Sou Igual a minha Irma
'Quando eu era jovem
Eu disse à minha mãe
Eu digo que um dia eu vou fazer você se sentir orgulhoso
Agora que estou mais velho
Soa muito mais difícil
Para dizer essas palavras em voz alta
Promete que vai sussurrar eu te amo no meu
ouvido? Ou que vai me dar um monte de beijos na minha nuca? Promete que
vai ficar mexendo devagarzinho no meu cabelo quando eu estiver deitada
no teu colo? Que vai me olhar e me dá um beijo bem grande? Promete que
cuida de mim quando eu tiver dodói? Promete que vai ficar fazendo
carinho na minha mão? Promete que me leva pra da uma volta? Promete
sempre me dá mais razões pra eu amar mais você? Promete pra mim que mata
o bichinho que eu tenho medo? Promete que me dá teu moletom quando eu
tiver com frio? Que vai respirar devagarzinho perto do meu ouvido?
Promete pra mim que vai abrir a porta, me vê dormindo, deitar me abraçar
e dormir ali comigo? Que quando me vê vai sorrir, me beijar e me
abraçar bem apertado? Que vai deitar no colchão comigo e ver filme?
Promete que canta alguma coisa pra mim?
Promete pra mim... Que vai me amar e me fazer feliz? ?
Eu sem você
Eu sem você nem penso, porque minha alma se esvairia,
meus desejos se evaporam e meu espírito chora sozinho.
Eu sem você sou um vácuo no meu espaço,
passos curtos e cansados, sou olhos tristes a vagar.
Eu sem você sou rima sem poesia,
chegada sem partida, sou apenas inércia
sem vontade de chegar.
Eu sem você sou um oceano árido,
sol frio em luas quentes, sou estrela querendo brilhar.
Eu sem você sou tempo sem espaço, um total descompasso,
sou uma metade vagando querendo te encontrar.
Eu sem você, sou tristeza sem fim.
Arrepio é forma que meu corpo escreve em braile "continue", quando beijas a minha nuca ou quando passas levemente os dedos na minha pele, após me fazer amor.
O receio de que a minha noção de felicidade estivesse totalmente em desacordo com a noção de felicidade do resto das pessoas fazia com que, noite após noite, eu me revirasse de um lado para o outro na cama, gemendo, quase a ponto de enlouquecer.
Da minha consciência ancestral:
Ontem, sentada frente ao espelho
Ia cuidar dos meus cabelos
Com o creme de alisamento
Abri o pote e o forte cheiro
Adentrou‐me as narinas tão violento
Fazendo‐me fechar os olhos
Por um momento
Abri‐os novamente e ela estava lá
Sentada ao pé da cama a me mirar
Pés e mãos acorrentados
A lágrima no rosto a brilhar
De onde vem, sussurrei
Do outro lado do mar
O fedor aqui é tão forte
Já não posso respirar
Ontem, sentada frente ao espelho
Ia cuidar dos meus cabelos
Esperava a chapinha esquentar
Estiquei a primeira mecha
Mas, descuidada queimei a testa
Senti a pele a latejar
Fechei os olhos, contendo a dor e o ódio
E quando os abri, ela já estava lá
Na bochecha uma cicatriz
Quem lhe fez isso? Saber eu quis
Ela levantou‐se e tocou minha queimadura
Depois falou‐me com ternura:
Agora a qualquer lugar onde eu for
Saberão sempre quem é meu senhor
Ontem sentada frente ao espelho
Resolvi amar os meus cabelos
Sussurrei seu nome com zelo
Esperei ela se sentar
Ela se achegou sem receio
Recostou minha cabeça em seu seio
Começou a pentear
A cada mecha, a cada trança
Uma memória, uma lembrança
Que o medo não pode apagar
A vida é boa. Não estou infeliz. Estou bem satisfeito em seguir minha vida acreditando em nada. Sem medo de que possa haver algo mais por aí.
Irmão, amigo, namorado... Tudo isso é parte da minha coleção de máscaras. Algumas pessoas me chamariam de fraude.
Minha vida toma rumos opostos numa velocidade tão intensa que já cheguei a triste conclusão que Deus não sabe o que fazer comigo, só pode!
Vai com calma, coração... Preciso dar um tempo pra minha cabeça e uma folga para as minhas emoções...
Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserável. E tirar de mim a única coisa que sei fazer direito nessa vida que é sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode.
