Tag filósofo
Silenciadores
Os armários chaveados,
Meu orgulho arranhado,
As carteiras arrumadas,
Meu estômago revirado.
Testemunhas silenciadas,
Depondo silenciosas.
Em meu silenciador,
Após silêncio a dor.
Silenciador,
Silencie a dor.
Desmontamos os pedestais,
Anulamos a exposição,
Rochas nocauteadas por cristais,
Desparcerados pela discrição.
Ela foi vítima,
Eu fui vil,
Ela é discreta,
Eu sou sutil.
Sentimentos silenciados,
Depoimentos sussurrados,
Enlaçados capturamos a libertação.
Silenciadores,
Silenciem as dores.
Ancoradouro da própria psique,
Raivosa oferenda da abstração,
Quimeras autênticas,
Genuína fixação.
Entre Harpas e Farpas
Estalactites flexíveis,
Pontando insólitas,
Vigas maleáveis,
Figas eólicas.
No princípio ouvia-se
O dedilhar das harpas,
Ao término retiro
O resquício das farpas.
Entre Harpas e Farpas
Me contento em Zarpar,
Numa remota intempérie
Me atrevo aportar.
Ancoradouro da própria psique,
Raivosa oferenda da abstração,
Quimeras autênticas,
Genuína fixação.
Flexivelmente Ortodoxo,
Entre Harpas e Farpas,
Meu paradigma é um paradoxo.
Pregados na coluna dos classificados,
Prezados profissionais liberais amordaçados,
Entregues ao pseudo-ego.
ID (ota) é aquele que acredita
Que arbitra sua imprópria existência,
Sua própria inexistência insiste em não ser nada.
Simulando contentamento,
Confundindo o desgosto,
Desprezando o desânimo,
Animando o desprezo exposto.
Desanoitecendo
Sendo um bom colecionador,
Daquilo que me desfavorece,
Não promovo a preocupação,
Ela ocupa a posição que merece.
Simulando contentamento,
Confundindo o desgosto,
Desprezando o desânimo,
Animando o desprezo exposto.
Conduzo-me à confusão
De enxergar os pormenores
Sem visualizá-los.
Sabendo que a desatenção
É um lapso dos leitores,
Ocupo-me em despistá-los.
Se ocupe
E prossiga vivendo,
Despreocupe-se
Está desanoitecendo.
Úmida e insecável era aquela rua, um pouco depois daqueles limites o sol reinava, mas ali não, não ali. Aliás, o cheiro de mofo exalado pelas alvenarias e madeiramentos depreciados, marcava característica e peculiarmente aquele beco, com o esverdeado e vívido musgo que saltava por entre os seixos que assentavam a calçada; um catingueiro interminável forrava os jardins dos casebres que se pareciam mais com caixotes de verdura do que com habitações.
Lindo aquele lugar, quando não gostamos do que é bonito, mas me agradava. A garotada encharcada corria pelas poças, sapateando na lama, brincando de roléfas, atividade saudável para essa idade, consistia em segurar uma cinta com a fivela solta, perseguindo seu colega para enfim acertá-lo com o instrumento, berrando: roléfas. Não me pergunte o porquê, nunca soube.
