Próprio

Ninguém se conhece tão bem como aquele que mais desconfia de si próprio.

Quando um personagem nasce, adquire imediatamente tal independência inclusive do seu próprio autor, que pode ser imaginado por todos em tantas outras situações em que o autor não pensou inseri-lo, e às vezes pode adquirir também um significado que o autor jamais sonhou em dar-lhe!

Um homem que se dobrou a si próprio nunca poderá endireitar os outros.

Um anão sobre os ombros de um gigante pode ver mais longe que o próprio gigante.

Cada homem age por si, segundo um plano próprio, mas o resultado é uma ação social, em que outro plano, externo a ele, se realiza; e com os fios crus, finos e desfeitos da vida de cada um, se tece a teia de pedra da história.

No mau é que está o seu próprio inferno.

Cada um é criador do seu próprio destino.

O homem está sempre mais descontente com os outros quando se acha menos contente consigo próprio.

O erro próprio dos artistas é acreditarem que fariam melhor meditando do que experimentando. (...) É fazendo que se descobre aquilo que se quer fazer.

Cada ciência, cada estudo, tem o seu próprio e ininteligível calão, que apenas parece ter sido inventado para evitar as aproximações.

Quem não dispõe de reservas em si próprio, é assaltado pelo aborrecimento que o espreita e em breve o dominará.

O dever dos juízes é fazer justiça; a sua profissão, a de deferi-la. Alguns conhecem o próprio dever e exercem a profissão.

É próprio de um herético, quer dizer, daquele que tem uma opinião particular, aferrar-se às suas próprias ideias.

Talvez que o mal no universo não passe de uma censura que Deus faz a si próprio.

Cumpre em relação aos outros aquilo que só a ti próprio prometeste.

O amor é muito mais exigente do que ele próprio supõe: nove décimos do amor estão no enamoramento, um décimo na substância amor.

O trabalho de um homem é mais o suplemento necessário dele próprio do que o resultado disso.

Quem se mata corre atrás de uma imagem que forjou de si próprio: as pessoas matam-se sempre para existir.

A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor-próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.

É mais fácil perdoar os danos do nosso interesse que os agravos do nosso amor-próprio.