Sonetos Pablo Neruda
Natalie
Todo o meu cantar idólatra
Reluz o trono da suprema formosura
No reino divinamente ególatra
Onde mora a mais sublime criatura
Seus lábios expressam o rito da perfeição
Que ecoa no paraíso estelar da alvorada
Onde reside o santuário da ilusão
No amanhecer da rosa adamascada
Ostentando uma aura brilhante e resplandecente
Ela expressa à ternura angelical e sua inefável efígie
Seus passos expelem rútilas gotas do sol nascente
Apaixonadamente apaixonado eu pronuncio: Natalie
Seu coração é o astro que norteia o meu ser
Perdido na escuridão, contemplo suas mechas douradas
Que me trazem de volta e revigoram a minha alma
Pequenos fragmentos divinos caem ao anoitecer
Na imponência do céu estrelado, vejo uma dama de asas prateadas
Semelhantemente a lua, que brilhando eternamente me acalma
Ela tem um ferro de passar
Enferrujado, que nunca usou,
Volta e meia visita suas lembranças
Mesmo aquelas, que nunca sonhou.
Usa lagrimas que não tem
E sorrisos que não conhece,
Que poderia fazer brotar vida
Ao invés de se perder no vazio do corpo.
Mundo estranho esse, não?
Aonde pessoas querem certezas
E usam desejos com certo rancor.
Memorias quentes, de um mundo frio,
Com palavras soltas que não amarram um sentimento
Mesmo aquele quase impossível, que acontece com certos olhares,
Que costumamos gentilmente chamar de amor.
Mulher
Que direitos são estes que ferem
Não só o corpo, mas a alma,
Que luta é essa que maltrata
Dilacera a coragem, faz crescer o medo?
Que culpa tão grande é essa
Que faz desejar não viver,
É a beleza, o aroma ou o sorriso encantador?
Seus cabelos ao vento, não podem servir como chicotes!
Um silencio, que fere!
Dilacera e maltrata.
Mas os olhares tão tristes
Com esses dias tão incompreensíveis
Não fingem.
Existe vida além-mar?
Existe esperança além da dor?
Existe força aonde só há terror?
Tantas perguntas em um corpo tão frágil
Capaz de fazer surgir à vida,
Mas ainda incapaz
De viver com a dor.
Não é pela violência sofrida
Não é pelo desespero nela contida,
Não é pelas marcas que não cicatrizam!
É pela alma ferida
Pela pureza perdida
Pelo corpo que deveria receber
Somente o calor
E sentir apenas o amor.
É o direito de viver
De ser feliz,
Que alguns ainda não conseguem
Se permitir.
Passa
Passa o dia
A noite, a dor,
As lagrimas.
E alguns sorrisos
Passa a vontade?
Passa o frio,
O calor e o suor.
Passa a passos largos
As rugas, as roupas,
O assobiar de alguns passarinhos
Os desejos e alguns cheiros.
Só não passa as cicatrizes
Estas ficam guardadas,
Em algum canto da memoria
Lembranças de uma vida inteira.
Guarda em uma pequena caixa
Todas as tuas memorias,
Teus desejos tão ardentes.
Para que não tenham espaço suficiente
Para se acomodar, se adaptar,
Assim sem você esperar
Vai transbordar em sentimento.
Para fora do seu corpo
Fazendo você se sentir vivo,
Explodindo em sorrisos coloridos!
E não apenas um objeto
Decorativo, sem nenhum motivo,
Num mundo meio cinza
Meio dolorido.
De o primeiro passo
Gaste a primeira sola,
Crie as primeiras marcas.
A vida tem dessas surpresas
Estas aventuras do acaso,
Marcas acontecem para quem vive
Não para quem apenas sobrevive.
Ouse com alguns olhares
Derrube muros com alguns sorrisos,
Deixa extrapolar alguns gritos!
A alegria não foi feita para ser guardada
Em pequenos potes ou em pequenos vidros.
Suspiros não nascem do nada
Requerem ousadia, tem que se permitir sentir,
Arriscar para poder perder
E para poder, em algum momento viver.
Noite dos cachorros perdidos
Enquanto o latido
Toma conta das ruas,
Restos são jogados
Como banquete.
Na tentativa
De amordaçar,
Bocas famintas.
Como uma sinfonia absurda
A raiva espumando pela boca,
Já contamina as diferentes formas de vida.
Dessem-lhe pauladas!
Duchas generosas de agua!
Por um breve momento recuam
Mas fome é tanta,
Que seu amo assustado recua.
Corre e com medo se esconde,
Atrás de falsas propagandas
De alegrias gratuitas.
“Ha lugares que são vazios
E outros tantos nem existem,
Mas como preencher, teu lugar
Em um horizonte sem limites?”.
‘’A única rotina que desejo é a de sentir o gosto de teus beijos,
O único gesto de selvageria que ouso é lançar-te um olhar de cobiça,
E minha brutalidade será de tomar-lhe em meus braços.
Assim ouso ser um animal, irracional a procura de teu cheiro
Desejando teu corpo, junto ao meu.’’
"Quem dera negar uma só palavra do que sinto aos teus ouvidos,
Seria infinito o arrependimento de minha boca ao não pronuncia-las.
Fado que não agüentaria carregar, o peso do silêncio seria castigo demais".
"Amanhã serei maior que hoje
Serei mais sábio, serei mais completo,
Terei mais carga para carregar em minhas costas,
Serei com certeza mais forte."
Dê-me tuas mãos
Dê-me tuas mãos
É só o que lhe peço,
Tão lindas e suaves
Como a primavera que se aproxima.
Empresta teu toque
É só o que lhe imploro,
Deixa eu sentir uma vez mais
Tua pele rasgar a minha como seda.
E teu cheiro tomara conta de meu quarto,
E eu rogo para que nunca saia de mim,
Pois a doçura de teus gestos já não cabe
Em meu olhar, é preciso de tempo,
De todo o possível, para poder lhe amar.
Verdadeiro Amor
Sinto muito, não era eu,
era minha alma, varrida, perdida e sofrida.
Pedindo por ajuda, clamando por algo seu,
gritando, por uma vida, uma saída.
Por uma nova forma de amar, aprendendo a esperar,
aonde dela surjam apenas sinceridade, apenas verdades.
E que o sonho da eternidade não me faça abrir os olhos
Ver um mundo sem amor, sem o verdadeiro amor, sem teu amor,
que desejo em fim encontrar em teus braços, abraços e laços,
para enfim não mais chorar, apenas amar.
Menino da vida
O menino sorriu,
O menino dormiu,
O menino sonhou,
O menino chorou,
Sentiu frio,
Sentiu fome,
Sentiu falta de amor,
Sentiu falta do calor,
Sentiu-se abandonado,
Desolado e jogado,
Vivendo como um rato,
Menino de rua,
Menino drogado,
Sem lar, sem paz, sem pais,
Mais um famigerado,
Menino da vida,
Menino de Deus,
Apenas abandonado,
A própria sorte deixado.
Amor
“Amo o amor,
Com toda a alegria e dor,
Com todo seu marasmo e fervor,
Que somente este sentimento,
É capaz de me proporcionar.
Amo sentir o amor,
Com sua vibração,
Com suas desilusões,
Mesmo vivendo uma paixão,
Que finda em um verão,
Que loucura seria viver,
Em um mundo sem este doce sabor.”
O amor supera tudo
Como dois amantes,
Caminhamos pelas ruas, entre muros pichados da cidade,
Contemplando toda desigualdade,
Com o céu de testemunha das lagrimas e de nosso amor.
Pelos becos escuros, famigerados,
Sem tetos e famintos, observam
A soberba, fartura de nosso amor.
O mau cheiro das sarjetas,
Este, já não nos atrapalha mais,
E assim, passeamos por praças quebradas,
Mal iluminadas e abandonadas.
Contemplamos a beleza de ser diferente,
Em um universo igual.
E pelas calçadas esburacadas, chegamos ao nosso destino final,
Para nos amarmos ao som de balas cruzadas,
Em meu apartamento de vinte metros quadros,
Distribuídos entre sala e quarto,
Na periferia da cidade.
Sonho Perfeito
Ontem sonhei com você!
Esfregava meu chão, limpava meu fogão,
E ainda dava um trato na pia!
Você sempre foi tudo o que procurei,
Prática e eficaz o sonho de qualquer rapaz!
Minha mãe já aprovou e até se espantou,
No começo até não acreditou.
Mas quando encontrei você,
No supermercado,
Na Prateleira, logo abaixo do sabão,
Do lado dos sacos plásticos,
Foi paixão a primeira vista,
Meu pano mágico.
Tic-Tac
Tic-tac, Tic-tac, Tic-tac,
Aonde a pressa ouve-se o versar do relógio
Avisando que o mundo não para.
Corre, corre, corre,
Tudo é sempre igual,
Dorme, acorda e come, dorme, acorda, come,
Sai atrasado, chega atrasado, patrão brabo.
Passeia nas horas, viaja nos segundo e descansa nos minutos.
Relógio de cabeceira, relógio de pulso e relógio de mesa,
Perder a hora é dureza.
Mas se der tempo eu como a sobremesa!
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