Poemas da Juventude de Paulo Coelho
Vivemos em um mundo governado pela ditadura da imagem. O triunfo da estética sobre a moral. Você é tão belo quanto seus trajes e seu último corte de cabelo possam sinalizar. Tão bom quanto a procedência dos diplomas e a fluência em idiomas possam indicar. Tão valorizado quanto a competência ratificada e os resultados apresentados possam parecer.
Balanços fraudados, currículos forjados, amores burlados. Vidas vividas na ilusão, imaginadas como devaneios à luz de uma quimera.
Rotina. Assim vivemos e morremos, dia após dia, percorrendo os mesmos caminhos, tornando nossas carreiras desestimulantes, nossos relacionamentos insípidos. Desencanto, alienação e desespero. O prazer e a alegria são raros. E voláteis. Somos completamente infelizes em nossa infelicidade e brevemente felizes em nossa felicidade. Estamos sempre aguardando o dia seguinte, quando tudo o que era para ter sido e que não foi supostamente acontecerá.
Estamos produzindo pessoas comoditizadas que não pensam, não refletem, não elaboram, não opinam. Pessoas enquadradas, presas a um plano bidimensional. A clonagem chegou ao cérebro antes do corpo físico.
Mulheres sabem como dosar a ponderação. Talvez os nove meses de gestação as tenham ensinado a virtude da paciência. Talvez as dores do parto as tenham ensinado o poder da resignação. Talvez a responsabilidade da amamentação na calada da noite as tenha ensinado o significado da tolerância.
Quando aprendemos a gostar do que fazemos a remuneração passa a ser uma consequência. O quanto você trabalha passa a ser irrelevante.
Cultivamos um hábito pernicioso, ainda que inconscientemente. Costumamos nos apegar a objetos, pessoas e eventos. Damos a eles uma dimensão irreal, passando a viver em função – e por causa deles. Perdemos a capacidade de nos adaptar, de mudar e de crescer. Assim, morremos lentamente...
Persistir no erro não é exemplo de perseverança, mas de sua face nefasta representada pela teimosia.
Minhas alegrias ou desalentos, realizações ou frustrações, companheiros ou adversários, enfim, os frutos que tenho colhido, sejam saborosos ou insípidos, foram cultivados por mim mesmo, ora em terreno fértil, de onde viceja a prosperidade, ora em terreno arenoso, de onde grassa a inutilidade.
Para o político que ganha uma eleição, o atleta que se consagra na competição, o profissional que se completa na realização, o amor que se revigora na paixão, o fim depende do início.
Olhos marejados são formados por lágrimas que se retraem como quem diz: “Ainda não é hora” ou, então: “Ainda não posso me desnudar”. Assim, fazem os olhos brilharem, refletindo a transparência da alma.
Toda virada de ano é especial porque industrializa a esperança, diria Drummond. Há uma magia no ar que nos torna grandes planejadores. Aprendemos que metas se constroem com papel, lápis e imaginação. É um período tão intenso que penso que deveríamos criar o calendário de seis meses, abolindo o gregoriano. Assim teríamos duas chances para recomeçar.
A vida não é fácil para a maioria das pessoas. Quando se tem saúde, não se tem trabalho. Quando se tem trabalho, não se ganha o suficiente. Quando se ganha o suficiente, não se tem reconhecimento. Quando se tem reconhecimento, não se tem paixão. Quando se tem paixão, não se encontra o amor. Quando se encontra o amor, falta a saúde...
A estabilidade de um relacionamento o conduz a mares calmos e a ausência de ondas revela o que antes não se podia enxergar. Descobrimos – e revelamos – que virtudes carregam consigo defeitos, que amabilidade é temperada com eventual intolerância e que gentilezas são bonificadas com fleuma.
O aluno medíocre não tem interesse em aprender, em conhecer, em saber. Limita-se a marcar presença nas aulas e a estudar nas vésperas das provas decorando fórmulas ou conceitos. Recebe a nota suficiente para fazê-lo passar de ano. Vai engordar a massa de operários na vida profissional, seja apertando parafusos ou preenchendo relatórios. E, assim, vai passar pela vida, sem deixar lembrança, legado ou marca.
Somos em essência passionais, mesmo aqueles que se dizem movidos pela razão. Por isso, evite reagir a determinados eventos antes de 24 horas. Após um dia, o que se mostrou um problema irresoluto surgirá não menor, mas com dimensões reduzidas à sua realidade.
Você faz o que te amedronta e ganha coragem depois, não antes. Mas isso também não se ensina na escola acadêmica, apenas se aprende na escola da vida.
A barganha nos governa desde a mais tenra idade. O comportamento exemplar é laureado com sorvete e brinquedos. Boas notas valem uma viagem. O ingresso na faculdade é recompensado com um carro. Dedurar atos corporativos inadequados converte-se em promoção. Confessar os pecados e rezar uma dúzia de orações garante a salvação da alma.
Qual a diferença entre o deputado que recebe o “mensalão” e o síndico que embolsa uma comissão sobre um serviço contratado? Qual a distinção entre o empresário que se utiliza de expedientes escusos para reduzir a carga tributária e os profissionais liberais, notadamente médicos, dentistas e advogados, que concedem desconto quando dispensados da emissão de recibo ou nota fiscal? A medida é apenas sua magnitude.
A lei é falha porque é complexa, porque são muitas, porque não são aplicadas – embora aplicáveis. Os impostos não são pagos em sua integralidade porque são muitos, porque são elevados, porque não conferem contrapartida social. Somos todos pequenos ou grandes foras-da-lei, porque nos justificamos pela rebeldia, pela indulgência, pela sobrevivência, pela impunidade, exceto pela genética.
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