Sou porque tu Es Pablo Neruda
Eternamente jovem, disse o espelho mudo,
Enquanto a alma contava invernos e adeus.
Sou a flor que não murcha, mas que vê tudo
O que amou ser poeira sob céus.
O tempo me esqueceu, cruel e distraído;
Guardo um coração febril, sem ter ruga;
Mas cada beijo antigo, já partido,
É uma lágrima seca que me inunda.
Dramático fardo amar a ti, mortal,
Com este peito insone que não finda;
Sou o verso que fica após o final,
A dor que persiste, bela e infinda.
Sou feita de restos que insistiram em ficar,
pedaços que o tempo não quis levar.
Metade de mim é calma aprendida,
a outra metade ainda é incêndio que não se apaga.
"Sou viciado em vencer: começo o dia vencendo o açúcar no café, e termino vencendo a quilometragem."
Quando me detenho sob o vasto e silencioso palco do universo, a paisagem se dissolve e sou forçado a reconhecer uma caligrafia divina em cada detalhe fugaz, desde a intrincada geometria de um floco de neve até o ritmo imutável das marés oceânicas, o firmamento, em seu silêncio estelar, não é mudo, mas um arauto de uma inteligência que transcende a minha compreensão, e essa sinfonia cósmica, tecida em leis físicas inquebráveis, ressoa como um testemunho inegável da Tua soberania absoluta. Não é apenas grandeza, mas uma perfeição tão avassaladora que anula qualquer dúvida sobre a fonte de toda a existência.
Não sou triste; sou um deserto onde a felicidade se perdeu como miragem. Caminho por suas areias quentes, carregando sede de algo que jamais tocarei. Cada passo levanta nuvens de lembranças secas, e o vento que passa parece sussurrar risos que não me pertencem. Aqui não há flores, apenas o eco vazio de promessas que evaporaram antes de nascer.
Ninguém me entende, sou rascunho com letras ilegíveis, pareço instrumento desafinado, um piano com cordas quebradas, emudecido num canto.
Vou subir num balanço de corda amarrada num galho d'arvore e ali vou sonhar que sou um pássaro
Sem vôos demasiado altos nem tampouco rasantes
Serei como um beija flor
Pairando no ar para beber o néctar da flor
Após o impulso, subir com a perna bem esticada
Sentindo que o ar me chega leve
E, lá do alto, pedir aos céus que não me falte forças ao dobrar os joelhos para voltar e num novo impulso, alçar outro vôo. Leve, confortável, alegre!
Perdi espectros do que fui; ganhei a clareza do que sou. Carrego menos bagagem, mais propósito. O amanhã já tem nome.
A fé que me move é tangível, trabalho, rima e rotina, não espero milagres sem esforço, sou artesão da própria sorte.
