes, das águas da emoção
dum olhar profundo, sou cardume
que bóia na nascente do coração
das irrigas condoídas, e de nume
Ter zelo e dedicação, sua missão
doar-se num dos lados do gume
alma encharcada de expressão
gota a gota, afeto com perfume
Banha o outro nas tuas chagas
içando doçura nas tuas austagas
peixes, místico servidor do amor
Neste mar, e com suas dragas
devora a tirania, e as pragas...
Do zodíaco, eterno sonhador!
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
DIA DOS AVÓS
Vovô e vovó, seu dia
Hoje o dia é de amor dobrado
É colo de infinita sabedoria
Nos nossos dengos parceria
Vovô e vovó, aqui destacado
Eles, pelo amor tudo renuncia
Ao inteiro dispor do neto amado
Queridos de um afeto açucarado
Em nossas vidas, acolhedora alegria
Como pode ter tanto amor guardado
Neste duplo coração, uno, de magia
Que levamos na lembrança amainado
Vovós, na proteção duplicada, folia
No seu reino o netinho faz reinado
Deste amor geminado com garantia
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
CONFISSÃO
Perdoa, pelos tantos erros perpetrado
Pela omissão que em mim acaso calei
A confissão que na falta não confessei
Num tal medo do ser réu no ser culpado
Perdão, se dos enganos eu pouco falei
Quando o silêncio tinha de ser quebrado
E a confidência na confiança ter selado
Mas, na insegurança a coragem hesitei
Na utopia do outro que era equivocado
Levei a ilusão de que ser manhoso é rei
E que num novo dia novo renascia o fado
Se, cedo ou tarde, confesso que errei
Às tantas palavras, se foram desagrado
Perdoa, a nímia mácula que eu causei
Luciano Spagnol
Julho, final, 2016
Cerrado goiano
AMIGOS (soneto)
Onde estarão os amigos na amizade
Aqueles que trilharam ao nosso lado
Na diversidade, no momento calado
Ou aquele aliviado pela boa vontade
Por onde andarão, tivemos um passado
Insólitos prazeres, manhas e civilidade
Os perdoados e os ainda na rivalidade
Apontados na memória com bom grado
Tem também os de nossa intimidade
Tão queridos e pelo coração amado
Sempre relembrados com felicidade
Todos no meu poetar com significado
Com muita e deveras grande saudade
Aqui vai o meu sincero, muito obrigado!
Luciano Spagnol
Agosto, 2016
Cerrado goiano
SONETO EM DESPEDIDA
Até logo! Aqui ficam férteis momentos
do meu viver. Na lágrima levo a aurora
na bagagem o mundo, vou-me embora
o abrigo que cá havia, agora lamentos
Na memória a saudade em penhora
se foi inglória, porque tive detrimentos
e é nas perdas que tem ensinamentos
e vitórias na vida, basta, é hora agora
Nesta mais uma passagem, portentos
vim com amor, e vou com amor afora
tento no coração bons sacramento
Sigo, para trás fica o tempo outrora
o céu claro são alvos adiantamentos
Goiás, despeço-me, a gratidão chora
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
ALVORADA NO CERRADO (outono)
O vento árido contorna o cerrado
Entre tortos galhos e a seca folha
Cascalhado, assim, o chão assolha
No horizonte o sol nasce alvorado
Corado o céu põe a treva na encolha
Os buritis se retorcem de lado a lado
Qual aceno no talo por eles ofertado
Em reverência a estação da desfolha
Canta o João de barro no seu telhado
É o amanhecer pelo sertão anunciado
Em um bordão de gratidão ao outono
A noite desmaia no dia despertado
Acorda a vida do leito consagrado
É a alvorada do cerrado no seu trono
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
DUETO (soneto)
A minha tristura é uma gargalhada
A saudade um suspiro. Ela chorava
Na solidão onde eu me encontrava
Me deixando além d'alma estacada
Os sonhos pouco ou nada resvalava
Pelo olhar. Não tinha a asa dourada
A saudade ria com a tristura chegada
Sob a cruel melancolia que matava
Do sorriso a saudade fez morada
Sequer de um pranto ela alegrava
Tinha tristura na sinfonia cantada
No dueto: saudade e tristura, aldrava
O coração no peito, da aflição criada.
Então, atrozes, alívio na poesia forjava...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
SEGUNDO DIA
O segundo dia
Da nova semana, depois
Do primeiro dia do ano
Tudo continua, como dantes, pois
O dia a dia no seu plano
Caminha igual
Ao último dia do ano passado
E neste ano renovado
Da graça de Deus
Que tenha chegado
A lua o sol a terra e os seus
Giram o segundo dia
Como o primeiro girou
E nesta trilha ininterrupta
O que ficou, se expirou
Agora nas lembranças
E nesta nova captura
De novos tempos
O passado passou
O presente em novos momentos
Choros e risos
Em pleno voo
Seguros ou indecisos
O acaso vai, eu vou
É nestes tantos imprecisos
Amanhece o segundo dia do ano
Que a cada segundo
Minutos, no relógio vai badalando
Até o último dia do ano
Num vicioso ciclo se formando...
O fado a vida devorando!
É o segundo dia do ano...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
02/01/2015, 05’05”
Cerrado goiano
VIVO VIVENDO (soneto)
Vivo por viver vivendo a vida somente
Agradecido, sempre, sou eu por ela
Que me dá mais que posso ter dela
Agraciado com dádiva tão presente
E nesta deste amor tão diversamente
Faz dos dias sorrisos, e a alma bela
Em cada passo o bem em sentinela
Onde no peito este ato não é ausente
E a vida vivida na vida, vida me traz
Mutuando o pranto pela felicidade
Quem dela prova, ventura é capaz
De, com alegria, ter a fraternidade
Viver vivamente tudo conseguirás
Levando no ser paz pra eternidade...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
Sexta feira da paixão
ENTÃO
Me traga dor
Saudade
Só não me deixe sem amor
Eterna felicidade
Pois, assim, é morte
Juntemos o sofrimento
Num sentimento forte
E neste aprendizado
Sorte
E façamos dele ansiado
Direcionando o norte
E o coração
Suporte
Encante, uma canção
Me dê amor!
Emoção
Oferte uma flor
Me deixe sem chão
Só não me tires o amor
Então...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Cerrado goiano
NA PELE DO CERRADO (soneto)
Pulsa mais do que se pode ouvir
Vário mais do que deve imaginar
Mas, não se pode nele se banhar
Sem nele o teu chão os pés sentir
Aqui, pois, o céu é do azul do mar
Teu horizonte na vastidão a reluzir
Num encarnado que nós faz ouvir
Tons no vento no buriti a ressonar
O contraste é somente pra iludir
Hibernando e, encantado o olhar
No árido inverno dos ipês a florir
Num espetáculo que vai embalar
Do marrom ao virente a se colorir
Pele do cerrado, agridoce poetar
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
DRAMA (soneto)
Quando é que o afeto meu terá encontrado
a sorte duma companhia pra se apresentar?
Quando é que na narração poderei conjugar
Assim, despertarei de então estar deslocado
Se sei ou não sei, só sei que eu sei atuar
E se eu estarei ou terei ou se está iletrado
É impossível de inspirar, o ato está calado
Pois, o silêncio discursa sem representar
O aplauso alheio pulsa, mas de que lado?
Na cena a ilusão é expulsa e, põe a chorar
Impossível imaginar atuar sem ser amado
E este drama sem teatro, e ator sem teu lar
De comédia trágica, no peito, então atuado
É amor e fado, no palco, querendo ser par!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
DEMÊNCIA SENIL (soneto)
Nos fios brancos do silêncio, a quietude
Nubladas recordações, escura solidão
Horas lentas no tempo, e vazia emoção
Que tateiam o que outrora foi plenitude
E nesta distância do devaneio e o são
O mesmo mutando numa outra atitude
Tremulando o olhar numa lacuna rude
Sorrindo sem riso e andando sem chão
E no papel sem margem, a negrutude
Que esgaça a ilusão sem dar demão
Onde tudo é vagar e pouca amplitude
Assim, neste empuxo sem ter tração
Se não reconheço, sabes do que pude
Então, assiste este sóbrio senil coração
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
À meu velho pai
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp