Soneto da Mulher Perfeita
" OUTONO "
Outono… Céu azul, tardes amenas,
bucólicas saudades vindo ao peito
e o dia envelhecendo do seu jeito
querendo descansar ao sol, apenas!
Já deita-se, esse ciclo, no seu leito
cansado dos embates nas arenas,
das lutas, dos combates a centenas;
também, do que na história, se fez feito.
Os meses vão crepusculando o enredo
guardando, só pra si, como segredo,
quaisquer paixão, por eles, concedida…
Bem-vindo, Outono, aos braços desta terra,
ao tempo de labuta que se encerra,
tal qual o outono desta minha vida!
" EXPUNHA "
Não sei se falo ou calo, mas tô rindo
e o fato é que mais cedo saberão
o pensamento aqui, de prontidão,
que me passou na mente, me traindo!...
Se fez por clara a minha reação
que, assim, foi plenamente me despindo
perante o fato, a pouco tempo, findo
e gerador do riso sem noção.
Que me perdoem, mas pensei apenas
e quis guardar, pra mim somente, as cenas
dos fatos que me fiz por testemunha…
Se calo ou falo, não sei bem ao certo…
Quem dera não houvesse alguém por perto
enquanto, o riso meu, sem dó, me expunha!
" DELÍRIO "
Tomei a flor do amor entre meus dedos
e lhe senti o perfume me doado!
Rendido, o coração me foi tomado
seguindo, da paixão, vozes e enredos!...
Que faz, um pobre ser, se apaixonado?
Se perde pela noite em seus segredos
e assim fui eu, por entre o val dos medos,
depois do amor, enfim, me ter tocado.
Bailei com as estrelas e o luar
sentindo todo o corpo flutuar
qual se não mais houvesse a gravidade…
Cheirei a flor do amor, pra meu delírio,
e a cruz tomei por sina e por martírio
sem mais pureza casta e ingenuidade!
" NÃO "
Me chama, o teu olhar, teu pensamento,
até teus lábios querem, com vontade,
sem medo, sem pudor, sem castidade,
que eu te possua o corpo e o sentimento!
Pra mim não é segredo ou novidade!
Já não me ocultas que te sou tormento,
paixão inconsequente, teu lamento
por tal desejo, dada a intensidade.
Mas esse teu querer é passageiro
após me consumires, por inteiro…
Eu já vivi tal drama noutra história…
Perdoa-me, mas não! Sofri demais
e não me entrego agora a novos ais
pois trago, ainda, as dores na memória!
" NOVA "
Que quer, enfim, a nova mocidade
perdida como está nessa jornada?
Por vezes me parece querer nada
pra só viver, aqui, sua liberdade!
Talvez só busque e quer estar focada
em se fazer presente de verdade
pra ter aceitação dos de sua idade
que têm o pé na mesma caminhada.
Quiçá seu sonho? Amor vindo em paixão?
Deixar que o tempo corra em direção
de um amanhã que seja mais feliz…
A nova mocidade busca agora
o que talvez jamais partiu embora:
o mesmo que, a de outrora, sempre quis!
" ATRAÇÃO "
Em tudo o que tu pões teu coração,
ali, o tesouro teu, terás guardado!
Escolhas, pois, aonde, com cuidado,
pra que não te destrua uma ilusão!
Nem tudo o que te for apresentado
por mais que com ternura, com paixão,
irá te conduzir para a ascenção,
de tu’alma, ao que for justo e equilibrado.
Há tentações, há covas e armadilhas
das quais, certas paixões cruéis, são filhas…
Atente onde colocas teu amor!...
Ali terás guardado o teu tesouro
bem mais valioso do que prata ou ouro…
Não prove, da atração, qualquer licor!
AMIGOS VALEM OURO
Sibilantes moedas d’ouro
Que tilintam sua peçonha
Molestam a quem disponha
De seu valor tão louro.
Queima, Midas, rei dourado
Da ganância desmedida
Ponha ouro na ferida…
Arde, arde, condenado.
Bate relógio dos traídos
Por seus sonhos de riqueza
Ticks altos, Taks fortes.
Enforcados e caídos
Segue a eterna tristeza
Da Dinastia Iscariotes.
A CARECA
Brilhante obra alva
Do vácuo feito em novelos
Grande cabeça calva
De ideias e de cabelos.
Universo velho sisudo
Cabeça nova p3lada
Ele abraça tudo
Ela reflete nada.
A careca não tem vista
Nem orelha
E nem língua.
Ela é a dor do artista
Da centelha
Que só míngua.
Cântico pra Ela
Lírico som... em livre leve vento voou
Seu cântico em prece, que tanto entoou
E em sutil acorde, de paixão ele tocou
E nos ouvidos dela, repouso encontrou.
Sem desistir... a cruel batalha lutou
Vencendo todo o medo... que o castigou
E eis que no caminho com a fé bailou
E seguindo seu destino, alto cantou.
Se fez sublime tal melodia para aquela
Que a muito esperava em sua pureza
O dia de voltar... a encontrar o amor.
Que fugitivo deixou apenas a fria tristeza
Mas hoje se fez chama, que emana calor
Eternizando as notas da serenata pra ela.
Claudio Broliani
PRECE LIMIAR ABSOLUTO
Marejar de olhos vermelhos em lágrimas sentidas,
apagando o flamejar de sonhos e paixões vividas.
Maldade das hordas dilacerando a pureza do encanto,
levando crueldade ávida a profanar o momento.
Gotejos cortantes do negro véu da solidão,
afogando lamentos que inundam o coração.
Garras de harpias rasgando a carne até os ossos,
conduzindo vidas perdidas ao trilhar dos mortos.
Arrastar de correntes cheias de sacrifício e pranto.
Bestas que usurpam a fé barganhando temor.
Demônios insanos mercadores de vil sentimento.
Instante final onde renasce a esperança no amor,
Labareda que arde nobre e não se apaga ao vento.
Prece... chama divina que cura da alma o sofrimento e a dor.
Claudio Broliani
Refúgio em Noite Sombria - Vida de Cael Arcanus.
Na calada da noite, aos treze anos,
Uma aflição cruel me consumia,
Reflexo antigo, em ciclos sobre-humanos,
Que desde os nove a sombra já trazia.
Corria aos braços dela, mãe tão guia,
Seu toque leve, a paz me devolvia,
Com mãos que afagavam minha agonia,
Até que o sono enfim me acolhia.
Gigante o mundo, e o peito se oprimia,
Mas em seu colo a calma se achegava,
E em seu carinho a dor se dissolvia,
O mal, aos poucos, dali se afastava.
Aos quinze foi-se a sombra que me via,
E a paz que ela trouxe em mim ficava.
Nos olhos de Júlia, o sol declina,
Seu riso, qual aurora, ilumina o dia.
No firmamento, a estrela mais guia,
É ela, em seu esplendor, que fascina.
Seus passos dançam na brisa divina,
E a melodia do amor a envolve,
Júlia, a musa, que o coração resolve
A pulsar poesia, doce e genuína.
A primavera floresce em seu sorriso,
A brisa sussurra segredos de encanto,
Oh, Júlia, encanto que não tem aviso.
Em cada verso, és a rima que encanta,
Nos sonhos, és o eterno recanto,
Julia, na poesia, és a luz que espanta.
Amor e guerra
Marte rubro, por lutas fervoroso
Tanto sangue por ele derramado
Em Batalhas tão forte e belicoso
Não pensou que seria derrotado
Venus áurea, de corpo gracioso
Tantos homens e deuses tendo amado
Teve seu coração belo e formoso
Pelo Senhor da guerra apaixonado
Como podem tais deuses se juntarem?
Venus amar quem causa tanta guerra?
E marte abandonar grande rancor?
Não podem paixão e guerra se apartarem
Pois não há força maior nesta Terra
Que leve a disputa senão o amor
Nas vezes que sinto a solidão fria,
E nas mentiras que, às vezes, construo,
No vazio sombrio, a alma flutua,
Olhando o íntimo, onde me diluo.
Me pego, às vezes, no amor não vivido,
Fugindo dele, na multidão dispersa,
No vão, entre sombras, onde estou perdido,
Minto para o coração que persiste.
Olhando bobo, nesse jogo incerto,
A alma dança, entre a verdade e engano,
No meio do vazio, um eco desperto,
Entre o sentir e mentir, me engano.
Assim, no soneto, meu ser vagueia,
Entre as vezes que sinto e mente teceia.
" DO NADA "
Eu deixo o olhar vagar, ali, no nada
perdido que se encontra o pensamento
e faço que, a alma, vá conforme o vento
bailar as rotas todas desta estrada!
Sou todo esse vazio do momento!
Um corpo na poltrona almofadada
inerte como noite enluarada
por onde vaga a lua em sentimento.
Nem mesmo o olhar caminha o rumo dado!
Se põe ali, no nada, estacionado
sem combustível mais pra ir adiante…
Perdido, o pensamento! Morta, a alma!
Transpiro sob essa aparência calma
por quanto mais, de mim, fico distante!
Nosso sonho
Olhei, procurei, não te encontrei
Pelos cantos e trilhas do jardim
Eu queria encontrar você para mim
Procurando me perdi e não te achei.
De repente pensei que fosse o fim
Por pensar desse jeito eu chorei
Mas logo do sonho eu acordei
E te vi linda meu anjo querubim.
Te abracei e te beijei ardentemente
E você com ardência me beijou
Com um quê de senhora adolescente
Mas foi tão rápido como tudo se passou
Que a lembrança não sai da minha mente
E sua mente também não apagou.
Nildo Cordel
" PENAR "
Pois é! Colhemos nós da decisão
os frutos, muitas vezes, prematuro,
do que devia ser outro futuro
se déssemos, por voz, o coração!
Mas não! Teimamos nós seguir no escuro,
palpar o que parece-nos paixão
pra descobrir, depois, que era ilusão
e que só nos sobrou temor e apuro.
Porquê fazemos isso como amor
tornando-o sofrer, penar e dor,
se o que se quer é tão somente amar?
Colhemos, pois, da decisão errada,
o fruto de uma vida condenada
aos mais dorido e insano, em nós, penar!
" FICAR "
Será que estamos, nós, na estrada certa
dispostos a seguir a caminhada
que deu-nos, o destino, por jornada
ao nos deixar, do amor, a porta aberta?
Às vezes vejo que ela está tomada
por uma sina sem destino, incerta,
por outras, que ela fez-se por deserta
sem ter uma, sequer, alma penada.
Erramos nós alguma das saídas
pra termos, hoje, chagas e feridas
no que devia ser felicidade?
Será que a estrada é essa, de verdade?
Me diga, por favor… Por caridade…
Não tenho, em cá ficar, sequer vontade!
" DEVO? "
Eu sei que essa proposta de paixão
tem lado bom, mas tem malícia, enfim!
Me ponho sem saber se eu digo sim
ou se é melhor, de cara, dizer não!...
O papo é meio brega, ruim, chinfrim,
e aponta um ego enorme, confusão,
que indica uma armadilha à ilusão
e pode dar dor-de-cabeça ao fim.
Porém, quem me propõe tem lá beleza,
um pé no luxo incauto da nobreza
e há grana na jogada a meu favor…
Sei lá se digo não, se sim… Que foda!
O romantismo, eu sei, caiu de moda
mas devo dar-me a tal sem ter amor?
" ARTEIRA "
Sapeca, brincalhona, bruxa, arteira,
foi sempre uma mistura inesperada
que a faz ser acolhida, aceita, amada
sem que se ponha, a tal, qualquer barreira!
É dama na alegria acostumada!
Com ela, o sério é pura brincadeira
e o riso é a sua forma costumeira
de se ir levando a vida nessa estrada.
É facil apaixonar-se por seu jeito
maroto, leve, dócil, de respeito,
e com seu toque mágico e festeiro…
Tá afim? Entre na fila, dada a chance,
mas acho não estar ao teu alcance
já visto que, eu aqui, sou o primeiro!
