Porque sou assim
Sou viciante, mas não passo de um início mal-feito. Vicio por dias seguidos, causo mal em dobro. Sou um acordo sem assinatura. Mistérios, quem sabe alguém desvende. Entediante, mas avassalador, talvez. Ainda que alguém tente me acompanhar ando em ritmo acelerado, mas em compensação corro vagarosamente. Ser preguiçoso, mas investigador. Procuro as coisas, mas sempre as perco minutos após. Meio-termo, vanglorioso. Orgulho na pele, indecisão na ponta da língua. Não sei o que falar, mas entendo muito bem o que sou capaz de ouvir. Sou mais do que um título, mas nunca serei uma história. Capacidades eu tenho guardadas no meu armário, aos montes. Mas como todo armário, uma bagunça. Não sei o que vestir, mas sei me conservar. Sou um ser, mas nunca fui alguém. Ninguém me nota, mas me questionam. Complicado, sim. Complicações aos montes. Canetas, lápis, borrachas. Algo inapagável, mas impossível de ser escrito. Sim, sou este meio-termo que tanto venho a te explicar, mas como sou metade, nunca completo. Sou meio-alguém, por falta de alguém. É, talvez seja isso, a falta que me traz metade, metade que só se completa por outro batimento. Metáforas ditas que em meio as palavras haverá alguém a minha espera. E espero eu que não aguente mais esperar. Porque eu não me entendo, aliás, ninguém entende. Como disse-lhe, sou entendiante, meio-termo. Sempre a dúvida estará por cima de qualquer outro porém. E tu nunca me compreenderás. Porque tua sabedoria é pouca demais para desvendar um mistério pela metade.
Não sou perfeita, nem dona da verdade, mas descobri que sou dona de mim e das minhas vontades... Então não espere que eu me esforce para te agradar, minha vida não depende de suas aceitações!
Não sou mais meu, mas Teu! Coloca-me onde Tu quiseres, no lugar que Tu quiseres, para trabalhar ou para sofrer, exaltar-me ou humilhar-me.
Sou Gavião fiel de origem louco
Nada bobo, não brigo pelo jogo, sou fogo contra fogo
Mais vale uma familia e um qualquer no bolso
Will soltou uma risada curta e incrédula.
— É verdade — concordou. — Não sou nenhum herói.
— Não — disse Tessa. — É uma pessoa, assim como eu.
Os olhos de Will examinaram o rosto da menina, mistificados; ela apertou um pouco mais a mão dele, entrelaçando os dedos nos dele.
— Não vê, Will? Você é uma pessoa como eu. Você é como eu. Fala as coisas que eu penso, mas que nunca digo em voz alta. Lê os livros que leio. Gosta das poesias que gosto. Me faz rir com suas músicas ridículas e com a maneira como enxerga a verdade de tudo. Tenho a sensação de que pode olhar dentro de mim e ver todos os lugares onde sou estranha ou diferente e adaptar seu coração, pois você é estranho e diferente da mesma forma — com a mão que não segurava a dele, ela o tocou na bochecha, levemente — somos iguais.
Os olhos de Will tremeram e fecharam; ela sentiu os cílios nas pontas dos dedos. Quando ele falou novamente, a voz estava áspera, porém controlada.
— Não diga essas coisas, Tessa. Não diga.
— Por que não?
— Diz que sou um bom homem — falou ele. — Mas não sou um homem tão bom. E estou... estou catastroficamente apaixonado por você.
— Will...
— Eu a amo tanto, tanto, tanto — continuou — e quando fica perto assim de mim, esqueço quem você é. Esqueço que pertence a Jem. Eu teria de ser a pior pessoa do mundo para pensar o que estou pensando agora. Mas estou.
— Eu amava Jem — declarou Tessa. — Ainda amo, e ele me amava, mas não sou de ninguém, Will. Meu coração é meu. Está além do seu controle. Está além do meu controle.
Sou o maior mentiroso do mundo. É bárbaro. Se vou até a esquina comprar uma revista e alguém me pergunta onde é que estou indo, sou capaz de dizer que vou a uma ópera. É terrível.
Eu? Eu não sou somente boa. Sou uma pessoa muito bonita. Generosa e linda – e quem aguentar, aguentou. Como prêmio, terá meu amor. Saberá da minha verdade. Dará boas gargalhadas. Mas terá que suportar uma boa dose daquilo que sinto. Pois, apesar de tudo ser diversão, nada é simples. Nada é pouco quando o mundo é o meu.
Sou louca, tenho risada ridícula, sou pateta, sou insensível, posso ser antissocial, posso amar em segredos, posso ser quem quer que eu seja, mas vivo em um mundo onde eu mesma faço as minhas regras!
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Sou poeta
No rumo da rima.
Sou repentista
No ramo do rimador.
Sou devaneio
Vivendo por cima.
Sou egoísta
Não divido minha dor.
SOBRE MIM.
Não sou de brincadeira quando falo sobre mim, afinal, eu mereço ser levada à sério. Respeito pra mim é essencial. Sou do tipo que valoriza o olhar mas que ainda carrega um gesto tímido na fala. Tenho um jeito marcante que ao mesmo tempo em que aproxima, afastam muitos. Talvez por medo, talvez por inveja, tudo depende da intenção de cada um. Sempre fui certa nas minhas atitudes, direta nas minhas opiniões e errada nas minhas decisões. Mas nunca, nunca alguém me viu de braços cruzados, disfarcei-me de cega, mas sempre observei passos errados. Quem me conhece sente saudades. Sou dia de sol misturada de uma grande tempestade.
Oh sim, eu sou o grande fingidor
Fingindo que estou bem
Minha necessidade é tanta que eu finjo muito
Pois estou sozinho mas ninguém percebe.
O gótico
Eu sou o poeta da escuridão
que semeia em frios jardins
flores mortas
com as pálidas mãos
Sou o ser escuro
que vigia a noite
com o olhar de vampiro
buscando encontrar a beleza
que se esconde em cada sombra
Meus olhos pintados de preto
vêem o que não pode
ser visto
pelos olhos mortais
Eu sou a bruma noturna
o ouvido dos
Gárgulas
nas catedrais
Eu vagueio nos céus escuros
onde os olhos dos
corvos
brilham
no mágico crepúsculo
Nas trevas
vejo a luz
que poucos ainda
produz
e na terra onde os seres
do dia
rastejam
plano suavemente com
minhas asas de
anjo negro
Minha solidão
devora as horas
esperando o dia terminar
até cair sobre mim
o manto da noite
onde sonho acordado
sem despertar
Meus versos escritos
com sangue
deslizam como uma chuva tépida
nos prédios abandonados
onde deixo o lamento de um mundo
doente
gravado
Doenças deixadas pelos seres
do dia
que destroem o mundo
com sua ímpia enfurecida
Quem são os estranhos?
Ou seriam os loucos?
Deixe-me só com minha tristeza
pois o que resta é chorar
afinal, alguém precisa chorar
então
que seja eu
o ser da escuridão
o Nosferatu
Deixe-me acender minha fogueira
na terra das almas mortas
quero deitar-me sobre as lapides frias e tortas
deixadas pelos seres
de outrora
Deixe-me cantar
nas entranhas escuras
Close to me
o mundo está doente
talvez não há mais cura
alguém precisa chorar
então que seja eu
o ser da noite escura
