Sorriso sem Graca
E por mais que sejamos repetitivos há sempre um olhar novo e mais penetrante, um toque menos tátil e mais pulsátil, um objetivo mais sugestivo e menos óbvio.
Sai, corre logo. Afasta-te das ventanias cruéis que ameaçam revirar-te a vida e os sonhos pelo avesso. Aqueles pedaços de histórias rotas e cerzidas, atiradas no cesto de roupas de sorrir — e que já usaste tantas vezes em festas enxovalhadas. Foge das tempestades. Das estradas sem rumo. Das folhas ressequidas, espalhadas em terrenos áridos e desconexos.
Nota: Trecho de uma crônica de Graça Taguti.
Somos uma pátria independente, logo somos um povo independente. Um povo que "independente" do que esteja acontecendo continua na dependência da opinião alheia, na dependência de Jesus, na dependência das próprias carências, na dependência das migalhas ofertadas pelo seu governo que finge considerá-lo cidadão e devolve em forma de humilhação os impostos recebidos. Somos um povo que "independente" do que esteja acontecendo continua dependente de novelas, do consumo, da beleza aparente, do corpo perfeito, da omissão, do colo alheio, do elogio, de ser amado, da busca pelo amor verdadeiro e eterno, da padronização de ideias e opiniões, das tragédia do mundo para se sentir solidário, das desgraças alheias para exibir o seu sentimento de humanidade e etc. Somos um povo feliz porque conquistou a independência para ser totalmente dependentes de tudo que "ditam" dizendo ser o melhor para nós. Conquistamos a independencia para que a mídia pudesse conduzir nossos passos, para que o poder pudesse separar nossos corações, para que o marketing tivesse permissão para consumir nossos neurônios, para que os nossos valores pessoais sejam o nosso escudo protetor quando os valores dos outros não pactuarem com os nossos e quiserem nos dizer algo que não queremos ouvir. Somos independentes. Somos livres e preparados para administrar, através do ego, a nossa prisão social independente de termos em nossas próprias mãos e mentes as ferramentas essenciais para nos tornarmos dependentes de nós.
No quesito declaração de amor a boca do ser humano tem sido mais rápida no expressar do que o coração no sentir.
Um sentimento nem sempre é para sempre, muitas vezes o que se torna duradouro é o hábito de sentí-lo e de doá-lo.
O excesso é excesso em qualquer circunstância, inclusive na educação e na gentileza, pois estas quando exageradas, dependendo da expectativa do outro, podem acabar se tornando uma chatice.
O ser humano com o emocional frágil tende a dramatiza tudo, e dramatiza de tal jeito que faz com que a sua postura no drama mais pareça sensibilidade humana do que carência pessoal.
Lugar de Junho
É melhor não dormirmos
sob o árido labirinto da tristeza.
À nossa frente existe um pórtico
purificado por uma névoa de sons.
Vamos transgredir o limiar do absurdo,
porque encontramos um abrigo musical,
onde ninguém pode separar as nossas bocas
o percurso das águas outonais.
É verde o germe do sol nos nossos olhos
e, sem querer, a sombra de um pretexto
emerge do assombro de nós próprios
como um regresso plural da inocência.
Estamos num lugar de Junho
e qualquer sinal de ausência
pode ser apenas um veleiro
que partiu dos nossos dedos.
Graça Pires
Graça Pires
(Figueira da Foz, 22 de Novembro de 1946)
É uma poeta portuguesa.
É licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Editou o seu primeiro livro em 1988, depois de ter recebido o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com o livro Poemas.
Os anos 80 foram um erro estético. Pensar em alguma coisa de retorno a esta época só pode ser mera carência e memória afetiva da juventude.
Só queria ter você nesse instante,ah amor onde estas que não te encontro,mas estas presente em meus pensamentos...
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