Suave como a Pimenta
Passou da hora de eu te deixar para trás por mais que a minha alma siga gritando que ainda posso reverter a situação. Não adianta acreditar. Sei que não posso. Mas esse amor, ele é como cerveja saideira de bar, sempre tem mais, nunca é a última. O meu amor por você anda diminuindo, mas, ainda assim, é o suficiente para me arruinar.
Naquele dia eu estava largado, um pouco alto da bebida, totalmente o oposto de como gostaria que ela me visse – não que eu ficasse pensando em como deveria estar quando nos esbarrássemos, mas ali, tudo o que pareceu ter perdido importância voltou a importar. O universo novamente se reduziu ao espaço que ela ocupa na terra e o bloco se resumiu a como eu chegaria nela para insistir de novo em tudo aquilo que jurei nunca mais tentar. Quando o destino nos apronta uma dessas, como é que a gente faz para enfiar novamente na cabeça que não é para ser?
Reparei nos seus olhos, boca, nariz e foi como se estivesse encarando alguém comum. O que seria ótimo se não infinitamente estranho. O vazio relâmpago de não sofrer me fez perceber o quanto encontrar a cura pode ser assustador. Como pude olhar dentro dos seus olhos e não sentir nada? Você vestiu a normalidade. Te vi e não senti bulhufas. Me senti esquisita. Tudo ficou vago. Desabitado. Livre. Oco. Ao ponto de eu enxergar a dor como preço razoável para não se precisar reerguer o mundo.
Não escolha pelo bonito, pelo acessível, pelo proveitoso, pela submissão, pelo conveniente. Escolha pelo qual faça seu coração estremecer.
Sabe aquela sensação de cumplicidade, irmandade, carinho, proteção? Pois é, eu sei o que é isso. E isso só acontece quando se tem amigos de verdade e, mesmo que sejam pouquíssimos, eu sei que os tenho.
Desculpe se me afastei um pouco, é que eu comecei a gostar de você mais do que devia. Mas agora está tudo bem, já sufoquei esse sentimento e podemos retomar a amizade, apenas amizade.
Ela está naquela fase de fingir que não dói. Acorda fingindo que não sente falta e vai dormir tentando convencer a si mesma que logo isso passa. Aliás, já está passando, porque faz uma semana que parou de buscar incansavelmente notícias sobre a vida dele e não chora há quatro dias. Um verdadeiro recorde.
