Quase Morto

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O que é velho está morto ainda que o novo não tenha nascido.

Ter má fama quando morto não me importa.

Nenhum homem, a não ser um morto-vivo, se pode sentir ancorado nesta vida.

No porta-retrato
um tempo respira,
morto.

Ao bom homem nada de ruim acontece, nem vivo nem morto.

Se seu coração estivesse realmente quebrado, você estaria morto. Então cala a boca.

Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade...

Não dá para viver sem um truque. Eu me declarei morto. É uma sensação tranquila essa da gente se saber morto. Clandestino morto. Insuspeitado morto. Na tripulação do mundo já não me sinto comprometido com nada, mas continuo como testemunha do espetáculo. Não mais como cúmplice e nem vítima. Este é o meu truque.

O velho marciano morto, nunca pensara nisso, ele não parecia que um dia iria morrer. Isso alterava fundamentalmente a sua vida? Ou não lhe traria sequer a mais ligeira modificação no modo de ser e encarar as coisas - sempre fora, era assim, sempre seria, ele vivendo, a morte do pai já em sua vida incorporada. Mais uma época ali se encerrava? Acaso não vivia sempre encerrando épocas e inaugurando outras? De onde vinha? para onde ia? Que sentido tinham as coisas? Nenhum, nenhum , se dizia, sentindo finalmente seus olhos se encheram de lágrimas.

Lamento do oficial por seu cavalo morto


Nós merecemos a morte,
porque somos humanos
e a guerra é feita pelas nossas mãos,
pelo nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra,
por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens
que trazemos por dentro, e ficam sem explicação.


Criamos o fogo, a velocidade, a nova alquimia,
os cálculos do gesto,
embora sabendo que somos irmãos.
Temos até os átomos por cúmplices, e que pecados
de ciência, pelo mar, pelas nuvens, nos astros!
Que delírio sem Deus, nossa imaginação!


E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha, que, enganada,
recebes. Não te queixas. Não pensas. Não sabes. Indigno,
ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração.
Animal encantado - melhor que nós todos!
- que tinhas tu com este mundo
dos homens?


Aprendias a vida, plácida e pura, e entrelaçada
em carne e sonho, que os teus olhos decifravam...


Rei das planícies verdes, com rios trêmulos de relinchos...


Como vieste morrer por um que mata seus irmãos!


(in Mar Absoluto e outros poemas: Retrato Natural. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983.)

Seu pecado é como uma cadeia, só que ele é lindo e confortável, não há necessidade de sair, a porta esta aberta. Até que um dia, o tempo se esgota... e a porta da cela se tranca, então, é muito tarde...

Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Em qualquer situação, eu aprendi o segredo. Seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso em Jesus Cristo, aquele que me fortalece.

É curioso ver que quase todos os homens de grande valor têm maneiras simples; e que quase sempre as maneiras simples são tomadas como indício de pouco valor.

Quem não tem um objetivo quase nunca sente prazer nas suas ações.

Os costumes, cuja excelência torna o governo quase inútil e cuja corrupção o torna quase impossível.

Um amigo durante a vida é muito; dois é demais; três quase impossível. A amizade exige um certo paralelismo de vida, uma comunhão de ideias, uma rivalidade de objectivos.

A maioria das mulheres quase não têm princípios: conduzem-se pelo coração e, quanto aos seus costumes, dependem daqueles a quem amam.

SOB ESCOMBROS

Um tempo houve em que,
de tão próximo, quase podias ouvir
o silêncio do mundo pulsando
onde também tu eras mundo, coisa pulsante.

Extinguiu-se esse canto
não na morte
mas na vida excluída
da clarividência da infância

e de tudo o que pulsa,
fins e começos,
e corrompida pela estridência
e pela heterogeneidade.

Agora respondes por nomes supostos,
habitante de países hábeis e reais,
e precisas de ajuda para as coisas mais simples,
o pensamento, o sofrimento, a solidão.

A música, só voltarás a escutá-la
numa noite lívida,
uma noite mais vulnerável do que todas
(o presente desvanecendo-se, o passado cada vez mais lento)
um pouco antes de adormeceres
sob escombros.

De duas ou mais dores simultâneas, a nossa atenção escolhe uma e quase esquece as outras. Na ruína do nosso tempo, vê se escolhes o mais importante dela. Evitarás assim o ridículo de chorar a perda de um alfinete numa casa que te ardeu. E a História olhar-te-á com simpatia - talvez vá mesmo para a cama contigo.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

O mundo é mesmo feio como o pecado,
e quase sempre tão delicioso quanto ele.