Professor Carlos Drumond de Andrade

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A MENINA E A ÁRVORE

⁠Desprevenido, plantei-te!
Sem escavar sequer um palmo
De terra do fundo germinador.

Quando brotaste o tronco esguio
E os ramitos
Pequenitos
Numa manhã chuvosa,
Custosa e fanhosa
De um Março marçagão,
Colei a minha trémula mão
À tua tão pequenina,
Magrinha,
Comprida, de pianista.

Parece impossível!
Haverá alguém que resista...

Deste-me na minha um esticão,
Como a querer fugir de mim.

Tomei isso como premonição
Negra,
Amarga
E fúnebre.

Continuas com a tua mãozita pequena
Da tua árvore a envelhecer
De madura,
No tronco e nos ramos
Mas com as maçãs tão verdes,
Ácidas,
Intragáveis.

Tão inutilmente
No perto,
Longe
De mim.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 06-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

NOVOS TEMPOS VIRÃO

⁠Há tempos atrás dos tempos,
O vento sussurrou-me ao ouvido:

" O sol vai deixar de brilhar!
A lua, viúva, de negro vai ficar!
A chuva, disse-me, vai mirrar!
Eu, por mim, estou a esvaziar!
O céu, vai cair a arder,
No leito seco do mar!
As montanhas irão desmoronar!
Os prados verdes vão crestar!
As árvores, de podres, irão chorar!
Ouvir-se-ão estrondos de terrificar!
Ficarão inertes as aves e os peixes
Sem ar, sem água, a agonizar! "

Carrancudo, perguntei ao vento:
" Ouve lá, ó vento, então eu quero saber:
Porque razão me estás a meter
Tanto medo de arrepelação !?...
Assim sendo, diz-me para onde vou,
Ou então!?...

Aí, o vento mudou de ouvido e segredou-me:

Alguns como tu, ficarão
Na nova terra que há de brotar
Das cinzas da ressurreição,
Onde não haverá castigo nem metas,
Apenas um tempo novo
Onde habitará um nóvel povo,
No promissor mundo dos poetas! "

(Carlos de Castro, In Há Um Livro Por Escrever em 08-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

DESCOBRIR A VIDA NA MORTE

Eu já faleci, há uns anitos...
Fizeram-me todas as encomendações
E recomendações conforme a fé familiar...
Segui, por fases, todos os trâmites legais
E funcionais, entre os quais:
Como era grande pecador,
Passei primeiro pelo crivo
Doloroso da peneira das penas do Inferno,
Que me chamuscava os sovacos da primavera ao inverno.

Passaram-me depois a outra repartição:
Esta, bem mais animadora,
Graças minhas a Nossa Senhora!
Eram os tempos do Purgatório,
Onde me fizeram purgar tudo e o acessório.
Mas, senhores, puseram-me tão magrinho!
Chegada a hora de melhor sorte,
Fizeram-me chegar de elevador ao piso seguinte,
Numa manhã luminosa e serena,
Ao Céu, aos Pés de Nosso Senhor da Boa Morte!
Olhou contristado para mim e falou:
Que purga! Que magrinho e tão tristinho!
Aí, eu fiz uma cara de anjinho e Ele continuou:
Rapaz! Vais ter direito a banho de sais e mais...
Vão dar-te calção de praia, óculos de sol e t-shirt.
Depois, vais mas é divertir-te!...
Respondi, com decisão:
Não, Meu Senhor!
Se estou no Céu, quero primeiro ver a minha mãe, meu pai, irmãzinha e tantos mais!
Não é que Nosso Senhor, começou a arrotar
E a deitar pelos olhos luzes fatais!?...
Sentei-me no chão e comecei a chorar, a chorar...cada vez mais!
Senti uma mão no ombro, tão leve e serena, como uma pena...
Era o Nosso Senhor a dizer: Vamos lá, rapaz, vamos à nossa vigília.
Não demora muito e verás a tua família. E eu sosseguei!...

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 09-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Dizem que a dor é tratável, mas o sofrimento não…
Se a dor é já sofrimento, trate-se os dois ao mesmo tempo, digo eu.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Uns gostam de mim com sal, outros com açúcar, a maioria prefere simples, ao natural, tal como sou, sem corantes, conservantes e outros colantes.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠LEVANTAI-VOS

Erguei-vos, ó almas massacradas idas,
Levantai-vos agora de mastro erguido
Como o pau das caravelas das investidas
Que vos roubaram a liberdade sem sentido.

Que heróis seriam agora os matadores,
Homens sem estrada,
Sem rumo,
De uma bravura louca, exacerbada?

Apenas peças de xadrez seis,
Dos reis e gentes de outras greis,
Em aventuras mesquinhas
Na mesa jogadas ao acaso
Decidido o abate no xeque-mate,
Dos negros, índios e raças de outros sóis
Idas brancas, tostadas e mongóis.

E assim , pergunta um poeta ao mundo:
Será que o descobrir é mais profundo
Que achar por sorte das encruzilhadas
Terras havidas, nascidas e já achadas?

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 04-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠MAR LONGE DE TÃO PERTO

Um dia destes vou morrer, ó mar...
Sem te poder sequer avisar
Ou mandar um recado pelo ar
Pela terra e não por mar,
Que mar já és tu tão distante
Deste meu penado cante,
Poema ao longe sem te abraçar.

O que me fizeram, ó mar!?...
Agora que não tenho força de andar
Para sentir-te num solfejo
E amar a areia que amas num beijo.

Manda uma concha da tua água até mim,
Que mate a sede dos meus pés
E abrande a minha mágoa sem fim.

Que a tua água salgada
Seja cura abençoada
Das chagas deste meu ser
Um pouco antes de eu morrer
Na cama deste poema,
Dilema sempre de mim.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 05-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠“⁠CAMAS FLAMAS E GELO
Dormem e derretem de tão quentes,
Nas camas de colchão
Altos, fofos e gostosos,
Bem cheirosos
A traques de amor por ereção.
Por entre gritos esganiçados
Da aceitação dos sémenes conspurcados,
Lá vão…
Na lascívia da podridão.
E a cenografia deste ato
Primeiro, de apresentação,
Após o intervalo,
Vai ter o segundo,
Na forma de um falo
E dará, de facto
E com novo fato,
Lugar a outra versão.
Ei-la, então:
Na cama, dois bonecos,
A jogar matrecos,
Como dois recos
Marrecos,
Possuídos,
Parecidos
Com australopithecus
De há milhões de anos idos,
Na forma rudimentar
De ficar aos urros, após copular.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro por Escrever, em 08-02-2023)”

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠COPIANÇOS

Tantos a querer copiar
Episódios,
De uma vida
De história sofrida,
Para atingir certos pódios
Mais altos, mas de maior caída.

Pobres tontos, ai se soubessem
O princípio dum meio sem fim,
Talvez alguém estarrecesse
E se afastasse de mim.

Ainda se fossem copistas
Daquilo que não escrevi
Por respeito ao que não senti,
Vá lá, ó malabaristas.

Cada vida, é uma história
E se não me falha a memória,
Será sempre intransmissível.

Querer ser,
Sem ser,
É impossível.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 11-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

CARTA A UM AMOR IMPOSSÍVEL

Escrevi-lhe uma carta, numa tarde de verão,
E meti-a no correio pela minha própria mão.
Esperei,
Desesperei
E quase endoideci
Por não obter resposta.

Em mim, fez-se depressão.
Comecei a ter vida de inferno,
Quando me entregaram na mão
Numa manhã fria de inverno,
A carta que eu tinha
Tão perfeitinha,
Escrito numa tarde de verão...

Vinha, ainda por abrir,
Suja, enrugada,
Já de cor amarelada
Como filha pródiga a vir.

No verso, no lado contrário,
Li, em letras garrafais,
Que foram para mim fatais:
"Desconhecida no destinatário”.

(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 11-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

INSÓNIAS

⁠Toda a prava madrugada
Libertina e devassada
Sem assentar olho no sono
Que não me quer como amante,
Talvez por eu ser tão distante
Das carícias de tal mono.

Sono, meu repouso sem esperança
Em vez de me trazeres bonança
Vais-te vingando de mim,
E assim:
Fazes-me sonhar acordado
Com tristes e murchas flores,
Ossos em desalinho,
Velas sem chama, a arder.

Fica descansado, podes crer:
Os ossos, sou eu a crescer
Até morrer
Velhinho,
As flores,
São os meus amores,
Vou regá-los com carinho,
As velas, são a luz do meu caminho.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 12-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Durante anos, a minha boca e o meu coração foram amantes inseparáveis.
Hoje, sinto que os dois estão numa fase adiantada de divórcio.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠⁠Voltando ao assunto, decidi escrever sobre o contrário da inveja.
Seja por ciúme ou ganância é um pecado horroroso, e o suprassumo da cobiça, desejar algo que o outro possui.
Somos presos à tudo que o dinheiro pode proporcionar, mas quem não quer "comprar felicidade"?
Para a grande maioria, a vontade de ter é sempre maior do que a vontade de ser.
E como diz o velho e bom ditado: a grama do vizinho é sempre mais verde.
O nosso celular perde a graça assim que alguém nos apresenta a nova versão.
Isso é tão vazio, afinal de contas a nova versão de tudo aparece com velocidade cada vez maior.
No Google não consegui achar uma palavra exata para definir o antônimo da inveja, mas gostei de desprendimento.
Acho que quando a gente consegue se desprender das coisas, a inveja não acha lugar no nosso coração.
Como dizem por aí, os grandes prazeres da vida estão nas coisas mais simples.
Nesse sentido lembrei de um cena do filme Forrest Gump (O Contador de Histórias), quando o grande amor da vida do Forrest estava no leito de morte. Ele contou para ela dos grandes momentos que viveu, e todas as ocasiões narradas refletiam a contemplação da natureza.
Então acho que é simplesmente isso. Para acabar com esse desejo humano interminável de ter, devemos contemplar o que nos cerca. Talvez essa atitude seja suficiente para nós, com a mente quieta e em paz, tentar achar o prazer em meramente ser.
Depois que postei o que escrevi em um grupo de whatsapp de amigos de infância, Roberto São Thiago, me deu uma definição muito melhor para o contrário da inveja, a admiração. Por isso, cheguei a conclusão que sou exageradamente invejoso, admiro poucas pessoas.
E tenho dito.

Inserida por CarlosEduCarvalho

⁠Bom, falando sobre o contrário avareza. Já tratei desse assunto quando analisei um pensamento do "Guru" Chico Xavier, mas agora trato diretamente desse pecado capital. Acho que ser avarento deve ser ruim demais. Imagino que essa pessoa acorde, passe o dia e durma pensando em como não gastar seu rico dinheirinho com todos que o cercam, sejam familiares ou amigos, e ainda deve pensar em como poupar seu importante tempo em coisas que considera fúteis. No dicionário de antônimos achei a palavra matadora, generosidade. Entendo que uma pessoa é generosa quando, em detrimento de si, oferece ao outro ser humano uma coisa que possui, seja em grande ou pouca quantidade, para que o outro possa se satisfazer. Isso é ser magnânimo, um antônimo de avarento. Isso não tem relação só com o dinheiro. Imagine você dando alguma coisa que pode te fazer falta! Doando parte do seu prato de comida, doando seu tempo, escutando com paciência, dando um abraço com amor ou perdoando com paz no coração. Generosidade é tão amplo que atinge tanto humanos, quanto animais, plantas, céu e mar, terra e ar. A pessoa utopicamente generosa é a doação encarnada, é o ser que todo bom ser humano procura dentro de si. É aquele que está atrasado para o trabalho e para tudo para ajudar alguém. É aquele que carrega ração e água dentro do carro para ajudar os cães de rua. É a pessoa que participa de alguma campanha de doação ajudando moradores de rua e ainda participa na distribuição dos alimentos. É o que participa de ONGs de recuperação da fauna e da flora. É o que pesca e devolve o peixe para o mar. É o cara que tem um carro elétrico para não poluir o planeta. É o que separa seu lixo por amor aos catadores e ao nosso mundo. Tomara que seja uma geração que está próxima. Enfim, tentar ser generoso é o próximo passo para ser uma pessoa melhor. Finalizando, cito a passagem Bíblica onde Jesus repreende um jovem rico, que diz ter feito tudo segundo as escrituras para entrar no treino dos céus, mas foi incapaz de vender tudo que tinha para dar aos pobres. " É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus" (Evangelho de Marcos 10,23). E tenho dito.

Inserida por CarlosEduCarvalho

⁠POESIA FRIA

Que fria,
A minha poesia…
Até parece que no meu inverno
Interno,
Ela deveria
Hibernar
E ficar
Sempre naquele letargo,
Sem me dar o amargo
De continuar
A enregelar
Corações
Quentes,
Amantes
Diferentes,
De outras poesias
Menos frias
De emoções,
Porque a minha,
Coitadinha,
Tão mesquinha,
Vive só de ilusões.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 15-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠INSPIRAÇÃO

Quando tu queres,
Eu fujo...
Quando eu entro,
Tu sais.
Isto, é triste, é demais!

É casamento desfeito
Sem reconciliação
Ou perdão,
Nem jeito
De nos tornarmos a amar.

A voltar
A acertar
O tempo certo
No nosso relógio de vida,
Neste destino tão incerto
Da minha relação
Vivida,
Trágica,
Quase autofágica,
Com a minha inspiração.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 16-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠DA GRÉCIA HELENA

Um dia, de noite,
Pela madrugada
Afogueada,
De lua cheia,
Eu vou raptar-te,
Ó, minha moça, sereia,
Para amar-te,
No meu castelo de areia.

Contigo, beber o vinho da loucura
Num desejo insano de ternura,
Em cama armada de dossel,
À luz da lua embriagada
Pelo sol, ao vê-la excitada,
Por um cálice de licor de mel.

Um dia, de noite,
Pela madrugada,
Sem se dar conta de nada,
Eu irei raptar-te,
Adorar-te,
Como obra de arte
Roubada,
Ó, minha moça morena,
Da Grécia, Helena,
Minha eterna e doce amada!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 17-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

MARIA DA FEIRA SANTA

⁠Meu longe à beira, paraíso,
Minha Feira amada,
Pelo rio Cáster banhada,
Que revives em pleno juízo
Os tempos antes de nós.

És mais velha que as árvores
Que te dão cor e refrigério,
Mesmo à sombra do castelo
De tantos louvores
E amores
Tão sós,
Na tua casa, meu eremitério.

Quando choras, eu choro também
No pranto de quando falta alguém
Nos torreões do castelo
Velho,
Magicamente tão belo.

Quando ris com rosto que encanta,
Eu rio também
Como ninguém,
Maria da Feira Santa.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 20-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Se gosta verdadeiramente de poesia e antes de consumi-la, deve primeiro agitá-la, sentir-lhe o cheiro a pureza natura e só depois tragá-la, bebê-la, em dose própria, de preferência, sem outra adição de fármacos.
Contraindicações: Pode, por vezes, causar mal-estar, náuseas, tonturas, diarreia, a chamada caganeira à moda antiga, vómitos que podem trazer sapos engolidos há muito tempo e, pior ainda: síndromas de inveja mesquinha que pode causar "Onicofagia" é o termo médico e técnico para nomear o hábito de roer as unhas, podendo ser das mãos ou até mesmo dos pés. Às vezes, esse hábito passa a não ser de apenas roer as unhas, mas também roer a ponta dos dedos (e sei lá mais de quê...digo eu!)
Última prescrição: Deve ser só administrada em SOS, quando o paciente está mesmo em ânsias extremas de injeção da dose habitual...

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Nunca aproves nem reproves aquilo que escrevo, sem primeiro estudares ou tentares, pelo menos, adivinhar a razão do espírito que eu senti no momento em que escrevi.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

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