Pensamentos Mais Recentes
Amigos,
Em jardins de risos e silêncios,
Florescem laços invisíveis,
Não contados,
não possuídos, Apenas sentidos, como brisas leves.
Não tenho ideia quantos são,
Pois contar é limitar,
E amizade é vastidão, Um campo sem fronteiras.
Amigos quero aqueles que dançam No ritmo do agora,
Que se alegram na presença,
Sem razão, sem demora.
Gostar de estar, mais que gostar,
É um querer sem nome,
Um encontro de almas,
Que se reconhecem no olhar.
E assim, seguimos, Sem posse, sem pressa,
Apenas sendo,
E nada mais.
RPC - 20/07/24
Roberval Pedro Culpi
Presente
Vivemos presos ao passado, em dor,
Mágoas, culpas, frustrações a nos guiar,
E ao futuro olhamos com temor,
Ansiedade e medo a nos cercar.
Esquecemos que o tempo é o presente,
É nele que habitamos, que vivemos,
E viver o agora, plenamente,
É a chance de sermos o que queremos.
No presente, a vida se revela,
É nele que a felicidade mora,
Deixemos o passado, a dor que sela,
E o futuro, com seus medos, lá fora.
Vivamos o presente, sem mais demora,
Pois só nele a alegria se revela.
RPC 24/06/24
Roberval Pedro culpi
SONETO DO PRESENTE
No cárcere do ontem, almas presas,
Mágoas e culpas, sombras a vagar,
E o amanhã, com suas incertezas,
Ansiedade e medo a nos cercar.
Esquecemos que o agora é o que existe,
É nele que pulsamos, que vivemos,
E no presente, o coração insiste,
É então que em sonhos florescemos.
No instante, a vida se revela,
É aí que a alegria se esconde,
Deixemos o passado, sua cela,
E o futuro, com seus medos, responde.
Vivamos o presente, sem mais demora,
Pois só nele a felicidade se esconde.
Roberval Pedro Culpi
MEMENTO MORI 2
No silêncio da noite, a lua observa, Cada suspiro, cada sonho que se reserva. O tempo, um rio que nunca cessa, Leva consigo memórias, em sua pressa.
Pensamos que a vida é um caminho linear, Mas é um labirinto, cheio de mistérios a desvendar. Cada passo, uma escolha, um destino a traçar, E a sombra da morte, sempre a nos lembrar.
“Memento mori”, ecoa no vento, Um sussurro antigo, um sábio lamento. Não é só um aviso da finitude, Mas um convite à plenitude.
Esqueça o medo, abrace o agora, Pois é no presente que a vida aflora. O passado é um eco, uma sombra distante, E o futuro, um sonho, uma promessa vibrante.
Roberval Pedro Culpi
MEMENTO MORI
Pensamos que a sombra se aproxima, Mas, na verdade, ela já nos envolve. O tempo que escorreu, não nos pertence mais, É da sombra, que tudo recolhe.
Os anos que respiramos, já se foram, Até quem éramos ontem, já se desfez. A vida autêntica é o presente que abraçamos, É o agora, o instante que vivemos de vez.
“Memento mori”, sussurravam os sábios antigos, Não só um lembrete da brevidade da vida, Mas que estamos desvanecendo, dia após dia, E o passado, nas mãos da sombra, jaz escondida.
Esqueça o que foi, o que já se perdeu, O passado não vive, não mais nos molda. Olhe adiante, viva o agora com paixão, Pois só no presente reside a verdadeira canção.
Roberval Pedro Culpi
SER PAI
Na dança da vida, um passo surpreendente,
A paternidade veio, de repente.
"Preparado?" perguntei, com um sorriso irônico,
"Claro, como os
peixes para voar."
A vida, com seu charme, se instalou em mim,
E com ela veio a esperança enfim.
"Amor por um filho," dizem, "é o maior que há,"
Mas eu, que amo-me tanto, como quem já sabe.
Com o tempo, compreendo, ou pelo menos acho,
Que a paternidade é um caminho que se faz.
É um desafio, é uma jornada sem fim,
Mas com cada passo, aprendo a dar um sorriso.
Porque sou pai, e isso é mais do que tudo,
É amar mais do que eu mesmo, é ser mais do que eu.
Roberval Pedro Culpi
MANHÃ DE INVERNO
Amanhece o dia de inverno, Nasce o sol dourado no horizonte, Antevendo um dia frio e iluminado, Onde o brilho aquece o coração errante.
Os raios tímidos tocam a terra, Despertando a natureza adormecida, Em cada folha, um reflexo de esperança, No ar gelado, a promessa de um novo dia.
O céu se pinta de cores suaves, Um espetáculo de luz e serenidade, E mesmo no frio, há calor na alma, Pois o sol, com seu ouro, traz felicidade.
Roberval Pedro Culpi
TENDE PIEDADE
Sede piedosos, acima de tudo piedosos, com aqueles pobres diabos que cruzaram seu caminho,
e não deixaram marca alguma,
nem sequer o rastro que até os vermes o fazem,
tamanha a sua insignificância.
Tende piedade destes homens pequenos, que independentemente de estatura,
foram sempre baixos, como assim eram baixos seus instintos e suas ações.
Decerto que também se avie, de tanto cercado de mediocridade, não passes a sê-lo também, porque se a altivez exige dedicação e persistência, a insignificância lhe cai de forma rápida e quase imperceptível.
(Livremente inspirado no Soneto da Piedade
de Vinicius de Moraes)
RPC 14/08/2024
Roberval Pedro Culpi
Título: Amor clichê
Verso 1: Amar é encontrar no outro o seu lar
É sentir o coração bater mais forte só de olhar
É viver um sonho, um conto de fadas
É saber que juntos, não há nada que nos separe
Refrão: Amar é acreditar no impossível
É ser feliz só por estar ao seu lado
É viver cada dia como se fosse o último
Amar é tudo, é o nosso destino traçado
Verso 2: Amar é caminhar de mãos dadas na chuva
É sorrir sem motivo, só por te ter aqui
É enfrentar o mundo, sem medo, sem dúvida
É saber que o amor é a força que nos guia
Amar é mais que palavras podem dizer
É um sentimento que não se pode esconder
É a luz que brilha em nossos corações
Amar é viver, é a mais linda das canções
Refrão: Amar é acreditar no impossível
É ser feliz só por estar ao seu lado
É viver cada dia como se fosse o último
Amar é tudo, é o nosso destino traçado
Final: Amar é você e eu, juntos para sempre
É um amor eterno, que nunca vai acabar
Amar é o que nos faz completos
É a razão de tudo, é o nosso amar
Roberval Pedro Culpi
SEXTOU
O sol se despede, dourando o horizonte,
A semana se curva, cansada, ao crepúsculo.
Nas ruas, murmúrios de liberdade,
A cidade respira um alívio coletivo.
SEXTOU, o grito ecoa nas almas,
Como um pássaro que se liberta da gaiola.
Os relógios se tornam cúmplices,
Marcando o início de um sonho compartilhado.
A noite veste seu manto estrelado,
Promessas de risos e encontros ao luar.
Os corações dançam ao ritmo da esperança,
Embalados por melodias de alegria.
SEXTOU, o tempo se dilata,
Os minutos se tornam eternos instantes.
A rotina se dissolve em brumas,
Dando lugar ao improviso e à magia.
Os bares são templos de celebração,
Onde brindes selam pactos de felicidade.
A vida se revela em cores vibrantes,
Num quadro pintado com tintas de eternidade.
SEXTOU, a alma se renova,
Como a lua que se refaz a cada ciclo.
O fim de semana é um oásis,
Onde descansamos e nos reencontramos.
Então, celebremos a sexta,
Com a leveza de quem sabe viver.
SEXTOU, é o mantra que nos guia,
Para um amanhã repleto de possibilidades.
Roberval Pedro Culpi
MADRUGADA DE NATAL
Ouve -se ao longe gemidos
O silêncio no corredor impera
A vida, a morte em atritos
Mas é o bem que se espera.
Noto pessoas, famílias, fatos
Cada um com seu problema
Somos complexos mas fracos
A soberba: nosso maior dilema.
Do maior ao dito desprezível
Desejamos a mesma sorte
Aqui não existe status nem nível
Toda máscara cai diante da morte.
Levy Cosmo Silva
A escolha é o pouco que temos para corrigir as curvas de um passado programado, onde ainda é possível mudar.
Envelhecer
Me chamarem de velho não me ofende; pelo contrário, me dá um certo orgulho. Afinal, sobrevivi a tantas tempestades, atravessei desertos e venci batalhas. Cheguei até aqui, vivo e lúcido, para discernir que envelhecer é uma verdadeira conquista.
Cada ruga, uma história; cada fio de cabelo branco, uma lição.
O tempo é um escultor invisível, que molda nossa essência com esmero e paciência.
Envelhecer é como carregar um baú de preciosidades: memórias, aprendizados e afetos que formam a riqueza de uma vida bem vivida.
Ser chamado de velho é, na verdade, ser reconhecido como um sobrevivente, um guerreiro que navegou pelos mares tempestuosos da existência e chegou ao porto com um sorriso no rosto e um coração cheio de sabedoria.
Que venham os anos, trazendo mais aventuras e experiências, pois envelhecer é, acima de tudo, viver intensamente.
Roberval Pedro Culpi
PEDAÇOS
Espelhos mágicos de manhã me espreitam,
Estranhos lá dentro me evitam.
Quem é esse? Serei eu?
E o reflexo mergulha no breu.
Há um eu que se esconde, risonho,
Falante, faceiro, alegre sonho.
Entre goles e risos, no bar,
Aparece, dança, e logo se vê a desandar.
Sou mil eus, fragmentos dispersos,
Em cada canto, em cada verso.
Talvez um dia, num encontro louco,
Todos se juntem, em harmonia e socorro.
Mas hoje, sou multidão e eco,
Ressaca de eus, a seco,
A vida segue, quebra-cabeças sem fim,
Cada pedaço, uma parte de mim.
RPC 24/10/2024
Roberval Pedro Culpi
REENCONTRAR
Versos soltos pelo vento,
Vago no mar do tempo,
Sou sombra do que já fui,
Em caminhos que desencontro.
Essência evaporada, perdida,
Num caleidoscópio de sonhos,
Colorido que se esvai,
Preciso me reencontrar.
Pintar de novo as manhãs,
Com cores de esperança,
Coração que pulsa vida,
Em harmonia e dança.
Sigo nessa estrada incerta,
Procuro em mim o brilho,
Faço da jornada a meta,
Renascer é meu trilho.
E em cada passo, revivo,
Nas notas de uma canção,
Buscando o que é perdido,
Em eco e ressurreição.
Roberval Pedro Culpi
"Um ano tem 365 dias...se for bissexto 366.
Mas uma coisa garanto: 😍
Nenhum dos dias o pôr do sol é igual a qualquer outro." ( Levy Cosmo Silva
Delicadamente ofensivo
- Você é um eterno aprendiz, todo dia precisa aprender a mesma coisa.
- O silêncio é a sua melhor qualidade.
- Gosto do seu raciocínio, mostra que vc tem os 2 pés no chão e as mãos também.
- Em algum lugar do mundo existe uma árvore que recicla o ar que você respira; encontre-a e peça desculpas.
Roberval Pedro Culpi
O tempo e a dor
Dizem que o tempo cura,
Mas não é bem assim que acontece
A dor verdadeira perdura,
E como um jardim ela floresce.
É um desafio constante,
Mas não traz alívio pleno,
Se o tempo fosse um calmante,
Não haveria dor nem veneno.
A passagem do tempo nos prova,
Mas não apaga o sofrimento,
Se fosse o tempo uma droga nova,
Não existiria lamento.
Roberval Pedro Culpi
Argumentação Complementar ao Pensamento de Virgínia Woolf
A lucidez sobre a fragilidade da existência, como descrita por Woolf, pode ser interpretada não apenas como fonte de tristeza, mas também como um convite a uma libertação paradoxal. Ao reconhecer que a vida não se sustenta em grandiosidades épicas ou em felicidade perene, descobrimos que sua beleza reside justamente na efemeridade e na imperfeição. A consciência da finitude não precisa ser apenas um peso, mas pode ser o que nos ensina a valorizar os "pequenos momentos insignificantes" como únicos e insubstituíveis.
Se o amor não é um conto de fadas, sua fragilidade o torna mais precioso — não porque dura para sempre, mas porque, justamente por ser passageiro, exige presença e cuidado. Se a felicidade é fugaz, sua raridade a torna mais intensa quando surge, como um raio de luz em meio à escuridão. A solidão do entendimento, por sua vez, pode ser o preço da autenticidade: ao nos afastarmos das ilusões coletivas, ganhamos a chance de viver com maior profundidade, mesmo que isso nos separe superficialmente dos outros.
Nesse sentido, a tristeza de saber demais não é o fim da experiência, mas seu verdadeiro começo. Ela nos tira do automatismo e nos coloca diante da vida como ela é — frágil, transitória e, por isso mesmo, digna de ser vivida com atenção e coragem. A melancolia de Woolf não é um beco sem saída, mas um portal para uma existência mais consciente, onde cada instante, por mais breve que seja, ganha significado precisely porque não durará. A verdade pode doer, mas também nos liberta para encontrar beleza no efêmero e significado no que, de outra forma, pareceria insignificante.
Roberval Pedro Culpi
ENFIM 40
Sabe como eu me sinto?! Que "a vida começa aos 40".
Pra falar falar a verdade me sinto mais forte, leve e seguro do que quando eu tinha 20 ou 30. Só tenho que agradecer a Deus por ter chegado até aqui. " Até aqui nos ajudou o Senhor".
Parece algo tão distante, mas, acredite, é um "piscar de olhos".
Parece até que foi ontem que eu era ainda menino.
A vida não é linear como pensamos. Na verdade, são composições de fases, transições que nos vão levando a um destino... Ciclos com inícios e términos baseados em escolhas, onde cada escolha, por mais simples que seja, tem peso decisivo no resultado de sua vivência.
Se me arrependo de escolhas que fiz??! Sim, muitas! Às vezes até me lamento por isso... Se no passado eu tivesse a experiência que tenho hoje não teria errado tanto, teria feito tudo diferente ( assim dizemos nós.
Mas se não fossem os aprendizados que tivemos durante a vida, por mais dolorosas que tenham sido, teríamos a experiência e clareza que temos hoje?
Nos perdoem crianças por sermos cuidadosos, às vezes até exageradamente. Vocês não gostam quando "pegamos nos pés de vocês " mas é que não queremos que sofram como nós sofremos, nem passem o que nós passamos.
Hoje eu olho para uma criança, adolescente , um jovem e me vejo. Hormônios "a flor da pele", achando que sabem tudo, que viver o hoje é o bastante... mas o tempo passa e, acredite, é um "piscar de olhos" e chegará o tempo que você vai olhar para trás e vai dizer :
" Parece que foi ontem em que eu era apenas um menino. "
O Trabalho: Castigo, Dever ou Libertação?
Desde os primórdios, o trabalho carrega uma dualidade: ao mesmo tempo que é visto como necessidade e fonte de dignidade, também aparece como fardo e punição. Essa contradição atravessa séculos, moldando nossa relação com o labor até os dias atuais.
O Trabalho como Maldição: A Herança Religiosa
Na tradição judaico-cristã, o trabalho surge como castigo divino. Após a expulsão do Éden, Deus diz a Adão:
> *"Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste tomado."* (Gênesis 3:19)
Nessa visão, o trabalho é uma penitência pelo pecado original, algo a ser suportado, não celebrado. Essa ideia ecoou por séculos, associando o labor ao sofrimento e à submissão.
Da Servidão à Virtude: O Trabalho na Modernidade
Com o capitalismo emergente e a Reforma Protestante, o trabalho ganhou novo significado. Para pensadores como Martinho Lutero e João Calvino, o labor tornou-se um dever moral, uma forma de servir a Deus. Já no século XVIII, o filósofo Adam Smith via o trabalho como fonte de riqueza das nações, enquanto Karl Marx o entendia como alienação sob o sistema capitalista, onde o trabalhador vende sua força de produção em troca de sobrevivência.
O Trabalho Hoje: Entre a Exploração e a Realização
Hoje, o trabalho é glorificado como sinônimo de identidade (o que você faz da vida?*"), mas também é precarizado como nunca. Vivemos em um mundo onde:
- O "sonho" do emprego estável se esvai com contratos temporários e gig economy (Uber, iFood, etc.);
- A produtividade tóxica nos faz acreditar que quem não se mata de trabalhar é "fracassado";
- A espiritualidade capitalista transformou o trabalho em missão (ame o que você faz) enquanto salários não acompanham o custo de vida.
Será que romantizamos o trabalho a ponto de justificar exploração? Por que, mesmo com avanços tecnológicos, trabalhamos mais do que nunca?
É Possível Resignificar o Trabalho?
Se antes ele era visto como maldição, depois como virtude**, e hoje como obrigação neoliberal, talvez seja hora de repensar:
- E se o trabalho não fosse apenas um meio de subsistência, mas parte de uma vida com sentido?
- E se a automação e a redução da jornada nos libertassem para viver, e não só para produzir?
- Por que ainda aceitamos que milhões labutem em condições análogas à escravidão, enquanto poucos acumulam riquezas absurdas?
O trabalho não precisa ser um fardo eterno – mas, para isso, precisamos questionar quem se beneficia do modo como ele está organizado.
No fim, a pergunta que fica é:
Trabalhamos para viver ou vivemos para trabalhar?*
Roberval Pedro Culpi
🔥
Extinção
No princípio, era só um risco dourado,
um fio de luz tecido na noite.
Celebramos com copos cheios,
como se o tempo fosse nosso.
A festa não tinha relógio nem espelho,
e aquele brilho, suave no início,
cresceu até ofuscar o sol —
mas quem notaria, entre risos e canções?
Até que a manhã veio sem aurora,
o ar pesado de silêncio e pó.
O horizonte tremeu, devagar,
e então soubemos: era o adeus.
A terra gemeu longe, muito longe,
mas o vento trouxe o fim em segredo.
E nós, criaturas de outro tempo,
ficamos só — cinza e ossos —
enquanto o mundo seguia, indiferente.
E assim, sob outros céus,
outras criaturas,
tão sábias quanto nós,
continuam a festa,
sem ver o fogo que se aproxima.
Roberval Pedro Culpi
Pense nos outros
Amanhã, quando você acordar,
pense nos outros —
naqueles que nem dormiram,
e nos que não acordarão.
Quando abrir a torneira,
e a água cair como um milagre,
lembre-se dos rios secos,
das mãos vazias,
dos lábios rachados
à espera de uma gota.
Quando vestir suas roupas,
pense nos corpos invisíveis,
nos que se cobrem com o vento,
nos que carregam o frio
como uma segunda pele.
Quando mastigar o pão,
imagine os pratos vazios,
os estômagos que aprendem
a digerir o nada.
E se, ao sair de casa,
o sol lhe beijar a testa,
lembre-se dos que caminham
sob o mesmo céu,
mas não enxergam luz —
apenas a sombra
de um dia igual a todos.
Amanhã, quando você respirar,
pense nos pulmões que esqueceram o ar,
nos peitos que já não se levantam,
na vida que escorre
entre os dedos da noite.
E então, talvez,
o surreal seja isto:
o mundo que cabe
numa xícara de café,
enquanto do lado de fora
o infinito
espera
por um olhar.
Roberval Pedro Culpi
Um dos maiores erros da História é expor o"Apartaide", o Holocausto e a Escravidão como se fossem coisas do passado, com datas de início e fim. Na verdade, elas estão ainda bem presentes: a diferença é que hoje eles mudaram para uma abrangência bem maior, o cunho social.
**Saudades do Futuro**
Planejei tantas manhãs
— cada gesto, cada riso —,
o jeito que te olharia,
o adeus que seria um início.
Desenhei estradas,
hotéis baratos,
noites sem destino,
e um café frio entre teus dedos.
Mas o trem não passou,
ou passou e eu dormia.
O mapa ficou velho,
a mala empoeirou.
Agora chovo em dias certos,
guardo horários de partidas,
e sinto, estranha saudade
do que nem chegou a ser vida.
Talvez num outro tempo,
numa esquina não prevista,
eu quem sabe encontre
o futuro que ainda exista.
Roberval Pedro Culpi