Tem me Feito Tao bem

Só o pintor e os que sabem ver têm acesso ao espaço mágico.

É próprio de um herético, quer dizer, daquele que tem uma opinião particular, aferrar-se às suas próprias ideias.

As injúrias são os argumentos daqueles que não têm razão.

Os fatos são como os sacos; quando vazios não se têm de pé.

O amor tem momentos realmente exaltantes: são as rupturas.

Na verdade, um pintor não tem outros inimigos sérios senão os seus quadros maus.

Quem não tem necessidades próprias dificilmente se lembra das alheias.

O mais odioso da guerra é a paixão que por ela se tem.

A ciência não tem pátria.

O coração não tem rugas.

O instante só tem um lugar estreito entre a esperança e o desgosto, e esse é o lugar da vida.

Nenhum homem é inútil enquanto ele tem um amigo.

O que o mundo chama de mérito e valor / são ídolos que têm apenas nome, mas nenhuma essência. / A fama que vos encanta, vós altivos mortais, / com um doce som, e que parece tão bela / é um eco, um sonho, melhor que um sonho, uma sombra, / que a cada sopro de vento se dispersa e desaparece.

Todo o marido tem a infidelidade que merece.

Todos os grandes líderes têm tido um pecado característico em comum: a disposição para confrontar inequivocamente a principal ansiedade dos povos do seu tempo. Isto, e não muito mais, é a essência da liderança.

Cada ciência, cada estudo, tem o seu próprio e ininteligível calão, que apenas parece ter sido inventado para evitar as aproximações.

A multidão nunca tem razão.

Não tem crença quem não vive de acordo com a sua crença.

Junto à água

Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.
Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.

Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz de infância, que o teu silêncio me chamasse!

E perdi-vos para sempre entre prédios altos,
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis,
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos

e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.

Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.

Quem nos diz que o inferno, tal como o céu, também não tem os seus santos?