Quando a Gente se Encontrou
Manifesto: Quero o meu lado mulherzinha de volta
(ou em outras palavras: até que ponto a gente sabe administrar o rebolado?)
Primeiramente devo dizer: a culpa não é de ninguém. Não me atirem pedras nem queimem meus sutiãs, que me são tão raros, caros e meus. Ando pensando muito sobre a questão ying/yang na sociedade e dentro de nós (minha monografia foi sobre a revolução feminina e a repercussão na publicidade atual) e o que eu vejo não são mulheres independentes e felizes com seus novos papéis, nem homens satisfeitos com um ter-que-ser que não combina com seus antigos moldes. O que enxergo são homens e mulheres perdidos e insatisfeitos, loucos por colo e amor, loucos por si só e loucos de saudade. Sim, loucos de saudade. Eu quero ser mulher de novo, estou cansada de virar homem tantas vezes por dia, tendo que resolver a vida e o mundo. Tenho que trabalhar, pagar contas, impostos, saber tudo sobre contabilidade, escrever, recitar Vinicius, ter uma bunda dura, um cabelo macio, quinhentos e cinqüenta e cinco cheiros gostosos pelo corpo, pés e mãos bem-feitos, saber o que está passando no cinema, ler de Sartre a Vogue, ajudar família, amigos, colocar os quadros novos na parede, responder e-mails, saber se o chassi do carro foi adulterado (!?) e estar linda e com a pele fresca quando aquela pessoa que você joga charme há meses te chamar pra sair. Ok, você toma banho em segundos, reclama com sua mãe pelo telefone enquanto decide o que vestir (a eterna dúvida do primeiro encontro) e tenta se focalizar em ser mulher. Apenas mulher. (Mesmo que tenha um bilhete em cima da mesa dizendo para entrar em contato com o contador com a máxima urgência). Máxima urgência? E o interfone toca e você está com duas blusas na mão, nenhum sapato no pé e uma interrogação bem no meio da maquiagem. O espelho não mente: você está ligeiramente linda, confusa e cansada. Mas pega a bolsa e vai... (Afinal, arriscar é viver!). No elevador você pensa, enquanto dá o ar da graça com o eterno blush (amigo de todos os posts e horas): o mundo está invertido ou será que sou eu? E você não encontra respostas mas encontra o cara. Parado. Mudo. Com um olhar bonito e alguma expressão que você não entende. Aí te vem a mesma imagem de minutos atrás: olha o ponto de interrogação bem no meio da cara dele... O cara não sabe o que fazer. Não sabe se abre a porta do carro, se escolhe o restaurante, se te beija, se te come ou manda embrulhar, se leva flores no dia seguinte, se conversa sobre poesia, sobre filhos ou musculação, tudo porque está na dúvida se você vai achar lindo ou vai rir na cara dele. Tudo porque ele está perdido, mas... Caramba! Você também está. Não sabe se ele tem a mente aberta igual aparenta ou se é mais careta que seu pai. E ninguém se percebe. O cara te acha inteligente, gostosa, divertida e acha que você é moderna demais pra gostar de uma mensagem fofa no dia seguinte. Meninos, é mentira. A gente gosta. Tem gente que pode não gostar, mas eu gosto. Vivemos num momento de transição e conflitos, fica difícil entender. Nada mais normal. Eu, por exemplo, trabalho, tenho minha casa, sou forte por acaso mas tenho meu lado mulherzinha que não me deixa. Sou emotiva, sensível, choro à toa, rodo a baiana, mas espero o telefone tocar, tenho meus nhem-nhem-nhens e estou cansada. Cansada de ser racional. Cansada de tomar iniciativa, cansada de ser homem em cima do salto 15. Por isso, em nome do meu equilíbrio, da falsa modernidade e dessa bagunça que virou um simples abrir ou fechar de portas, eu me atrevo a dizer: toda mulher tem seu lado mulherzinha. Rapazes, sejam fortes e persistentes! Nós somos complicadas mas contamos com vocês!
Tem muita gente contaminada pela mais grave manifestação do vírus - a aids psicológica... Do corpo, você sabe, tomamos certos cuidados, o vírus pode ser mantido a distância. E da mente? Porque uma vez instalado lá, o htlv-3 não vai acabar com as suas defesas imunológicas, mas com suas emoções, seu gosto de viver, seu sorriso, sua capacidade de encantar-se. Sem isso, não tem graça viver, concorda?
Você gostaria de viver num mundo de zumbis? Eu, decididamente não. Então pela nossa sobrevivência afetiva - com carinho, com cuidado, com sentimento de dignidade - ó gente, vamos continuar namorando. Era tão bom, não era?
Quando tá tudo indo bem, eu sempre tenho a sensação de que alguma coisa, no fundo, tá muito errada. Sei lá, é como se um relacionamento saudável fosse impossível no meio dessa merda toda, e quando eu não posso ver os erros, eu fico com essa certeza de que estou sendo enganada. E fico procurando, investigando, revirando o mundo pra encontrar os vacilos, mentiras, motivos pra terminar.
Um dia a felicidade encontrou um homem
e lhe entregou uma pequena maleta.
-Carregue nessa maleta apenas o Essencial
e você será muito feliz!
O homem perguntou:
-Mas o que é Essencial?
-Não se preocupe, respondeu ela,
Você terá uma vida inteira para descobrir!
Uma palavra bonita
Que a ti foi dita,
Mas que não encontrou o seu coração,
Será classificada como um esforço em vão.
Tem gente querendo agradar a Deus não comendo carne hoje. Tenho um conselho melhor: leia a Bíblia e lute pra obedecê-la todos os dias.
Respeitando a crença-cultura alheia, mas o processo de santidade não é feito por dia 'x' ou dia 'y'. A santidade tem que ser buscada TODOS OS DIAS.
Acontece uma coisa quando a pessoa engravida. Ninguém fala sobre isso. Você fica um pouco de luto. Você fica de luto pela pessoa que costumava ser. Porque o fato é que não importa o quanto queira ser mãe, você nunca mais deixará de ser.
Incertezas.
Outro dia, estava eu na estação da Luz esperando o trem para ir trabalhar, quando no meio daquela multidão, uma moça me chamou a atenção.
Ela não era bonita nem bem vestida, muito menos parecia saudável ou simpática. Era séria, cara amarrada! Expressão sombria. Parecia até personagem de filme de terror!
Fique receosa de observá-la, parecia tão mal! Magrela, meio curvada, a cara da fraqueza! Pele bem branca, aparência de morta, cabelo bem preto, opaco. Talvez ela viesse de algum enterro...
Algo horroroso cercava aquela garota! Havia uma nuvem negra acima de sua cabeça e era quase visível.
Mais alguns minutos esperando o trem, eu a fitava mais fixamente. Fiquei pensando o que levava aquela jovem àquele estado! Tão triste, evidentemente doente! Mil pensamentos me invadiram. Criei mil vidas e mil desgraças para cada vida. "Que terrível! Que dó!" - O barulho que anunciava a chegada do trem calou meus pensamentos.
O trem finalmente abriu as portas e lá estava a garota, caminhando depressa. Notei algo diferente: ela tinha uma tatuagem, nas costas, em cima. Bem visível.
Tinta preta (que parecia ainda mais escura ressaltada em sua pele pálida), letras grossas e redondas. Três palavras: "tudo vai passar".
Tudo-vai-passar. Me atingiu como um soco de direita!
Talvez ela estivesse suportando aquilo com todas as forças e quem sou eu para julgá-la?! Talvez aquela fosse sua cruz. E eu? Posso ser a garota triste do trem amanhã. Será que eu, justamente eu, que pensei mil coisas a respeito da garota, suportaria? Percebi que diferente de mim, a garota de pele branca e cabelos negros tinha a convicção de que toda a dor passaria e logo logo estaria bem.
Envergonhada, abaixei a cabeça e entrei no outro vagão, onde percebi que uma moça com olhos espertos me olhava evidentemente com pena da minha perturbação. Eu não teria uma tatuagem para fazê-la perceber mas talvez um dia, ela também aprenda: cada um suporta - ou não - como pode.
As portas se fecharam.
Há sentido na vida quando não sabemos do futuro e assim podemos modificá-lo com nossos pensamentos, nossos atos, nossas palavras e nossas orações.
E a gente é assim: briga, fica de mal, fica um tempo sem se falar. A gente sempre acaba, mas nem dá tempo de respirar e olha só, a gente já tá se amando.
Quando eu fui,
Você veio,
E a gente se encontrou
assim:
SEM FREIO
SEM RECEIO
SEM BLOQUEIO
Tinha outro MEIO?
A gente sabe que encontrou a pessoa certa quando tem liberdade de dizer a essa pessoa coisas que até então, só confiaria a si mesmo.
O luto é um labirinto, quando a gente acha que encontrou a saída, caímos no olho do furacão.
Edelzia Oliveira.
Pedir ajuda não é a mesma coisa que desistir. É se recusar a desistir.
Eu aprendi que é melhor ficar sozinho. Sem ninguém pra atrapalhar. Relacionamentos são muito difíceis.
Não é esquisito? Só podemos nos ver por fora, mas quase tudo acontece do lado de dentro.
Ser gentil com você mesmo é uma das maiores gentilezas.
Às vezes o simples ato de se levantar e seguir em frente é algo corajoso e grandioso.
