Poemas de Deuses do Amor
“Delictum”
No princípio era o homem nu, descansado
O mundo em consoante soberana sinfonia
Sem rudeza, tristura ou quesito desafinado
O céu em perfeita e tão melodiosa poesia
Então veio a presença de amor enamorado
Tudo era luz, e assim, todo o prazer sentia
E no fulgor do sol se tinha o agrado ao lado
E o clarão do luar deu asas à doce fantasia
Deus tudo criou em seis dias, e repousou
Santificou este dia e seguiu no tom maior
O espinho, a flor, a terra, fogo, ar... gerou
E o homem em tentação, coiso, indeciso
Pecou... transgredindo o Verbo Criador...
Perdendo no delito o destinado Paraíso!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
08 abril, 2023, 20’12” – Araguari, MG
Aqui da a pé,
e apesar de eu ter Certeza Absoluta
que Aqui da a pé, que Aqui é seguro;
Eu tenho Medo,
tenho Medo de acabar Caindo,
Medo de acabar me machucando,
Medo de acabar percebendo,
no meio do Caminho,
que apesar de dar a pé,
pode não ser tão Raso como parece.
o caminho de areia está mais Extenso,
e a água vai só até a metade,
claramente será seguro se eu caminhar
até onde eu vejo que posso.
Eu não gosto das partes Rasas pois sinto como se todos estivessem me olhando, me julgando e eu não consigo
me Esconder por que está raso demais;
me sinto Amostra,
totalmente Amostra, me sentindo
Vulnerável,
e eu Odeio estar Vulnerável.
mas pelo outro lado, eu também não gosto da parte funda, por que me sinto
sufocada, sinto que
A Qualquer Momento,
a água vai simplesmente pular
em cima de mim, me arrastar para o fundo, prender meus pés com lama, assim
fazendo com que eu me sufoque
e Morra Lentamente.
as coisas são assim,
a Vida é assim,
Eu sou assim,
Eu Detesto sentir uma Profundidade
que não seja a minha,
Eu Não Sei Lidar com a Profundidade Alheia,
se estou em Minha Própria
Profundidade,
o fundo onde estou Acorrentada
Me Acolhe,
Me Aconchega,
mas quando estou envolvida
com os Sentimentos
extremamente Escuros
de outras pessoas
ou os Sentimentos Claros Demais,
me sinto Afogada.
envolvida com suas Cobranças,
seus Traumas,
seu Amor,
me sinto Sufocada,
sinto que posso Me Afogar a qualquer momento.
Não Sei Lidar Comigo Mesma, como poderei Lidar com outras pessoas?
parece que a Única Solução é desaparecer nesse mar de profundidades,
nesse mar de Solidão.
FLOR DO IPÊ (soneto)
Pra o Ipê florar tal uma poesia, não basta
A poética e encantos dos seus segundos
Sua beleza acesa, são cânticos profundos
Que invadem o olhar na amplidão vasta
Do cerrado. Flor igual em todo mundo
Não há; tua delicadeza tão bela e casta
Declama graça que pelo pasmo arrasta
Ornando o sertão, no seu chão sitibundo
Mais terna, e pura, frágil, fina e à mercê
Do matiz: rosa, amarelo e branco, airoso
São essências vibrantes das pétalas do ipê
Hei de exaltar está flor além da sedução
Porque o meu fascínio, ao vê-la, é ditoso
Onde o poeta inspira a emotiva emoção.
© Luciano Spagnol -poeta do cerrado
20/07/2020, 18’48” - Triângulo Mineiro
ATO DE CARIDADE (soneto)
Que eu tenha o Bem, e Paz. Assim eu faça!
Que a mão posta ouça as preces, alce voo
Maria, Mãe, volva tua face para essa graça
Que eu seja caridoso sem louvar que sou
Se muito ou pouco, que tudo me satisfaça
Não importe ou doa o quanto me custou
Não deixe que o orgulho seja uma ameaça
E a minha fé seja o troco que me sobrou
Que o riso e abraço, seja pra quem vier
De onde vier, onde estiver, assim seja!
Ó Deus Pai! Me abençoe nesse prover
E, no viver, sempre tenha amor e laços
E no pão de cada dia, bênçãos, eu veja
Partindo com o irmão em dois pedaços
© Luciano Spagnol -poeta do cerrado
22/07/2020, 09’52” - Triângulo Mineiro
paráfrase Djalma Andrade
A ÁRVORE DA SERRA (soneto)
A árvore, da serra, no cerrado, tem encanto!
E essa árvore tão colorida que o olhar acalma
Aderna a sequidão e rega o fascínio da alma
Avindo entre ipês, buritis num belo recanto
Ó manacá da serra! Que brota sem trauma
No cerrado. Num brilho de sedução, tanto
Florescendo e entalhando por cada canto
Que pelo chão do planalto, graça espalma
Tão longe de sua vivenda, vai albergando
Num poema transposto, prófugo e brando
Trajando o cerrado com as vestes da serra
De branco e lilás, a flor, de lampejo santo
O manacá, cá tem, no sertão tal um manto
Influindo em mais um espetáculo da terra!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23/07/2020, 11’33” - Cerrado goiano
CONFIDÊNCIAS (soneto)
Eu fui falar, vexado, da minha solidão
Ao cerrado; e aos arbustos torcidos
Querendo pacificar a minha emoção
Dessas pequenas queixas e alaridos
Incomovido permaneceu sem alusão
Não quis a lamentação dar ouvidos
Nem cessar as cantilenas na imensidão
Pôs-se indiferente aos meus sentidos
Mas, devagar passou a prestar atenção
Aquietou-se mais, e mais ainda contido
Arregalou-se para a carrancuda aflição
E, em um ato inesperado, assim, dizia:
- Caro poeta acabrunhado e, aturdido
Da melancolia me converto em poesia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26/07/2020, 07’30” – Triângulo Mineiro
OUTONO EM POESIA (soneto)
Bailando no ar, gemia inquieta a folha caída
No azul do céu, do sertão, ao vento rodopia
Agitando, em uma certa alvoroçada melodia
Amarelada, vai-se ela, e pelo tempo abatida
Pudesse eu acalmar o seu fado, de partida
Que, dos galhos torcidos, assim desprendia
Num balé de fascínio, e de maga infantaria
Suspirosas, cumprindo a sua sina prometida
A vida em uso! Na rútila estação, obedecia
Um desbotado no horizonte, desenhado
E em romaria as folhas, em ritmo e magia
No chão embebido, o esgalho adormecido
Gótica sensação, de pesar e de melancolia
No cerrado, ocaso, do outono em poesia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/07/2020, 10’22” – Triangulo Mineiro
HÁ VERSO
Há verso indeciso e verso perdido
Afável ou contido e o de confiança
O que fala da emoção com sentido
Que tem fé, ilusão, e há esperança
Duas poéticas num versar dividido
E assim, eis a valia, além, a fiança
Incognoscível sentimento indefinido
Criando significado e a lembrança
Por isso eu sinto sempre, incontido
Acima do guardar, acima da razão
O que causa é não ser despercebido
Então, tenho cada sensação vibrante
No verso cheio de majestosa paixão
Intenso cada vez mais, mais gigante...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17/08/2023, 11’25” – Araguari, MG
AQUI E AGORA
Eras em pleno inverno, que então
Da minha poesia, um dia, partiste
E ela, coitada! vazia, fria e triste
Vagueia pela poética com ilusão
Assim nos seus versos a emoção
Suspira, nubla e não mais existe
Quando resiste, como nunca viste
Chora, lamenta, cheia de paixão
Tão louca está, que não conheces
Mais, o rumo do tempo de outrora
Aqueles versos tais doces preces
E, tão ainda viva, a prosa implora
A saudade geme, e não esqueces
Como se fosse hoje, aqui e agora!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17/08/2023, 19’43” – Araguari, MG
Estado do poeta
Ó poética, estás onde? Imaginação
Eu cá já embriagado no sentimento
Trazido pelo tempo em suspensão
A saudade, o amor, o tal momento
Do poetar, ó pura, serena sensação
O quanto me faz feliz o sacramento
Que vem d’alma de singular emoção
Que me sacia e desta magia sedento
Arrio as palavras em oração, e crio
Vai-se o vazio, e me vem o estado
Fantasia e a ventura, na ilusão fio
Desfio a cada verso embaralhado
E o poema – do infinito, um arrepio
Pondo o feitio inteiramente afiado!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2023, 18 de agosto – Araguari, MG
Erros
Vou pelo tempo e que no tempo aflito
A prosa sentimental, tropega, suada
Poesias que tagarelam com o espírito
Das faltas, vou indo pela madrugada
Poética, sofrente, fincada no infinito
Escrito no rigor de uma rima pesada
E nos meus enganos o olhar contrito
Colocando a minha alma pendurada
De tudo que finda, a vida que passa
A passo largo a ilusão que escassa
Assim, gerando nas causas, aterros
Então, equívoco e acerto o destino
Ferino autor... num quase desatino
Saturando o fado com infindos erros
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2023, 19, agosto, 20’14” – Araguari, MG
Registro
Toda está saudade comovida
Meu relógio toca, hora a hora
É dura dor, badalada e doída
Toando solidão, ao ir embora
Como é vazia toda despedida
Incontida aflição, então, chora
Aperta a alma, se faz sentida
Soando numa privação sonora
O ponteiro marca cada sensação
E, seus minutos, tão singulares
Pulsam na cadência do coração
Ah! toada em toada, os olhares
De segundo a segundo, ilusão
Não mais há tempo de voltares!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20 agosto, 2023, 13’18” – Araguari, MG
... um dia foram tuas
Fui reaver na saudade, abandonada
Certa lembrança de outrora perdida
Que, por estar poeirenta e desbotada
Ficou a um canto, posposta, ali caída
Estava sem vida, sem ser encantada
Já não mais tinha aquela dor sentida
Tão pouco aquela paixão desprezada
Ah! versejar vão, de expressão doída
O passado que passou, desgostaste
São poéticas esquecidas no coração
E também coisa que a mim rejeitaste
Hoje já não és poesia, de ter-te jejuas
Apenas versos cheios de recordação
Ternas trovas que um dia foram tuas.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21 agosto, 2023, 20’58” – Araguari, MG
Súplica (soneto III)
Há uma prosa jacente que mascara
O meu poetar sentimental e sedutor
Revirando aquela saudade tão cara
Sumida nas embirrações dum amor
E nesta dura aflição, molesta e avara
Que deixa na boca o tal gosto traidor
Rola sensação picante que não para
Porque não para a poesia com temor
Ah! Sentimento, por que tanto sente
Por que um coração por afeto mente
Tornando mais dorida a trova inteira
Te suplico! -vem silenciar o momento
Cala meu versar, dispersa-o ao vento
Deixai-me manso da minha maneira!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22 agosto, 2023, 20’37” – Araguari, MG
Flor da quaresmeira (mística flor)
Quase setembro, o cerrado fantasia
Esplende, num colorido bem vindo
Na ramaria as corolas se abrindo
Compondo singular e bela poesia
A planície de magia vai cobrindo
Monte a monte, em farta quantia
A luz do sol ascende em sinfonia
E os tons violáceos ao céu, lindo!
Quase fim do inverno, a primavera
Surgindo, com toda a sua ternura
Enchendo com cheirosa quimera
Sublime encanto, suspiro e vigor
Da cor ametista, no sertão figura
Flor da quaresmeira, mística flor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23 agosto, 2023, 05’07” – Araguari, MG
Nasci em Araguari, nas Gerais
Criei-me no Rio de Janeiro
Quase outra terra Natal
Afinal, sou carioca e mineiro
Um mineiroca do litoral...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/08/2023 - Araguari, MG
Tu, sentimento
Queres fazer sonetos, agitado
Sofrente, insistes em fazê-los
Redize versos de um passado
Tediosa rima, pávidos apelos
Os versos de um vício penado
Que, nos quartetos, só flagelos
E nos tercetos, o vazio ao lado
Todos em concretos pesadelos
Assim, por fim, pobre, estrutura
Põe-se na métrica triste figura
E vai trauteando por aí a esmo
E tu, sentimento ocioso, expele
Vaidades vans, a flor da pele
Dando sensações a ti mesmo!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25 agosto, 2023, 14’05” – Araguari, MG
Noutro dia...
Num verso sentido, na poética, figura
Sussurrado da emoção em um talvez
A saudade que sente a dor sem cura
De outrem. Uma sensação de nudez
Enquanto na prosa ao acaso procura
O otimista verso suspirado, e que fez
Dantes a poesia sem aquela tristura
Incessante agrura e sem ter a rudez
Então, surge a madrugada, ritmada
A ilusão, sobre o chão, desfolhada
Guiando a trova, criando-a especial
Ó esperança de atraente formosura
E, ante ao escrito vazio de aventura
Traz noutro dia, inspiração virginal...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27 agosto, 2023, 13’26” – Araguari, MG
Terra natal (Araguari, MG)
Nasci em Minas, o meu chão
Araguari, orgulho das Gerais
Sertão de serra na imensidão
Das flores perfumadas e mais
Da mocidade, aparatos especiais
Que me viu nascer, doce paixão
Que faz aos sentidos, divinais
Do meu bem querer, és coração
Cá para as bandas do cerrado
Em explosão de cor, estrelado
O céu, terra natal, tom maior
Pois, longe de ti, és só saudade
Que na lembrança a dor invade
Araguari, não se esquece, amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28 agosto, 2023, 06’28” – Araguari, MG
*135 anos de Araguari, MG
Sonatina
É mau que eu viva areado, e sem prumo
Posto numa solidão daquele que não crê
Que já está acostumado, ao léu, à mercê
Prosando lembranças, poesia sem rumo
Mas, lá no fundo, a esperança, presumo
Tenha a compaixão deste pobre crupiê
Do amor, sem sorte, e cheio de porque
Pois, a boa sonatina a paixão é insumo
E, se insistir com a poética nesta saga
Deixando a poesia com a emoção vaga
Não serão somente versos de soledade
Será também a alma cheia de lamento
Porque no vazio há sempre sofrimento
E a dor o verso imerso numa saudade!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29 agosto, 2023, 15’56” – Araguari, MG
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