Poemas Vinicius de Moraes Patria minha
A vida é BELA
Concordo que é a vida é de fato, bela!
Quando me debruço na janela
Da minha alma
E com absoluta calma
Contemplo as maravilhas
E os esplendor que existem
Em todas as criaturas
E revelações da natureza
No ruído do vento
No barulho das águas
No caminhar apressado das nuvens
No gorjeio dos pássaros.
No sol radioso
Na dança da lua: nova, crescente, decrescente, cheia
De amor e beleza
No cheiro da mata
De verde tingida.
Nas cores fulgurantes de um arco-íris.
E tudo tem uma proposta e uma mensagem
De paz e esperança
Pro ser humano que só não os entende
Por que não pára
Pra ouvi-los.
Meu Canarinho
Meu coração ouviu o teu chamado
Nem foi preciso meu nome gritar
Minha mente afetiva leu o teu recado
Nas ondas de amor. Voltei pra te buscar
Já estava em outra estrela distante
Há milhões de anos-luz da terra
Mas regressei no mesmo instante.
Não quis te deixar à minha espera.
Voltei. Estou aqui porque te amo
Voltei. Estou aqui porque te quero
Tenho dentro de mim um oceano
De amor e de carinho. Não exagero
És o meu sol. Voltei pra me aquecer
Longe de ti, minha vida é tão sombria
És meu farol, meu norte, meu bem-querer
Sem ti sou nada, sem nenhuma alegria.
Ah! Meu amor. Não posso mais fingir
Que posso te deixar aqui sozinho
Sou tua gaiola, não podes mais fugir.
Das minhas grades, és meu canarinho.
Alma Gêmea
Alma gêmea de minha alma
Busco-te sedenta, ressequida.
De amor necessitada
Muita mais que de comida.
Muito sofro de saudade
Minha sina é padecer
E não tenho outra verdade
Senão te amar e querer.
A saudade do teu cheiro
Só aumenta o meu penar
Eu percorro o mundo inteiro
Somente pra te encontrar
Nos sonhos eu te vejo
Entre um abraço e beijo
Ouço chamar-me meu bem
E assim vou prosseguindo
Nas horas que vão caindo
No dia que nunca vem.
Melanina Carioca
Minha cor é de canela
Meu palácio é na favela
E meu cheiro é de Brasil
Minha luz é de estrela
Vidigal é o meu país.
Minha voz é afinada
Minha dança ritmada
O meu hino é de amor.
Sou cantor, sou professor
Sou aluno e aprendiz
Sou do povo, gente simples
Vidigal é o meu país.
Sou o verso, o estribilho,
Sou o brilho
Sou o fuso e sou a roca
Sou melanina carioca.
Sou a pena, sou o giz
E Vidigal é o meu país.
Sou o bicho, sou a toca.
Sou melanina carioca.
Sou a derme, a epiderme.
Sou o olho, sou a boca.
Sou melanina carioca.
O LADO BOM DA VIDA
O lado bom da minha vida?
Segredar-te-ei.
Salto; danço; canto e rio
O meu salto é triplo
No sentido exato da palavra.
Ele tem a altura, a largura e o comprimento
Da minha alma em delírio.
A minha dança é compassada
Ensaiada. Milimetricamente ritmada
Com as batidas do meu coração enamorado.
O meu canto é suave.
Tem a melodia da vida que escorre
E revolve as profundezas do meu ser.
E meu riso é um rio
Caudaloso
Não é temporário não senhores.
É perene.
E ressoa no infinito
Como um grito
De alegria.
E de liberdade
Do pensar
Do viajar nas asas
Dos sonhos
Sou a eterna viajante
Do Universo.
O meu verso
Eu o trouxe das estrelas.
Sou uma intrusa
Não sou daqui.
O lado bom da minha vida?
Ah! Ela é toda boa.
A Cotovia
Minha alma se assemelha à cotovia
Que canta prenunciando a esperança
Em tal efeito se derrama em primazia
Do saber ser um Ser cheio de bonança.
De boas novas, anunciadora para todos
Quem tem ouvidos afinados para ouvi-la.
Entretanto está só e em doces modos
Reparte primavera sem sequer usufruí-la
Prossegue seu voo solitário "despareada"
Seu canto inebriante, no entanto, entoa
Derramando sua alegria tão preparada
Pro banquete festivo da vida que povoa
Pradarias repletas de seivas que florescem
Debaixo dos seus olhos. E neles não refletem
Outro servil e companheiro, pois fenecem
Seus amores todos, que nunca se repetem.
Pobre cotovia que cantando implora
Um ser semelhante pra lhe acompanhar.
Irá morrer só a qualquer hora
Sem jamais ter tido um par.
Sorriso
Se tem uma coisa que me arrebata
Capta
Toda a minha essência
É o sorriso.
Se não queres que eu me apaixone por ti
Jamais sorrias
Pra mim.
A Minha Espera
Caminho solitária porque minha estrada tem
Bordas de sonhos
Que penetram nelas apenas quem escuta
A minha voz que não solto
Em palavras.
Elas se espalham com o vento
Na leveza das plumas alvas
Da minha alma
E se alguém ouvi-las
É porque entendeu que a minha escada
Espiralada
Tem degraus construídos de emoções
Todas nascidas de uma vontade
Suprema de estar só
Pra esperar o que ainda não decifrei
Não reconheci de meu
E espero fazê-lo
Num único olhar
Que irá tragar o meu eu e
Entranhada nas entranhas desse amor
Não causar estranhezas para o Meu Amado
Amor no presente
Espargindo gratidão
Minha alma está neste momento
Para os todos os passantes
Que dantes
Disseram não para esta caminhante.
Não foi em vão
Que sozinha trilhei pela sombria estrada
Da vida.
Estive só não sem razão.
Estavas no futuro, que no momento
Se fez presente.
Não tinhas como ir buscar-me no passado.
Pois na sabedoria do infinito
Tudo é milimetricamente programado
E de repente,
O Universo responde ao meu apelo.
E toda a agonia agora transmutada em alegria.
Renasço como um fênix, em zelo
De toda a conspiração magnética
Dos astros,
Deparo-me no teu amor.
Dentro dele.
E inundada com essa verdade.
Celebro a minha deliciosa realidade.
Foi por ti que cheguei até aqui
Livre
Solta pra cingires meu corpo com teus braços
E no teu olhar pausar a minha história.
E reter-me neles pro resto das nossas vidas.
Inocências Feridas
O meu olhar,
A minha voz
O meu grito mudo de dor.
O meu eu aflito
A minha inquietude
A minha prece
Vão hoje para as crianças.
Que padecem
Por conta do maltrato,
Dos adultos perversos.
Crianças vítimas das guerras
Das pestes
Da fome
Da exclusão social que extermina seus sonhos
Suas cirandas.
Suas esperanças
Filhas de uma sociedade egoísta
Que nem as migalhas da sua mesa é capaz de repartir.
Dos governos soberbos e tiranos
Desumanos
Que se autodenominam salvadores
Enquanto roubam e mentem,
E se enriquecem
Enquanto apodrecem
Nas ruas e nos lixões
Crianças indefesas.
Que salivam atrás de uma vitrine
E expelem vermes
Enquanto se espremem
Em cubículos ínfimos
Do tamanho das consciências dos governantes.
Nas favelas.
Expostas às dores
Maiores que suas almas.
Enormemente maiores que a nossa bondade.
EU SONHADOR
Olho pelo retrovisor da minha alma
E revisito com estranha calma
Meus momentos saboreados
Quando ainda, eu cheirava
A tinta fresca da vida.
Tinha, então, apurado o senso da alegria
E meus dias transbordavam de ternura
Entornava meus sons de amor por onde percorria
Da própria aventura
De ser gente.
Minhas noites eram carregadas de magia
Postada à porta uma imagem luzidia
Talvez fosse meu Anjo,
E me servia.
De espelho ali na minha frente.
Indecifrável e inteligente.
Que me guardava de mim mesma.
Onde está agora aquele ser
Quando mais dele preciso?
Por onde anda, por que não está mais comigo?
Não volta mesmo que eu implore de joelhos
Morreu?
Creio que não, apenas desistiu dos risos.
E perambula por ai tonto à espera.
De um final senão feliz, ao menos
De um sofrer menor.
Quem era?
Era o meu outro Eu, o sonhador.
Gerúndios de outono
Vou estar tentando escrever a minha lenda
De prenda nada. Preciso preservar a minha
fé
Vou estar redesenhando o meu destino.
Desatino. Não sou nem mesmo desenhista.
Vou estar reconstruindo a minha estrela.
Sem brilho que se apaga dia após dia.
Vou estar bebendo meu último cálice derivativo
Do sacrifício que eu escolhi para padecer.
Vou estar soltando todos os bichos presos
Dentro do meu ser pequeno e intempestivo.
Vou estar decifrando meu enigma.
De não ser nem de longe o que sonhei.
Vou estar navegando entre as almas
Sonâmbulas que giram em torno de si mesmas.
Vou estar aqui neste lugar
Gerundiando e cometendo neologismo
No meu tempo de outono
Pra ver se acaba o meu abismo.
E no infinitivo possa a minha primavera retornar.
Letargia
Laço apertado. Nó gigante. Amarrou a minha
Vontade de partir.
Buscar o quê?
Estática. Fico fitando nada.
Uma estranheza de não saber o que deixei passar
Sem pegar. Requisitar e nomear de meu.
E o vento chega enredando que é tarde.
Que nada volta pro lugar
Tudo é dinâmico.
Só a minha languidez é eterna
Meu estado de hibernação
Não desemboca
Pra nenhum acordar de esperança.
Se estou sem riso e sem siso
Também estão enxutos os meus olhos.
De lágrimas inexistentes que não rolam mais
Em face desfigurada e envelhecida
A viuvez de amores
Visitou-me e se instalou definitiva.
Na minha alma, no meu querer, na minha vida.
Só sei e sinto muito
Que a letargia me engoliu
Total. Inteira.
A catadora de lixo
Sobe a minha rua todos os dias
Recolhendo o lixo reciclável
Carrinho lotado e rangindo pelo peso
Lá vai ela com passos miúdos.
Pele encardida pelo sol
Enrugada pela falta de trato
Não tem pote de creme, nunca o teve
Nem de azeitonas, azeite, maionese,
Não tem na verdade, nenhum pote
Em seu casebre de paredes de latas velhas
E telhas quebradas, partidas como o seu coração
Dolorido e cansado.
Fui até lá levar-lhe umas coisinhas, poucas
Dentro das suas inúmeras necessidades
Pelo Natal passado.
Fiquei chocada com tamanha carência:
Não tem fogão à gaz. As panelas destampadas fervem num fogão de lenha improvisado no quintal.
Não tem geladeira. A comida que sobra, se sobra, terá de ser consumida azeda.
Conversamos, algum tempo.
Deixou-me saber da sua dor de ser sozinha
Viúva com um filho adolescente
Que não quer saber de nada,
Indo ao encontro do nosso desinteresse por eles.
Da sociedade e dos que estão lá no poder.
Com enorme pesar, faço uma comparação
Com nossas atitudes.
Enquanto ela nos livra dos nossos entulhos,
Nós enchemos a sua alma e o seu coração
Com mágoas e ressentimentos
Por conta do nosso grande egoísmo
Egocentrismo, individualismo
Consumismo exacerbado que não nos permite partilhas.
E por escolhas erradas que fazemos na hora de eleger nossos governantes,
descomprometidos com projetos sociais eficientes.
Pobre catadora de lixo!
Está órfã em um mundo
Mesquinho
Excludente
Capitalista...
Solidão
Na escuridão soltaram a minha mão.
Não me deram sequer o tempo para o prumo
Sem rumo
Tateei trôpega a parede do Universo.
Sem visão escorreguei no labirinto dos sonhos.
Perdi-me nele.
Não encontrei saída.
Sem guarida, patinei no lodo das desilusões.
Estive órfã toda a eternidade.
Meus deuses não me responderam.
E em todos os cantos
Apenas os meus prantos,
Jorraram em uníssonos enlouquecedores.
Não tive amores
Apenas o eco das minhas paixões
Desabridas e Jamais correspondidas.
Por isso mesmo, vãs.
Fugazes.
Pequenas e pobres como as minhas lembranças.
Não fiz nenhuma história.
Fui sempre um ser totalmente insosso
Vagueei por aí.
E, então, um dia eu morri.
Sonâmbula na minha solidão.
Vazio
Não tive dedos suficientes pra contar
As dores vividas no calabouço
Da minha alma perdida entre mentiras
De que eu sabia que o meu cantar
Levaria com o vento
Para os amados, alento.
Eu nada aprendi dessa troca
De idéias e ideais
Não guardei um só instante
As memórias do aprendizado
Sobre o amor
Que eu vim buscar
Tive apenas ilusões arredias
E apostei em atitudes tresloucadas
Correndo atrás dos que me renegaram.
Acreditei que estes
Poderiam preencher o vazio despudorado
Da agonizante despedida
De quem parte solitária e oca
E solta.
Desprovida de alegria.
Vazia de vida.
Desnutrida e carente
Completa indigente.
Morte
O mundo mudou, com medo e muda/
Escondi-me na despensa atolada/
Da minha alma covarde e reclusa/
Cheia de entulhos e assombrada.//
Estendi minha mão para segurar a flor/
Que despontava envergonhada/
Do meu débil e frágil amor/
Qual cadela faminta e enxotada.//
Vaguei desnorteada pelos caminhos/
Tédio e dor me acompanharam pela estrada/
Feriram-me sem trégua os espinhos/
E eu morri antes de ser purificada
Cidadela
Cidadela da minha desguarnecida.
Meu coração, o arqueiro já não tem
A zaga protetora, a guarida
Dantes disposta no sorriso de alguém.
Minha postura muito aquém de regular
Põe contra mim meu próprio time, os sentidos.
Ai, quantos gols angústias permiti marcar
E meu juízo, o juiz, valida os impedidos.
Meus adversários poderosos
Exploram meus rebotes desconexos.
Sempre fatais seus ataques perigosos.
Ai, que se extinguem meus reflexos.
O espetáculo não tem mais atrativo
Golearam meus sonhos e anseios.
Ai que o meu saldo se torna mais negativo
Se se eu me perco até nos escanteios
Da vida...
Minha escolha
Não sofro de solidão
'Experencio' uma liberdade que me faz tão bem pra alma...
Por que você quis ficar só? Alguém me perguntou.
Para ser livre. Respondi.
Livre pra quê?
Para ser Só
Mas, ser só por quê? Esse alguém insistiu.
Pra poder escolher. Retruquei.
Escolher o quê?
Ser livre. Conclui.
Miligrama de verso VIII
Blá... blá... blá...blá
Anda. Vem me calar
Tapa logo a minha boca com a
TUA.
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