Poemas sobre a Ironia do Sorte

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SOMBRA

Sofro... Vejo envasado numa angústia furiosa
Todo a poesia que tive na intenção esmerada
Abandona-me o criar, e a alma ficou calada
No ter a exaltação, e a inspiração é vagarosa

Criei... Mas tive prosaico, e trama enleada
O desdém que sufoca, e a simetria penosa,
Sombria, numa chama ardente e dolorosa.
Que fazer pra ser bom, nesta vil jornada?

- Amar? - Perdoar? Eu ser apenas prosa?
Não sei, sei que amei, perdoei, mais nada,
Porém, não tive todo este mar de rosa...

Em sangue e fel, o coração me só é cilada
Remordo o papel, branco, em ter gloriosa
Chamada. E só vejo a quimera em retirada.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Setembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

NATAL

No ermo cerrado, árido, na noite, toca o sino
De esperança, pressaga enche nosso ouvido
Em uma toada de paz e bem, no céu subido
Anunciado o Natal do Deus Menino, um hino.

O presépio em glória, reza ao Filho Divino
A árvore alindada, ornam o amor instituído
Num armento em esplendor num só alarido
Há elevar do opróbrio ao halo o pequenino

E nesta lembrança onde se vence ao destino
O teto de palha, a estrela, os Reis, os pastores
Dobrarás os eleitos, em um respeito peregrino

Humilde, mãe, Maria, das Graças, das Dores
Traz o rebento de afeto, e um amor cristalino
Seu Filho, na manjedoura, todos os louvores!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, dezembro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

Com licença poética

Quando nasci um anjo barroco,
desses rechonchudos, disse:
- ide e seja devaneador e louco
trovador, saia da mesmice.
Aceito está sorte, tampouco,
serei neste fado só sandice,
terei, também, a imaginação.
Não sou tão eu de maluquice
que venha sem a razão.
Acho o cerrado uma beleza
ora sim, ora não, darei adeus ao sertão.
Mas o que sinto, e que seja pureza
ponho a inundar o meu coração.
Dor tenho não. Só leveza!
Se choro ou lamento é de emoção.
Cumpro a sina!
Já a inspiração a levo aonde vou.
Se é maldição, eu, ave de rapina.
Poeta é fingidor. Eu sou.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Setembro, 29, 2018
Cerrado goiano
Paráfrase.

Inserida por LucianoSpagnol

ALMA INQUIETA

Quem o cerrado dirá à alma inquieta no vazio?
De tortos em tortos galhos queixas soltas no ar
De estrelas em estrelas o pensamento a voar
Num calafrio, recolhido e só, eu, aqui sombrio...

Ergo os sonhos do chão seco, do pó a jorrar
Jorro angústias murchas do peito sem feitio
Cheio de desagrado, de pecado. E mal gentio
Que saudade doída! - Recordação sem paladar.

Pra purificar a sensação, um coração piegas
Livre da ingratidão, livre da trava indiferença
Onde, em perpétua quimera, devaneio cativo

Não posso então ter na ilusão as tais regras
E tão pouco nas lembranças cética crença
Amor e esperança vivem no cárcere que vivo!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

Hino à Tarde (soneto)

Do sol do cerrado, o esplendor em chamas
Na primavera florada, entardecendo o dia
Fecha-se em luz, abre-se em noite bravia
Inclinando no chão o fogo que derramas

Tal a um poema que no horizonte preludia
Compõe o enrubescer em que te recamas
Rematando o céu em douradas auriflamas
Tremulando, num despedir-se em idolatria

Ó tarde de silêncio, ó tarde no entardecer
De segreda, as estrelas primeiras a nascer
Anunciam o mistério da noite aveludada

Trazes ao olhar, a quimera do seu entono
Cedendo à vastidão e à lua o seu trono
Sob o véu de volúpia da escuridão celada

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

Subversiva

A solidão
Quando vem
Respeita nada não...

Nem lembranças tem.
Quando ela fica sem noção
Há suspiros, também.

De qualquer de seus abismos
Desconhece o coração
E é cheia de egoísmos

Relincha
Nos seus fanatismos,
Então, a alma guincha.

Só depois da sofregdão
Reconsidera: no silêncio
E deixa a ventura na mão
Em um poema sombrio...
De farta imaginação.
No vazio!

E promete incendiar a razão.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Paráfrase Ferreira Gular

Inserida por LucianoSpagnol

CAOS

No fundo do meu eu, o meu efeito
São noites, entardecer e alvoradas
Enlevos, suspiros e dores sepultadas
Devaneios engasgados no meu peito

Retas alongadas, curvas e lombadas
Mas, de repente, o esperado desfeito
Refeitos, rajadas do eu ser imperfeito
Clamor, as regras, retintim das ciladas

E nos motins, glórias e nada absoluto
Choro e hosana... Com o dito estrovo
Numa sina dum salmo agreste e bruto

E há no poetizar, de que me comovo
Gritos, festa, agonia, meu eu matuto
Incertezas, e o recomeçar de novo!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, outubro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

Bem me quer, mal me quer

Bem me quer, tenho aqui o meu cantinho
Mal me quer, ao dormir preciso de carinho
Bem me quer, de amizades não tenho fome
Mal me quer, não sei escrever teu nome
Bem me quer, paternidade é com meu cachorro
Mal me quer, na solidão eu peço socorro
Bem me quer, divido a opinião comigo mesmo
Mal me quer, a partilha permanece a esmo
Bem me quer, amo, a tudo e todos, sou feliz
Mal me quer, tudo é tão rápido, por um triz
Bem me quer, como é bom apreciar o amanhecer
Mal me quer, a cada dia veloz é o envelhecer
Bem me quer, sei mastigar a vida de solitário
Mal me quer, não tenho ninguém no itinerário...
Bem me quer...

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

singular

no caminho singular
fui plural
tentando me encontrar
entre o bem e o mal

na variante
do acaso
calmaria e vendaval
ao longo prazo
nunca fui total
no lusco fusco
sou igual
o afeto que busco

fui silêncio e barulho
probabilidade
e neste embrulho
deserto e diversidade
de prosa e verso
realidade
de um comum universo

plural ou singular
existiu amizade
e pude saber o que é amar

só o amor nos faz eternidade!

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

dorido

a lágrima exibi
o silêncio, é palavra, ato
o revés, bisturi
que corta de fato

teu sentido, teu tato

a emoção contamina
perfura a razão
nos olhos neblina

sofreguidão

na despedida
no gemido
na partida
no laço corrompido
na magoa proferida
no desejo proibido
na luta vencida
o não no pedido

sem amor
é dorido
nunca acolhedor...

do perdão devedor

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

Fogão de lenha

Ah! O velho fogão de lenha
O fogo estalando o graveto
Panelas empretejada e prenha
Exalando seu tempero secreto
Só saudade, razão quem o tenha
Na fornada os biscoitos de goma
D. Celina. Quem duvidar, que venha
Provar, do pão de queijo, puro aroma
Velho fogão, assim, faz sua resenha
Envolta os causos e mexericos soma
Ao café no bule, que na alma embrenha
Só tu pode e guarda em seu fogo lento
O poetar que meus versos ordenha
Lembranças de um tempo de contento
És tu velho e bravo fogão de lenha!

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

a fragilidade da paixão

ela é como bolha de sabão
que não se pode dominar

é o vento a soprar
é o verão no coração

vício na respiração
ar

doce remédio a envenenar
cura e turbilhão

substância pro tédio:
emoção, pré amor, assédio...

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

Passa

o tempo por nós passa
passa o ser sem tempo
num delírio e arruaça
o fado sem passatempo

o futuro
longe ou perto
fácil ou duro
sempre incerto

e tudo passa
mágoas passam
a perda a caça
pessoas passam

é ventura é pura graça
a existência é oblação
a vida passa...

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

Lealdade da poesia

Pode haver um dia
em que se mude
de lugar, de atitude
mas leal é a poesia

ela que tira o tédio
gargalha de alegria
se veste de fantasia
ri, brinca, é assédio

também chora
partilha solidão
sem luz é escuridão
ora fica ora vai embora

uma coisa é fato
nos leva longe, além
além de ser desdém
de ter e ficar sem
fala o que convém
envolvente no vaivém
nina, acorda, porém
no relato melodia têm
e teor no quinhão exato...

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

O tempo prostrado

a inação
está parada
no céu são

nuvens em silêncio, calada
lutuosa trova uma canção
numa voz desafinada

é o tempo prostrado, catão
os olhos do pensamento
fixos na imensidão
sem qualquer argumento
sem ocupação

seria a perfeição
este estado
da alma em infusão
do corpo amuado
submerso em meditação

ou será o pecado
da solidão...

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

De par a singular

Depois do teu olhar
O meu corpo se calou
A saudade faz aumentar
O vazio que você deixou
Não era para ser, mas foi
Aquela música silenciou
Não mais terei o teu oi...
Nem sei mais onde estou
Perdido está o ansiado projeto
O coração não mais disparou
O pesar não sabe ser discreto
Quer o que nunca mais chegou
Sem você o amor não é completo
E os sonhos sonhados acabou
Ter você é de paixão estar repleto
Pois pensei um dia ser minha, ou
Que éramos par, não singular o afeto.

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

Primaverar

Como é bom primaverar
Estar ao som das flores
Se enfeitar e reverenciar
A beleza e os amores

Sentir o perfume no ar
O vento, olhar o colorido
Da diversidade, elevar
O âmago nela embebido

E neste clima é elementar
A sensibilidade, assim ter
Harmonia e bem estar
Trazendo essência no viver

Vamos primaverar!

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

Inscrição para uma lápide

Aqui jaz um sonhador
Que hoje cinzas sobejou
Pela vida foi um cantador
E na sorte se desdobrou
Entre aspas vai o “amor”
Por ter sido um solitário
Sem velas, choro, por favor
Fui um fausto no itinerário
Se quiserem homenagear
Tragam folia no comentário
Pra este galhofeiro escutar
Ao estar aqui, tenham horário
Pois é meu retiro pra repousar

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

Cadência

No pêndulo
Do relógio
Fique e vai
Vai e fique
A hora o tempo atrai
Pra brincar de pique...

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

Verso e trova

O poeta trova o seu verso
No reverso de sua sofreguidão
Sofrendo para não ser perverso
Com a alma de sua inspiração

Cada trova na carne é cortada
Em cada corte sangra a rima
Rimando palavra encantada
Pra encantar a sua estima

Nesta de ser um simulador
Simula tão perfeitamente
Lagrimas de alegria e de dor
Que perfeito é o que sente

E assim por ser um sonhador
Sonha e no sonho se renova
Desenhando poemas de amor
Em amorosos versos e trovas

Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol