Poesias de Luis de Camoes Liberdade
Um Grande Sol Amarelo
Um grande Sol amarelo está a brilhar lá fora.
Seu brilho é intenso, nós estamos vivendo e o amor está nascendo. Brilha tanto quanto seus olhos; produz uma melodia como seu pranto e só quem ama entende este canto. Amarelo como uma das cores da bandeira, brilhante como você toda inteira. Bonito como o porto e o teu corpo subindo a ladeira. Oh que olhar tão ardente... Minha pele se arrepia inteira.
O Mestiço
O Mestiço, filho de escrava, filho de senhor;
Fruto da senzala, fruto de um proíbido amor;
Vive como rei, dorme como vassalo, pensa como conde, mas é a penas um escravo.
Sangue do meu Sangue
Escorres pelas minhas veias, És como cantos das sereias;
Força de uma família guerreira, vermelho muito vermelho...
Borbulhas e fazes bater meu coração, me dás toda a razão,
Me encorajas quando digo não, me dás forças nas minhas mãos, Vermelho muito vermelho...
Em comum com meus ancestrais, presentes no meu pai. Banda que mais se expande este é o Sangue do meu Sangue, Vermelho muito vermelho...
A Dama de Branco
Mulher de coragem,
Deusa do campo,
Cheia de amor,
Oh, Dama de Branco.
Grande mulher,
Determinada e comunicativa,
Grande Coração,
Garregou-me em seu manto,
Santa mulher,
Oh, Dama de Branco.
Bonita e Caridosa,
Solidária e Bondosa,
Tem um belo canto,
que acalmo os bichos e acalanta os anjos,
Deusa do Campo,
Oh, Dama de Branco.
A Tempestade
Olho para a janela vejo a chuva,
Olho para o chão vejo água.
Meu Deus que grande tempestade!,
Vejo pessoas saírem,
Fugirem da água.
Pois ela é muito forte,
Rega o Sul e o Norte.
A Ponte cai,
Você nela está,
O povo se preocupa,
Seu filho se põe a chorar.
Chuva maldita,
Levou mais uma vida.
Quando você vai parar?
Jogando no Campo
Meninos com a bola,
Outros no Balanço,
Os pais estão observando-os
Jogando no Campo.
Todos muito felizes,
O Sorriso transparece,
Cada olhar, cada sonho
Ali resplandesce.
Pés pequenos,
Gols mansos...
O Melhor presente para eles é estar
Jogando no Campo.
Eis que surge um ferimento,
Escuta-se um grande pranto.
A criança se machucou...
Jogando no Campo.
Mas eles não param,
Aquilo foi só um susto.
A diversão continua,
Todos dançando um mesmo canto.
Mas mesmo assim ainda estão...
Jogando no Campo.
Eles só querem brincar,
Aproveitar o tempo santo.
Pelo visto querem continuar...
Jogando no Campo.
Como o Fogo
O amor é como o fogo,
Queima e faz arder,
Mesmo sendo em demasia ele não faz doer.
Amar é um desafio,
O Mar dá arrepio.
O Beijo ascende a fornalha,
Olhar-te sem beijar-te é uma grande batalha.
Teus olhos me encantam,
Teus seios me chamam,
Teu corpo me atrai,
Você de mim não sai.
Vejo você passar,
Maravilhoso é te abraçar,
Ter você para sempre
E nunca mais lhe abandonar.
Não tenho medo
Não tenho medo da vida
E com ela bato de frente,
Tenho a guerra em meu sangue,
Tenho um coração valente.
Medo um dia tive,
Mas medo terei jamais,
Pois hoje aprendi viver,
E vi quanto sou capaz.
Em guerras mergulhei,
E me afoguei na solidão,
Vivia sempre tristonho
Pois não tinha mas razão.
Hoje seu feliz ,
Pois na guerra não tenho medo,
De contar os meus segredos,
De tudo que um dia fiz.
Penitência e mudez
Tenho andado esmaecido, às voltas e voltas
Como quem deita fora circunferências perfeitas
E de tanto girar, embranquecido me tornei.
Se não te encontrares, procura-me,
Se o acaso deixar
E se quiseres.
Dar-te-ei
Sangue e fogo,
A veias frias que tenhas cansadas;
O céu e asas,
A penas que tenhas inacabadas;
Rios e mares de noites estreladas,
E todas as estrelas que vires,
Serão tuas,
Se quiseres.
Apressa-te!
Tenho só os anos que me faltam viver.
Os outros,
Foram apenas preparo para te alcançar.
Enfim,
Nos resquícios dos meus sonhos,
Como ainda dormes, afago-te o sono
Enquanto, da seiva que me resta,
Vou banindo folhas débeis do outono
E até lá, serei penitência e mudez
E talvez,
Os restantes poemas de amor
Sejam todos para ti,
Se quiseres.
Amor Intemporal
Amor verdadeiro é intemporal.
É perdão, zelo e admiração!
É juntos, adoçar quilos de sal,
Porque a vida não é doce.
É o “para sempre”
Ser uma tela apenas
De histórias pintadas e plenas
De comunhão e liberdade pura
Que não se esquece, perdura.
Se árvores tiverem raízes,
De tal maneira entrelaçadas,
Que não hajam cicatrizes
De ventanias sopradas;
Se sorrisos conseguirem falar,
Se olhares puderem ler
Como o cego vê sem olhar
Sem uma palavra dizer...
Ele, o amor verdadeiro,
Tê-lo-ás encontrado!
Impossível esquecer!
Conseguir apagar tais pinturas
Era esquecer o verbo amar:
Gestos únicos, sorrisos, ternuras,
Abraços que fizeram acalmar,
Preocupações genuínas e puras,
Uniões de corpos difíceis de largar
Em telas que foram só para ti!
Não é possível, nunca vi!
Não se esquece o amor intemporal.
Aprendes sem ele, a estar só.
Podes até sentir poesia conjugal
Quem sabe até dar outro nó...
Mas aquele raro vinho,
O que bebes uma vez na vida,
Ficará, quer queiras ou não,
Na melhor prateleira do coração.
Amor verdadeiro é imune ao tempo.
Intemporal por isso...
Namoradeiras a valer
Abri a namoradeiras passadas,
Janelas de candura e ousadia,
Mas as vigentes namoradas
Melhor seduzem a poesia!
Tenho enredos num armário
Embalsamados e esquecidos
De tais esculturas num diário
De reais versos e vividos!
Da minha herética janela,
Tenho de ser cautela!
Não vá quem não deve, perceber,
Que o pasto dado, que desminto,
É de quem, do que foi a valer,
Está constantemente faminto.
Poetizando...
A chuva chora,
O vento assobia
À noite e à hora
Que um luar sorria
Ao poeta que namora
Uma fingida poesia.
Porém,
Se o negro acontece
E a claridade não vem,
A tinta implode, esmorece
E o poeta também!
Ou então,
Ele não acompanha
O que o pensar debita,
E o poeta estranha
Tão generosa escrita!
Ó poeta,
Bebe, fuma e come
Desamores e dilemas,
Cafeína, cigarros e poemas,
Senão morres à fome!
Sete plantas do meu canteiro.
Quem não ama o verbo plantar
E não vê plantas a poder amar,
É porque é louco ou nunca amou!
Amar plantas não é coisa de doidos
E doido é coisa que eu não sou!
A todas dei nome.
(... Caetana...)
Era perfeita! Em bruto, um diamante!
Mil jurados lhe bateram palmas de pé!
Só que o problema do “para sempre”
É ser coisa, que nunca o é.
(... Surya ...)
Olha-me, como se, em câmara lenta,
Pudesse com tal dócil e forte vontade
Dizer ao tempo: “aguenta, aguenta!”
Para um dia sermos unos, eternidade!
(... Laura ...)
Não há espigões, nós ou embaraços
Que mais amei e alguns lhe dei,
Porque outrora dos meus braços,
Foste errónea planta que plantei.
(... Débora ...)
De talo estranho e folhas doentes,
Busca-me chorosa, de hora a hora,
Como quem perde coisas frequentes
E depois de ser ralhada, chora!
(... Pilar ...)
Doce governanta a tempo inteiro,
Do cuidar e cantarolar certeiro
E talvez pela sua posição
Namoro-a um dia sim, e três não!
(... Renata ...)
De fraco porte, altiva e risonha,
Com um olhar seleto a vir de cima,
Como se não houvesse melhor rima
Que a minha poesia componha!
(... Leonor ...)
Verte um tal odor no meu canteiro,
Como se tudo fosse nada e ela veludo
Que supera todas as plantas no cheiro,
Querer, saber, beleza e talvez em tudo!
Rego-as amiúde, uma a uma,
Com o amor que pude e tenho,
Porque me dou a todas e a nenhuma
Dou o meu coração frio e estranho!
Naveguei demais...
Sei de uma pessoa
E essa pessoa sou eu,
Que em mares de lágrimas, vezes demais se perdeu.
Foram demais os desembarcadouros e cais
Onde pouco me dei e amei
E nos quais
Morri vezes demais!
E antes que morra de vez
A matar a sede em água salgada,
Queria um mar de rosas, não de estupidez!
Eu sou o mar, marujo de vocação e sem medos tais,
Que embarquei em começos e finais
Demais...
Cheirei maresias, mágoas e horas incertas,
Estive sempre aos meios-dias em praias opostas e múltiplas costas,
Sempre vazias...
Vacilei demais, remei demais, subtraí-me.
Fui, da minha conta, de menos e demais.
Naveguei muito além dela...
Perdoei tempestades e temporais,
Ignorei faróis, piratas, intuições e punhais,
Sempre demais...
Naveguei mares, rios, riachos e até lagunas.
Algumas foram lições, outras alunas
Demais...
Porque o mar não têm terra, só imensidão e gaivotas no ar,
Porque o rio lá vai como a lua, devagar
E o mar...
O mar é revolto, tem um cabo bojador e frio
E margens do rio
São fáceis de ancorar...
Acreditei
Que não havia peso no verbo acreditar
E que podia haver terra no mar!
Deve ser esta a minha sina,
Carregar coisas pesadas e lamber águas salgadas...
Tantas gotas no oceano e nenhuma é doce!
Ó mar salgado, porque não vieste adoçado?
Só que água doce
Não é o mar que a traz...
Em que luares voam passarinhos?
Em que rios estão ninhos a crescer?
Em qual das luas acreditar?
Na do céu ou na do mar?
Por isso te peço amor:
Não me vás além mar, equivocada, tentar encontrar!
E se mesmo assim, teimosa, me achares,
Devolve-me...
Porque me havia de calhar
Tão grande mar pra navegar?
E salgado ainda por cima...
E lá tudo era perfeito…
Lá, ninguém era cego ou mau olhado
Porque eram todos Reis do Reinado;
Não havia roubos ou ladrões,
Nem corretivos ou cem perdões;
Eram amigas, a pressa e a perfeição;
Quem caçava com gato, tinha cão;
Havia galhos para todos os macacos
E promessas não caiam em sacos;
Águas nunca vinham em bicos,
Os espertos não eram Chicos
E todo o pecado era omisso!
O feiticeiro era amigo do feitiço
E este não se virava a ninguém;
Não havia mentiras a beijar bem,
Todas socavam com verdades;
Casas não tinham portas e grades
Pois não haviam almas gulosas.
Lá dentro havia um mar de rosas
Na carta fechada do casamento
Porque todo o mar era bento.
As rosas não tinham espinhos
E gaviões não seduziam ninhos.
As cercas não eram puladas
Nem por bruxas nem por fadas;
Maridos diabos eram santos;
Não havia querelas pelos cantos;
Judas era coisa que não havia
Nem sequer no dicionário;
O vinho não batia nas cabeças
E a culpa casava-se sempre
Quanto mais não seja
Com o confessionário!
A tua caligrafia...
A tua caligrafia é imaculada como as pedras do rio.
A tua letra engomada, como a vaidade de quem a nada se curva.
Letras tuas assim dispostas, em falares e perguntas,
Espalhadas pelas encostas de parágrafos que juntas,
Não param de me cantar!
Andas perdida de mim, como o sapato da Cinderela!
A minha espera já vai alta,
Como a escuridão dos corpos celestes mais distantes do universo.
E depois os Deuses,
Dão-me a luz do dia: a tua caligrafia!
Ela declama pra mim só nos solstícios de Verão!
Esses dias são quentes e longos! Mas são poucos!
Como poucos são os meus sorrisos, que são às direitas como a tua letra!
Mas afinal o que escondem as montras da tua caligrafia?
Amor ou agonia?
O que pensarão os teus olhos nos dias em que te escrevo?
Os meus já pesam, de querer um pequeno casebre que nos bastava!
Tudo o resto, se não viesse, eram amendoins para dar aos macacos apenas...
Vezes sem conta passo-te a pente fino,
Como o amor que fazemos sem tu saberes!
Sou eu que o imagino.
O amor e o cheiro dos teus comeres.
Cheiras-me a cinco filhos e um lar.
Uma casa onde o amor se cante
E onde nos vejo a governar:
Tu princesa, eu infante
E os miúdos nos afazeres de criança!
Queria dar-te o universo de bandeja
Mas ao menos receber uma esperança que se veja!
Depois de te ler, abre-se-me um vazio
Por onde a tristeza cai à terra, como um dominó que tomba todas as palavras que li...
Depois, meto-as na gavetas das coisas que me metem medo
E pergunto-me em segredo e lavado em choro:
Quando será paga a última prestação deste namoro?
Marido itinerante
Tenho mil caras nas algibeiras
Que trouxe de mil países!
Por lá, vi favos em figueiras
Onde cometi mil deslizes
Porque o mel dos figos
Estava perto dos umbigos!
Não há coração que eu plante,
Nem flor que em mim floresça
Porque sou marido itinerante,
Sem remorso que me cresça!
Oh senhores! A minha culpa,
Que já não se sente culpada,
Não sabe se trair é desculpa
Ou se a esposa não é amada!
Gotas de orvalho...
Raiar do dia sem sol ou orvalho
É como paixão caída por terra,
Que depois de solta do galho,
É manhã que o amor encerra!
Se gotas de orvalho são vãs
Em raiares do dia que tens tido,
É porque caem nas manhãs
Às quais nada tens oferecido!
Orvalho, que gorado estás,
Matuta nas escolhas feitas,
Se puxam gotas pra trás
Ou se caem às direitas!
Orvalho que à pétala não dá
Nem uma gotícula de amor
É como rosa onde não há
Espinho que cause dor!
Por folhas, galhos e intrigas,
Por onde cai a tua mágoa,
Gota de orvalho, não digas:
“Nunca beberei desta água!”
Terra ardida, sem cor
Colorida por orvalho
Faz renascer a flor,
Faz do fogo, borralho!
De procurar-te, ando perdido!
De procurar-te, ando perdido,
De perdido, ando cansado
De a toda a hora ser traído
Pelo que tenho procurado!
Fará sentido ou é inglório,
Pedir o que tenho pedido
E esperar que o peditório
Não vá por onde tem ido?
Mas se for, alguém me dê
Um alqueire de coragem
Pra pedir como quem vê
No deserto uma miragem!
Bolha de sabão
Ó bolha de sabão
Que levada foste pelo ar,
Em ti voa um coração
Que não sabe amar!
Procuro luz às escuras,
O que quero e não tenho:
Arestas das minhas curas
Limadas ao meu tamanho!
O vento que atraiçoa
Tão abatida e vã espera
Faz-me ser fria pessoa,
Ser quem não era!
Já não tenho restos
De força nas algibeiras,
P’ra entoar protestos
A esperas solteiras!
Ó bolha de sabão
Que não paras de voar,
Que posso fazer senão
Contra o vento, remar?
Luis Mateus
