Ruth Rocha Amor
Um dia você muda.
Muda os planos
Muda os sonhos
ou deixa eles adormecerem
como sementes que já não carregam mais a vida.
Um dia você olha para si mesmo
e percebe que investiu demais
esperou demais
e tudo o que alcançou foi cansaço.
Um dia você deixa de pensar na inocência dos anseios mais queridos
e passa a viver pelo simples fato de que não pode morrer.
Um dia a tristeza bate a porta
e você não quer abrir
porque já nem ela importa mais.
Um dia você simplesmente já não se preocupa com o dia seguinte.
Afinal é só mais um dia.
E só seu e de ninguém mais.
Um dia você só quer esperar pela noite.
Esperar que ela traga o silêncio da voz do céu
O silencio que quando se quebra
cria a luz e da forma ao que é vazio
Um dia tudo é vazio
e o vazio é um eco
que faz tremer o pó.
Um dia você é só pó
esperando pelo sopro de Deus.
O lugar que você mora não determina quem você é,
mas o que você frequenta diz muito sobre você.
E falando em lugar, existe um bem arriscado; nome dele é excesso.
Excesso de conversa; excesso de comida.
Excesso de dieta; excesso de bebidas.
Excesso de trabalho; excesso de vaidade; de diversão; de remédios.
Excesso de limpeza; excesso de manias.
Evita pisar o terreno dos excessos.
É areia movediça.
Creio: o ateísmo alheio não muda meu relacionamento com Deus.
Admiro: minha fé em Deus não desabilita a inteligência do ateu.
A verdade é que há tanta perspicácia no descrente, que a origem de tal mente, só pode ser divina.
Nasci em 83
sou cria da enchente
aprendi a nadar na vida
boiar se for necessário…
Olha que muitas vezes
como disse o profeta,
"águas que me tocam os artelhos"
mas eu continuo a andar…
Nasci em 83
brinquei de elástico,
abracei um boneco de plástico,
aprendi a cirandar,
cheirar parede sem criar caso…
E olha que muitas vezes
como disse Ezequiel,
"águas que me dão pelos joelhos"
e eu continuo a marchar…
Nasci em 83
usei anel de chiclete,
(escondido do pai)
aprendi a cantar inglês errado,
improvisar se for o caso…
E olha que muitas vezes
como disse o profeta,
"águas que me dão pelos lombos"
mas eu continuo a me arrastar…
Nasci em 83
me apaixonei por Jaspion,
fui mal influenciada por Alf,
aprendi a brincar de correr,
esfolar os joelhos com frequência…
E olha que muitas vezes
como disse Ezequiel,
"águas que se deve passar a nado"
mas mesmo nadando eu passo…
Nasci em 83
brinquei com panelas de barro,
aprendi a correr de vacas,
pular cercas se for o único escape…
E olha que muitas vezes
como disse o profeta,
"rio pelo qual não se pode passar"
mas eu flutuo, e passo…
Nasci em 83
sou cria da enchente
faço barco de papel,
acredito em profetas,
não me deixo afogar.
E se as aguas inundam meu caminho
eu aprendo a mergulhar.
Tem dias que contemplo o limoeiro do quintal. Eu vejo aquele laranja atraente do fruto maduro, e pergunto:
Será que também doeu?
Entre a faca e o queijo
Adélia Prado escolhe a fome.
Eu, amante de um farto prato
Não quero nem faca nem queijo
Prefiro o fazendeiro...
Meu sonho é como que uma casa
como que feita de carinho
de paz,
de vontade,
de sabedoria.
E fé.
Quando dizem
não vai dar.
coloco ainda mais um tijolinho.
Construindo
construindo
construindo.
Esse meu sonho
que de tão impossível
já parece um castelo.
Impossível é onde todos se apegam.
Impossível é o que eu quero.
Construindo
construindo
construindo
de um sonho não se desiste
quando cada tijolinho é pedra
como que feita de fé.
Dor crônica.
Espero o descanso da noite como o bebê faminto pranteia pelo seio materno.
Não há descanso no seio da noite, e a minha dor não cessa.
Então espero que o sol traga alívio em seus raios quentes.
Nasce o sol, e minha dor é maior que ontem.
Espero então pela chuva.
Espero que a orquestra de gotas tocando a superfície das coisas me deem a distração necessária para não sentir tudo isso.
Chove, e a música da chuva não me anestesia o corpo, ao menos tenho a desculpa aceitável de estar sem condições de outra coisa.
E a sinfonia necessária para fazer relaxar a decepção da alma.
Tenho na chuva o direito comum de dormir. Como se tudo fosse preguiça.
Medico-me e durmo. E acordo sem a obrigação de acordar como quem descansou.
É dia de chuva. É permitido ser improdutivo.
Posso oferecer ao meu corpo tudo o que ele precisa, e que será minimamente suficiente.
E isso me torna como todos os outros irmãos meus.
Sem culpa, e sem cansaço.
Não faz sentido algum pedir para alguém triste não chorar.
O ar é para os pulmões.
O riso é para a alegria.
O alimento é para a fome.
E a lágrima é para o dia da aflição.
Eu quero menos selfies e mais carimbos feitos com as mãos.
Quero menos Photoshop, mais chantilly nos beiços.
Estou trocando o contraste virtual das imagens por formatos de desenhos em nuvens.
Eu quero o cheiro da grama cortada.
O gosto do chá de quintal.
Quero um banho com roupa e tudo.
E uma festa onde a tecnologia não seja convidado.
Eu sei que minha vida social nunca foi uma rede.
Redes tem muitas tramas, e eu sou gente de laços rústicos.
Minha vida social é bordado, tipo toalhinha de crochê.
Pontos arrojados, belos, delicados e imperceptivelmente desiguais.
A minha teimosia é crônica.
Sim! Absolutamente crônica.
...ou você acha que foi com uma mente volátil e um caráter dobre que eu cheguei até aqui?
Sou a teimosia em pessoa.
Sou a teimosia enraizada.
Sou aquela mão que agarra um galho em meio a correnteza.
Sou aquela flor que nasce apesar do asfalto.
Sou onda do mar contra rochedos.
Sou a palmeira suportando os ventos.
Quem me olha e não me vê quer podar minhas raízes.
Quem me vê apesar da superfície sabe que há vantagens em tudo isso.
A minha teimosia é a raiz de uma personalidade forte, que sobrevive apesar da superficialidade que o mundo exibe.
Existem tantas coisas com uma beleza aparente que nada vale; e tantas coisas que nada aparentam e são preciosas.
Peço constantemente a Deus que me dê seus olhos para discernir o que é, o que tem potencial de ser, o que nunca foi, e o que poderá deixar de ser.
Somos matéria e também sofremos transformações, nem sempre pra melhor.
Somos matéria e nem sempre entendemos o que os olhos veem.
Há lindas joias finamente lapidadas e frágeis, e falsas.
Há pedras brutas soterradas por aí sem que ninguém as admire, até que alguém encontre e reconheça sua pureza e valor.
Ah meu coração! Se soubesses ser ourives...
São tantos os falsários!
Porque os meus sonhos são maiores do que o que vocês veem, e a minha realidade é esse intervalo entre os anestésicos.
Porque o que se vê em mim é mais do que posso, e o que posso é bem menos do que sou.
Deem-me o benefício da paz de não haver tantas especulações sobre minha conduta.
Deem-me a paz de extrair dessa dor a sensibilidade de alguns versos, e anestesiar meus anseios numa canção leve.
Eu tenho atração por pessoas de gentileza inata.
Aqueles que tem um sorriso no canto dos olhos até quando há uma lágrima dentro da alma.
Tenho paixão pelos que optam pela modéstia.
Gente que tem a elegância de ser feliz dentro uma vida simples.
Amo as simplicidades da vida.
Eu gosto de gente que não aproveita tudo o que encontra, mas valoriza o que seleciona.
Gosto de gente que seleciona.
Aqueles que são seletivos tem consciência do seu valor, e do valor das coisas duradouras.
Eu gosto das coisas duradouras. São carregadas de afetividade e resistência.
Valorizo a permanência.
Existe um mistério inerente em permanecer, que faz toda simplicidade do mundo ser uma amostra da eternidade.
Pensando bem... Exatamente!
Gente que tem olhos para o eterno.
Esse é o meu tipo favorito de gente.
As pessoas se abraçam
se beijam
Se tocam intimamente
Entre amigos
Com amantes
E até com estranhos
As pessoas beijam
Coitam
Apertam as mãos.
É uma distância na alma que nos tira o sentimento de irmãos.
Biscoitos vagabundos. É o que temos pra hoje.
Biscoitos vagabundos mastigados sem vontade.
E cobertores desbotados. Meia dúzia deles.
É o que temos.
Mentira!
Temos dúzias de compromissos. Trabalhos, estudo, promessas.
Temos também convites.
E temos vontades.
Além disso tudo, temos um sentimento de culpa.
Culpa por não gostar da bolacha.
Bolacha que muitos no mundo não tem.
Culpa por não estar estudando.
Culpa por não ter aceitado convites.
Culpa por estar descansando no domingo.
Dia de descanso não é pra não fazer nada.
Culpa, por estar dormindo o sono que fugiu ontem.
Culpa por não ter ajeitado o cabelo.
Culpa por não estar apresentável.
Culpa por não estar de joelhos.
Domingo é dia de ir a igreja.
Temos além de toda culpa, um sentimento de dor.
Dói os joelhos, e travam os artelhos.
Dói os dedos, e palpita o seio.
Dói os ombros, e dói a raiz dos cabelos.
Dói saber que a dor é cronica.
Cronica deveria ser a minha harmonia com a rotina.
Vontade de viver é o que temos pra hoje. Mas só vontade.
Quem convive com impossíveis, sobrevive da honestidade.
Vontade de comer é o que temos pra hoje. Mas só vontade.
A bolacha é horrível. E eu tão ingrata, sou ainda mais.
Necessidade de estudar é o que temos pra hoje. Mas só necessidade.
A memória é ruim, a concentração trava.
Necessidade de socializar é o que temos pra hoje. Mas só necessidade.
A dor cansa; a canseira da sono; o sono tem vontade própria.
Biscoitos vagabundos; cobertores desbotados; uma porção de compromissos; um cansaço enorme; convites rejeitados; dor generalizada; uma multidão de sonhos,ansiedade; e uma insônia cobrada.
É o que temos pra hoje. Mas são só necessidades.
A urgência da nossa alma, é abrir o coração honestamente; assumir nossas culpas; e confiar em milagres.
É muita gente falando muito.
E ouço sempre as mesmas coisas.
É muita gente procurando pouco.
E devolvendo o que não é tudo.
Eu falo tudo.
Não digo nada.
Quero tudo.
Não procuro.
E desse pouco que sou e que recebo, não me solto.
Quase todo mundo é de alguém, mas quase todo alguém já foi de meio mundo.
Eu que já muitas vezes pertenci a quem não tive. E fui fiel a sentimentos que ainda terei.
Eu, tão simples, e de sentimentos tão rudes.
Eu é que sou solidão?
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