Poemas de Nelson Rodrigues

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Se Nelson Rodrigues sentia-se como o menino
que via o amor pelo buraco da fechadura
Eu me sinto como aquela dona de casa
que lava a gola da camisa do marido manchada de batom
enquanto o verdureiro traz banana pra ela fazer doce
O amor ainda me fascina feito garoto safado
que esconde suas revistinhas embaixo da última gaveta


Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral.

⁠Estava triste por ter perdido
Mas me toquei
Como eu poderia
Ter perdido
Algo que
Nunca tive?

"O brasileiro não tem motivos pessoais ou históricos para a autoestima."

⁠Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.

Nelson Rodrigues
O óbvio ululante: primeiras confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Nota: Trecho da crônica Os idiotas sem modéstia.

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O amor não morre - vivo eu dizendo. Morre o sentimento que é apenas uma imitação do amor, muitas vezes uma maravilhosa imitação do amor

⁠Quando os amigos deixam de jantar com os amigos por causa da ideologia, é porque o país está maduro para a carnificina.

Nelson Rodrigues
CASTRO, Ruy. E aquela do Nelson? Folha de S.Paulo, 16 jul. 2022.

Para mim, não há coincidência intranscendente, e repito: – qualquer coincidência tem o dedo de Deus ou do diabo.

Nelson Rodrigues
RODRIGUES, Sonia (org.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

A constante dos seres humanos é a burrice. Para um gênio há dez milhões de imbecis.

Nelson Rodrigues
RODRIGUES, Sonia (org.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

⁠Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais ousado um raciocínio próprio.

Nelson Rodrigues
O óbvio ululante: primeiras confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Nota: Trecho da crônica Oitenta milhões de vendidos.

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Somos mais idiotas do que nunca. Ninguém tem vida própria, ninguém constrói um mínimo de solidão. O sujeito morre e mata por ideias, sentimentos, ódios que lhe foram injetados. Pensam por nós, sentem por nós, gesticulam por nós.

Nelson Rodrigues
O óbvio ululante: primeiras confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Nota: Trecho da crônica Os idiotas sem modéstia.

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Na vida, usamos máscaras sucessivas e contraditórias. Só a morte revela a nossa verdadeira face.

Nelson Rodrigues
RODRIGUES, Sonia (org.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

Torcer para o Fluminense é uma maneira de você olhar para o seu vizinho e dizer: "sou melhor que ele".

Eu sou um pierrô romântico. Mas o romântico piegas. Não o romântico de grande estilo, não o wagneriano. E aí me veio essa vergonha de ser romântico e uma certa tendência para negar essa emotividade fácil e vagamente burlesca.

Da mesma forma que não existe felicidade sem tristeza, não há sentido na vida sem a morte.

"'Você é químico?' Não, sou Fluminense, respondi de pronto ao ser abordado por um vizinho que me viu brincando com alguns líquidos de diversas cores. Eu tinha apenas três anos de idade, mas com uma convicção clubística anterior ao meu nascimento, e, quem sabe, anterior ao útero materno".

⁠Nos jardins da vida, vejo os filhos crescerem como árvores. Cada um, uma promessa de cor e sonhos. Suas raízes fincam-se profundas na terra dos valores e da cultura, onde a memória é húmus e o amor, seiva. Os troncos erguem-se firmes, numa força que desafia ventos e tormentas, sustentando o céu com a dignidade dos que sabem de onde vêm.

Nas copas, que despontam com a graça das auroras, florescem frutos de humildade e bondade. Cada ramo, uma extensão do coração, abriga pássaros de esperança e folhas que sussurram segredos ao vento. A sombra dessas árvores oferece refúgio, um abrigo para os que buscam a paz e a quietude dos dias simples.

Assim, no compasso das estações, essas árvores crescem e se tornam majestosas, não pela imponência dos seus galhos, mas pela grandeza da sua essência. No jardim dos nossos sonhos, onde os filhos se transformam em árvores, ergue-se uma floresta de amor, onde cada vida é uma celebração da beleza e da eternidade.

⁠Efémera, a vitória é como a brisa que passa, como o orvalho que evapora ao primeiro toque do sol. Hoje, no cume, brilhamos, amanhã, talvez, no fundo do vale, apenas lembrança. A posição social, esse palco transitório, erguido sobre ilusões, desmorona-se ao sopro do tempo.

Devemos ser o melhor de nós mesmos, quer no topo, onde o vento é mais forte e o frio mais cortante, quer no fundo, onde a sombra nos envolve e a terra nos acolhe. Cada instante pede a plenitude do nosso ser, como se cada respiração fosse a última, como se cada gesto pudesse durar uma eternidade.

A derrota, essa fiel companheira, vem sempre, sutil ou implacável, lembrar-nos da nossa fragilidade. E, no fim, a morte, que conquista tudo, até o próprio tempo, ensina-nos que nada permanece, tudo é passagem.

Sejamos, então, inteiros na nossa efemeridade, autênticos em cada passo, e que a nossa essência seja a única constância na incerteza do viver.

Nasci em 1976, na Alemanha, mas sou lusitano e escrevo quando o silêncio já não chega.

Penso sobre identidade, tempo, sombra,
e sobre a estranha nobreza que persiste no imperfeito.

Vejo-me como uma figura quixotesca,
uma espécie de poeta da triste figura,
não por heroísmo, mas por partilhar a teimosia dos valores,
a lucidez da honra
e a coragem de enfrentar os meus próprios gigantes…
e ilusões.

Não procuro glória.
Escrevo para dar forma ao que, de outro modo, me consumiria.

Veem-me cinzento.
Mas não é por falta de cor —
é por não pintarem devagar.

Não sou o que mostro.
Sou o que seguro para não cair.
O que calei para não ferir.
O que deixei por dizer
para não gastar palavras em vão.

Aprendi a vestir sombras
com a dignidade de quem sabe
que até a noite tem camadas.

Ergui castelos no ar
com mapas rasgados.
Com linhas tortas, sim,
mas desenhadas com silêncio aceso.

Não procuro a luz para brilhar…
prefiro arder por dentro
a que me apontassem o fogo.

E quando me tentam convencer falsamente
que o mundo é preto ou branco,
guardo as cores no bolso.
Não para esconder —
mas para aqueles que as querem mesmo ver.

Sou feito de todas as coisas
que não se veem à primeira.
De silêncios que gritam.
De memórias que ainda não aconteceram.
De palavras que nasceram antes da boca.

Não preciso de ser lido.
Mas se me lerem, que não me distorçam.
Procurem a cor, não as trevas.
As que tremem.
As que resistem.
As que sou.