Poesia Felicidade Drummond
Amargura do cerrado
Aqui no centro do cerrado
Onde a chuva não chove
Chora o pó sulcado
Ressecado, onde o verde escorre
Pelo vento que levanta o chão
De sede que a existência morre
E o céu que rubra em explosão
O cinza que por ai colore
O rincão árido de erosão
O caboclo queixa por água
Nas promessas em oração
Das fendas escorregam bágua
Suspirando bafo de sequidão
De queimadas que frágua
A amargura do sertão
Poetado com carvão e mágoa
O estio do cerrado em aflição...
Poeminha para flor
Flor são flores
São primavera
De todas as cores
Haste da quimera
Falam de amores
Amor as venera
A flor tão bela!
Maçã em receita
Nada mais tentador que maçã do amor
Com canela tem cheiro de beijo
Nas tortas saliva gosto com fulgor
Assada derrete e da desejo
Maçã tão bela e de delicada flor
Na salada traz o seu azedume
Tem vermelha ou verde na cor
Inconfundível é o seu perfume
Enigmático é o seu lado pecador
Como réu se tornou incólume
Uma por dia evita o doutor
Numa simples mordida é revelação
E te leva na vida ser longevo
Na culinária de distinta sensação
Maçã por maçã que aqui escrevo
Vilã dos contos, símbolo da sedução
Eterno fruto da paixão
Chapéu de palha
Debaixo do chapéu de palha
Na aba da saudade, lembrança
Na copa rezas de acerto e falha
Da vida, nunca sem esperança
Este chapéu de palha, roceiro
Que não larga do caipira berço
Sempre riscando o fado roteiro
E na fé aduzindo trilha e terço
Chapéu de palha, cultor matuto
Do caboclo do cerrado, do chão
Do vento árido e do pó enxuto
Que traz o sal e feito ao coração
Tal chapéu de palha, tão original
Que compõe o poetar de emoção
Canta o sertão na sua arte capital
Trajando a alma capiau de tradição
(Chapéu de palha, remate vital!)
Poeta do cerrado
Sou da terra, do triângulo mineiro
Sou poeta do cerrado, estradeiro
De poeira e chão batido, cavaleiro
No espírito embebido, alma de peão
Caipira do amor poetando paixão
Trago nos olhos o sal do sertão
Do curral, do fogão de lenha, lamparina
Da moda de viola, catira e da ave de rapina
Sou araguarino, origem e apreço na sina
Sou interiorano com cheiro do mar
Onde nas tuas ruas eu pude me achar
Estrangeiro no Rio de janeiro, fui morar
Sou brasileiro de sobrenome e nação
Mineiroca de cognome de pura emoção
Aventurado no cerrado goiano sem direção
Sem rumo, louco, afortunado
Desatinado e cheio de muafo
Da vida, vivo para ser amado
Quero da loucura ser inventado
O amor na sua incerteza
Tem que ter laço
No olhar abraço
Que some ilusão
Que some espaço
Que some paixão
Seus olhos são duas contas tristes
De uma chegada de uma partida
De uma saudade, de um'Alma ferida
Na busca sempre da perfeita batida
Metamorfose
Em cárcere,
no casulo minh'alma estava
Quando passaste por mim
Com seu olhar brando
Seu sorriso peculiar
Aí minh'alma ficou a lhe desejar
Então a saudade passou a apertar
O coração
A emoção
Tentando libertar a paixão
Desnuda de ódio, de rancor
De futilidade
E o que seria amizade
Metamorfoseou-se em amor
E de repente me vi de frente aos moinhos
Dos devaneios
Dos desalinhos
Dos anseios
Não me calei
Caminhei...
Amanhece a vida da manhã
Despertada pelo sol a brilhar
Adormecendo a lua no divã
Da noite para o seu repousar
Faça a diferença
É escolha
Você pode falar ou se calar
Pode desencasular ou ficar na encolha
Se sentar ou levantar
Você pode ser parte dos pesadelos
Ou simplesmente sonhar
Pode se livrar dos atropelos
Da dúvida, cavando resposta
Se vendar ou ver o que importa
Olhe lá fora, abra a sua porta
Grite
Sorria
Acredite
Tenha certeza da alegria
Tenha fé, crença
Proponha
Faça a diferença
Lágrima,
Tão frágil, tão pequenina
Ao vê-la nem se imagina
A imensidão do sentimento
O carisma de seu surgimento
O silêncio
Assim, como do fundo da solidão
O silêncio emudece
A voz da saudade cala o coração
Com mutismos que a alma conhece
Nas lembranças que a dor adelgaça
O amor, a angústia, a emoção
Onde o caçador torna-se caça
Desembocados no vazio
Da esperança, da ilusão
Engasgados no arrepio
Do abafado ruído da interiorização
E o silêncio se faz sombrio...
Até mais!
O tempo é indefinição
Eu vim parar no cerrado
Onde não tem inclinação
O por do sol é encarnado
E a secura racha o chão
Também, é encantado...
Eu vim buscar a benção
E encontrei o meu fado
No amor outra direção
Na vida o meu real cais
No coração só devoção
Na poesia tantos anais
Daqui, levo a gratidão
Até mais!
Teoria de amor
Na noite solitário já chorei
Naquela música emocionei
O tom de tua voz lembrei
E vi que assim me apaixonei
Na solidão já fui peão
Da dor eu fui escravidão
Do sorriso apenas irmão
E vi que das falas fiz canção
No medo eu já me perdi
Por um alguém eu já sofri
Tal ligação eu não atendi
E vi que muito tinha por vir
Nas juras prometi eternidade
Me encontrei em falsidade
Dos beijos eu tive saudade
E vi que muito era brevidade
No vasto e pouco eu tentei
Alguns momentos eu odiei
Outros fui magoado e magoei
Amei, fui amado, e não amei...
Se buscar bem terás achado
Não os galhos (ressequidos) do cerrado
Não o chão (cascalhado) do cerrado
Mas a diversidade (inexplicável) do cerrado.
(Parodiando Carlos Drummond de Andrade)
Eu não tenho mais saudade
Tu trouxe vida na minha vida
Tu foste amor de verdade
Eu já estou de partida
De partida!
Pois quem vai volta
Volta na saudade,
de ida e vinda
Embora seja outra rota
Várias até que se finda
Então,
que venha outra cota
E também outra filosofia
Pois a vida é uma pelota,
e viver uma mercearia...
Enquanto tem quem se ache
num mundo dos apache,
eu apenas poeto.
Não sou objeto.
E nesta cena,
sinto.
Pena.
Luciano Spagnol
Maio, 2016
Cerrado goiano
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