Poemas da Juventude de Paulo Coelho
Eterno Vergel
Sente-se bem?
Ganhou com o que fez?
A adrenalina deixou o seu sorriso mais sarcástico?
Falou para os amigos e família o que você fez?
Sentiu prazer em pisotear o meu vergel?
O meu vergel é de bits
Ele é apenas a minha arte em fotografia
O meu sentimento em código
O meu delírio mental
É incumbência do tempo fazer desaparecer
o que é material
Vamos cair no esquecimento
Só o meu vergel não irá sumir
E você, lá na sua cerração em ostracismo
Atributos levados da terra, inveja e ciúme
Assistirá o meu vergel brilhando na nuvem.
Secar o erudito
Abri um antigo estojo
esquecido,
no seu bojo
canetas de finas penas
folheadas a ouro
Veio-me lembranças
parcas
de valores estreitos,
as canetas seriam de efeito
àqueles que se sustentam
pela pompa do objeto
pela ostentação
As penas, além de mim,
tiveram outros donos
que nada fizeram com elas
Fui homenageada
e as obtive por prenda
como estratagema
para secar as minhas escritas
assim, como o tinteiro
que junto delas, secou
Joias improdutivas
ferramentas impróprias
sem envergadura
às prosas e poesias.
Gaita
A gaita ele tocava
para agradar a sua amada
Ela suspirava...
No meio da música ele sempre parava
De súbito tinha náuseas
Na pia tossia, cuspia
lavava a cara
A amada nada indagava
não entendia
o tamanho esforço
que a gaita lhe exigia
Ele mostrava talento
mas tinha dificuldade
com o tal instrumento
Ora gaita, ela exclamou
numa noite fria
Com tantos instrumentos no mundo
Por que ele não escolheu
o que mais lhe apetecia.
Canto da insônia
A noite começa a ficar longa
A briga é entre mim e a cama
A máxima está no não pensar
Não, não tem jeito
Tudo emaranha nas lembranças
Vejo Bandeira na tela escura da TV
Leio Florbela tão viva que fica na cabeceira
Escuto Pessoa nas lástimas de Belchior
Numa nuance, na neblina da madrugada
Forma-se a imagem do meu menino
Tão real, tão lindo
Inatingível, se desfaz e morre
Minha face apresenta desgaste
E o dia nasce perfeito.
Transtornado
Enquanto eu penso
Outros detonam
inutilizam
Enquanto eu faço
Outros desfazem
abominam
Enquanto eu vivo
Outros sofrem
aniquilam
Enquanto eu feliz
Outros detestam
retrocedem
Enquanto eu poesia
Outros marasmo
desatinam
Errante
Então, amigão
Não se apoquente, não
Encontra-se em boa região
em terra de todos os Santos desse Brasilsão
Tem boa tribo, tem mãinha e painho
todos de bom córação
É São Salvador da Bahia
o terreiro tem magia
é só não partir pro sertão
Muito mar, muita folia
música pra boa audição
Na Bahia os Santos protegem
tem farinha de mandioca
não se passa fome, não
Sem contar com seu nobre clima
que é de única estação
Caro amigão
caso se sinta acuado
oxe, desprotegido
é só lembrar que aqui tem terra pra toda gente
nesse grande Brasilsão
O Espírito Santo acolhe a Bahia
e também tem religião
Nossa Senhora da Penha
no ponto mais alto do morro
vai te dar proteção
Mas, vai ter que pegar no batente
como faz toda gente
dessa região.
Lembrar de esquecer
Esqueci-me de lembrar do que não era para esquecer
Acabei por esquecer o que havia de lembrar
Lembrei do que teria de lembrar
É triste lembrar, que o lembrar era esquecer.
Elegia
Eu queria escrever sobre o amor
sentimento louvado pelos grandes poetas
que cantam amor como profetas
Tentei e tentei por infinitas vezes
transcrever sutilezas de sentimentos
sou obtusa, aposento
Amargo na pena que me traí
escorregando sempre ao reverso
ficando sem beleza o meu verso
Vidão
não tenho preocupação
Deito na rede
admiro a constelação
Se não quero inverno
tenho verão
Se tem discussão
eu sempre com razão
Falta dinheiro hoje
logo ali, arranjo muito tostão
Para cara sisuda
abro um sorrisão
Se alguém está perdido
eu considero ilusão
Viver de sonhos?
Não vivo, não
Se tem lagosta, eu como
senão, cai bem uma porção de berbigão
Compro um cajado pra pagar promessas
e, vou mesmo é de carrão
se mais distante, navio ou avião
No lombo do burro
visito o sertão
Se tem swell
entro no tubão
senão, pego jacarezão
e vou levado um vidão
fazendo mochilão
por esse mundão
Se chateia comigo, não
Tchau, tiozão.
Chalaça
A flor doou o seu néctar
O beija-flor se satisfez
sugando até a última gota do doce mel
da bela flor que o afugentou
que não perguntou, não exclamou
não perturbou, só aguentou
A bela flor, por ironia
se fechou
O beija-flor não suportou o engodo
da flor serena, aveludada
que se distanciou do sugar maldito
Ele, sem o sabor da linda flor
passou a sugar a flor sintética
que se abriu bela, necessitada
anestésica.
Escarnecimento
Ei! Linda mulher
venho lhe pedir um favor
Qual o motivo do meu pedido?
Já que você laçou o meu vagabundo amigo
o meu velho colibri
me faça então esse favor.
Cuida da minha camélia
para que ela floresça bela
me faça esse favor.
O meu vagabundo colibri
abandonado pela flor mais bela
do mesmo pomar da minha camélia
já se distanciou...
Ei! Linda mulher
para cuidar da minha camélia
observe a sua cútis como ficou mais bela
depois que o meu vagabundo colibri te adubou.
Adube a minha camélia
para que floresça mais bela
adicione a ela, vitaminas para plantas que dá flor
principalmente , ferro, mas aos pouquinhos
do mesmo tamanho daquele que ainda te aduba
-se aduba-?!!!
Assim, ela florescerá muito mais bela,
da mesma maneira como você ficou.
Triste sorriso e olhar
Colocar a alma em busca da felicidade
esse era o seu lema
Da minuta fazer a tese da vida
descartando os problemas
Acreditar que as ditas injúrias
eram inveja do seu emblema
Criar um sinistro jogo
assassinando o apoema
Presumir uma conclusão fiável
resultando num dilema
Querer reinar na guerra fria
levando a sua vida à tormenta
A sobrar um triste sorriso e triste olhar
fechamento do indecoroso tema.
Analogia
Um homem é intitulado guerrilheiro quando luta contra uma Ditadura,
um homem que luta contra uma Democracia, este é um autêntico terrorista.
Um homem que sabe viver consigo mesmo é sábio,
um homem que necessita de qualquer coisa ao seu lado para viver é desventurado.
O idiota
Lisonjeou-me, adulou-me
carismaticamente
galhardamente
para encobrir a imaginada galhada
camuflou-se pretensiosamente
subjugou-me com a absoluta certeza
que a sua idiotizada sedução
aliviaria a sua oprimida cabeça.
Perdeu e, perplexo, se odiou
alucinado em trama, em conspiração
chamou-me hipócrita
e eu vos digo:
minha alma fica intransparente
a minha virtude se torna disfarçada
quando digladio com idiota
porto-me hipocritamente.
Contradição
Disseste
Quero lá saber de economia
de política e de filosofia
Quero lá saber de poesias
de futebol e sociologia
Quero é saber o que queres
quero saber se estás por mim
Eu respondo-te:
Não faço filantropia
vivo de saber de economia
política, filosofia, futebol e sociologia
Enquanto tu, abana bandeirinhas
fazendo campanhas de politiquinhas
atrás de mesquinharias
tentando cabelos curtos
fazendo analogia
tirando verruga do rosto
perdendo autonomia.
O último ato
Vejo-te lindo, sorridente, reluzente
todo contente, arranjado em cor
não carece de tabaco, ficou casto
bebe do bom licor
Mas, que derrota à devotada
com o lume apagado
vagando em meio ao nada
lesa, fria, em noites de calor
É tão passageira a felicidade
murcha a flor da vaidade
traga a cachaça, do pulmão sai a fumaça
companheiros do sofredor
A abestada arrefecida
dedicada conselheira
acariciará a tua pálida beleza
adornada, coroada em flor
Terás noite de brilho
mar em calmaria
o lume acenderá a mais bela fogueira
ao nobre Viking? Penhor.
Impostura
Chegou pisando leve como uma lebre
Não podia fazer nenhum barulho
Sorrateiramente amarelado
Não acendeu a luz
Culpado, assustado
Não podia ser pressentido
Mas a desgraçada da coruja
Soltou um pio de som soturno
- Ele ficou com os olhos esbugalhados
A sua senhora levantou-se marmota
E ele, não havia pensado na lorota.
Safo
Já tarde da noite, chegando em casa
depois de mais uma teatralidade
da aula que conduzi na faculdade
me dei conta que sou agiota de vida
Quem necessitar poderá pedir-me emprestado
sem hesitar, não sou capitalista
posso até colocar um preço
cobro um sorriso, dou-te o endereço.
Recaída
Fecham-se todos os cadeados
a fim de não ter de suportar a repetição da moléstia
dos desentendimentos por rotulação
da degradada vivência
Desgoverna-se pela droga o sentimento
nas noites de amargura do enlouquecedor dia
Procura-se nas portas entreabertas, esquecidas
transcrever emotividade adormecida
Insanidade é o que significa
traçar-se um efeito inabalável
depois, apagar das espinhas as causas primárias
proporcionando o caos interior do que já estava resolvido
Acorda-se arrependido
tateia-se as portas novamente
foram lacradas inteligentemente
para não invocar dupla recaída.
As baratinhas
Não gosto de baratinhas
De nenhuma delas precisamente,
Mas existem as francesinhas
São traquinas, brincalhonas,
Correm velozmente.
Por saberem do meu dissabor
Insistem em ser minhas amiguinhas
Ficam a brincar comigo persistentemente.
Quando no joguinho eu entro
E empunho a vassourinha
As danadinhas todas afáveis
Correm e imergem
Para dentro do ralinho.
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