Poemas de quem Deu um Fora
BREVE DÚVIDA
Ninguém sabe a hora
Qual dos dois se foi embora
Se no espaço há mais demora
Seja breve ao voltar
NOBRE POBRE
"Cidade satélite, um bairro sideral. Morada de (q)uês, (n)adas e (M)arias. Lotes amplos, harém retangular. Área nobre, de reis e abacaxis. Nesse, nove quartos de dormir. Banheiros equivalentes, suítes para todos os dezoito que ali residem. Os que ali residem: condôminos. Assinantes fiéis de faixas amarelas que anunciam, mensalmente, aluguéis. Desfrutam, uma vez ao dia, de seus chuveiros mornos. Jornada nas estrelas com mais de 12 horas - desfrutando o chuveiro dos próprios poros. Suor sem racionamento. Domingo, quinta e sábado não tem água. E a desafortunada que carrega o subúrbio na sua genética, em seu extinto de sobrevivência, sempre soube o que era economizar água e choro. A esmoleira de Direitos, generosamente, se põe a exemplo. Amanhã, acordará cedo, pegará os caminhos do carma. A água voltará meio dia, mas na casa da patroa vai dar para enxaguar os olhos. 'Clarinha' - a cadelinha - vai pro banho-tosa e as crianças para a natação. Com mais três giros no terço, logo Ave Maria manda a noite e voltemos para o nosso barracão. Lugar onde o luxo é ilícito e, água, também entrou pra oração."
DANÇA DAS TUAS TRANÇAS
Menina
Deixa eu entrar na dança
Que amarra as tuas tranças
Menina
Deixa eu entrar na dança
Que amarra as tuas tranças
Oh meu bem, não conte pra ninguém
Se eu brincar na tua orelha
Viro brinco ou refém
E do teu nome eu fiz meu o-xi-gênio
Respirando sonhos livres
Estou esperando tu chegar
E do teu nome eu fiz meu o-xi-gênio
Quero desenhar teus beijos
E em teus braços velejar
Subirei em minhas sobrancelhas
Sentirei as sombra dos ventos
Me atravessar
Fazer caminhos
Pra que algum dia um novo amor
Possa passar...
Sarah: Eu tô lembrando aqui que os novatos ainda não pagaram o lanche...
Analu: Você tá esquecendo uma regra que é: eles precisam de DINHEIRO.
Você quer que o jovem seja preso???
Você quer que a esposa dele crie o filho sozinho pq ele roubou PÃO, e nem foi da casa do JOÃO???
O VÃO
Duma ponta a outra
Há uma ponte
Que não é ponto - não somente
Se tem reta: exclamação (!)
Chego demorado, com aconchego de dúvidas
Cheio de chão
Por onde só quero voar
Com certezas (não em vão)
LEVEZA
Vaga, vaga, vagueia
Futuro: ninguém ocupa
Hoje meu riso passeia
Onde pisei, sei o calo
Hoje falo, não calo
Levo até pedra no bolso
Pois quando estou, sou leveza
MUNDIÇO
Um dia - contado a dedo, ponteiro por ponteiro -
Há-de ter um mundo inteiro
Da esquina ao beco esmo
(um todo, de modo algum rachado)
Planeta Meu
Pr'eu correr e me danar
VENTO-LOBO
Vento-lobo,
Uiva o frio em todo o dorso
Na matilha, caceis o fogo
Fez do silêncio
Fagulhas à carne
Derreter o grito
D'algum inverno tolo
SOMBRA DOS VENTOS
Cansado de ser marinheiro nauseado
De remar à unha rumo a dezembros nublados
Pus-me ao solo encravado
Aqui ando e corro descalço
Meu superego, campo farto de hectares
Da primeira à última porteira
Posse tenho das poças em que tanto afogo
Eu quem afaga a cada seca desse cerrado
Eu quem afaga
Espelho de faca
Plantarei um pássaro
Para asas fazerem sombra em meu quintal
Sujo, eivado, de esgalho (ou da migalha)
O soalho de meu quintal...
Solo, sujo, sol e chão
Farto de folhas de feridas que secaram
No outono que se foi.
Não como a sorte que nasce nos trevos
Nas vielas dos meus dedos...
A minha sorte - eu tenho outras -
Ainda é cedo
Pra mostrar
Quero (mais do que posso); vê lá se posso
Oh, esperança tão teimosa
Quero comprar uma rede
Pra me balançar
E voar em vento
Pra mo'da vida não parar
A minha sorte - eu tenho outras -
Ainda é cedo
Pra mostrar
A LUTA
"Vá em paz, meu velho pai, que Deus lhe espera com a paciência que, os dias de calor, pouco lhe deram. O teu nome - forte, em todos ecos da pronuncia - agora é clamado pelos nossas bocas ressecadas. Os nossos dias prosseguirão nos leitos dos rios que fluem, e rolam frouxos, em cada crivo das tuas rugas. As nossa diária luta marcial já nos prepara aos lutos e relutâncias. Vá, meu pai, que o que é teu vai romper as gerações famigeradas. Nunca hei de me dar ao hiato, pois teu timbre treme todo meu corpo. Respeitável seja a tua ida - que, agora, vem para sempre."
CABIDE
"Vá ao cabide, pendure a tua espinha dorsal. Entre estar vestido de trapos ou de nobres tecidos - mas cheio de entrelinhas -, fique despido e exibindo, somente para o espelho que não existe, as pobres curvas do hiato remendado."
BRECHA
Já tem é tempo
Que eu sumi das brechas
Se quiser me ver
Tem de ser na flama da pele
E vir com o coldre
Sem flechas
Sem pressa
Sem volta
AS ÂNCORAS VOAM
"Passa um navio, na minha avenida, navalhando - em garatujas - todo o piso que se estende. Navega sem levantar poeira, mas se anuncia em buzinadas de timbre marítimo, tão alto que, quem grita, só se ver por lágrimas. Nele, que nunca lhe disse antes, agora embarca o único que sabe bem dos meus segredos. No entanto, se o segredo vai embora, já não há de se existir. As âncoras voam, lá vai o meu peso se partir. E se, desse remorso, ainda houver motricidade, que seja para que o meu navio só naufrague quando chegar ao céu."
O Tempo, meus amigos, o Tempo está roubando coisas de mim. Tamanha veemência e desatino, me lembram muito bem que, anos atrás, não era assim. O Tempo tem me ultrapassado, descompassado, fingido não se passar por mim. Decidi ter uma conversa com o Tempo para atarmos uma relação agradável e pedir mais uma vez que ele não me deixe apenas no passado.
Eu perguntei:
- Ríspido, o que tens contra mim?
O Tempo me respondeu:
- Estou farto de ser descuidado e ser usado como desculpa, fingindo que não me tem. Estou cansado de ser perdido em horas em vão. Estou cansado de ser perdido! Se você não tem tempo, tenha tempo para mim.
O Tempo, meus amigos, o tempo está roubando coisa de mim. Nesse nosso relacionamento, já dei adeus ao fôlego, às lágrimas, aos agouros; tamanha veemência e desatino, lembro-me muito bem, ainda não teve fim.
PEDRAS NA VESÍCULA
"Eram tantos os suplícios para que cessassem o arremessar das pedras, eram tantos...Muitos! Tantos tontos ouvirão ecos sem economias. Pedros, pardos e perdidos. Perdidos entre pedras. Tantas pedras prediletas, com valoração, seixos com matizes. Eram tontos os que buscavam a pedra sem peso. Pedras não são como penas. Pena de vida, não há morte pior. Tantas pedras amorfas formam desfiladeiros íngremes, subidas delgadas, caminhos de campos calvos e calminhos cavam. A pena dos pássaros está na liberdade. Tantas pedras mofadas, sem uso, formam desafios íngremes, subidas às degoladas, pedras na vesícula, pedras atiradas."
A voz do Poeta
A voz de um Poeta é canção,
É manifestação de um choro calado,
É sangue que escorre nas veias, é batida do coração
A voz do Poeta é euforia, é criação,
É sino que toca dentro da Igreja
Para dizer que é chegada a hora da oração
É cativante, é fascinante, apascenta quem quer que seja
A voz de um Poeta não é, nem nunca foi coscuvilheira
Ela é hino, é bandeira
A voz do Poeta é para sempre e sempre a primeira
A voz do Poeta é a voz do Povo,
A voz do Povo é a voz de Deus, a voz do Senhor a Quem eu louvo,
É sorriso cheio de fulgor, é fôlego novo
A voz de um poeta é tristeza, é alegria,
É noite e é dia,
É vida, é ritmo, é harmonia.
"Se algo desbotou o teu sorriso.
Abrace a esperança e siga,
pois ela pode transformar
a tristeza de hoje na alegria do amanhã."