Poemas de Martha Medeiros
"A Gente se apaixona pelo jeito da pessoa. Não é porque ele cita Camões, não é porque ela tem olhos azuis. É o jeito dele de dizer versos em voz alta como se ele mesmo os tivesse escrito pra nós; é o jeito dela de piscar demorado seus lindos olhos, como se estivesse em câmera lenta. O jeito de caminhar. O jeito de usar a camisa pra fora das calças. O jeito de passar a mão no cabelo. O jeito de suspirar no final das frases. O jeito de beijar. O jeito de sorrir. Vá tentar explicar isso!"
Você me laçou, me prendeu, fui com você arrastada pelo seu ímpeto, pela surpresa em me ver de um dia para o outro sua, você que era apenas uma fantasia, um fetiche, era pra ser apenas um "se" na minha vida, se ele existisse, se me desejasse, se surgisse, e você surgiu e instalou o céu e o inferno no mesmo playground.
...O modo de mexer no cabelo, uma fala pausada, um olhar direto, um sorriso quase envergonhado, a segurança de não precisar se valer de estereótipos para agradar - charme. Bom gosto nas escolhas, saber a hora de sair de cena, fazer as coisas do seu jeito - charme. Estar confortável no corpo que habita, ter as próprias opiniões, alimentar sua inteligência com livros e pessoas igualmente inteligentes - charme. Não se mumificar, não ser tão inflexível, não virar uma caricatura de si mesmo - charme...
O amor é certo, o ódio é errado e o resto é uma montanha de outros sentimentos, uma solidão gigantesca, muita confusão, desassossego, saudades cortantes, necessidade de afeto e urgências sexuais que não se adaptam as regras do bom comportamento.
Você, só podia ser você, que se me visse agora consideraria um exagero esse meu desalinho emocional, que diria que estou dramatizando, você que nunca passou por nada igual, mas talvez passe, tomara que passe, para poder me entender.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais.
"Você pode conhecer vinte caras bonitos e que te entendem muito bem, dez caras legais que cuidam de você como se fosse um diamante precioso, uns outros tantos inteligentes, atraentes, bacanas e engraçados em ordem aleatória. Nenhum deles te encanta. Por que? Falta o tão chamado click, aquele jeito especial que ninguém explica. Pode ser o jeito de mexer no cabelo, a forma como ele te olha, que conversa contigo ou até mesmo um jeito secreto que nem o profeta mais sábio percebe, mas que está lá, você pode ver. Entre tantos milhares, talvez um ou outro se salve ao filtro do jeito, e daí você percebe: é esse que eu quero abraçar e não largar mais, com quem eu quero me enrolar embaixo de cobertores e com quem eu quero dividir todos meus segredos. Baseado no que? Num jeito inexplicável ao resto do mundo."
A saudade não tem nada de trivial. Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno, às vezes não. É um sentimento bem-vindo, pois confirma o valor de quem é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e os ausentes sempre nos doem.
Eu cresci. Por dentro e por fora (e, reconheço, pros lados). Sou gente grande, como se diz por aí. E o mundo à minha volta, à nossa volta, virou aldeia, somos todos vizinhos, todos vivendo apertados, financeira e emocionalmente falando. Saudade de uma alegria descomunal, de uma esperança gigantesca, de uma confiança do tamanho do futuro - quando o futuro também era infinito à minha frente.
“Custamos a respeitar as dores invisíveis, para as quais não existem prontos-socorros. Não adianta assoprar que não passa.”
Onde é que se encontra o sublime? Perto. Ao regar as plantas no jardim. Ao escolher os objetos da casa conforme a lembrança de um momento especial que cada um deles traz consigo. Lendo um livro. Dando uma caminhada junto ao mar, numa praça, num campo aberto, onde houver natureza. Selecionando uma foto para colocar no porta-retrato. Escolhendo um vestido para sair e almoçar com uma amiga. Acendendo uma vela ou um incenso. Saboreando um beijo. Encantando-se com o que é belo. Reverenciando o sol da manhã depois de uma noite de chuva. Aceitando que a valorização do banal é a única atitude que nos salva da frustração. Quando já não sentimos prazer com certas trivialidades, quando passamos a ter gente demais fazendo as tarefas cotidianas por nós, quando trocamos o "ser feliz" pelo "parecer feliz", nossas necessidades tornam-se absurdas e nada que viermos a conquistar vai ser suficiente, pois teremos perdido a noção do que a palavra suficiente significa."
Ficar amarrado à vida alheia faz você viver menos a sua. Nada de se fazer de desentendida, só para não se incomodar. Incomode-se. Dependência é morte.
"A gente é a soma das nossas decisões, todo mundo sabe. Tem gente que é infeliz porque tem um câncer. E outros são infelizes porque cultivam uma preguiça existencial. Os que têm câncer não têm sorte. Mas os outros, sim, têm a sorte de optar. E estes só continuam infelizes se assim escolherem."
Amor é quando você sabe tintim por tintim as razões que impedem o seu relacionamento de dar certo,
é quando você tem certeza de que seriam muito infelizes juntos, é quando você não tem a menor esperança de um milagre acontecer, e essa sensatez toda não impede de fazê-lo chorar escondido quando ouve uma música careta que lembra os seus 14 anos, quando você acreditava em milagres. Tudo isso pode parecer uma grande dor, mas é uma grande dádiva, porque a existência do amor está toda hora sendo lembrada. Dor é quando a gente está numa relação tão fácil, tão automática, tão prática e funcional que a gente até esquece que também é amor.
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito do amor da sua vida.
Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta os outros. Mas não estando alegre, é possível.
l ser feliz também. Não estando ‘realizado’, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de estar vivo.
A gente tem que mirar no alvo e atirar, pronto, foi. A flecha não volta. Se acertamos ou erramos, não tem volta. (...) Quem sobreviverá a mim carregando meu olhar, minha voz, o jeito com que mexo as mãos? (...) Não choro porque não há perda, há apenas a interrogação, o "como seria se". (...) Estou triste, mas sou alegre, e nada mais a reclamar.