Ruth Rocha Amor
JUNTAI
Juntai-nos Senhor em um rebanho
De forma que revistes e que não corras
As distâncias separadas como um vento que nunca pare
Nós estamos todos perdidos
Na distância e na palavra
E aqui tomo a liberdade de Vos avisar
Usai da mesma ração que todos gostam
E espalhe ao chão do mesmo lugar
A que nos vicie a que todos nós pousemos lá
Porque quando não estivermos bicando a comida
Vamos estar nas redondezas esperando o dia
Juntai-nos Senhor em um mesmo pôr-do-sol
Porque criaremos o vício também do olhar
E porque como o artista criastes o sol poente
Usando todos os pincéis e tintas
Com a intenção de que nestas horas
Todos os olhos do mundo
Se ponham a contemplar a mesma beleza.
Usai desta mesma luz
Para nos encontrar ainda com raios do dia
Para depois fechares as portas
A só abrires no outro dia, que não quero prever.
Abrigai-nos todos no mesmo aprisco
A que todos nós contados e marcados
Estejamos todas as cem ovelhas
Do vosso rebanho multicor.
Como é difícil quando você se dedica o máximo para realizar uma tarefa, um regime, uma atividade física, quando se entrega diuturnamente ao trabalho e no desempenho de seus sonhos e, de repente, aparece uma pessoa e começa a criticar o que estamos fazendo e como estamos fazendo. Não respeitam nosso labor, nossa força, nosso entusiasmo. Apenas olham com aquele olhar arrogante, aquele sorriso alvar e proferem suas sentenças destrutivas. Há uma grande necessidade de que aprendamos a fazer auto-crítica e que saibamos ouvir a idéia e sugestões de terceiros. Mas não estou falando de idéias divergentes saudáveis. Falo de crítica destrutiva. Falo de certo tipo de pessoa que parece não dormir a noite se não destruir alguém com suas críticas no dia. É um esposo que não coopera e parece se alegrar na produção de palavras que arremessam sua parceira para a masmorra de sua alma. É uma esposa que parece se regozijar com a sensação de incompetência que consegue causar em seu esposo. São alguns pais que amaldiçoam seus filhos com palavras ásperas, xingamentos e com palavras de desânimo sobre o seu possível futuro e escolha. São filhos que criticam seus pais pela forma como lhes tratam e porque esperavam mais deles. É aquele patrão inconveniente que afunda as possibilidades daquele funcionário esforçado. A crítica é um inferno quando não se possui habilidade social para enfrentá-la. Alguns homens brilhantes passaram por isto e conseguiram superar. O professor de Bethoven disse que ele tinha uma maneira estranha de manusear o violino. Que preferiria tocar suas próprias canções ao invés de aprimorar suas técnicas. Seu professor o qualificou como sem esperança como compositor. Você sabia que Walt Disney foi despedido por um editor de um jornal por falta de idéias, e que foi à falência várias vezes? O professor de Thomas Alva Edson disse que ele era muito estúpido para aprender qualquer coisa. Lembrando que Thomas Edson registrou a patente de mais de mil invenções. A tese de doutorado de Albert Einstein em Bonn foi considerada irrelevante e sofisticada. Alguns anos depois seria expulso da Escola Politécnica de Zurich. O mais curioso foi que Henry Ford, o primeiro a fabricar carros em série, foi à falência cinco vezes antes de ser bem sucedido nos seus negócios. Se estes grandes vultos da história tivessem ouvido aquelas críticas iniciais, não teriamos musicas tão belas, não assistiríamos pateta, Mikei, Mine, Pato Donald, Pluto...Não teríamos a lâmpada, ou demoraria um pouco mais até sua descoberta, e não existiria a Ford. Felizes são aqueles que sabem lidar com a crítica alheia. Aqueles que, mesmo sendo criticados, acreditam em seus sonhos. Que transformam as críticas em alavancas para o futuro. Ouça todas as coisas, mas retenha só o que é bom para sua vida.
DEUS TEM UM PROPOSITO EM NOSSAS VIDAS NAO IMPORTA QUEM SOMOS OU QUE FAZEMOS ELE SO QUER QUE SEJAMOS FELIZES!
É preciso tocar as palavras
Como quem experimenta sonhos
A que se exercite o seu sabor
Que a escrita inteira tem.
É imperativo esta harmonia
Na poesia nada se estanca.
Ou exageradamente continua
Se não temos o tamanho da palavra
E o seu sentido
Na remoção de sua fragrância.
De forçoso impacto da letra no papel
Assim se justifica o peso que nós somos
A disritmia do compasso que queremos ter
E damos a poesia a afeição da gente
E terminamos a andar ao lado dela
Que por elas já nos impulsiona amar.
É necessário amar a escrita
Para nos tornarmos íntimos do amor
Que o amor é típico das letras rimadas
Esperançosas as graças omitidas
E o que fizermos será por nossa conta
A palavra, o seu sentido
As batidas do coração
E isto povoará a nossa necessidade
De darmos nome à palavra
Amar e ao amor.
CIRCUNFLEXO
Quando me chegas colada a mim
Eu te afianço os cuidados das minhas mãos
Como se fora uma ode para ti
E me esguicho frente aos teus olhos
Tornando-me rio de águas de cristais.
Para o meu infortúnio
Tu pouco me abraças
E neste desejo calado
É que eu te amo amordaçado.
Me ponho a olhar para o meu jeito
Nma postura bem comum e torturada.
Entregues a ti, os meus braços me castigam
Refreio em minha boca algum gesto
E me perguntas: como vais comer
Como vais beber do que tu gostas
Como, depois, desta besteira
Vais acariciar novos amores?
Recostado em mim na posição de escora
Um anjo dorme seu sono do céu
E quando acordas da premonição acertada
Falas o meu nome e me dá-me
Tudo o que tinha apagado de mim
E tudo o que me fazia falta.
GOLFINHOS
Não é uma por nos festejar
Que os golfinhos de Fernando de Noronha
Nos assediam, como brincam
Neles tem o medo de que nós
Desejamos num relato de bordo
Seguir como conquistaram e se impuseram
Nossa nobreza falida
Eles temem por eles por que já sabem de nós
E de nossa visão direcionada do arpão
E assim, um batalhão nos segue
Como quem quer que os desocupemos
E nos aportemos fora de suas famílias
Enquanto o mar não se findar
Já noutras terras.
Aqui é o encanto deles
A lua sorri pra eles e já são cativos
Também das estrelas
Que continuam pelas águas descobertas.
E quem protege o coração contra o feitiço
Da liberdade de bater bem como quer
Esses peixinhos são por Deus também pessoas
E por isso lutam
A ver o mar entregue.
Ali eles nasceram se amaram
Como gente comprometido
Com o amor de fazer tantos alaridos.
Chega a noite e com a mesma visão líquida
Eles se aportam na calma do mesmo mar.
Viver, o que será viver? Para mim é rir, curtir, caminhar, fazer aquilo que tem vontade, cumprir com obrigações, organizar a vida, ou pelo menos tentar, ir a uma festa e não ficar com aquele cara que tem grana, só por ele ter grana, ficar com aquele que me senti atraída, aproveitar momentos ao lado de pessoas divertidas,não se prender em um relacionamento fracassado, mudar quando nescessário, dizer não quando preciso, beijar muito quando quizer, sair da rotina quando entediada, não deixar os dias serem iguais, fazer acontecer, pensar bastante, agir mais, falar menos e ouvir mais, colocar um ponto final naquelas amizades que só querem teu mal, olhar pra frente, sofrer, aprender com os erros, chorar, gritar, amadurecer. Enfim, vivo e vivo sim, bem ou mal sou feliz sim, mudo de rumo, mudo tudo se for o caso, só não mudo meus amores que foram gerados.
MUNDOS
Porque me perguntastes
Que beleza eu abraço como minha
E por igual que se sugere
São da generosidade de dois mundos
Que valem o mesmo peso
E a mesma medida.
Um onde eu passo triste
Como uma árvore
Que derrama todas as suas folhas
Na estação diferente ou pelo tempo
É o mundo em que acolho
E passo dias me desviando
Das correntes de ar
Que batem em minha pele fina.
Passo para outro mundo
O mundo que em tudo muda
E me acoberto de flores amarelas
Este tempo eu fico na alegria dos ventos
Que encarecem os meus dias
E eu cultivo outros brotos
Como um pai natural
Alguém que se atém a espera da beleza
Como um tempo sorridente e próprio.
PÁSSARO
Existe dentro de mim um pássaro
De caráter improvisado
Um pássaro de uma só cor
Esverdeado quando é notado
E de uma cor alheia
Quando emudece a precaver minhas fronteiras
Neste tempo de voz calada
Não tem canto, nem tem encanto.
Eu já gosto do caráter repentino
Porque ao seu tempo
Quando quer me agradar
Ele canta as minhas infâncias e o meu mundo
Que já tive, como donatário, de papel passado.
Quando eu era criança o mundo
Era do tamanho do meu quintal
E tinha quatro fronteiras
Dos limites, astuto que nos impunha.
O pássaro cantava e me agradava
Eu tinha no meu mundo pessoas sensatas e alegres
Alegres e diplomatas.
Agora quando avisto um pássaro
Num oitão de uma casa velha cantando na minha espera
Eu fico a vislumbrar o seu canto e me inebriar
Se ele tem as penas esverdeadas.
O pássaro porém, não lembra
Que já morou no meu coração
De que já foi meu um dia
Que por ser o meu, por meu desatino
Ele pegava vôo muito acima.
Mais alto que tudo, adiante mais que as nuvens
Aquele pássaro já foi meu
Hoje adulto é das alturas.
Só ele sabe me desarmar como nenhuma outra pessoa. Só ele consegue me ver de verdade, me sentir de verdade, me amar de verdade. Só pra ele eu revelei toda dor e frieza que eu escondia atrás daqueles sorrisos altos e falsos que usava como desculpa para mostrar que eu era feliz. Mas só ao lado dele eu pude ser.
INACABADO
Tudo o que pretendo feito
Fica sempre inacabado
As respostas que me dou
Algo na continuidade oco
E não será permitido
Partido de mim o maior sentimento que conheço
Ou o único dessa coleção.
Sonho e não prevejo nada
Durmo desassossegado
Olhando sem piscar
Os acontecimentos no mundo
Sonho por desatino dos pensamentos
Que alimento na conversão dos valores.
Quero ser um santo
E não provar nada do que não seja abençoado
E que eu não veja a cruz no centro.
E nesta convenção do céu com a terra.
Por força me esperam lá encima
E os meus devaneios são escadas invisíveis
Caminhos já percorridas
Não espero a alternância dos dias
Nem a permutação do batalhão em prontidão
E sempre assim como me refaço
Não lembro nas minhas visões.
Sempre é alheio o meu alimento
Todos os dias me são sacrifícios
Que, certamente iniciarei
Só começo, não terminará.
UM DIA, DOIS DIAS
Um dia sonhamos ser
Outro dia queremos nascer
Romper a cortina que dá para o mundo
Um dia queremos ter
Um leito e um amor que vigie
Um dia queremos cifrar
A música de nosso afeto
No pentagrama que não sabemos ler.
Outro dia queremos ser astronautas
E voar muito além da lua
E nos precipitar na descida leve
Um dia sonharemos ricos
Carregados sob os ombros de outros
No comboio de desconhecidos.
Um dia aspiramos ouro em pó
Em outros dias espirramos cristais líquidos.
E nos entregamos à fraude da manipulação das horas.
Um dia sonhamos num país abastecido
Outros dias reconhecemos que nada disso
Nos interessa, que só tem valor o sonho.
Um dia queremos a passividade
E nos dispomos a não tocar em nada
Porque nada é nosso
E não podemos guardar.
Um dia, um dia, dois dias.
Dia de chuva, dia de sol
Dia de não se ver o arrebol.
E entendemos a nossa voz bemol.
