Soneto da Saudade
LAMENTOS NO CERRADO (soneto)
Só, me encontro no cerrado cinzento
e acumulo agruras bem guardadas
das utopias na aridez desmaiadas
dos sonhos perdidos além do tempo
Tal qual pequizeiro de flores delicadas
que brotam no sequioso pasto sedento
meu temor e saudade faz de rebento
como as floradas nas secas galhadas
Quanto vil doloroso gemido em mim
assim como folhas secas num jardim
no seu fado, voam ao vento turbulento
Eu aqui, descrente no cerrado, vivo assim,
poetando lamentos tão irreverentes, enfim,
o fato é que a vida é feita de revoadas...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
12/06/2016, 06'06"
Cerrado goiano
SONETO SINGULAR
Não te amo desalinhado como se é o cerrado
tal folhas emurchecidas libertas na sequidão
te amo como o árido clama água, na exaustão
sequiosamente, entre o limite e o estar saciado
O meu amor por ti, está além de ser paixão
dentro de si, é a força do entardecer rubrado
do sertão, se pondo no horizonte enamorado
dando aroma a memória, e fogo na imaginação
Te amo como o vento pelo torto galhado
livre assovia nas forquilhas uma canção
te amo por te amar, pois é de meu agrado
Se não fosse assim, não teria outra forma não
pois, pra te faço este sulcado soneto versado
tão para ti, se tocá-lo, sentirás a vazão da emoção
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
SONETO AO PIOR DO HOMEM
Seres abomináveis e sem alma
No cintilar do sangue como espelho
Em mortífera ira que não se acalma
Diante das lágrimas, do sol vermelho,
De aflição e vergonha por esse trauma
Que se pudesse rogaria de joelho
Pelo bem de Gaia, que em dor se faz calma
E num apelo sem voz, o aconselho
A lutar pra que a raiva não o tome
Em espírito de arrasar a Terra
Frente a tanta ganância que o consome
Afinal você é homem que sempre erra
À sombra do mal sem rosto e sem nome
E que se fez só pra viver de guerra
SONETO NA PRIMEIRA PESSOA
O nosso eu, está em constante luta
Que eu em mim, agora vai portento?
Se sou quem sou, não sou momento
Pra ser quem sou, no eu tive conduta
Em nada fiz pro eu estar desatento
De fora ou de dentro, da vida recruta
Se não vago, eu, sempre na labuta
Pois, o tempo é eterno ensinamento
Quem é este em mim que o ser imputa
Pois, o diverso é mais que juntamento
É sentimento, num tal zelo sem disputa
Não hei sabê-lo se houver "divisamento"
Afinal, se há partilha há também permuta
E meu eu: é fé e amor num só complemento
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
10 de agosto, 2016
Cerrado goiano
SONETO TÚBIDO
O que fazer desta melancolia primitiva
que adentrou minh'alma vorazmente
haurindo o prazer num ato contundente
como se fosse uma serpente viva?
Como sustar deste "ser" frente a frente
que me alicia e do meu eu não esquiva
me oprimindo numa redoma passiva
invadindo meu sentimento de repente?
Busco por outras alternativas à deriva
me afastando pra além da má mente
e nada, só amargo me vem na saliva...
E como se fosse parte de mim, ciente
ousa induzir que esta minha negativa
é túrbida, e que na fé sou pendente!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
agosto, 2016
Cerrado goiano
SONETO À ARAGUARI
Os pés da infância de te é distância
O olhar ainda em ti é de lembrança
Que veem e choram na sua fiança
Dentro do peito com significância
És cidade mãe, de minas a aliança
Em ti sou vinda, a mim és rutilância
De alusão, quimeras e substância
Desenhando e roteirizado herança
Vida que morre, é tal, a vida que vive
Caminhando comigo, assim, mantive
A minha história, que eu nunca perdi
Menor dos meus desejos, de te tive
Boas memórias, em ti sempre estive
És flor na lapela: altaneira Araguari!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2016
Cerrado goiano
128 anos de Araguari (MG)
ESTIAGEM NUM SONETO
Eu grito por chuva, intensa e forte
pra encharcar o cerrado ressequido
tão sofrido, que clama num alarido
por gota d'Água, num altivo porte
Eu vozeio pelo vento desmedido
soprando humidade num suporte
pra este chão carente e sem sorte
chovendo vida, e o vivo permitido
Também a natureza uiva de morte
aos céus, que acabe o sofrer infindo
tombando a chuva sem ter recorte
O sol regente do sertão, intervindo
se faz ufano, intenso, num aporte...
E a chuva, ah! Essa, não vai caindo!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO COM VAIDADE
Me imagino num versejar perfeito
o que traz em seus versos vaidade
que tudo encanta, natural do peito
numa pura inspiração de divindade
Onde possa ser poeta de verdade
em que o ledor se sinta satisfeito
gafado na rima, todo, não metade
e assim, um bardo maior ser eleito
E no quanto mais, sede de proveito
vou devaneando, tento a equidade
pra ter no espanto sonhado aspeito
Aquele do saber, onde traz saudade...
E quanto mais desejo, mais estreito
mais vejo, que pouco sou majestade!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO DE JOELHOS
Bendita, Maria, mãe do Cristo Jesus
Bendito o Teu ceio que o fez nascer
Mãe de todos, da fé que nos conduz
Rainha dos céus e da terra, és haver
Bendito aquele que crê na Vossa luz
No Teu amor... trilha com o seu viver
Confia e reza à Teu Filho no enaltecer
Bendita Senhora, doce mãe, alvorecer
Bendito sejam todos que a Te clamarem
E diante de Teu Filho crentes ajoelharem
No ato de convicção, uma grande paixão
Se, um dia, for fraco e na fé pouco refém
Oh Redentora, de Tuas mãos que caem
Graças, abrase meu coração... (com Deus!)
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
TORMENTO NO SONETO
O fado, comigo, não teve deleite
Tem um gosto agridoce meu dia
Devoluto, e sem lisonja fugidia
Na ventura me sinto um enjeite
Lembranças, só são de nostalgia
Um poetar desnudo, sem enfeite
Inspiração desmaiada como leite
E a lágrima de tão pouca alegria
As doces palavras sem onde deite
O ânimo com nuance sem ousadia
O coração desprezado, quem aceite
E mesmo, num tal tormento, quereria
Um olhar de afogo, sorriso que afeite
Onde minha sorte, pudesse ter alforria
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO NO CREPÚSCULO
Morre o dia. Aqui no cerrado goiano
Dizemos-nos adeus silenciosamente
À meia luz do entardecer confidente
O sol no horizonte desfalece profano
Em um purpureado lôbrego poente
O céu é degustado pelo breu ufano
Num longo abraço de um cotidiano
Do sol e a terra num valsar ardente
Da vidraça, o crepúsculo soberano
Invade o quarto numa luz pendente
Vindo do luar voluptuoso e fontano
E, como uma orquestração silente
A noite se prostra num olhar arcano
Embalando o dia misteriosamente...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2016, novembro
Cerrado goiano
QUASE POESIA (soneto)
Poesias, que já inspiraram, amarrotadas
por mãos, também, que as aprimoram
as suaves e tristes, também as amadas
as dos beijos suspirosos, que já se foram
Umas indesejadas, outras atormentadas
dos sonhos fanadas, no coração moram
tem as dos emaranhados destrançadas
e as que as centelhas da criação imploram
Umas que morrem na alma silenciosas
outras cheias de viços e bem amorosas
as desventuradas, primeiras, derradeiras
Aí! Quem melhor que vós, oh primorosas
para coroar-me, poeta, e ter-te gloriosas
evocando, quase poesia, por belas prosas?
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2016, 17 de novembro
Cerrado goiano
SONETO ABSTRATO
Na prosa do poeta, não só tem poesia
às vezes de tão vazia, o abstrato pinda
arremata cada imaginação, e aí, ainda
nada lhe completa, nada tem harmonia
Tu'alma inquieta, o verso na berlinda
a solidão, a lágrima, a dor em romaria
se perfilam no papel em uma rima fria
e assim, a privação na escrita brinda
Neste limitado querer, sem simpatia
o silêncio, o belo, no feio prescinda
e a inspiração, então, fica sem orgia
Aí, o soneto sem quimera, não finda
e os devaneios perdidos na ousadia
sem fantasia, a ausência é provinda
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro, 09 de 2016
Cerrado goiano
SONETO NAS ONDAS DO MAR
De todos os cantos, o encanto é pro mar
É atração mais forte, encontro profundo
Do vento, praia, do sol, de modo singular
Onde minh'alma se une ao querer rotundo
O cheiro da maresia me leva num segundo
Me tira lá do fundo da saudade a apertar
Poeto com afeto, donde o verso é oriundo
Me rapta nas ondas e, que me faz sonhar
A arrebentação é meditação a contemplar
Onde a lua nua torna estórias pra contar
E nas tuas areias eu me enfarinho jucundo
Neste amor, um amor robusto, de amar
Onde no teu horizonte muito fui segredar
És querido de todos as quinas do mundo (o mar) ...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
DOMINGO CHUVOSO NO CERRADO (soneto)
Cerrado, as nuvens se encolheram
O céu abriu-se em gotas molhadas
A voz do vento dando gargalhadas
E as trovoadas o silêncio corroeram
Devagar veio o cheiro em pancadas
As folhas secas lânguidas desceram
Ao chão, encharcado e, obedeceram
Silenciosamente as suas chamadas
Uma a uma, gota a gota, vieram
Mansamente forrar as esplanadas
Cumprindo o fado que advieram
Aí, a relva e as árvores prostradas
Usufruindo, agradecimento fizeram
As chuvas no cerrado, tão clamadas
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Domingo, 27/11/2016
Cerrado goiano
RETROSPECTIVA (soneto)
A vida na vinda e ida tem multidões
Não percebi todo o vento a suspirar
Tão pouco todas as cantigas de ninar
Foram cantadas nas minhas emoções
Tive chances no partir e no chegar
Os medos os pus nas contradições
No tempo rompi todas as estações
E nem todas as flores eu pude amar
O trem teve distinto as suas estações
O doce da quimera o seu mel a melar
E o tanto de carinho as suas aluviões
Na curva da esquina, solidão pude visar
Nos prazeres os feitos e as proibições
Porém, primaveras, também, vi florar...
(Nesta retrospectiva particular) ...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
29/11/2016, 10'00"
Cerrado goiano
PRESENTE DE NATAL (soneto)
Noite de Natal, de alegria reluzente
Abraços confraternizando, luzeiro
Presépio, preces, bolas no pinheiro
Pro céu, a mesura ao ente ausente
Meia noite... - chamem o fogueteiro!
Pra aleluias à Deu menino, onipotente
Manou o Salvador, do amor vertente
Que trouxe amizade ao mundo inteiro
Que a palavra na vida seja presente
Como firmamento do valor obreiro
Na fé de ofertar o zelo diariamente
E que assim, possa ser mais certeiro
Na paz e bem, e nos corações assente
O maior presente: - o amor verdadeiro!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro de 2016
Cerrado goiano
SONETO NA CONTRAMÃO
O badalo bate, o sino da igreja soa
Qual navalha o som corta a solidão
Chiando no silêncio pesar e aflição
E no relógio a hora a ligeireza ecoa
Num labirinto de saudade e emoção
A lembrança de asas no tempo voa
Desgovernando o sentimento a toa
Num vácuo de suspiros no coração
Então, o seu ganido invade a proa
Da alma, que se sente sem razão
E cansada de tantos ruídos, arpoa
Nesta quimera de dor e de paixão
Os olhos são cerrados pela garoa
Pingada das lágrimas na contramão
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro, 2016
Cerrado goiano
FIM DE ANO EM SONETO
Sim, vão-se os anos de fim de ano
Assíduos, só a aparência mudou
O tempo passa e tudo passou
O destino é mesmo soberano
Há anos pós anos, o sonho mitou
A minha rota tem outro cotidiano
Num entra e sai do desígnio tirano
Do nada como antes, vil sobrevoo
Saudade é a mesma, mesmo dano
Esperança, sim, desta nunca enjoo
E com a quimera nunca fui profano
Assim vou, mais um ano, num atroo
De comemoração, então seja ufano
O revoo, pois o fim, ainda não chegou...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
dezembro de 2016
Cerrado goiano
SONETO NA CHUVA
Quantas vezes, pés descalços, enxurrada
A minha infância, na inocência eu brinquei
Águas em versos, chuva molhada, sopeei:
Quantas vezes eu naveguei na sua toada?
Na narração me perdi, no tempo maloquei
As lembranças ali no passado deixada
De memórias fartas, meninice, criançada
Aqui no peito guardada, e nelas estarei...
Céu cinza do cerrado, nuvem carregada
Deixa chover, pois só assim eu alegrarei
Da varia recordação da pluvial derivada
Pingo a pingo, trovoada, no outrora voltei
Água na cara, cachoando na alma calada
De saudades, neste soneto na chuva, falei!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro, 2016
Cerrado goiano
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