Poetas Espanhóis

Cerca de 49 frases e pensamentos: Poetas Espanhóis

Somos mais pais do nosso futuro do que filhos do nosso passado.

Inserida por pensador

A poesia não quer adeptos, quer amantes.

Federico García Lorca
Obras completas

Nota: Trecho da conferência "Imaginación, Inspiración, Evasión"

...Mais

O POETA PEDE AO SEU AMOR QUE LHE ESCREVA

Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de kordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

( tradução: William Agel de Melo )

Federico García Lorca
Obra Poética Completa

Soneto

Santa amizade, que habitar imitas
neste baixo, fingido, e térreo assento,
mas q tens por morada o firmamento
coas essências angélicas benditas.

De lá, por dó das térreas desditas
sonhosnos dás de alegre fingimento,
imitações do céu por um momento,
fugaz consolo ás regiões proscritas.

Volta, volta dos céus, pura amizade,
ou proíbe que a amável aparência
te usurpe a deslealpervercidade.

Confundida coa nobre e infame essência,
breve reverte o mundo á prisca idade;
volve o caos, é morta a Providência.

LA LLUVIA

La lluvia tiene un vago secreto de ternura,
algo de soñolencia resignada y amable,
una música humilde se despierta con ella
que hace vibrar el alma dormida del paisaje.

Es un besar azul que recibe la Tierra,
el mito primitivo que vuelve a realizarse.
El contacto ya frío de cielo y tierra viejos
con una mansedumbre de atardecer constante.

Es la aurora del fruto. La que nos trae las flores
y nos unge de espíritu santo de los mares.
La que derrama vida sobre las sementeras
y en el alma tristeza de lo que no se sabe.

La nostalgia terrible de una vida perdida,
el fatal sentimiento de haber nacido tarde,
o la ilusión inquieta de un mañana imposible
con la inquietud cercana del color de la carne.

El amor se despierta en el gris de su ritmo,
nuestro cielo interior tiene un triunfo de sangre,
pero nuestro optimismo se convierte en tristeza
al contemplar las gotas muertas en los cristales.

Y son las gotas: ojos de infinito que miran
al infinito blanco que les sirvió de madre.

Cada gota de lluvia tiembla en el cristal turbio
y le dejan divinas heridas de diamante.
Son poetas del agua que han visto y que meditan
lo que la muchedumbre de los ríos no sabe.

¡Oh lluvia silenciosa, sin tormentas ni vientos,
lluvia mansa y serena de esquila y luz suave,
lluvia buena y pacifica que eres la verdadera,
la que llorosa y triste sobre las cosas caes!

¡Oh lluvia franciscana que llevas a tus gotas
almas de fuentes claras y humildes manantiales!
Cuando sobre los campos desciendes lentamente
las rosas de mi pecho con tus sonidos abres.

El canto primitivo que dices al silencio
y la historia sonora que cuentas al ramaje
los comenta llorando mi corazón desierto
en un negro y profundo pentagrama sin clave.

Mi alma tiene tristeza de la lluvia serena,
tristeza resignada de cosa irrealizable,
tengo en el horizonte un lucero encendido
y el corazón me impide que corra a contemplarte.

¡Oh lluvia silenciosa que los árboles aman
y eres sobre el piano dulzura emocionante;
das al alma las mismas nieblas y resonancias
que pones en el alma dormida del paisaje!

⁠A felicidade eterna é ser poeta. O resto não tem importância, nem sequer a morte.

Inserida por apatiatropical

A balada da água do mar

O mar
sorri ao longe.
Dentes de espuma,
lábios de céu.

– Que vendes, ó jovem turva,
com os seios ao ar?

– Vendo, senhor, a água
dos mares.

– Que levas, ó negro jovem,
mesclado com teu sangue?

– Levo, senhor, a água
dos mares.

– Essas lágrimas salobres
de onde vêm, mãe?

– Choro, senhor, a água
dos mares.

– Coração, e esta amargura
séria, onde nasce?

– Amarga muito a água
dos mares!

O mar
sorri ao longe.
Dentes de espuma,
lábios de céu.

Inserida por apatiatropical

A Monja Cigana
Silêncio de cal e mirto.
Malvas nas ervas finas.
A monja borda goivos-amarelos
sobre uma tela de palha.
Voam na aranha cinza,
sete pássaros do prisma.
A igreja grunhe de longe
Como um osso pança acima.
Como borda bem! Com que graça!
Sobre a tela de palha,
ela quisera bordar
flores de sua fantasia.
Que girassol! Que magnólia
de lantejoulas e fitas!
Que açafrões e que luas,
no mantel da missa!
Cinco toranjas se adoçam
na cozinha próxima.
As cinco chagas de Cristo
cortadas em Almería.
Pelos olhos da monja
galopam dois cavaleiros.
Um rumor último e surdo
lhe descola a camisa,
e ao mirar nuvens e montes
nas árduas distâncias,
quebra-se o seu coração
de açúcar e lúcia-lima.
Oh, que planície íngreme
com vinte sóis acima!
Que rios postos de pé
vislumbra sua fantasia!
Mas segue com suas flores,
enquanto que de pé, na brisa,
a luz joga xadrez
alto da gelosia.

Tradução de Mª Clara M.

Inserida por apatiatropical

⁠Granada: humilde elegia
Tua elegia, Granada, a dizem as estrelas
Que furam desde o céu, teu negro coração.
A diz o horizonte perdido de tua vega,
A repete solene a hera que se entrega
À muda carícia da velha torre.
Tua elegia, Granada, é silêncio enferrujado,
Um silêncio já morto de sonhar.
Ao se quebrar o encanto, tuas veias sangraram
O aroma imortal que os rios levaram
Em borbulhas de pranto ao mar sonoro.
O silêncio da água é como um pó velho
Que cobre tuas ameias, teus bosques, teus jardins,
Água morta que é sangue de tuas torres feridas,
Água que é toda a alma de mil névoas fundidas,
Que transforma as pedras em lírios e jasmins.
Hoje, Granada, te elevas já morta para sempre
Em túmulo de neve e mortalha de sol
Esqueleto gigante de sultana gloriosa
Devorado por florestas de louros e rosas
Diante de quem vela e chora o poeta espanhol.
Hoje, Granada, te elevas guardada por ciprestes
(Chamas petrificadas de tua velha paixão)
Partiu já de teu seio o laranjal de ouro,
A palmeira extasiada do tesouro África,
Sobra somente a neve da água e sua canção.
Tuas torres são já sombras. Cinzas teus granitos
Pois te destrói o tempo. A civilização
Põe sobre teu ventre sagrado sua cabeça
E esse ventre que esteve grávido de ferocidade,
Hoje ainda que morto, se opõe à profanação,
Tu, que antigamente tiveste as avalanches de rosas,
Tropas de guerreiros com bandeiras ao vento,
Minaretes de mármore com turbantes de seda,
Colmeias musicais entre as avenidas
E lagoas como esfinges da água ao céu
Tu, que antigamente tiveste mananciais de aroma
Onde beberam reais caravanas de gente
Que te ofertavam o âmbar em troca da prata
Em cujas margens tingidas de escarlate
As viram com assombro os olhos do Oriente.
Tu, cidade do devaneio e da lua cheia,
Que alojaste paixões gigantescas de amor,
Hoje já morta, repousas sobre rubras colinas
Tendo entre as velhas heras de tuas ruínas
O sotaque dolorido do doce rouxinol .
O que se foi de seus muros para sempre, Granada?
Foi o perfume potente de tua raça encantada
Que deixando correntes de névoa te deixou:
Ou a tua tristeza é tristeza nativa
E desde que nasceste ainda segues pensativa
Enredando tuas torres com o tempo que passou?
Hoje, cidade melancólica do cipreste e da água,
Em tuas heras antigas se detém a minha voz.
Afunde tuas torres!
Afunde tua velha Alhambra
Que já murchinha e quebrada no monte se queixa,
Querendo desfolhar-se como flor de mármore.
Invadem com a sombra maciça os teus ambientes!
Esquecem a raça viril que te formou!
E hoje que o homem profana o teu encanto sepulcral,
Quero que entre tuas ruínas adormeça o meu canto
Como um pássaro ferido por um caçador astral
Tradução de Mª Clara M.

Inserida por apatiatropical