Rubem Alves Saudades
A inveja que os outros têm nunca me fizeram mal e muito menos bem. Do contrário só amarguram seus corações e envelhecem suas almas.
VULTO
Em um sonho
Acordado
Dourado
Caminho risonho
Um pouco tristonho
Deixado
Trancado
Escuro medonho
Na sombra te vejo
Sem medo desejo
Teu corpo tocar
No escuro traquejo
Um novo lampejo
Não posso alcançar
PECADO CAPITAL
És meu pecado capital, e a cama
É a nossa sentença predileta
Quando a rosa arrebenta, nossa chama.
Não te preocupas em fazer dieta.
E se no cio, dilaceras a flama.
Sentem que braços, o teu corpo fleta.
Desmaias lentamente, não reclama.
Destrói as curvas, se mantendo reta.
Nesses delírios dormes, lentamente;
E o teu seio, a palpitar fremente
Roça leve, a espuma do colchão,
E o lençol, no tapete rente
Vai ser puxado, e novamente.
Sente receio de responder: Não!
SAUDADE!
l
Sorrindo você partiu
Nem um adeus tu me deste.
Se chorei, você não sabe.
Porém esta dor me cabe.
Sei que tu esqueceria
Daquele bonito dia
Que juras tu mim fizeste.
ll
Sofro minha dor calado
Soluço, mais não reclamo...
...Se esta dor não demora
Pois é mais feliz quem chora.
Me deixarias vencido
Se me disestes no ouvido
É a você que eu amo.
lll
Se teu amor não mereço
Para que ter teu sorriso?
Se longe de ti padeço!
Sem amor, sem paraiso,
Se teu amor não me cabe
De nada mais eu preciso.
MARIA
(Á uma amiga morta de afogamento)
Foi num dia frio
Que morreu Maria
Sobre as aguas frias
De um malvado rio.
Vida que sumiu
Rosa irradia
Como a noite fria
Ou manhã de estio.
Teu tristonho fim
Deixa sobre mim
O padecimento.
Vida que sumiu
Olhos que não viram
O teu sofrimento.
SAMIRA!
Samira pensou que era
Um bonito beija-flor,
Esperou a primavera
Sentir das rosas o odor.
Samira tentou voar
Mais sem ter asas caiu
Ficou num canto a chorar
Pena foi, mas ninguém viu.
Samira agora era rosa
A primavera acabou!
Samira, pobre, sem prosa
Sentou num canto e chorou.
Samira agora se esquiva,
Agora seria o mar;
Novos horizontes se abriam
Nova forma desonhar.
Desceu a grande montanha
Nas àguas, ela se mira
Ninguém viu sua façanha,
Nunca mais se viu Samira!
Você Pra Mim Já Era!
Você pra mim já era
Você pra mim morreu
O amor q eu lhe tinha
Já dessapareceu.
Não nego, eu gostei de vc
Mis isso já passou
As aparências enganam
E você mim enganou.
Siga seu caminho
Eu seguirei o meu
Tu vais ficar aquir
Quem vai partir sou eu.
Foi bom ter terminado agora
Nem eu perdi nada
Nem você perdeu.
MORTE!
Negro destino, que nos lança a sorte,
Quando a vida perfídia, a morte enserra,
Este cutelo, que nos faz o corte
Estigía maltita, que no mundo erra.
Do velho fraco, ao prebeu mais forte,
No seu delírio, no seu viver de guerra
Deixa um rastro de sangue, seu transporte
Do mais baixo monte, a mais serra
Nos seus olhos de fogo, delirante
Tem a chama que nasce do perdão
E uma seta de fogo, a cada estante;
No delirio que sai do coração
Leva a vida, deixa uma saudade
Uma dor, um elo de emoção.
BUSCA
Procuro no escuro
um amor,
Saindo, caindo
Na dor.
Vivendo, querendo
Te ver
Sonhando, amando
Você.
Querendo, Morrendo
Sem Luz,
Achando, chamando
Jesus.
Delírio, suspiro
Da alma
Que vém do além
Pra manter
Minha calma.
Em busca, constante
Se vai,
Em pranto, do canto
Não sai.
OUTRA VEZ!
Outra vez quero amar
Adorar o que resta
Outra vez sem chorar
Lamentar já não presta.
Outra vez quero ouvir
Repetir, que te amo.
Outra vez, vou sentir.
Iludir, quem eu chamo.
Outra vez quero ter
Só você, para mim,
Outra vez, vou viver.
Sem sofrer, sem ver fim.
Outra vez vou falar
Vou rimar, sem receio,
Outra vez vou calar
Ao olhar pro teu seio...
