Poemas de quem Deu um Fora
ERIÇO FÁCIL
Preto,
Não te encostes
Qu'eu sou de pólvora
Pavio de músculos trançados
Em mim
Circuita todos os volts
Eriço fácil
Dou ombro e peito
A sorrisos como os teus
AQUÁRIO
Pose de conforto
Piano de chuva
Os vultos da minha rua
A tosse de um carro
A vida desses livros
Tomam conta do meu quarto
PÉTALA POR PÉTALA
"Aprendi a andar sobre à vida sem as mãos, sem nenhum apego ou reflexo de segurança mediante ao perigo. Em minha riqueza de aptidões, a que mais contemplam é a terrível maneira como os cadarços se comportam. Os que se importam: sintam-se importantes. Equilíbrios aos equilibristas. Pra eu que tanto me dou bem e mal - pétala por pétala - sob o papel de malabarista, resta rogar habilidade na dinâmica das instabilidades."
SAPATO, VESÍCULA E CAMINHO
"Eu não escondo desconforto, mas, algumas pedras, encontram abrigos privilegiados."
AMAR - ATO I
"Desde que se tornou verdade, todo medo era apenas mentira, sem parcimônia de sentir a ausência do cais que me era, da imensidão de sorrisos igualmente divididos. Com aqueles braços - que atravessavam-me sutilmente os poros - tod'alma fluía, vestida de lençóis translúcidos, delicados, mas hígidos o suficiente a passar por qualquer espinho sem nem causar ferida, partos e partidas. Partilhas comigo a razão das mais belas canções e da cólera incurável, da falta do ar. Desde que se tornou verdade, tudo se torna...transforma no ato de amar".
[VAIDADE]
No teu verso
Em miúdos alfanuméricos
O prazo de validade.
Nos meus versos
Em graúdos suspiros
A saudade.
[DESAPONTADO]
.O mundo acabará da luz que emana dos rios e mares que, juntos, se fazem represa dentro de lâmpadas. Muitas. Lâmpadas, muito acima da nuca, próximas ao nunca, leva ao útero a luz. Luz que amarela o caminho das minhas reticências, das ciências. Eis a minha fria preferência aos pontos finais. Pontos finais são amarrados, feito laço bonito, pelos dedos mais bonitos que jamais vi. Bonitos dedos entrelaçados, perfumados por alcalinos terrosos como se, estes, tivessem bonito cheiro. Cheiro veste todo o corpo de agulha e carne, carne fluida de sangue cor dos fins de tardes. Do céu cai chuvas e chaves – e nenhuma de fenda – que pra eu apertar o balé dos meus parafusos que dançam livres e soltos no eixo do desleixo da minha cabeça. Cabeça, cesto fundo para guardar os nexos sujos, todos carcomidos de repetição, sem nenhuma palavra nova, pois – tal como as lâmpadas – na minha cabeça o mundo acaba em luz – e não em pontos finais.
Sinceramente, eu não sei o que está havendo comigo
Acordar sem ter coragem de levantar em um domingo
A psicologia dirá que é uma crise de pânico
Uma explicação tão vazia deixa até um ar meio cômico
Não consigo achar nada que explique esse vazio
Essa sensação assustadora que deixa todo meu corpo frio
Meu coração em uma total solidão
E minha mente em uma total escuridão
É como se existisse um pedaço de mim que está faltando
Principalmente quando se começa a sentir que as coisas estavam mudando
Eu nunca imaginei que esse vazio pudesse ser tão profundo
Você também ja sentiu como se não devesse existir nesse mundo?
Criação, feita no seus detalhes, desenhada do seus dedos Senhor.
Colorida com emoção, amada com o coração e ouvida ...Até mesmo da mais forte prisão.
A criação está no céus, sim ela no céus, está na terra, ela está na lua, ela está no sol, está na flor, está nas estrelas, por que todas essas coisas quais são vistas são consequência da tua criação.
Criação, tu que fala, tu que anda, tu que sentes, tu que ardentemente foste criada, tão bela, tão singela, tu que foste a minha semelhança.
Criação és tu o reflexo de uma grande glória.
Oh Criação limpas o teu coração, pois és ele o paradise da sua alma.
CARECA DE SAUDADE
Há pouco esmero nesse texto. Há pouco ele cresceu. Crespos, lisos, ondulados: tantos são os caminhos para a saudade. Trançados em raiz, espetados, penteados em et ceteras. E, mesmo em caminhos calvos, é algo que cresce, aumenta, cai. Tal vez, saudade. Cabelo, talvez. Arrepia e embaraça. Saudade é capaz conceber sentimentos de arrepiar e embaraçar qualquer sensatez. Há quem peleje ao pentear os fios desse tempo com o credo latente de que a saudade irá passar. Esforços em vão. Cabelo se corta, saudade também. Saudade logo cresce. O cabelo? Também!
PÃO DE ILUSÃO
"Dona Maria vai à mesma padaria há 43 anos e alguns dias. Essa data traz a agonia inventada pela espontaneidade da vetustez. Alguns móveis da padaria, ao longo da modernidade, foram trocados por mármore gelado e mogno lustroso. Os donos do estabelecimento ainda não foram trocados. O padeiro continua com um semblante frio - tanto quanto o mármore - e a balconista, com a sua pele lustrada pela temperatura dos pães, estende dedos grossos para devolver o troco. Em todos esses anos, os formais comprimentos nunca foram trocados por nenhuma amizade com túnica mais interna. Dona Maria é apenas mais uma velha assídua que sempre compra o mesmo bolo de trigo. Os que estão na padaria, também são apenas os mesmos, apenas são, sem muitas túnicas internas, são superficialmente apenas duas almas sem recheio que Dona Maria vê ao longo de seus 43 anos. Por casualidade, há muitos calendários, Dona Maria vê os mesmos rostos, os mesmos objetos, come as mesmas comidas, veste os mesmos vestidos que cheiram a naftalina. Diga-nos, Dona Maria, diga como era o sol naquela década. Diga-nos, diga com dignidade como as pessoas se trajavam, nos diga sobre os programas televisivos, diga-nos se os corpos eram em preto e branco, diga se havia medo de ter esperança. Conte-nos, conte sobre hoje, conte sobre excesso de cores. Conte-nos como contas as moedas do cofre que guardas em cima da geladeira, qual valor tem a mudança. Para Dona Maria, a dinâmica do tempo não lhe foi muito generosa. Dona Maria aguarda, no cume de sua demência, que nada possa mudar, pois envelhecer é um fenômeno agudo, que esculpe pés de galinha e rugas sem muita cortesia estética. E ela inventa todos os dias mais um dia de monotonia, para que não alcance o desespero de um dia ter de que se reinventar. Dona Maria sabe que a eternidade não se vende em nenhuma padaria, mas que a alegria da ilusão lhe traz a sensação de poder ter desenhar a vida que se quer levar."
PEDRAS NA VESÍCULA
"Eram tantos os suplícios para que cessassem o arremessar das pedras, eram tantos...Muitos! Tantos tontos ouvirão ecos sem economias. Pedros, pardos e perdidos. Perdidos entre pedras. Tantas pedras prediletas, com valoração, seixos com matizes. Eram tontos os que buscavam a pedra sem peso. Pedras não são como penas. Pena de vida, não há morte pior. Tantas pedras amorfas formam desfiladeiros íngremes, subidas delgadas, caminhos de campos calvos e calminhos cavam. A pena dos pássaros está na liberdade. Tantas pedras mofadas, sem uso, formam desafios íngremes, subidas às degoladas, pedras na vesícula, pedras atiradas."
PRAXE
tenho textos arquivados
roupas que vou dar sem usar
raiva bruta de barata
boletos à espera
moeda atrás de baixo do sofá
faço de livro enfeite
gosto de medo livre
o travesseiro era de minha mãe
a mania de asseio é minha
já deixei planta morrer de sede
queimei boca quando tive pressa
ponho açúcar em café
amanhã trabalho com tinta
y hoje rezo com muita
fé
SINASTRIA
Lua em Câncer
Coração banhado em Sol
Saudade alinha todo
Aguadouro dos meus olhos
Nessa sede que já
Secou a boca
COMPOSTAGEM
Faça da sua vida uma postagem
Faça uma postagem da sua vida
Faça da sua postagem uma vida
Faça uma vida da sua postagem
Aposte sua vida
Aposte sua vida
Poste
Vida
JANELA JÁ NELE
Por onde eu te vejo
São olhos de desejos
Que no alto
dum terceiro andar
Paixão já é tanta
Que nem se sabe
pr'onde a vírgula
Foi
Par,ar
IDADES NOVAS
"A busca de novidade não pode ser tão somente movida pela predisposição a algo novo. Sobretudo, também é inovação a maneira como entendemos nossas fugas diante do que temos, repensar vivências superficiais, tal como lidamos com a dispersão de nossos sentidos. Aplicada neste contexto, não tem a ver com inércia. Mais tem a ver com a velocidade que aplicamos aos nossos carros invisíveis de desejos vazios. Para além, veja que reciclagem - tal como posta a palavra - nos dá autonomia para reinvenção de ciclos, ora nossa capacidade cognitiva se amplie conforme damos mais sensopercepção para si y para outros. E, em direta citação, repensemos que "se está em tédio consigo mesmo, pode ser sinal de má companhia".
ARPETITE
Não te queixes
se meu queixo esfoliar
teu cangote
ou caso os dentes y sisos
cocem longe
da maciez
que há (ar)
em
você
TARTARUGA
cada vez ligeiro
eu me pego mais
num desejo besta
de ser tartaruga...
jabuti
ter mosaico em
meu casco
mastigar sem pressa
sentir chão frio
um tal colchão quente
y carregar o peso
da minha fleuma
deixar que lebres
seam libres
como
vos
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