Somos Passaros de uma Asamario Quintana
Por que ter medo da morte?
Enquanto somos, a morte não existe, e quando ela passa a existir,
nós deixamos de ser.
Somos desfeitos pela verdade. A vida é um sonho. É o despertar que nos mata.
SOMOS NÓS
Vocês dizem que não entendem
Que barulho é esse que vem das ruas
Que não sabem que voz é essa
que caminha com pedras nas mãos
em busca de justiça, porque não dizer, vingança.
Dentro do castelo às custas da miséria humana
Alega não entender a fúria que nasce dos sem causas,
dos sem comidas e dos sem casas.
O capitão do mato dispara com seu chicote
A pólvora indigna dos tiranos
Que se escondem por trás da cortina do lacrimogêneo,
O CHICOTE ESTRALA, MAS ESSE POVO NÃO SE CALA..
Quem grita somos nós,
Os sem educação, os sem hospitais e sem segurança.
Somos nós, órfãos de pátria
Os filhos bastardos da nação.
Somos nós, os pretos, os pobres,
Os brancos indignados e os índios
Cansados do cachimbo da paz.
Essa voz que brada que atordoa seu sono
Vem dos calos da mãos, que vão cerrando os punhos
Até que a noite venha
E as canções de ninar vão se tornando hinos
Na boca suja dos revoltados.
Tenham medo sim,
Somos nós, os famintos,
Os que dormem na calçadas frias,
Os escravos dos ônibus negreiros,
Os assalariados esmagados no trem,
Os que na tua opinião,
Não deviam ter nascido.
Teu medo faz sentido,
Em tua direção
Vai as mães dos filhos mortos
O pai dos filhos tortos
Te devolverem todos os crimes
Causados pelo descaso da sua consciência.
Quem marcha em tua direção?
Somos nós,
os brasileiros
Que nunca dormiram
E os que estão acordando agora.
Antes tarde do que nunca.
E para aqueles que acharam que era nunca,
agora é tarde.
Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito
Tudo, tudo, tudo, tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais.
Quando somos crianças, raramente pensamos no futuro. Esta inocência deixa-nos livres para nos divertirmos como poucos adultos conseguirão. O dia em que nos preocupamos com o futuro é também o dia em que deixamos a infância para trás.
Olhando para o passado, percebo que nenhum de nós tem controle sobre seu destino. Somos apenas folhas sopradas pelo vento.
Nós somos todos loucos, toda esta raça maldita. Estamos envolvidos em ilusões, delírios, confusões, estamos todos loucos e em confinamento solitário.
Nós, que somos sonhadores e queremos o mundo, não sabemos onde será a próxima parada e, talvez, não tenhamos a oportunidade de estar com pessoas maravilhosas que fazem parte de um amor chamado família.
Somos seres cada vez mais ilhados e com carência, não só de vínculos, mas de desejo de vínculos, o que é muito pior.
Somos frutos da insatisfação. Movidos pelo vazio e ilusão de sermos preenchidos pelo outro. Ninguém preenche ninguém, nem a si mesmo.
