Posso ser Legal posso ser Chata

Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.

Posso resistir a tudo, menos à tentação.

Posso resumir em três palavras o que aprendi sobre a vida: a vida continua.

Faço com os meus amigos o que faço com os meus livros. Guardo-os onde os posso encontrar, mas raramente os utilizo.

Só acredito naquilo que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet.

A não violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível.

Não posso imaginar que uma vida sem trabalho seja capaz de trazer qualquer espécie de conforto. A imaginação criadora e o trabalho para mim andam de mãos dadas; não retiro prazer de nenhuma outra coisa.

Posso partilhar tudo, menos o sofrimento.

Posso perdoar a força bruta, mas a razão bruta é uma coisa irracional. É bater abaixo da linha do intelecto.

Que a inspiração chegue não depende de mim. A única coisa que posso fazer é garantir que ela me encontre trabalhando.

Não posso ensinar a falar a quem não se esforça por falar.

Posso compartilhar as dores das pessoas, mas não os seus prazeres. Existe algo curiosamente aborrecedor na felicidade alheia.

O amigo é-me querido, o inimigo é-me necessário. O amigo mostra-me o que posso fazer, o inimigo, o que tenho de fazer.

Eu posso não ter ido para onde eu pretendia ir, mas eu acho que acabei terminando onde eu pretendia estar.

Eu posso mudar. Eu posso viver da minha imaginação ao invés da minha memória. Eu posso me amarrar ao meu potencial ilimitado ao invés do meu passado limitado.

Eu escrevo o meu nome nos livros que compro apenas depois de os ter lido, porque só então posso dizer que são verdadeiramente meus.

A ideia de Deus é, confesso, o único erro que não posso perdoar ao homem.

Ao longe, lá no briho do sol, estão minhas mais sublimes aspirações. Posso não alcançá-las, mas consigo olhar para o alto e ver suas belezas, acreditar nelas, e tentar seguir por onde elas me guiam.

Posso duvidar da realidade de tudo, mas não da realidade da minha dúvida.

Posso simpatizar com a dor de uma pessoa, mas não com os seus prazeres. Há algo de rigorosamente monótono na felicidade dos outros.