Poemas Vinicius de Moraes o Lago
DÉCIMO NONO HEXÁSTICO
transcende teu aqui e agora
conhecer faz-se necessário
muda de pele como a cobra
germina como nova espiga
nela todo milho é santo
onde todo verbo é vida
VIGÉSIMO HEXÁSTICO
todo desejo que me existe
cobre de possibilidades
toda vontade de potência
da natureza numinosa
que cria e recria criador
que me revela na ossatura
LABAREDAS
De João Batista do Lago
Minha poética ‒ chama eterna que arde! ‒
Movimento são de vívidas labaredas
Inquietas procuram todas as consciências
Seja nos casebres ou salões das nobrezas
É flecha mortífera que fere a destreza
Miserável luz de toda dominação
Capaz da subjugação sobre qualquer néscio
Incapaz de perceber sua escravidão
É bala de ouro matando a servidão
Do fiel encantado pelo vil discurso
Hóstia de fel ofertada como pão
Alimento de toda opressão miserável
Que mascara de toda vida o amargor
Encarcerando o ser na história de dor
DIAFANEIDADE
De João Batista do Lago
Essa vontade de potência rege a vida
Transmigrando almas para novas essências
Transgredindo toda a inútil moral servida
Nos banquetes de vetustas inconsciências
Essa moral enfatuada por certo é morte
Da sublime nobreza que sempre te reluz
Deseja enganar-te… quer ser litisconsorte
Oferecer-te a alcova que a tudo reduz
Foge de tão loucas e insensatas promessas
Jamais te deixará alcançar toda virtude
Roubará por certo o vigor da juventude
Corolário supremo de toda verdade
Que te premia a carne-vida desde o princípio
Alma pura retornarás se te cuidares
VIGÉSIMO PRIMEIRO HEXÁSTICO
soma do desconhecimento
alma política diabólica
anjo de guru pederasta
verme que se arrasta em palácios
“até quando, vulgo Catilina,
abusarás da consciência?”
VIGÉSIMO SEGUNDO HEXÁSTICO
o que importa a educação… o saber… a cultura?
vencedores desejam o subjugar da ideia
desejam degolar a nação sem paideia
formar a juventude sem qualquer arete
castrar a atitude da ética e da política
daí produzirão em toda nação a desvirtude
VIGÉSIMO TERCEIRO HEXÁSTICO
aprendi a fugir do externo
seara de todos meus infernos
hoje cada vez mais interno
vivo toda lucidez nobre
longe de pensamentos pobres
ilusão de ser auricobre
PENSAMENTOS HÍBRIDOS
De João Batista do Lago
*****
A democracia, quando luta de todos,
é expressão do absoluto político;
mas, quando luta de partidos,
é absoluta expressão da miséria humana
(João Batista do Lago)
Não preciso da tutela de quaisquer heróis da mundidade do mundo;
meu herói é poema,
nele está toda verdade
(João Batista do Lago)
Toda Alma sem Espírito é zumbi
na seara das cidades sem alma;
sem espírito
(João Batista do Lago)
Eleição é rota para união de todos;
o eleito terá que ter todos em-si
(João Batista do Lago)
Imiscuir-se em Política não é intromissão;
é missão do cidadão consciente
que busca a verdade “sui”
(João Batista do Lago)
Necessário nascer-se a cada morte inconsciente:
morra-se diariamente;
nasça todos os dias
– a morte nada mais é que o nascer-se consciente.
(João Batista do Lago)
Sê dono da tua vontade;
ela é toda verdade que nasce em ti.
Mas se tiveres dúvidas, para.
Não continues para que não te enganes com falsos caminhos.
A verdade é labirinto:
nela há muitas trilhas e passagens,
mas deves procurar a ponte para a saída,
que é única
(João Batista do Lago)
Vês aquela Igreja…
aquela escola…
aquele palacete!
Onde se encontram os seus construtores?
Onde eles habitam agora?
Por ventura conheces algum?
Te ocorreu procurar por eles?
Então não o tomes por ignorantes;
tampouco o incomodes com a tua ignorância…
(João Batista do Lago)
QUADRAGÉSIMO QUINTO HEXÁSTICO
Toda imanência recrudesce
ao sentir a vida em potência
caos sagrado e profano nasce
no Sujeito-poema acontece
faz-se desejo de existência
no eterno retorno da mente
QUADRAGÉSIMO SEXTO HEXÁSTICO
Representar-se poema é:
saber-se duplo na imanência
observador e objeto em essência
sujeito na extensão do poema
criador e criatura em si mesmo
único sujeito em potência
QUADRAGÉSIMO SÉTIMO HEXÁSTICO
Deixa-te voejar sobre o caos
há nele visível beleza
toda representação há
seja sagrada ou profana
não o olhes com tua indiferença:
caos requer visibilidade
QUADRAGÉSIMO OITAVO HEXÁSTICO
Olhar-se profano no caos
saber-se da vida princípio
sugere ao poeta o universal:
ser agora transvalorado
senhor do totem sagrado
livre do veneno moral
QUINQUAGÉSIMO HEXÁSTICO
Há um rio que me navega sempre
na profundeza há águas claras
lâmina cortante na face
lá onde não existe luz
translúcido me gero calmo
aqui onde tudo reluz: guerra
QUADRAGÉSIMO SEGUNDO HEXÁSTICO
Deves abortar a ignorância:
Assassina confesso d´alma.
Deves parir toda virtude:
Senhora das integridades.
Da ignorância resta mentiras!
Da virtude, conhecimento!
FILOSOFIA DO AMOR
De João Batista do Lago
O amor esse desdouro
inquietante e avassalador
banha o corpo de torpor
e a alma sangra no matadouro
e o sangue escorre pelo ralo das veias
enrijecendo o corpo inteiro
e grudando-o na cruz do madeiro
O amor, meu amor, não é brincadeira
Ele está sempre à frente e também na traseira,
fica do lado direito, mas também no lado esquerdo
muitas vezes ele chora
outras tantas desespera
muitas vezes vai embora
outras tantas fica e implora
Esse maldito do amor
que ninguém sabe onde nasce nem quando
trucida os amantes incautos
enganando-os com a paixão
e dos imprudentes brinca e troça
faz quermesse na jugular das emoções
onde leiloa beijos e carícias vãs
Ah, esse sujeito vagabundo
que faz juras em desmedida profusão
prosta os amantes querelantes
debilita a palavra sussurro
derruba o abraço mais profundo
humilha o beijo com o escarro
e subjuga o gozo na raiva do presente
Enfim, ó tu louco e eterno amor
que vagueia sensações despudoradas
és o príncipe do desconhecido
a quem se busca em vidas desesperadas
alcançar a sinfonia do perfeito verbo
onde pretendemos abrigar os corações
escarlates de vidas de humanos carentes
QUADRAGÉSIMO TERCEIRO HEXÁSTICO
Assenhora-te do espelho
Refletor de todos os caos
Ainda para ti irrevelados
Debulha-te duplo narcísico
Toda estética será falsa
Se nela faltar toda essência
Amanheço assim como anoiteço
ciente da minha animalidade
senhor da natureza que quero dócil
deus encarnado na bestialidade
de guerras, fomes e miserabilidade
O LADRÃO E O FILÓSOFO
De João Batista do Lago
Se perceberes teu quintal invadido
e nele um ladrão afoito a furtar,
não o abatas ao chão com um tiro,
convide-o para contigo jantar.
Oferece o teu melhor vinho (e)
faze-o comer da melhor iguaria
deixa-o perceber todo o teu carinho
e fá-lo um amante da sabedoria.
Aconchega-o e fala-lhe da democracia, (e)
diz-lhe das vidas que a ditadura furtou
mas, sempre moribunda, nada logrou.
E depois de deixá-lo saciado, enfim,
convida-o para dançar sob a chuva, (e)
com a noite saudar o novo dia assim.
CANTO LIBERDADE
Letra: João Batista do Lago
Do quilombo dos Palmares
a voz de Zumbi ecoou
lutando por liberdade
a todos nós encantou
Não é fácil, não,
calar nossa voz,
somos uma só nação
temos um só coração
peito pulsando emoção
um só grito de libertação.
Saibam todos vocês,
senhores donos do mundo,
temos orgulho de nossa grês.
Somos madeira nobre (e)
reluzimos como ébano
nascidos do barro e do cobre.
Somos filhos da paz (e)
de liberdade contumaz,
nossa tez é nosso ouro.
Nenhuma insensatez
há de calar nossa voz
somos liberdade, não o algoz.
Do quilombo dos Palmares
a voz de Zumbi ecoou
lutando por liberdade
a todos nós encantou
CANTO REFLEXIVO
De João Batista do Lago
Desperto sob raiares de um forte sol
Ciente da realidade de um novo crisol
Porém tudo continua sendo mero sonho
Nesta estrada que a caminhar me ponho
Perscrutando o tempo, espaço, terra e mar
Curioso para saber em qual lugar vou parar
Lembro ainda dos primeiros passos
Trôpegos mas esperançosos ante toda vida
Ali tudo era esperança desmedida
Em cada passo meu olhar de aço
Açoitava os percalços imprevidentes
Sem temer quaisquer almas indolentes
Mas a vida essa quimera indomada
Logo tratou de pregar novas surpresas
Navios alados formaram uma armada
Esconderam o sol e pariram torpezas
Prenderam estrelas no breu da noite densa
E mataram por instantes esperança imensa
Contudo o sol da liberdade se impôs
Novo dia raiou e com o povo se compôs
Tecendo um manto de linhas entrelaçadas
Tirando das gargantas as espinhas de aço
Que açoitavam as vozes das liberdades
Agora livres em toda praça e em todo paço
Em toda rua um carnaval de bonança havia
E no front daquele menino novo mundo surgia
Viram-se o operário e a mulher com galhardia
Nascerem no horizonte de dias esplendorosos
E juntos com todos os nativos ardorosos
Entoarem o hino da igualdade e da harmonia
Mas a triste e miserável ganância
Travestida de honra e democracia
Desfila nos palácios todos os horrores
Mentindo que por todos nutre amores
A todos matando num único cenário
Ofertando a sacristia do mesmo covário
Ainda terei tempo de assistir
Aos raiares do sol de novo porvir?
Lembro ainda dos primeiros passos
Ali tudo era esperança desmedida
Açoitava os percalços imprevidentes
Sem temer quaisquer almas indolentes
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