Poemas de Luto
05/11
Aquilo que não
te deixa confortável
não permita
para deixar o outro
que passivamente
abandona nas tuas costas,
porque ele não
faria o mesmo por você,
Cuide de cada minuto de você.
05/10
Não permita que a falta
de estímulo dos outros
sabote a sua vontade
de aprender na vida,
Você só precisa de você
ou você para seguir,
Ciente disso ninguém
mais poderá te impedir.
06/10
Não permita que ninguém
deprecie as origens de tudo
aquilo que fez com que você
chegasse até aqui na vida,
Valorize-se integralmente
para que não tenham
o poder de te quebrar por dentro
e se eduque para o seu
fortalecimento.
06/11
Se blinde com o escudo
da serenidade diante
de toda e qualquer provocação,
Não permita que ninguém
tire o foco da sua direção.
06/12
Não permita que ninguém
deprecie as origens de tudo
aquilo que fez com que você chegasse até aqui,
Valorize-se integralmente
para que não tenham
o poder de te quebrar por dentro.
Cuidar como você ainda
fosse um menino,
Fazer um carinho felino
nas suas costas com
as pontas das unhas
por muitas luas,
Não é preciso entrar
objetivamente em detalhes,
Liberar as suas vontades
para que caia nas manhas
e nas oferecidas danças
por conta da imaginação.
Domino com suavidade
Invado com todos carinhos
Sinto cada liberdade
Com cuidado nos caminhos
Respeito cada instante seu
E silenciosa serás meu
Tu és um Universo inteiro
A poesia de amor e recomeço
No fundo da sua alma
sideral sei que me tens
como a sua musa austral.
Não me tens perto,
me tens dentro e sabe que
quero tudo o quê você quiser.
E se for para voar que
seja para qualquer lugar
onde o destino
nos leve a nos encontrar.
Meu tão querido
Boi Pintadinho,
diga para o Senhor
do meu destino
que não sei mais
viver sem amor
e sem o carinho
dele que cruzou
o meu caminho.
E que enquanto
isso me tornar
uma mulher ainda
melhor tem sido
o meu real e único
amoroso compromisso.
Colhi flores para enfeitar
os chifres do meu
querido Boi Pavulagem,
Estou preparada
para encontrar o seu
olhar de arraial,
E basta uma palavra
ou um toque seu
para os nossos corpos
pegarem fogo
e para a gente sumir
de mundo para viver
o nosso amor profundo.
Cada silêncio seu
é o sinal que dentro
de você eu estou
a cada dia crescendo
e que o seu peito
canta mais forte
do que a Ára pong
que canta no momento.
Com cada uma
das tuas resistências
eu sei como lidar,
não tenho o quê
me preocupar porque
sei porque outro
alguém igual ou melhor
do que eu você
nunca vai encontrar.
Quando você menos
pensar estaremos
desarmados e rendidos
vivendo o amor
que sempre sonhamos
nos entregar,
e para chegar este dia
falta pouco para o amor falar.
Nunca cultivei nenhum
sentimento de ocasião,
cada sentido meu
nasce do que é genuíno
por obra do meu destino,
e até quando pergunto
por onde anda cada tribo.
Desta terra que o quê
era verde anda
virando fumaça,
naufragar no meio do lixo
é banalizado e onde não
faltava água se converteu
em seca de uma parcela
não espero mais nada.
Além de tudo isso
os dias com céu azul
se tornaram raros,
o canto dos pássaros
angustiados têm
acordam na madrugada
e nos meus lábios
têm se tornado depósito
do pó da minha Pátria.
PREMONIÇÃO
.
.
Em um dia de meio dia,
meus olhos, somente os olhos,
tiveram uma visão.
.
Lembro-me que a luz me doía
como uma ponta de sabre
no corpo do coração.
.
Lembro-me, sem muito assombro,
que tudo quedava incompleto,
como se as luzes buscassem em vão
o preenchimento das coisas.
.
Na sintonia das imagens
dissecavam-se as paisagens
sem mistificação:
.
Não obstante o colorido,
ficavam os homens repartidos
como se feitos de pão.
A uns: o ouro e a prata;
a outros: a fome e a crença;
a esses: a esperança;
para aqueles: quitutes em lata.
.
Tanto sol doía
nos ombros da nação
(talvez não houvesse justiça
em sua distribuição).
.
E talvez por ser evidente,
ficavam doídas e claras
as sombras dos coqueiros.
Ali, onde outrora era verde
espreitam crianças no desamparo.
.
Desamparadas, porém livres,
querem construir a nação
– mas faltam-lhe os instrumentos:
os braços, e as mãos...
.
.
Igualmente iluminados,
os andarilhos nas estradas:
pés descalços, chapéus de palha,
– ou capacetes e mãos de graxa –.
Todos, embora cansados,
querendo correr o chão.
.
Mas falta-lhes segmento:
as pernas da multidão.
.
Arre!
Tanto sol
arde como uma tarde
de Verão...
.
.
BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Insurgências, 2024]
O ANJO
.
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Enquanto bebia seus drinques, um antes do outro,
começaram a lhe crescer asas cada vez maiores:
bem desenhadas, cheirosas... brancas e polidas.
O sorriso verteu-se puro, sincero, acolhedor.
Falava agora a deliciosa língua dos anjos
com suas palavras estranhas e belas
a soar qual música nos ouvintes
e a reluzir como imagens
no pleno espaço.
Puro êxtase
profano
e sacro
de quem via.
.
As cores do paraíso a ele se abriram, como se misturadas em um crisol.
A inteligência, não mais em greve, discorria sobre todos os arranjos:
cinema, viagens, lares e lugares... filosofia, arte, sabores e amores.
Com a luz que de si emana... contava piadas de cair o siso!
Iluminava, fundo e profundo, as jovens rosas no gineceu...
.
Até que a noite, por fim, se pôs... cedendo caminho ao sol.
O sono chegou leve, pois Deus viera buscar seus anjos
espalhados pelos bares, festas e casas de flores...
Fechou cada pestana, junto ao sutil sorriso.
Depois, na paz do mundo, adormeceu.
.
Na tarde seguinte, ao despertar,
as asas tinham regredido.
Transfiguraram-se
em uma ressaca
confusa e cinza.
.
.
BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Ipotesi, 2023]
NO CÔNCAVO DA MÃO MORTA
.
.
No côncavo da mão morta
havia uma chave...
não sei para que castelos.
.
Para qual porta, oh Deus Entranhas,
tal chave – tão triste chave –
em certo dia foi forjada?
.
Havia aquela chave
não como uma pedra
no meio do bom caminho,
mas no côncavo da mão morta.
.
E essa mão,
tão inerte e já bem morta,
cujo corpo era seu mero apêndice,
ao mesmo tempo oferecia
e segurava a chave.
.
O gesto, embora pálido,
tinha a cor dos desesperos!
Parecia dizer, nos entrededos:
.
Pega esta chave,
se tu és digno dela,
e cuida do seu metal
como se fosse cristal
precioso, de tão frágil.
.
Antes de tudo o mais,
colhe-a como uma fruta
já por mais do que madura.
A ela recebe – tão suculenta –
entre teus próprios cinco dedos.
.
A chave, no côncavo da mão morta,
parecia a mim implorar-assim:
“Leva-me... a meu destino,
que para isso nasci”.
.
E a mão côncava
acrescentava:
“Leva-a, que somente por isso
insisto em me entreabrir”
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Ipotesi, 2021]
O INVENTOR
DE IDIOMAS
,
,
Ainda adolescente,
inventou duas ou três palavras
que não se achavam em quaisquer idiomas.
Não faziam sentido em inglês, bielorrusso, javanês!
A bem dizer de todos os dizeres, não faziam sequer sentido
mesmo neste código mais do que secreto: o português.
.
Depois percebeu que as duas ou três palavras,
que àquela altura já eram quatro ou cinco,
não eram irmãs, nem distantes primas.
Estranhavam-se, umas às outras,
como se não fossem feitas
da mesma alma-carne.
.
Por causa disso
– da solidão de suas palavras –
demoradamente dedicou a sua vida
a inventar os idiomas que pudessem acolhê-las.
Fundou ainda uma escola de tradutores,
para traí-las umas nas outras.
.
Mais cedo do que mais tarde,
alguns ociosos fundaram cátedras
especializadas em ensiná-las e estudá-las
muito solenemente, com leveza ou gravidade.
Assim, ele ganhou o seu primeiro – e único – Nobel,
em uma nova categoria que não era a Literatura,
recém-inventada, especialmente para ele.
.
Quando por fim morresse
– do que dois ou três seguidores duvidavam –
alguém haveria de escrever na lápide, à maneira de epitáfio:
“gênio da humanidade”, “inventor de palavras”.
Mas um outro, ao perceber a injustiça,
certamente iria logo corrigir,
depois de um risco
no falso dito:
“Inventor
de
Idiomas”.
.
E o mundo
ficaria em paz...
– tal qual sagrado cálice –
como nunca esteve depois do Verbo.
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Decifrar, 2022]
MEDO DE TIGRE-ARANHA
.
.
Tinha um medo crônico de tigres.
Podia ser até mesmo dos que estão nos filmes
enjaulados dentro de uma intransponível tela de Cinema
e incapazes de saltar para a nossa dimensão.
.
Se vislumbrava um cartaz de propaganda
estampado com uma só destas feras,
ali mesmo deixava litros de medo
escorrerem por entre as pernas.
.
O medo de tigres fora o companheiro
de toda a sua vida.
Desde a mais tenra infância
chorava ao ver desenhos de tigrinhos
nos pijamas e invólucros de refrigerantes.
.
Isso tudo, apesar
de não haver tigres em seu continente,
e de sua pequena cidade jamais ter sido visitada
nem mesmo por um velho tigre desdentado,
protegido pela jaula de um circo.
.
Tigres...
Esse pânico o acompanhou sempre
a cada dia, a cada instante de sua vida.
Foi a psicólogos caros, mas sem resultados.
Lá estavam, no fundo, sempre os mesmos tigres...
Espreitando, ferozes e listrados, no covil do inconsciente.
.
.
[BARROS, José D’Assunção. Publicado na revista Simbiótica, 2023]
Do norte do encanto
profundo és o Turpial
que ao peito canta
absoluto o essencial.
Quando não en(canta)
ou até mesmo não voa,
sempre por aqui pousa
porque ama ou ama.
Haverá uma hora que não
encontrará outra saída,
e sem dúvida se renderá.
Não é nem preciso muito
explicar o porquê será assim:
Toda a ave conhece o seu pomar.
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