Se eu Tivesse Asas
A fila
A dúzia, o maço, um bocado
Um pedaço e um buquê
Avisa
Que eu procuro o mais barato pra sobrar
O dinheiro que eu preciso pra comprar
Muitas flores pra você...
Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.
❝ Se fosse uma comédia-romântica-americana, a gente se encontraria daqui a um tempo e eu diria a ele, que mesmo depois de ter conhecido homens que não se irritavam com as minhas ironias, não me seguravam com tanta força a ponto de me esmagar, não amavam os amigos acima de tudo, não tinham respostas pra tudo de forma tão irritante. Não eram tão orgulhosos como eu, não tinham humor tão negro. Não eram convencidos demais, não gostam de flash backs com ex. Não tiravam sarro do meu time, não ligavam se eu confundisse nomes de capitais, movimentos artísticos, ruas e bairros, era ele que eu gostava, era ele que eu queria.
EU NÃO ENTENDO! Por medo da loucura, renunciei à verdade. Minhas ideias são inventadas. Eu não me responsabilizo por elas. O mais engraçado é que nunca aprendi a viver. Eu não sei nada. Só sei ir vivendo. Como o meu cachorro. Eu tenho medo do ótimo e do superlativo. Quando começa a ficar muito bom eu ou desconfio ou dou um passo para trás.
Às vezes a vida parece um grande jogo de desilusão,
e eu suspeito fortemente que ganha mais pontos
quem desilude mais
e se desilude menos.
Como eu poderia me entregar, sem antes saber se posso ir inteira? Como posso confiar de novo, sem saber se vai ser realmente diferente?
Se inferno existe,
então eu tenho lugar vip por lá.
Mas o melhor é saber que encontrarei muitos bons amigos
por ali, também. :)
Que hei-de eu fazer dessas alforrecas que não têm ossos nem forma? Vomito-os e restituo-os às suas nebulosas: vinde ver-me quando estiverdes construídos.
"Dessa vez, com você, eu queria que desse certo. Que eu não te largasse no altar. Que eu não te visse com outra. Que eu não tivesse raiva. Que você não passasse a comer de boca aberta. Que você entendesse o meu problema com chãos de banheiro molhados pra sempre. Que você gostasse e cuidasse de mim como disse ontem à noite que cuidará. Eu quero que dê certo, não estraga, por favor. Não estraga não estraga não estraga."
Quando eu te conheci aconteceu durante um tempo, dois tempos, três tempos aquele mini-segundo-que-parece-três-horas-de-espera-na-sala-do-dentista. E eu sabia de alguma maneira. Sabia sim, sabia que aquele dia iria mudar a minha vida. Eu sabia, tudo estava estranho, eu não estava planejando você, planejando a gente, a vida planejou por nós. E aconteceu de uma maneira tão serena e bonita como nada tinha acontecido até então na minha vida que eu cheguei a pensar por favor, pelo amor de Deus, tem alguém aí, me acorda que não estou conseguindo raciocinar direito. Pela primeira vez eu não pensei. E eu descobri isso agora enquanto escrevo. Não pensei em nada, eu que sempre penso desde que acordo, eu não pensei em nada. O problema foi decidir, sou libriana e não nego minha indecisão, mas eu decidi e fui sem pensar. Então, te encontrei. E naquele milésimo de segundo eu senti que tudo podia ficar mais simples. E ficou.
"Fazia tempo que alguém não ficava tão calado enquanto eu apenas existo, fazia tempo que alguém não ficava tão perdido só porque me encontrou. "
Primeiramente, me espanta o fato de todos terem certeza absoluta de que você vai morrer. Eu prefiro encarar a morte como uma hipótese. Mas, no caso de acontecer, serei obrigada mesmo a cumprir todas estas metas antes? Não dá pra fechar por cinquenta em vez de cem?
"E naquele momento eu pensei que poderíamos ser infinitos se fossemos música. E isso explica tudo, mas ninguém entende. Você entende. Mas cadê você?
Quando vai dando assim, tipo umas onze da noite, o horário que a gente se procurava só pra saber que dá pra terminar o dia sentindo algum conforto. Quando vai chegando esse horário, eu nem sei. É tão estranho ter algo pra fugir de tudo e, de repente, precisar principalmente fugir desse algo. E daí se vai pra onde?"
Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranquila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.
(Crônica Mistério)
Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura.
O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.
(Crônica Ainda sem resposta)
Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável.
(Crônica Um degrau acima: o silêncio)
Guarde sua capacidade de rir descontroladamente de tudo. Eu, às vezes, só às vezes, também consigo. Ultimamente, quase não. Porque também me acontece – como pode estar acontecendo a você que quem sabe me lê agora - de achar que tudo isso talvez não tenha a menor graça.
De repente, eu olho para trás
e penso que eu já disse o suficiente.
Agora, se estas palavras tiverem valor
e encontrarem bons sopradores
elas continuarão fluindo pelo mundo, tempo após tempo...
E, não, isto não é uma despedida,
nem muito menos significa que deixarei de escrever.
Vez ou outra eu virei aqui deixar um recado pra vocês.
Quem sabe, daqui a uns dias eu até lhes trago algumas histórias
para emocionar ou fazer sorrir...
Na verdade, eu sempre escrevo mais do que publico
- tenho consideração pelo leitor, então maior parte vai pro lixo.
Mas escrevo sempre, todos os dias, toda hora,
porque é deste modo que eu respiro
então eu não posso mesmo parar de escrever.
Mas neste momento eu olho para trás
e realmente penso que eu já disse o suficiente.
Agora é hora de seguir adiante...
No caminho...
Até porque é sempre bom lembrar que...
Eu sou apenas um cara no caminho.
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
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