Poemas de Luto
O corpo nu
Ofendem-se com a corporeidade.
A carne, temerária, é algo a ser evitado.
O nu não me reflete o sofrimento humano,
a transparência do meu coração.
O nu, dizem, denota a exacerbação do desejo.
E desejar é perigoso,
faz do corpo ocupações de afeto:
alguém que abraça
e que beija.
A religião se esqueceu do corpo,
preocupada que estava com a saúde d’alma.
Protegida em suas indumentárias.
Olvidam-se que a primeira circunstância para amar
o corpo materializa.
Mas num mundo de corporeidades alienadas
o nu é subversão.
Cubra-te, pois, ó Cristo, a carne crua.
LOMBEIRA (soneto)
Tardes do cerrado goiano, lombeira
Tão ressequidas, de tão árida vida
Tardes com a sua lentidão parida
De melancolia à sombra da lobeira
Horas benditas, de demora dormida
Que nas horas se faz hora terceira
Tardes de silêncio, tarde feiticeira
Languidez na languidez desmedida
Olhos serrados, sonho sem fronteira
Tarde muda, do tempo, hora vencida
Na imensidão bem além da porteira
E nesta doce pureza a tarde caída
Que poisa hora serena, por inteira
As tardes, tecendo hora perdida...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
DESAFETO
Sempre estive aqui, sim.
você que não encontrou,
ou fingiu que não achou,
e ainda chegou atrasado.
Não precisa se desculpar,
de nada vai adiantar.
o atraso já se contabilizou,
e o meu coração cansou de esperar.
A estrada era longa
e o endereço sempre foi o mesmo.
o caminho era muito fácil,
Não havia chance de erro.
Não vou implorar para ficar,
A casa não é sua.
Se te incomodar
A porta aberta é a serventia da rua.
Já vai? É melhor sair pelos fundos,
A sua partida será esquecida
em apenas cinco segundos.
...Mas num mundo de guerras e tristezas, será que ainda existe amor? Será ainda possível uma troca perfeita de olhares, corações palpitantes, fôlego que se perder, o suar de corpos, serenatas a luz da lua, toques delicados, beijos ardentes e molhados, abraço de proteção, será que é possível essa e tantas outras coisas num mundo mergulhado em arrogância e podridão?
http://franklinsousa.com.br/em-nome-do-amor/
...Ao voltar para casa, Pai e Avô inconsolados cantavam o hino Brasileiro, como se prestassem as últimas condolências ao soldado guerreiro que morreu em defesa do seu país, antes de entrarem em casa sentiram ambos uma estranha brisa vindo do oeste e compreenderam que era o soldado que soprara ao encontro deles para dizer que descansou…"
http://franklinsousa.com.br/soldado-ferido/
SOFRÊNCIA
Depois de você
A vida passou a saber
Como é vasta a imensidão
Da noite com solidão
Que horas são?
Que importância tem
Se minha saudade vai além...
Sem você, também,
Me perdi nos por quês
A angústia ficou à mercê
Depois de ter você
Felicidade é querer em vão
Pela rua migalha a emoção
Sem você!
Tudo é sofrência
Num coração de aparência!
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
ALVORECE DE NOVO NO CERRADO
Alvorece de novo o alvorecer no cerrado
Em cada manhã nasce um novo amanhecer
Num novo dia, outra vez de novo, a haver
De um renovo do velho pro novo, airado
E nesse amanhecer de um novo romper
Quero ser o novo, e do velho desanuviado
Dos gestos gastos deixá-los no passado
Desabrochando o ser prum novo querer
Assim, nesta festa do novo engrinaldado
Deste cada novo amanhecer... o reviver
Em botão, florescendo, amor engalanado
Então, quero crer, no novo, ao amanhecer
Metamorfoseando a vida no novo denodado
Onde amanhece o novo a nos surpreender
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
Talvez a gente se esbarre
Numa destas confusões do sentimento
Onde o tempo no tempo nos agarre
E nos carregue nos olhares do pensamento
Luciano spagnol
Cerrado goiano
Tecia em pensamentos um rendado luzidio como as estrelas do céu
enrubescia a pálida face emblemática e vazia
suspirando por amores idos, por amores tidos, por amores falidos
Dizia-se superior a mágica instituição do criador
Amargava a dor, da euforia ao desamor
Chorava calada, escrevia mais nada
e calada, calou para o universo dos versos
preterindo-os apática e esquiva,
por sua eterna insensatez
Teu eu
Resgate-me se puder
Ou me deixe
Deixe-me ser Inconstante, volátil
Um impostor mal resolvido
Que nunca encontra a própria arte
E talvez
Nunca encontre a própria parte
Aparte-me se quiser
Separe-me
Abstraia ou subtraia um pouco de mim
Espalhe pelo espaço retalhos em sangue e deixe a ferida aberta
Descubra-me se couber
Destrua-me
E se algo aqui ainda houver me encontre
Ouça-me, suplico:
Seja você!
Seja você...
Seja ruim e me vire do avesso
Leve o que quiser dos meus versos
Do meu berço
Deixando aqui um pedaço que não me pertence
Teu eu
... nunca se afaste de mim.
O que é o amor?
É a ansiedade?
A essência pura?
O valor?
O quê é estar apaixonado?
É quando ele ou ela precisar,
Você estar sempre ao seu lado?
O valor da amizade,
É ajudar,
Estar presente?
Rir junto, cuidar da gente?
O que é esse sentimento
Que eu tenho por você?
Ouvir sua voz, me derreter,
Ao sentir você, me acolher...
Afinal, o que é isso que temos?
Amor,
Na alegria e na dor,
Paixão,
Nas intrigas e união?
Amizade,
Estar juntos na eternidade?
Questionar não importa nada.
Somos o que somos.
Amigos na risada.
Amigos vendo gnomos.
Apaixonados no beijo.
Amigos brincando.
Amantes em desejo.
Malucos se amando.
Só sou o que nasci pra ser
Quando amo o meu semelhante,
Com o mesmo amor que eu me amo,
Nesse ponto descubro a minha identidade.
Ainda sinto o gosto dos seus beijos,
sinto suas mãos me tocando.
Sinto, e vejo.
Vejo seus olhos brilhando,
me olhando.
Seu sorriso estampado,
bobo, apaixonado.
Vejo você,
tantos anos depois,
da mesma forma que te vi
naquela primeira vez.
Um menino,
agora adulto.
Que não cansa de me conquistar.
Memória
Não me lembro de tudo.
Na verdade, não me lembro de muito.
Lembro do começo
Da inocência, da experiência
Do esforço, da decepção
Da persistência, da vitória.
Me lembro do novo
Do medo, do respeito
De grandes amigos, hoje esquecidos
De coisas irrelevantes
De conversar, de brincar
De amar, de chorar
Também de estudar e aprender
De competir, de ganhar e de perder
Da família Garança, dos Excelentíssimos senhores Comandantes
Da farda e dos desfiles
Me lembro da rotina
De ter tempo para tudo
De não ter tempo para nada
Me lembro do ônibus e da Vam
De fazer tudo, sonhando em não fazer nada
Me lembro dos campus, das cantinas e das práticas
Da solda, do código e das máquinas
De amigos e também das vinhadas.
Engraçado, não me lembro do concurso
Me lembro dos trotes e das provas
Da diferença entre aquário e mar
De colegas e semidesconhecidos
De aprender e trabalhar
De que ser júnior, é ser gigante pela própria natureza
E é também nadar contra a correnteza
De clientes, de projetos, de professores
Do sentimento de Dono
Me lembro do macarrão e do Açaí
Como me lembro do macarrão e do Açaí.
Me lembro do Alemão e da Alemanha
De dias indecisos, quentes e frios
De não entender, de quase entender, de sonhar entender
Me lembro das bikes, dos trens, dos aviões e dos ônibus
Das viagens e dos viajantes
De grandes amigos, de eternos instantes
De tudo me lembro em flashes
Com nostalgia realizo
Que todo tempo é finito
Que todo tempo é único
Que a memória é fugaz
Mas que o sentimento é profundo.
Someone like you
Desde o dia
Em que eu te vi,
Logo pude sentir
Que seria pra sempre...
Depois de tanto procurar
Finalmente te encontrei.
Te vi, com os olhos do coração.
Eu sempre quis
Alguém como você...
Para compartilhar
E todo meu amor
Lhe entregar.
Não existem palavras
Que possam expressar
Minha alegria...
Ah! A nostalgia
De cada lembrança tua,
Do nosso primeiro beijo
À luz da lua.
Extraído do livro Sonhos de Verão - Poemas que celebram o amor.
Corpo
Minha mente vaga no vazio
Quase me perco, por um fio...
Meu corpo sente frio,
enquanto me nego a acender o pavio.
Minha cabeça está confusa,
e você me usa e abusa
Minha alma está perdida,
ou talvez, partida.
Ando tão cansado
Mas de quê?
Me sinto um derrotado
Talvez eu não deva me apegar a você.
Guardo na gaveta
Minhas joias raras
Que não estão à venda
Não empresto
Não alugo
A lembrança
Os amores
As boas recordações
E quando a saudade aperta
Abro a gaveta
E lá volto ao passado
Que foi ontem
Outro dia
Muito tempo
Minha história de vida
Errando...
Foi que aprendi
Chorando...
Foi que valorizei
E amando...
Tive a certeza que fui feliz!
Mainha disse que falta leite
Piada se tornou
Mainha disse que falta o pão
Piada se tornou
Mainha disse que faltou o que comer
Piada se tornou
Pega a pasta dental
Passa na língua
Bebe água gelada, dorme menina
Com cinco anos aprendi esse macete
Tem merenda?
Hoje é farinha com açúcar
E antes? Na hora de almoçar?
Tem arroz e cinco pedaços miúdos de
carne de sertão
Que é pra combinar com sua idade e
também com o seu tamanho
Cadê o papai?
Saiu cedo para trabalhar!
Mal sabia eu
Não havia emprego algum
Papai ia na fé
Andando procurando um bico
Da cidade que morávamos
Até a cidade vizinha
Mamãe me arrumava
Colocava eu e meus dois irmãos
para ir à escola
Sempre na despedida nos dizia
"Estudem e se comportem."
Na lancheira as vezes um milagre
Cream Cracker com doce de goiaba
A noite chegava
Era a reunião familiar
Papai suado, cansado e assado
Mamãe na cozinha
Catava as migalhas para pôr no jantar
Todos unidos ao redor da mesa
Agradecemos a Deus em oração
A gente não reclamava
Simplesmente agradecia
O bom humor e a fé
Era o que nos renovava
E assim a vida a gente seguia
Foi nesse período da vida
Que aprendi com os meus sábios pais
Que rir é o melhor remédio, sim
Para cada problema que surgia
O bom humor era a solução
Agora que me fiz crescida
É assim que levo a vida
Com bom humor
Sempre com um riso pronto
Posso ser vista como imatura
Por dos problemas da vida eu sempre rir
Mas pra quem teve uma infância dura
Esse é o melhor caminho a seguir
*Gabriela Oliveira
27 de fevereiro de 2016
01:40 AM
@sejaamodaantiga
Sou estranha, assumo. Sou toda do avesso e de ponta cabeça. Mas gosto disso, vejo o mundo de uma forma diferente, consigo ver o que mais ninguém vê, consigo ir além.
Gabriela Oliveira
insta: @sejaamodaantiga
Sou do tipo que ri
Dou risada mesmo
Em qualquer situação
Meu riso pode ser alegria
Pode ser tristeza
Um susto
Pode ser raiva
E também incerteza
Porém não se assuste
É bem fácil os identificar
Pare, me repare e pare
De me julgar
Não sou imatura
Ou insegura
Só é assim que com a vida
Aprendi a lidar
Gabriela Oliveira
insta: @sejaamodaantiga
