Ruth Rocha Amor
SAGRADO AMOR
Sou um dos que justifica o que não vale
O precipício que anda sob meus pés.
Quero, às vezes, chamar pelo meu nome
Mas eu ainda não aprendi nem decorei
Por isto resiguinei-me à mutilação
Dos meus valores, abaixo da importância
Que uma vida vale.
Não sei se vivo ou morto eu chego lá
Ao abraço do Sôfrego da cruz
E acreditar nisto, que tem o significado
De tudo, o santíssimo, Cristo.
O AMOR SAGRADO
Todos os caminhos me levam
Para onde eu já estoi.
Este lugar parece ser mesmo meu.
Aqui resolvo, aqui me perco.
O tempo de varrer o mundo
Nesta minha idade, já vai longe.
Vivo diante dos inquisitores
Pagando por todas as minhas ausências
Por todas as lamentações.
Aqui vi o sol nascer e já me cansa
A esperança de outras luzes ficam distantes.
Eu não gosto de questionar a vida
Porque todos os argumentos
Que justifique sua dureza
Inevitável passei por todos.
Não quero lamentar por uma coisa perdida
E nem dar nome a isto
Mocidade e beleza
Coisas que o tempo nomeia sem piedade.
Escassez no meu dicionário
De palavras e seus sinônimos
Para dar um nome a vida.
O AMOR
O amor quando chega
Entra no seu jeito volátil
E se instala no quarto.
Muda as cobertas
Deixa meia janela
Solta a cortina.
O amor não vai para a sala
E se entroniza lá onde está.
E a vontade que dar
É a de tomar sua companhia.
O amor não vai à cozinha
Lá ele se perderia
Com o cheiro
Do que está sendo cosido
O amor tem a fome
Dos dias em que esteve ausente
E dentro do quarto
É como estar dentro de nós.
E nos aperta e se alarga
E toma quase toda a cama
De tudo o que trouxe
Presentes, vontades, faltas
Desejos atraentes
Alguma piada nova.
E o amor nos ama
Sem fazer força
Ele nos ama
Cobre-nos com ele
Deixando apenas o lugar de respirar
E comete o amor
E nos ama inteiramente.
ENTRA E SAI
Saindo que de dentro de ti
E entrando já em mim
Ficamos por entender o amor
E se complica a relação duradoura.
Que as estações em que se senta o amor
Termina por começar coisas de outros
E uma palavra nova dominar.
Quando sai de ti esta esperança comovida.
Desse frio de desalento
De que ainda não me vistes
E que és uma fraude sem fim.
Quando eu distraído me presto
A conquista
Permaneço ainda um tempo
Tentando saber
Se o que sentes em mim
É do mesmo tamanho que vejo
Que há amor, por todos nós
Ocupando o espaço e a distancia.
Escutar cintilar o amor e sua tortura.
Pegar algo quente dentro de ti
Um lago em mim a te sacudir.
EXTRATO DE AMOR
O meu amor tem encantos que outros não tem
Tem as coxas grossas
O andar suave como o de uma bailarina
Voando sobre o linóleo
O meu amor tem os olhos lapidados na água
Com sua candura imprevisível.
Meu amor tem a fala
Que se entende pelo olhar.
Meu amor segue um caminho
Que é o mesmo meu
Antes de mim
Como um anjo cuidadoso.
Meu amor pinta as unhas da cor carmim
A cor da promessa que os outros não entendem.
Meu amor não é muito alta
Nem baixa que alguém perceba
É do tamanho da ribalta
De onde se ouve o concerto inteiro.
E do perdão que se aconselha.
Meu amor tem meus cuidados
Da forma que cuida de mim
O meu amor não é pesado
É do tanto que carrega o meu coração
Leve... E corre por todo os rios
E se abre dentro de mim
Como uma fecundação sem riscos
E da extrema felicidade.
GERMINA
Não deixa que o amor
Em ti resvale
Amor a conta dele
É simulada
E a boca é tua
E o beijo é dela
Amor te entrego
Ainda com garantia
Amor que repetir sempre te dou
Tanta esperança
E o sol já levantou
Amor tomas que cuide a sementeira
A ti eu trouxe
Flores vermelhas
Tudo o que dou
Meu colo aninha
Germina em ti
Como o que sou.
ACOLHE
Não fale do amor a crueldade
Pedaços do vestido dela acabem
A que não fique só amizade.
Que o amor rasteie o bem como seu guia
Um acervo de bondade e mais carícias
Que seja assim, que seja assim
O teu lugar cabendo a mim.
O meu lado direito que há da minha
A terna boa, aquele passarinho
Que junta palhas e faz um ninho.
Carrega os gestos como quem foi
Que todo movimento é de fazer
Cair dos céus ou levar num balde
Fermento, águas levar e trazer
É bom pra tudo, que renascer.
Acolhe as mãos da renascida
O filho todo o tempo apetecido
Que se repete toda alegria
E faz aquilo, tão repetida
Nosso amor é como o mar bravio e tempestuoso;
e eu,sou um barco que nele navego,sendo levada
pelas ondas até você,meu porto,minha vida!
DELÍRIO
Meu amor enfim chegaste à minha vida,
Meu corpo acorda de uma dor sem fim,
Tem da minha história toda verdade
Sabes sempre fazer-me um pouco mais feliz.
Vou levar-te aos píncaros mais altos
De um sentimento que jamais sentiu,
Quando chegares e me vir te esperando
Não se furtará de abraçar meu corpo
Que espera do teu corpo um amor sem fim.
Imagem solitária de um amor distante,
Entrego-te meus sonhos no infinito da paixão,
Deito em teus delírios meu cansaço minha solidão.
Quero a eternidade de um momento efêmero,
Na tua história ser teu melhor momento,
Na tua vida a beleza eterna presa em teu pensamento.
MÁRCIA ROCHA
A diversidade do Amor
Amor de filho é grandioso
Vem na forma de admiração
Proteção
Como se fosse um pedido de socorro
Um porto seguro
Amor de amigos é cumplicidade
É onde se “amarram os burros”
E se depositam todos os afetos
Pois amigos são escolhas pessoais. Amor de mãe é inigualável
Amor de adolescente é devaneio e
vaidade
É o inicio de um grande processo
De uma descoberta
Uma imensa falta de insanidade
Amor de gente grande (adultos) é
alicerce
É uma união completa
Disso e daquilo
Das experiências e das redescobertas
Das perdas e dos ganhos
É raciocínio e razão
É contradição
É lógica
É verdade
É uma vontade grande de querer
É ter os sentimentos misturados
Alternados em amor, desejo, paixão e
ódio.
Ódio sim, por que não?
O amor é uma mistura intrigante de
todo tipo de sentimento
Mas se houver indiferença
Seja em qualquer uma de suas etapas
Então não era Amor.
Não se pode chamar de amor
Um sentimento comedido
O amor está além da coerência
humana
Está acima de toda e qualquer
estabilidade
Só consegue descrever o amor
Quem nunca amou de verdade